Falta de ar ou dispneia, é um sintoma não uma doença. Pode indicar que o oxigénio não está a chegar às células e tecidos do organismo em quantidade suficiente, sendo por conseguinte um sinal de alarme!
Falta de ar o que é exactamente?
A falta de ar caracteriza-se por desconforto ou dificuldade em respirar, podendo associar-se a outros sinais tais como:
Aperto no peito,
Cansaço,
Fadiga ao realizar tarefas diárias simples como andar, subir escadas ou comer.
Causas
A falta de ar pode ter diversas cusas tais como:
Oxigénio abaixo dos níveis desejáveis como por exemplo, a grandes altitudes;
Obstrução das vias aéreas;
Problema no coração ou obstrução à circulação sanguínea;
Níveis de glóbulos vermelhos/hemoglobina, que transportam o oxigénio no sangue, demasiado baixos;
Problema nos pulmões que impede as trocas gasosas.
Doenças que causam falta de ar
Diversas doenças podem ter como sintoma a falta de ar, a saber:
Asma;
DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica);
Pneumonia;
Tuberculose;
Infeção respiratória;
Infeção pulmonar;
Edema pulmonar;
Enfarte do miocárdio;
Insuficiência cardíaca;
Anemia;
Anafilaxia (reação alérgica grave);
Ansiedade;
Crise de pânico.
Exames para detetar niveis de oxigénio
Exames simples permitem saber se os níveis de oxigénio estão baixos ou se a falta de ar é provocada por ansiedade ou crise de pânico. Os mais utilizados são:
Oxímetro de pulso – é um exame não invasivo que permite medir a saturação de oxigénio que deve estar acima dos 95%;
Gasometria arterial – feita através de exame de sangue.
Saturação de oxigénio
Saturação de oxigênio usa o termo saturação para indicar a quantidade (em %) de um gás num líquido, neste caso em particular do oxigénio no sangue. Em medicina mede-se a saturação de oxigênio em fluídos corporais, principalmente no sangue.
Assim o termo saturação de oxigênio emprega-se para referir o nível de oxigenação do sangue. A oxigenação produz-se quando as moléculas de oxigênio entram nos tecidos do corpo. Por exemplo, o sangue oxigena-se nos pulmões, onde as moléculas de oxigênio viajam do ar para o sangue e combinam-se com a hemoglobina formando a oxi-hemoglobina, e com ela chegam a todo o corpo.
A saturação de oxigênio no sangue, concretamente a saturação arterial de oxigênio (SaO2), é um importante parâmetro para avaliar a função respiratória. Em muitos casos, segundo o quadro clínico, a idade e a situação do paciente, permite tirar conclusões sobre a função e a atividade do pulmão.
Pressão parcial de oxigênio (pO2)
O uso mais corrente da saturação em medicina é o nível de saturação de oxigénio no sangue arterial mediante o método da pulsioximetría para poder detectar a insuficiência respiratória. É muito importante a monitorização do paciente durante a anestesia geral utilizada nas cirurgias ou durante a oxigenoterapia de um doente com falta de ar. Mede-se a % de oxigénio ligada à hemoglobina do sangue (oxi-hemoglobina).
Os valores de saturação expressam-se com a abreviatura “S”, acrescentando o símbolo químico do oxigênio (SO2).
A baixas pressões parciais de oxigénio, a maioria da hemoglobina está desoxigenada. Cerca de 90% (o valor varia segundo o contexto clínico), a saturação de oxigénio aumenta de acordo com uma curva de dissociação de oxi-hemoglobina e aproxima-se de 100% a pressões parciais de oxigênio superiores aos 10 kPa.
O gráfico em forma de curva mostra que a % de hemoglobina saturada de oxigénio está diretamente relacionada com a pressão arterial parcial de oxigênio (pO2). Quanto mais alta é a pressão parcial do oxigênio (pO2) mais alta é a saturação de oxigénio no sangue arterial (SaO2). Devido à dependência da afinidade do oxigénio com a hemoglobina, que depende do número de moléculas de O2 já ligadas, esta relação não é linear. A curva do oxigénio ligado à hemoglobina mostra uma pendente em forma de “S”.
A medida da saturação realiza-se com o oxímetro de pulso e baseia-se no princípio de absorção de uma luz característica pela oxi-hemoglobina. O valor da saturação de oxigénio no sangue para os humanos está na faixa de 95-99%. Para os fumadores, estes valores são mais baixos.
Uma saturação de oxigénio no sangue inferior ao 90% implica uma hipoxia que pode ser originada, entre outras causas, por uma anemia. Um dos sintomas de uma baixa saturação de oxigênio no sangue é a cianose.
Morte eminente e saturação de oxigénio
Em doentes terminais, por exemplo na sequência de processos oncológicos, um dos indicadores de probabilidade de morte eminente, no espaço de 48 horas, é a conjugação do nível de saturação de oxigénio abaixo de 90% em simultâneo com uma baixa acentuada da pressão arterial.
Para prever a morte de um paciente em estado terminal, esta é uma das métricas mais usadas juntamente com sons respiratórios associados com o movimento das secreções e a confusão mental.
Tratamento
O tratamento dependerá sempre da causa subjacente pois as causas de falta de ar são muito diversas . Assim, o tratamento poderá consistir na administração de:
Antibióticos se causa for doença infeciosa bacteriana;
Corticoides por via inalatória, oral ou outra se a doença for, por exemplo, asma ou outras doenças inflamatórias sem vestígios de infeção;
Broncodilatadores se necessário (ex: salbutamol);
Oxigénio, incluindo através de máscara, ventilação mecânica ou mesmo intubação se SaO2 < 90%.
Prevenção
Há um conjunto de recomendações que ajudam a prevenir a falta de ar, a saber:
Evitar fatores de risco, como tabagismo, obesidade e sedentarismo;
Se tem asma, evite os alergénios que podem provocar falta de ar;
Use a medicação de acordo com a prescrição médica, mesmo que se sinta bem;
Se tem asma transporte consigo um broncodilatador de efeito rápido como o salbutamol, para usar em caso de broncospasmo repentino, sem obstrução das vias aéreas;
Mantenha-se ativo;
Treine a respiração com algumas técnicas respiratórias;
Faça exercício para fortalecer os músculos da caixa torácica (sob recomendação e orientação de um profissional de saúde).
Sinais de emergência
O sinal de perigo eminente mais simples de detetar é um tom arroxeado em zonas como os lábios, nariz ou dedos, sendo uma pista clara de falta de oxigenação dos tecidos. Procure ajuda médica imediata.
Adesão ao tratamento
As pessoas com determinadas doenças respiratórias podem ter falta de ar quando não tomam os medicamentos ou quando não os tomam conforme prescrição médica por pensarem que já não precisam.
Concluindo
Um sintoma de falta de ar é sempre grave mesmo quando a causa não tenha o dramatismo proporcional ao sintoma. A falta de ar cauisa desde logo um significativo aumento da ansiedade do paciente que liberta uma cascata de respostas inflamatórias que por vezes pioram a sintomatologia e criam um ciclo de pãnico dificil de controlar. Neste caso um pedido de ajuda médica urgente (ligar 112) é sempre a escolha correta para tratar e identificar a causa dessa crise de falta de ar. Se no entanto a falta de ar se instalar de forma mais lenta e progressiva deve contactar a linha de saúde 24 (808242424) para uma avalição preliminar e encaminhamento adequado.
Com emoção partilho convosco um projeto com mais de dois anos finalmente disponível e publicado para aquisição. Trata-se do meu primeiro livro “As cinco grandes mentiras sobre saúde“.
Nele descrevo em detalhe toda a minha experiência pessoal e profissional dos últimos 30 anos e o que de relevante traçou o meu caminho para uma saúde otimizada e uma vida simples, tranquila e feliz.
Também tu, em pouco tempo, podes ter uma saúde bem melhor e uma vida com espaço para a tua felicidade.
Descobrir a verdade acerca das 5 grandes mentiras sobre saúde mudou, em pouco tempo, a minha vida para sempre. Lembro-me bem da manhã solar em que despertei sem dores de costas após ensaiar pequenas renovações de alimentos e hábitos diários. Com uma história de tantos anos de dores matinais, era árduo acreditar que em tão escasso limite temporal fosse possível lograr o abandono dos analgésicos e dos seus “primos” anti-inflamatórios. Naquela manhã senti que a sebenta do tempo me ofereceu uma página nova para reescrever a minha vida. Nos dias seguintes a minha digestão voltou a trilhar o caminho da normalidade e a qualidade do sono sanou de forma intrigante. A autoestima cicatrizada, de repente, demonstrou-me que o controle da minha vida e da minha saúde, em particular, voltou a estar no conforto das minhas mãos, aquecidas pelo calor do meu miocárdio que batia feliz. Dei comigo a sorrir sem parar, numa sensação de luz e alegria sem preço possível de registar.
O nosso universo nasceu há cerca de 13,8 biliões de anos e não fazemos a mais pequena ideia sobre o que existia antes disso, sendo este o maior de todos os enigmas por desvendar. Nesse momento inicial do nascimento com a grande explosão, matéria e antimatéria formaram-se na mesma proporção mas por alguma razão, absolutamente desconhecida até hoje, os átomos de matéria prevaleceram sobre os da antimatéria. Não fosse esse intrigante poder da matéria e hoje apenas existiria energia, nada mais. O século 21 ofereceu já ao humano, pela primeira vez, o poder e criar em laboratórios de alta segurança átomos de antimatéria. Outro imenso mistério é saber como surgiu a consciência humana. Esta é uma característica tão poderosa, tão profunda e tão enigmática que raramente pensamos nela, aliás a maioria nem sequer a considera relevante, afinal ter consciência é normal e de facto é nos humanos, mas apenas nos humanos! Sem consciência não saberíamos da existência do universo, que existimos como parte do mesmo e não teríamos reflexões sobre a nossa própria existência! Como diria Jorge Luís Borges “todos os animais são imortais exceto os humanos porque só nós temos consciência de que vamos morrer”.
Sem consciência desconheceríamos a nossa história evolutiva como espécie e a poderosa influência que, ainda hoje, essa evolução tem na nossa saúde. A Terra tem cerca de 4,6 biliões de anos e a vida na Terra surgiu aproximadamente há 3,5 biliões de anos. Os dinossauros desapareceram, subitamente, há cerca de 66 milhões de anos. No entanto, o primeiro hominídeo, denominado Australopithecus, apareceu em África “apenas” há cerca de 7 milhões de anos e não comia carne. O género Homo surgiu na África há cerca de 2,5 milhões de anos, curiosamente a mesma altura em que provamos carne pela primeira vez, mas apenas as sobras das presas de outros animais, caçadores mais poderosos. Foi necessário 1 milhão de anos de evolução para sermos muito melhores caçadores e usufruir primeiro da carne de animais de grande porte, deixando as sobras para outros. Do género Homo destacam-se algumas espécies como o Homo habilis, surgido entre 2 milhões e 1,4 milhões de anos atrás, tendo sido a primeira a criar artefactos a partir de fragmentos de rocha, absolutamente essenciais para o início e evolução da nossa jornada como poderosos caçadores de animais. Depois surgiu o Homo erectus (1,6 milhão a 150 mil anos atrás), o Homo neanderthalensis que existiu há cerca de 150 mil a 30 mil anos atrás e o Homo sapiens surgido há cerca de 130 mil anos e que sobrevive até hoje!
A agricultura mudou a nossa saúde para sempre e surgiu, aproximadamente, há 12.000 a 10.000 anos atrás. Os Sumérios, que habitavam na Mesopotâmia, situada entre os rios Tigre e Eufrates, (atualmente uma região entre a Síria e o Iraque), inventaram a escrita e o dinheiro há aproximadamente 5.000 anos. O antigo Egito surgiu em 3100 a.C. na margem norte do vale do Nilo e durou até ao ano 30 a.C., data da anexação pelos romanos. A Grécia antiga surgiu em 800 a.C. e estendeu-se até 140 a.C.. O império Chinês começou em 221 a.C. e o império Romano surgiu no ano 27 a.C. e dominou até 476 d.C. Em todas estas civilizações surgiram hábitos alimentares e descobertas que moldaram a nossa saúde. Alguns perderam-se no rumo da história e outros influenciam a nossa vida até hoje. Paradoxalmente, alguns dos hábitos perdidos há séculos voltam agora em pleno século 21, à medida que a ciência prova a sua eficácia mesmo quando comparadas com algumas das mais modernas e sofisticadas terapêuticas farmacológicas.
Certa vez alguém perguntou porque era tão velho o universo? A essa questão alguém respondeu que “é o tempo que demora a criar o humano moderno”! Esta extraordinária frase sublinha, resumidamente, o longo e complexo caminho que fizemos até aqui chegar, civilização após civilização, para criar um animal humano sofisticado que está agora consciente da sua longa herança, complexidade, incrível capacidade de conhecimento, poder para alterar o seu destino, dominar o planeta que habita, viajar para outros planetas, apostar na terraformação de marte e tentar, ainda este século, duplicar a idade média de vida dos humanos que tenham essa ambição. Sim, existem já avanços científicos que nos permitem sonhar com essa realidade de vida longa e de qualidade, desde que a nossa natureza tribal não nos destrua por dentro.
Numa altura de crescimento exponencial do conhecimento, em todas as áreas, com particular relevância para a inteligência artificial, realidade virtual, nanotecnologia, robótica e ciências da saúde, é essencial tirarmos o máximo partido da nossa consciência para identificar e prevenir, por exemplo, as doenças do envelhecimento. Ganha cada vez mais força a corrente científica que defende ser o envelhecimento a causa de quase todas as doenças e que, portanto, se descobrirmos os mecanismos do envelhecimento podemos retardá-lo imenso e ficar livres de doenças durante muitas mais dezenas de anos.
Este livro fala precisamente dos cinco pilares mais importantes para manter a nossa saúde, de forma integrada, com qualidade e alegria, uns bons anos acima da esperança média de vida. No entanto, terás de fazer opções, será necessária a consciência de reconhecer algumas mentiras, descobrir os detalhes da verdade que suportam tal ambição e aceitar que todos os pilares estão unidos num único ser e harmonizam-se em conjunto. O desequilíbrio relevante de um deles pode afetar de forma dramática todas as outras dimensões da nossa saúde.
Neste livro descreve-se também a experiência pessoal do autor, que experimenta, há já alguns anos, alterações simples de hábitos alimentares, físicos, profissionais, relacionais, familiares, sociais e gestão otimizada de ansiedade, sendo esta um dos pilares, absolutamente estruturantes, da qualidade de vida.
O livro apresenta e suporta-se em estudos sólidos, incluindo recentes factos científicos, para revelar as cinco grandes mentiras sobre saúde que, por falta de conhecimento, continuam a degradar a vida de muitos milhões de pessoas, que hoje poderiam viver mais 10, 20 ou até 30 anos, com muito melhor qualidade de vida, se aplicassem diariamente este conhecimento e aprendizagem simples de ciência da saúde. Depois dos cinco capítulos que desvendam outras tantas mentiras, preparei um último capítulo bónus que resume detalhes de conhecimento de ciência da saúde que se revelaram, na minha vida, absolutamente nucleares no combate à doença, à mitigação do stresse, na procura de alegria, felicidade e criação de energia positiva para quem nos acompanha nesta caminhada pela vereda da vida.
Sou Farmacêutico comunitário há trinta anos. Gosto do que faço e tenho um prazer especial em ajudar os doentes e as pessoas saudáveis a entender, em linguagem corrente, o que se passa com a sua saúde. Este gosto surgiu da pesquisa para compreender o que se passava com a minha própria saúde que, há alguns anos atrás, não era a mais recomendável. Sentia má digestão, distensão abdominal, obstipação crónica, dores articulares e lombares diárias, rigidez matinal, ansiedade, colesterol elevado, hipertensão, escoliose e um diagnóstico de espondilite anquilosante feito em 2002, aos 34 anos de idade, por um reumatologista conhecido da cidade do Porto, após cruzar a imagem de raio x da minha coluna vertebral com os sintomas diários de rigidez na zona sacro ilíaca.
A espondilite anquilosante (EA) é uma doença autoimune que provoca inflamação crónica articular progressiva de grandes articulações, principalmente a coluna. Os sintomas mais frequentes são dores nas costas e rigidez. Os primeiros sinais aparecem na adolescência ou no início da idade adulta. Regra geral a doença evolui e provoca, movimentos da coluna progressivamente mais limitados, devido a fusão óssea nas vértebras, chamada de anquilose.
Este quadro de dores com origem em doença inflamatória crónica levava-me a tomar anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) com frequência, por vezes diária, o que por sua vez teve como efeito secundário o aparecimento ou agravamento de lesões gastro-intestinais. Todo este quadro ficou ainda mais severo quando, por razões profissionais, foi necessário fazer turnos de noites de serviço que alteraram o meu ritmo circadiano originando, com frequência, mudanças de humor nomeadamente irritabilidade e ansiedade crescentes, assim, como falhas de memória mais evidentes e prolongados períodos diários de falta de energia. Nesses dias, o meu “menu terapêutico” era rico em anti-inflamatórios, analgésicos, anti-ácidos, inibidores da bomba de protões, anti-histamínicos e claro o inevitável anti-hipertensor.
Hoje, mais de vinte anos depois, sinto mais energia do que nunca, não sinto ansiedade, a minha memória melhorou, tenho uma digestão normal, não tomo quaisquer anti-inflamatórios ou analgésicos e as minhas dores desapareceram por completo. Regularizei a minha tensão arterial, depois de muitos anos a tomar uma dosagem baixa de perindopril e consegui um objetivo que julgava quase impossível, deixar de tomar quaisquer medicamentos. Foi de certa forma uma surpresa pois já tinha tentado o desmame do anti-hipertensor, por diversas vezes, mas sem sucesso.
No final do livro, fazendo parte do capítulo bónus, descrevo tudo o que me permitiu, libertar-me do último medicamento do meu “menu terapêutico” inicial. Além de tudo isto, o meu bom humor parece intacto, o que por sua vez reforça o meu sistema imunitário.
No final do livro, fazendo parte do capítulo bónus, descrevo tudo o que me permitiu, libertar-me do último medicamento do meu “menu terapêutico” inicial. Além de tudo isto, o meu bom humor parece intacto, o que por sua vez reforça o meu sistema imunitário.
Para adquirir basta clicar nas imagem. Se gostar do livro por favor comente nas plataforma com a melhor pontuação que considere justa, cinco estrelas será magnífico 🙂
Vitaminas para o cérebro fadiga e cabelo quais as mais importantes? Quais os minerais mais relevantes? O que são exatamente as vitaminas e para que servem? Quando devo tomar um suplemento? Qual o melhor suplemento vitamínico? O excesso de vitaminas que problemas pode causar? Quais os sintomas de falta e de excesso?
Na minha prática profissional quase diariamente alguém me pede vitaminas para o cérebro e cansaço, mas serão mesmo necessárias? Para conseguir ajudar corretamente preciso de descobrir, antes de mais, o tipo de alimentação que têm, os suplementos que tomam, quais os sintomas para os quais procuram ajuda e os medicamentos que estão a tomar pois alguns, de facto, podem causar deficiência vitamínica.
No entanto antes de tudo isso deixo claro que o fator mais relevante, estruturante e decisivo para para o nosso cérebro e para um bom desempenho cognitivo é a qualidade do nosso sono… sem o qual não existem vitaminas ou minerais que possam fazer milagres!
Em 2012 a neurocientista dinamarquesa Maiken Nedergaard, descobriu, no nosso cérebro, o que designou de sistema glinfático, responsável pela “limpeza” diária do nosso cérebro e que ocorre durante a fase de sono profundo. Saiba tudo sobre este assunto no meu artigo sobre os segredos do sono, clicando na imagem abaixo.
As vitaminas e os minerais são considerados nutrientes essenciais, isto é, não podem ser sintetizados pelo organismo e, portanto, devem ser consumidos na dieta. No entanto se tivermos uma microbita intestinal equilibrada e saudável este geralmente incluiu bactérias produtoras de certas vitaminas.
O que são vitaminas? As vitaminas são chamadas de micronutrientes essenciais porque são necessárias ao organismo em pequenas quantidades em inúmeras reações químicas que incluem desde o metabolismo de hidratos de carbono, proteínas e gorduras, passando pela manutenção de um bom sistema imunitário, estabilidade do sistema nervoso central e até ás funções de reparação de DNA nas nossas células.
Sem as vitaminas estas reações químicas essenciais não se realizam ou ficam descompensadas causando com o tempo diversas doenças, algumas bastante graves! O organismo não armazena a maioria das vitaminas, nomeadamente as hidrossolúveis como as do complexo B (exceto a B12) e vitamina C. A deficiência dessas vitaminas geralmente desenvolve-se em semanas a meses. Portanto, as pessoas devem consumi-las regularmente.
Quantas vitaminas existem?
Atualmente a lista contém 20 vitaminas. O complexo de vitaminas B contém 8, o complexo de vitaminas K contém 5, o complexo de vitaminas D contém 4 e as vitaminas A, E e C completam a lista, conforme descrevo de seguida:
Vitamina A (retinol);
Vitamina D ou D3 (colecalciferol), D2, D4 e D5;
Vitamina E (tocoferol);
Vitamina K (naftoquinona), K1, K2, K3 e K4;
Vitamina C (ácido ascórbico);
Vitamina B1 (tiamina);
Vitamina B2 (riboflavina);
Vitamina B3 (niacina, vitamina PP, ácido nicotínico ou nicotinamida);
Vitamina B5 (ácido pantoténico);
Vitamina B6 (piridoxina, piridoxal ou piridoxamina);
Vitamina B7, B8 ou H (biotina);
Vitamina B9 (ácido fólico);
Vitamina B12 (cianocobalamina).
As vitaminas são classificadas conforme a sua solubilidade na água. Assim dividem-se em:
Vitaminas hidrossolúveis – Vitamina C e os oito membros do complexo da vitamina B;
Vitaminas lipossolúveis – Vitaminas A, D, E e K.
Apenas as vitaminas A, E e B12 são armazenadas em grande quantidade no corpo.
Microbioma e vitaminas
As bactérias do cólon são responsáveis por sintetizar vitaminas, sobretudo, a tiamina (B1), a B12, a biotina (B7), o ácido fólico (B9), e a vitamina K e fermentam hidratos de carbono indigeríveis (fibras) em ácidos gordos de cadeia curta que constituem fontes de energia para o hospedeiro (Gerritsen et al., 2011; Prakash, 2011).
As bactérias residentes do trato gastrintestinal contribuem para preservar parte da energia contida nos hidratos de carbono indigeríveis da dieta como a celulose, hemicelulose e pectina, metabolizando os mesmos em ácidos gordos que são fontes de energia para as células do epitélio intestinal e facilitam a absorção de sódio e água, além de sintetizarem proteínas e vitaminas do complexo B (Prakash, 2011).
As vitaminas são essenciais em inúmeras funções vitais do nosso corpo. Nas tabelas seguintes descrevo:
Todas as vitaminas que existem;
Funções;
Alimentos onde existem;
Doenças provocadas pela falta de vitaminas;
Ingestão diária recomendada;
Toxicidade ou limite superior de segurança.
Atualmente as vitaminas B4, B10 já não são consideradas vitaminas por não serem essenciais e a vitamina B11 não existe. a tabela seguinte descreve então as funções mais relevantes de cada vitamina no nosso organismo.
Vitamina
Funções mais relevantes
A (retinol ou axeroftol)
Mucosas, pele, imunidade e visão. – Necessária para formar células nervosas sensíveis à luz (fotorreceptores) na retina, ajudando a manter a visão noturna; – Ajuda a manter a saúde da pele, da córnea e do revestimento dos pulmões, do intestino e do trato urinário; – Ajuda a proteger contra infeções; – Formação de rodopsina (um pigmento fotorreceptor na retina); – Integridade do epitélio; – Estabilidade do lisossoma; – Síntese de glicoproteína (união de uma proteína com um hidrato de carbono. As glicoproteínas estão muitas vezes presentes na superfície das células, como proteínas da membrana plasmática ou como parte da matriz extracelular e desempenham um papel crítico nas interações entra células e nos mecanismos de infeção por vírus e bactérias.
D ou D3 (colecalciferol) D2 (ergocalciferol) D4 (diidroergocalciferol) D5
Coração, dentes, músculos e imunidade. – Promove a absorção de cálcio e fósforo a partir do intestino; – Necessária para a formação, crescimento e reparação (mineralização) dos ossos; – Fortalece o sistema imunológico e reduz o risco de doenças autoimunes. – Função reguladora do metabolismo da insulina (deficiência pode diminuir a resistência à insulina); – Função reguladora do bom funcionamento da tiroide;
E (tocoferol)
Células. – Antioxidante intracelular; – Remove os radicais livres nas membranas biológicas.
K (naftoquinona) K1 (filoquinona) K2 (menaquinonas) K3 (menadiona) K4 (menadiol)
Coagulação, ossos, coração e dentes. – Auxilia na formação de protrombina, outros fatores de coagulação sanguínea e, portanto, é necessária para a normal coagulação do sangue. – Necessária para a saúde dos ossos, dentes e outros tecidos.
B1 (tiamina)
Cérebro, coração e energia. – Necessária para o metabolismo dos hidratos de carbono, glicose, aminoácidos e proteínas, gorduras e álcool; – Funcionamento normal dos nervos (função celular nervosa central e periférica) e do coração (função miocardia).
B2 (riboflavina)
Células, cérebro, coração, energia e visão. – Vários aspectos do metabolismo dos hidratos de carbono e proteínas; – Integridade da mucosa. (ex: mucosa bucal).
B3 (niacina, vitamina PP, ácido nicotínico ou nicotinamida)
Mucosas, pele, cérebro e energia. – Metabolismo celular de hidratos de carbono, de gorduras e muitas outras substâncias, para o funcionamento normal das células; – Reações de oxidação e redução.
B4 ou Adenina Atualmente não é considerada uma vitamina
B5 (ácido pantoténico)
Cérebro e energia. – Necessário para o metabolismo de hidratos de carbono, proteínas e gorduras. É essencial na síntese da coenzima A, sendo por isso uma vitamina essencial no metabolismo dos mamíferos.
B6 (piridoxina, piridoxal, piridoxamina )
Cérebro, coração, energia e imunidade. – Necessária para o metabolismo de hidratos de carbono, aminoácidos e gorduras, para o funcionamento normal dos nervos, para a formação de glóbulos vermelhos e para uma pele saudável; – Importante em muitos aspectos do metabolismo do nitrogênio (p. ex., transaminação, síntese heme e porfirina, conversão do triptofano em niacina) – Biossíntese de ácido nucleico.
B7 ou B8 ou H (biotina)
Digestão, mucosas, pele, unhas e energia. Essencial a todos os organismos. Alguns conseguem sintetizá-la, como algumas estirpes de bactérias, leveduras, fungos, algas e certas espécies de plantas. – Necessária para o metabolismo de carboidratos e ácidos gordos. Funciona como uma coenzima no metabolismo das purinas e dos hidratos. – Atua na formação da pele, unhas e cabelo,.
B9 (ácido fólico)
Digestão, cérebro, coração, energia, imunidade e reprodução. – Necessária para a formação dos glóbulos vermelhos do sangue (maturação dos eritrócitos) para a síntese do DNA e do RNA e para o desenvolvimento normal do sistema nervoso no feto; – Síntese de purinas, pirimidinas e metionina;
B10 (ácido 4-aminobenzoico) Atualmente não é considerada uma vitamina
B11 não existe
B12 (cianocobalamina)
Cérebro, coração e imunidade. – Necessária para a formação e maturação dos glóbulos vermelhos do sangue, para o funcionamento dos nervos e para a síntese do DNA. – Síntese e reparação de mielina. A bainha de mielina é uma membrana protetora essencial do axónio que é uma parte relevante das células nervosas.
C (ácido ascórbico)
Células, mucosas, pele, unhas, coração, dentes, músculos, imunidade e energia. – Necessária para a formação, crescimento e reparação dos ossos, pele e tecido conjuntivo; – Melhora a cicatrização de feridas e queimaduras. É importante para o funcionamento normal dos vasos sanguíneos; – Atua como um antioxidante, protegendo as células contra danos causados pelos radicais livres; – Ajuda o organismo a absorver o ferro; – Formação de colagénio; – Síntese de aminoácidos, hormonas e carnitina;
A maior parte das vitaminas encontram-se quer na carne quer nos vegetais. No entanto algumas só se encontram na quantidade saudável necessária a nossa alimentação incluir carne e vegetais.
Assim, se não comer carne, por exemplo se for vegan, dificilmente conseguirá um aporte saudável de vitamina B12. Por outro lado se não comer vegetais, por exemplo se seguir uma dieta carnívora, dificilmente conseguirá ingerir a quantidade necessária de vitamina C.
Vitaminas
Fontes alimentares
A (retinol)
Como vitamina pré-formada: óleos de fígado de peixe, fígado, gemas de ovos, manteiga, produtos lácteos enriquecidos com vitamina A Como carotenoides pró-vitamina: vegetais verdes escuros e amarelos, cenoura e frutas amarelas e laranjas
D (colecalciferol)
Irradiação direta da pele por ultravioleta B (fonte principal); derivados do leite enriquecidos (principal fonte dietética), óleos de fígado de peixe, peixes gordos, fígado
E (tocoferol)
Óleos vegetais (prefira azeite extra virgem) e oleaginosas como nozes, amêndoas, avelãs, castanha de caju, castanha do Pará, pistáchios e macadâmia.
K (naftoquinona)
Vegetais folhosos verdes (em especial couve, espinafre e saladas verdes), soja, óleos vegetais Bactérias do trato gastrointestinal após o período neonatal.
B1 (tiamina)
Grãos integrais, carnes (em especial porco e fígado), cereais enriquecidos, oleaginosas, legumes, batatas.
Fígado, carne vermelha, peixe, aves, legumes, pães e cereais de grãos integrais ou enriquecidos.
B5 (ácido pantoténico)
Fígado, carne, gema de ovo, levedura, batatas, brócolos e cereais integrais. O termo pantoténico tem origem no grego “pantos” significando “em toda a parte”. Assim, a vitamina B5 encontra-se na maioria dos alimentos de origem vegetal e animal. A B5 também pode ser sintetizada pelas bactérias intestinais.
No que concerne à tabela acima descrita e nomeadamente a fontes alimentares a minha opinião é clara e pode ser resumida nos seguintes pontos mais relevantes:
Inclua nas refeições diversidade de alimentos de produção biológica/orgânica quer de origem animal quer de origem vegetal, em quantidades sempre moderadas;
Exclua todos os alimentos processados;
Coma muito pouco (ou nenhum) pão, cereais, sementes e leite;
Não exagere na fruta por causa do excesso de frutose;
Coma poucas vezes por dia, de preferência apenas duas refeições;
Se não tiver doenças graves, todos os dias faça pelo menos 12 a 16 horas de jejum (incluindo as horas de sono), mas comece de forma moderada se não estiver habituado. Se tiver alguma doença crónica e/ou grave deve, obviamente, falar com o seu médico e pedir o seu apoio, desde que este tenho um conhecimento atualizado sobre os benéficos do jejum (a maioria infelizmente vai dizer que é muito perigoso!). Se a resposta for negativa ouça uma segunda opinião médica mas pergunte qual o suporte científico dessa decisão. Se ambas as opiniões médicas forem negativas aceite e esqueça o jejum.
As vitaminas são uma parte vital de uma dieta saudável. Foi determinada a ingestão diária recomendada (IDR) para a maioria das vitaminas, ou seja, a quantidade diária que a maioria das pessoas saudáveis precisa para se manter saudável. Para algumas vitaminas, foi determinado um limite superior de segurança (nível superior de ingestão tolerado). O consumo que excede esse nível aumenta o risco de ocorrência de um efeito prejudicial (toxicidade).
A falta de vitaminas pode provocar doenças graves mas o seu excesso, a hipervitaminose, também esconde muitos perigos! A tabela seguinte descreve as doenças provocadas pela falta de vitaminas.
Vitaminas
Efeitos da deficiência e do excesso (toxicidade)
A (retinol)
Deficiência: Cegueira noturna, hiperqueratose peri folicular, xeroftalmia, queratomalacia, aumento da morbidade e mortalidade em crianças mais novas. Toxicidade: Queda de cabelo, lábios rachados, pele seca, enfraquecimento dos ossos, dores de cabeça, elevações dos níveis de cálcio no sangue e um distúrbio raro caracterizado pelo aumento da pressão dentro do crânio, denominado hipertensão intracraniana idiopática e hepatoesplenomegalia.
D (colecalciferol)
Deficiência: Raquitismo (às vezes com tetania), osteomalacia. Toxicidade: Hipercalcemia (cálcio elevado no sangue), calcificação das artérias, anorexia, falência renal, calcificação metastática.
E (tocoferol)
Deficiência: Hemólise de eritrócitos, deficites neurológicos. Toxicidade: Tendência a sangramento.
K (naftoquinona)
Deficiência: Sangramento decorrente de deficiência de protrombina e outros fatores, osteopenia.
B1 (tiamina)
Deficiência: Beribéri (neuropatia periférica, insuficiência cardíaca), síndrome de Wernicke-Korsakoff e psicose de Korsakoff.
Deficiência: Anemia megaloblástica, defeitos do tubo neural no nascimento, confusão.
B5 (ácido pantoténico)
Deficiência: Está presente na maioria dos alimentos, por isso a carência é rara. Nestes casos os sintomas serão náuseas, vómitos, diarreia, dores abdominais, alopécia, fadiga e dor de cabeça. Toxicidade: Rara. Transtornos gastrointestinais e probabilidade de hemorragias quando tomado em simultâneo com antiagregantes plaquetários (salicilatos).
Deficiência: Rara mas pode originar alopécia, letargia e ataxia. Ocorre geralmente em três situações, são elas a alimentação parentérica prolongada sem suplemento de biotina, lactentes alimentados com leite em pó sem biotina e consumo de clara do ovo crua por um período prolongado. A clara do ovo contém uma glicoproteína, chamada avidina que se liga à biotina com grande afinidade e impede a sua absorção. Quando a clara é cozinhada, a avidina sofre alterações e perde essa capacidade de ligação à biotina.
B9 (ácido fólico)
Deficiência: Anemia megaloblástica, defeitos do tubo neural no nascimento, confusão.
As vitaminas A, D, E, B3, B6, B9 e C apresentam uma dosagem limite superior de segurança. Quando esta dosagem diária máxima é ultrapassada pode causar toxicidade e doenças associadas.
Vitaminas
Ingestão diária recomendada (IDR) num adulto
Limite superior de segurança
A (retinol)
700 microgramas para mulheres 900 microgramas para homens 770 microgramas para gestantes 1.300 microgramas para mulheres a amamentar
3.000 microgramas
D (colecalciferol)
600 UI para pessoas de 1 a 70 anos 800 UI para pessoas com mais de 70 anos
4.000 UI (unidades internacionais)
E (tocoferol)
15 miligramas (22 unidades de natural ou 33 unidades de sintética) 19 miligramas para mulheres a amamentar
1.000 miligramas
K (naftoquinona)
90 microgramas para mulheres 120 microgramas para homens
B1 (tiamina)
1,1 miligramas para mulheres 1,2 miligramas para homens 1,4 miligramas para gestantes ou mulheres que estejam a amamentar
B2 (riboflavina)
1,1 miligramas para mulheres 1,3 miligramas para homens 1,4 miligramas para gestantes 1,6 miligramas para mulheres a amamentar
B3 (niacina)
14 miligramas para mulheres 16 miligramas para homens 18 miligramas para gestantes 17 miligramas para mulheres a amamentar
35 miligramas
B5 (ácido pantoténico)
5 miligramas (mas a QDR não foi estabelecida) 6 miligramas para gestantes 7 miligramas para mulheres a amamentar
B6 (piridoxina)
1,3 miligramas para mulheres e homens mais jovens 1,5 miligramas para mulheres com mais de 50 anos 1,7 miligramas para homens com mais de 50 anos 1,9 miligramas para gestantes 2,0 miligramas para mulheres a amamentar
100 miligramas
B7 ou B8 ou H (biotina)
30 microgramas (mas a QDR não foi estabelecida) 35 microgramas para mulheres a amamentar
B9 (ácido fólico)
400 microgramas 600 microgramas para gestantes 500 microgramas para mulheres a amamentar
1.000 microgramas
B12 (cianocobalamina)
2,4 microgramas 2,6 microgramas para gestantes 2,8 microgramas para mulheres a amamentar
C (ácido ascórbico)
75 miligramas para mulheres 90 miligramas para homens 85 miligramas para gestantes 120 miligramas para mulheres a amamentar 35 miligramas a mais no caso de fumadores
Deficiência vitamínica causada por fármacos e drogas
No geral, todos os medicamentos cujo princípio activo seja uma molécula estranha ao nosso corpo causam alguma deficiência vitamínica ou mineral que pode ser importante e originar outros problemas de saúde. Na tabela seguinte descrevo as carências vitamínicas mais conhecidas causadas por medicamentos importantes muito utilizados como antibióticos, antidiabéticos, antiácidos e outras substâncias que ingerimos.
Fármaco ou substância
Vitaminas afetadas
Álcool
Ácido fólico Tiamina Vitamina B6
Antiácidos (para o estômago) como bicarbonato de sódio, carbonato de cálcio, hidróxido de alumínio e hidróxido de magnésio.
Vitamina B12
Antibióticos, como a isoniazida, tetraciclina e sulfametoxazol/trimetoprim
Vitaminas do complexo B Ácido fólico Vitamina K
Anticoagulantes, como a varfarina (utilizados para evitar tromboses)
Vitamina E Vitamina K
Anticonvulsivantes, como fenitoína e fenobarbital (utilizados na epilépsia)
Biotina Ácido fólico Vitamina B6 Vitamina D Vitamina K
Antipsicóticos
Riboflavina Vitamina D
Barbitúricos, como o fenobarbital
Ácido fólico Riboflavina Vitamina D
Medicamentos quimioterápicos, como o metotrexato (utlilizados como anticancerígenos)
Ácido fólico
Colestiramina (capta o colesterol e transforma-o em ácidos biliares. Diminui o colesterol no sangue)
Vitamina A Vitamina D Vitamina E Vitamina K
Corticosteroides (utilizados em doenças autoimunes e inflamação)
Vitamina C Vitamina D
Cicloserina (antibiótico para tratar tuberculose)
Vitamina B6
Hidralazina (hipertensão arterial e pulmonar e insuficiência cardíaca congestiva)
Vitamina B6
Levodopa (antiparkinsónicos)
Vitamina B6
Óleo mineral (parafina ou vaselina liquida) se usado por prazo longo
Vitamina A Vitamina D Vitamina E Vitamina K
Metformina (antidiabético mais utilizado no mundo)
Ácido fólico Vitamina B12
Óxido nitroso se exposição repetida (anestésico fraco com efeito analgésico)
Vitamina B12
Contraceptivos orais (para evitar gravidez)
Ácido fólico Tiamina Vitamina B6
Penicilamina (anti-reumático e antiurolítico)
Vitamina B6
Fenotiazinas como a clorpromazina (antipsicóticos e neuroléticos)
Riboflavina
Primidona (anticonvulsivante)
Ácido fólico Vitamina D
Rifampicina (antibiótico usado na tuberculose)
Vitamina D Vitamina K
Sulfassalazina (antimicrobiano. Possui ação anti-reumatoide e também é utilizada na doença intestinal inflamatória crónica)
Ácido fólico
Hidroclorotiazida e diuréticos tiazídicos (hipertensão arterial e Insuficiência cardíaca inicial)
Riboflavina
Triantereno (diurético usado na hipertensão e edema)
Ácido fólico
Antidepressivos tricíclicos, como a amitriptilina e a imipramina
Vitaminas e minerais para o cérebro e outros fatores relevantes!
Quais as vitaminas e minerais mais importantes para o cérebro? As vitaminas e os minerais são nutrientes necessários ao funcionamento fisiológico normal. Muitas delas desempenham funções cruciais no cérebro numa variedade de processos. Mas será que são assim tão importantes ou existem outros fatores bem mais relevantes para a nossa saúde cerebral? Vamos por partes!
Vitamina B1 (tiamina)
Vitamina B1 ou tiamina, é uma coenzima do ciclo das pentoses fosfato, que é um passo necessário na síntese de ácidos gordos, esteroides, ácidos nucleicos e aminoácidos para neurotransmissores e outros compostos bioativos essenciais na função cerebral (Kerns et al., 2015). Desempenha um papel neuromodulador sobre o neurotransmissor acetilcolina e contribui para a estrutura e função das membranas celulares, incluindo neurónios e células da glia (Bâ, 2008).
Numa revisão de ensaios clínicos randomizados controlados envolvendo suplementação com tiamina na dose de 3 mg/dia, os resultados da função cognitiva foram inconsistentes. O tamanho pequeno da amostra e o desenho do estudo inadequado, tal como um estudo cruzado que não é recomendado para doenças progressivas como o Alzheimer, foram as principais causas para essa inconsistência (Rodríguez-Martín et al., 2001).
O limitado número de estudos e a falta de ensaios clínicos randomizados indicam que há evidência insuficiente para tirar conclusões acerca da influência da tiamina na função cognitiva em idosos saudáveis. São necessários melhores estudos coorte e experimentais concebidos nesta área (Koh et al., 2015).
Vitamina B2 (riboflavina)
Vitamina B2 ou riboflavina, é um poderoso antioxidante obtido a partir da carne e de produtos lácteos. Contudo, apesar dessa sua característica, há poucos estudos de neuroprotecção com riboflavina. A sua deficiência leva a sintomas como fadiga, mudança de personalidade e disfunção cerebral (Zempleni, 2007). Baixos níveis de vitaminas B estão associados ao aumento de homocisteína, conhecida por ter efeito neurotóxico direto (Ho et al., 2001).
Num estudo com população idosa coreana, a hiperhomocisteinémia manifestou-se como um fator de risco significativo para o declínio cognitivo. Na população com Alzheimer desse mesmo estudo, não se observou associação entre a função cognitiva e os parâmetros dietéticos. Por outro lado, nos participantes com défice cognitivo leve, a ingestão de vitamina B2 influenciou positivamente os testes de memória e de reconhecimento.
Já no grupo dos indivíduos saudáveis, não houve associação entre a ingestão de vitamina B2 e a função cognitiva. Contudo, sendo este estudo observacional, não pode provar a causalidade, para além de os resultados serem difíceis de interpretar e aplicar à população em geral, pois não foi usada uma amostra aleatória. Assim, são necessários mais estudos prospetivos para investigar a relação de causalidade entre a função cognitiva e a ingestão de vitamina B2 (Kim et al., 2014).
Vitamina B3 (niacina)
Vitamina B3 ou nicotinamida, tem sido extensivamente estudada como agente neuroprotetor. O tratamento com nicotinamida demonstrou melhoria sensorial, motora e cognitiva (Vonder Haar et al., 2011; Vonder Haar et al., 2014).
Com base na evidência em modelos animais, há um potencial considerável para o uso de nicotinamida em patologias neurológicas, todavia ainda há alguns fatores, nomeadamente o limite máximo para a toxicidade humana e a eficácia na população idosa e a longo prazo, que precisam de ser investigados antes de evoluir para os ensaios clínicos (Vonder Haar et al., 2013).
Vitamina B6 (piridoxina)
Vitamina B6 ou piridoxina, é essencial à síntese dos neurotransmissores dopamina e serotonina para além de reduzir os níveis de homocisteína, visto que o seu aumento está associado ao risco de doença cerebrovascular e possíveis efeitos tóxicos sobre os neurónios do SNC (Ford et al., 2012).
Estudos epidemiológicos indicam que um nível baixo de vitamina B6 é comum entre os idosos, sendo a hiperhomocisteinémia uma possível causa da demência. No entanto, numa revisão que incluiu ensaios duplamente cegos e cujo objetivo primário era avaliar a eficácia da suplementação de vitamina B6 na cognição, não foi encontrada evidência do seu benefício, a curto prazo, sobre o humor (sintomas de depressão, fadiga e tensão) ou nas funções cognitivas. (Malouf et al, 2003).
Também num ensaio multicêntrico e duplamente cego, cujo objetivo era a avaliação da eficácia e segurança da suplementação com vitaminas B, entre as quais a B6, não se observou o decréscimo do declínio cognitivo em doentes de Alzheimer (Aisen et al., 2008).
Deste modo, são necessários mais ensaios clínicos para explorar os possíveis benefícios da suplementação com esta vitamina em indivíduos saudáveis bem como com défice cognitivo e demência.
Vitamina B9 (ácido fólico)
Vitamina B9 ou ácido fólico, tem sido largamente estudado no que diz respeito aos seus efeitos na cognição, particularmente em idosos. Juntamente com a vitamina B6 e a B12, a vitamina B9 é um importante cofator no ciclo da homocisteína, que é crucial para inúmeros processos, incluindo a expressão de ADN e a síntese de creatina, melatonina e noradrenalina (Haar et al., 2015).
Num ensaio clínico randomizado, unicêntrico e controlado, envolvendo 180 indivíduos acima dos 65 anos, foram avaliados os efeitos da suplementação com ácido fólico na função cognitiva dessa mesma população. Nos 159 que completaram o ensaio, verificaram-se melhorias no ácido fólico sérico, na homocisteína e na vitamina B12 sérica.
De um modo geral, encontrou-se evidência do efeito benéfico da suplementação, a curto prazo, em dois testes de avaliação da função cognitiva. Num futuro próximo, será necessário realizar ensaios maiores, a longo prazo e cujo um dos resultados a avaliar seja a demência, a fim de se chegar a uma melhor conclusão (Ma et al., 2015).
Vitamina B12 (cianobalamina)
Vitamina B12 ou cianocobalamina, é necessária na metilação da homocisteína. A sua deficiência tem sido associada a doenças neurodegenerativas e comprometimento cognitivo, contudo o tratamento com suplementação de vitamina B12 não altera consideravelmente a função cognitiva em indivíduos com deficiência pré-existente (Moore et al., 2012). Por outro lado, o tratamento com vitamina B12 e ácido fólico, em indivíduos com comprometimento cognitivo, levou à diminuição da atrofia cerebral (Health Quality Ontario, 2013).
Há ainda uma grande necessidade de ensaios clínicos para compreender a natureza da associação de insuficiência de vitamina B12 com doença neurodegenerativa. As vitaminas B6, B9 e B12 são essenciais ao normal funcionamento do cérebro à medida que envelhecemos, como resultado da sua ação sobre o metabolismo da homocisteína e outros mecanismos.
Contudo, investigações até ao momento ainda não demonstraram evidência convincente do benefício da suplementação de vitaminas B na capacidade cognitiva, sendo prematuro concluir acerca desta terapia. São necessárias mais pesquisas para avaliar a dose ideal, a janela terapêutica e as diferenças individuais (Forbes et al., 2015).
Vitamina C (ácido ascórbico)
Vitamina C ou ácido ascórbico, é um antioxidante essencial no cérebro que exerce numerosas funções, incluindo a eliminação de ROS, neuromodulação e envolvimento na angiogénese. Estudos experimentais em animais apontam a vitamina C como um fator chave na prevenção do declínio cognitivo, tanto no envelhecimento como em doenças neurodegenerativas. Contudo, ensaios clínicos em humanos não têm sido capazes de confirmar os efeitos benéficos da suplementação e/ou intervenção da vitamina C, tendo como uma das principais razões a diferença dos critérios de inclusão.
Consequentemente, são necessários mais estudos usando a vitamina como única substância, ao invés de combinações de vitaminas, e focando subgrupos específicos com aumento da prevalência de deficiência de vitamina C (Hansen et al., 2014).
Vitamina E (tocoferol)
Vitamina E sob a forma de tocoferóis e tocotrienóis, desempenha um papel crucial na proteção do SNC, atuando como antioxidante. A evidência de que os radicais livres podem contribuir para os processos patológicos da função cognitiva, incluindo a doença de Alzheimer, levou ao aumento do interesse pela utilização de vitamina E no tratamento do défice cognitivo ligeiro (DCL) e da DA (Mangialasche et al., 2010).
Contudo, há também a evidência de que a vitamina E usada em doses elevadas é considerada tóxica (acima de 3000 UI/dia) e pode estar associada a sintomas como fadiga e distúrbios gastrointestinais, ou mesmo conduzir à mortalidade. Por outro lado, tem havido um aumento crescente de evidências de que a suplementação com esta vitamina, em doses terapêuticas, pode também causar efeitos adversos como o aumento da tendência para hemorragias e a potenciação do efeito da aspirina. (Farina et al., 2012; Miller et al., 2005).
No entanto, as conclusões acerca da eficácia da vitamina são baseadas apenas na forma alfa-tocoferol e, portanto, não é possível comentar acerca das outras formas, sendo necessárias investigações futuras acerca destas para encontrar provas convincentes de que a vitamina E é ou não benéfica no tratamento de demências (Farina et al., 2012).
Sódio (Na)
O sódio (Na) é consumido na forma de cloreto de sódio (NaCl) ou sal. Controla a função nervosa e muscular em estreita ligação com o potássio K) , mantendo o equilíbrio hídrico nas células e nos tecidos do nosso corpo. Nos países ocidentais, a maioria das pessoas ingere sal em excesso, por isso a deficiência de sódio é rara.
Precauções sobre o sódio
Obviamente o excesso de sódio (sal) é sabido que pode causar sérios problemas de hipertensão arterial, pelo que deve ser cuidadoso.
Potássio (K)
O potássio é essencial para a transmissão de impulsos nervosos, sendo um dos eletrólitos do corpo, que são minerais que carregam uma carga elétrica quando dissolvidos em líquidos corporais, como o sangue. O corpo precisa de potássio para as células nervosas e musculares funcionarem. Assim, os sinais iniciais de deficiência de potássio são geralmente apatia e fraqueza. Os alimentos de origem vegetal, geralmente, são boas fontes de potássio. Alguns bons exemplos são as bananas, oleaginosas, sementes, leguminosas, abacate, grãos integrais, frutos secos, tomates e batatas.
Precauções sobre o potássio
O excesso de potássio (hipercalémia) também pode interferir na função transmissora de impulsos nervosos. Por si só, o aumento da ingestão de potássio geralmente não causa hipercalemia, uma vez que os rins normais realizam um bom trabalho na excreção de qualquer potássio em excesso.
Regra geral, a hipercalemia resulta de diversos problemas simultâneos, tais como:
Distúrbios renais que impedem que os rins excretem potássio suficiente;
Medicamentos que impedem que os rins excretem quantidades normais de potássio (causa comum de hipercalemia leve);
Uma dieta rica em potássio;
Tratamentos que contenham potássio;
A causa mais comum da hipercalemia leve é o uso de medicamentos que diminuem o fluxo sanguíneo para os rins ou impedem que os rins excretem quantidades normais de potássio. Alguns exemplos são os seguintes:
Alisquireno (anti-hipertensivo);
Inibidores da enzima conversora de angiotensina (ECA), são dos anti-hipertensivos mais utilizados;
Bloqueadores dos recetores da angiotensina (anti-hipertensivos);
Ciclosporina (usada para prevenir a rejeição de órgãos transplantados);
Diuréticos que ajudam os rins a conservar potássio, como eplerenona, espironolactona e triantereno;
Medicamentos anti-inflamatórios não esteroides;
Tacrolimo (usado para prevenir a rejeição de órgãos transplantados)
Trimetoprima (antibiótico)
A insuficiência renal pode provocar hipercalemia grave. A doença de Addison também pode causar hipercalemia.
A hipercalemia leve causa poucos sintomas, ou nenhum. Às vezes, a pessoa pode apresentar fraqueza muscular. Em uma doença rara chamada paralisia periódica hipercalêmica familiar, a pessoa apresenta crises de fraqueza que podem progredir até a paralisia.
Quando a hipercalemia se torna mais grave, ela pode causar ritmos cardíacos anormais . Se os níveis estiverem muito altos, o coração pode parar de bater.
Cálcio (Ca)
O cálcio é essencial para promover o funcionamento adequado dos nervos e músculos porque está envolvido na condução de impulsos elétricos ao longo dos axónios das células nervosas. A sua deficiência, designada hipocalcemia, pode manifestar-se por espasmos musculares e fadiga generalizada. São boas fontes de cálcio o leite e derivados, hortaliças de folhas verde-escuras e sardinha em lata com a espinha.
Precauções sobre o cálcio
O hiperparatiroidismo é a causa mais comum de hipercalcémia (excesso de cálcio).
A ingestão de doses elevadas de cálcio durante algum tempo aumenta o risco de formação de pedra nos rins e pode originar insuficiência renal, calcificação dos tecidos moles e vasculares e hipercalciúria (níveis elevados de cálcio na urina).
Parte do cálcio absorvido é eliminado pela urina, fezes e suor, o que pode ser afetado pela ingestão de sódio (a ingestão de níveis altos de sódio aumenta a excreção de cálcio), consumo de cafeína (aumenta a excreção de cálcio) e álcool (reduz a absorção de cálcio).
O cálcio diminui a absorção de antibióticos, bifosfonatos (medicamentos para a osteoporose) e da levotiroxina (medicamento para a tiroide), por isso a toma destes medicamentos e de suplementos de cálcio deve ser separada por um intervalo de 2 horas.
Os antagonistas dos recetores H2 e os inibidores da bomba de protões diminuem a absorção de carbonato de cálcio e fosfato de cálcio. Sabe-se ainda que os glucocorticoides também diminuem a absorção de cálcio.
Os diuréticos, tal como as tiazidas (medicamentos para a hipertensão), aumentam o risco de hipercalcémia (excesso de cálcio) por aumento da reabsorção de cálcio nos rins.
Doses elevadas de cálcio em pessoas que tomam digoxina (medicamento para o coração) aumenta a probabilidade de alterações no ritmo cardíaco, por isso é preciso precaução nesta associação.
O cálcio será mais eficaz se for acompanhado das vitaminas A, C e D, ferro, magnésio e fósforo.
Magnésio (Mg)
O magnésio é um dos minerais mais importantes para o nosso organismo estando envolvido em mais de 300 reações essenciais do nosso corpo. O magnésio é importante para o funcionamento do hipocampo, que é uma parte do sistema límbico que controla o humor, a memória e a aprendizagem. Boas fontes de magnésio são por exemplo as oleaginosas, damascos secos, figos secos, aveia, farinha integral e extrato de levedura.
Precauções sobre o magnésio
No entanto a suplementação com magnésio deve ser cuidadosa pois pode causar sérios transtornos gastro intestinais, nomeadamente diarreias perigosas.
Ferro (Fe)
O ferro é essencial para a formação de hemoglobina nas hemácias. a hemoglobina é a substância que leva um fluxo constante de oxigênio para o cérebro. O consumo adequado melhora a função mental e o desempenho académico. Os sinais iniciais de deficiência de ferro são a fadiga e falta de concentração. Exemplos de boas fontes de ferro são a carne, os miúdos do animal, sardinha, gemas e hortaliças de folhas verde-escuras.
Precauções sobre o ferro
A suplementação com ferro deve ser cuidadosamente vigiada pelo médico pois o excesso de ferro pode ser muito perigoso por causa da sua enorme capacidade de oxidação. Na natureza pode observa-se esse poderoso fenómeno de oxidação com a ferrugem das peças compostas de ferro.
Zinco (Zn)
O zinco é um mineral essencial encontrado em alguns alimentos e suplementos. É necessária a sua ingestão diária uma vez que o nosso organismo não possui reservas deste mineral.
A importância do zinco na nutrição humana e na saúde pública foi conhecida há relativamente pouco tempo. A deficiência neste mineral foi descrita pela primeira vez em 1961, quando o consumo de dietas com baixa biodisponibilidade de zinco devido aos fitatos presentes nos alimentos foi associado ao nanismo. Assim, a deficiência em zinco foi reconhecida como um problema importante de saúde pública, principalmente nos países em desenvolvimento.
O zinco está envolvido inúmeras etapas do metabolismo celular. É essencial para a atividade de mais de 300 enzimas e tem um papel relevante nas seguintes funções e processos:
Função imunitária,
Síntese proteica,
Metabolismo dos hidratos de carbono,
Metabolismo dos lípidos,
Medeia o metabolismo de algumas vitaminas como a vitamina A (retinol), vitamina B6 (piridoxina) e vitamina B9 (folato ou ácido fólico),
Cicatrização de feridas,
Síntese do DNA,
Divisão celular e apoptose,
Libertação de hormonas como a testosterona,
Transmissão dos impulsos nervosos,
Promove a ação da insulina,
Essencial para os sentidos do olfato e paladar e tem propriedades antioxidantes,
Contribui ainda para o normal crescimento e desenvolvimento durante a gravidez, infância e adolescência.
A ingestão de zinco contribui ainda para uma normal função cognitiva, para uma fertilidade e reprodução normal, e para a manutenção de ossos, cabelo, unhas, pele e visão normais.
Fontes de zinco
O zinco pode ser encontrado numa grande variedade de alimentos tais como carne vermelha e de aves, feijão, nozes, marisco (ostras, caranguejo e lagosta), cereais enriquecidos, gérmen de trigo, levedura de cerveja, sementes de abóbora, ovos e laticínios.
Não existem estudos que permitam estabelecer o VRN, mas os seguintes valores garantem uma nutrição saudável:
Homens 11mg/dia,
Mulheres 8mg/dia.
Cuidado com os fitatos!
Os fitatos do pão integral, cereais, legumes e outros alimentos ligam-se ao zinco e inibem a sua absorção, por isso a biodisponibilidade do zinco a partir de cereais e vegetais é menor do que a partir de alimentos de origem animal.
Carência em zinco
Não são comuns os casos de deficiência em zinco. Quando ocorre regra geral deve-se à ingestão ou absorção inadequadas, aumento das perdas de zinco no organismo ou aumento das necessidades.
A carência em zinco pode ocorrer em casos de doenças associadas ao trato gastrointestinal, vegetarianismo, gravidez e amamentação, ou pessoas que sofrem de alcoolismo e caracteriza-se por atraso no crescimento, perda de apetite e função imunitária alterada.
Nos casos graves ocorre queda de cabelo, diarreia, infeções frequentes, desenvolvimento sexual retardado, impotência, hipogonadismo nos homens, danos nos olhos e pele, perda de peso, cicatrização de feridas demorada, alterações no paladar e letargia.
Uso terapêutico
Doentes com úlceras crónicas na perna apresentam alterações no metabolismo do zinco e baixos níveis deste mineral no sangue, assim, os médicos tratam as úlceras com suplementos de zinco.
A deficiência em zinco provoca uma alteração na resposta imunitária que contribui para uma maior susceptibilidade a infeções, o que pode aumentar a probabilidade de contrair diarreia, principalmente nas crianças. Por isso a OMS (Organização Mundial de Saúde) e a UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância) recomendam um suplemento diário de zinco de 20mg durante 10 a 14 dias para crianças com diarreia aguda e 10mg para bebés com menos de 6 meses de idade para reduzir a gravidade da situação e prevenir novas ocorrências nos 2-3 meses seguintes.
Nas constipações, foi demonstrado que o zinco é benéfico na redução da duração e gravidade em pessoas saudáveis, se usado nas primeiras 24 horas após o aparecimento dos sintomas. No entanto, são necessários mais estudos para determinar a dose, formulação e duração do tratamento para uma recomendação mais precisa.
Precauções
A toxicidade causada pelo zinco pode ser aguda ou crónica. Na fase aguda, podem ocorrer náuseas, vómitos, perda de apetite, dores abdominais, diarreia e dores de cabeça.
Na toxicidade crónica, teremos níveis baixos de cobre, alterações no ferro, redução da função imunitária e níveis reduzidos de HDL (colesterol bom).
Grandes quantidades de ferro nos suplementos podem diminuir a absorção de zinco, por isso os suplementos de ferro devem ser tomados no intervalo das refeições de modo a diminuir esta interação. Por outro lado, doses elevadas de zinco podem inibir a absorção de cobre.
A deficiência em zinco está associada a uma diminuição da libertação de vitamina A a partir do fígado. Assim, aumentando a ingestão de zinco, torna-se necessário aumentar também a ingestão de vitamina A.
Algumas substâncias inibem a absorção do zinco, tais como fibras, cálcio, magnésio, fósforo, ferro inorgânico e fitatos. Outras substâncias promovem a sua absorção, tais como a carne, metionina, cisteína, ácido cítrico e ácido láctico.
Alguns medicamentos podem diminuir os níveis de zinco, como é o caso da cisplatina, desferroxamina, diuréticos, IECAs (Inibidores da Enzima Conversora da Angiotensina) e valproato de sódio.
O zinco fortalece o sistema imunitário, por isso não deve ser tomado juntamente com medicamentos imunossupressores como corticosteroides ou ciclosporina.
O zinco reduz a absorção e a ação da penicilamina, por isso, os suplementos de zinco, devem ser tomados pelo menos 2 horas antes ou depois da toma de penicilamina.
O zinco atua melhor em associação com a vitamina A, cálcio e fósforo.
O que faz bem ao cérebro?
Desengane-se se considera que apenas um suplemento multivitamínico e mineral, por si só, vai resolver o problema de saúde do nosso cérebro pois este é demasiado complexo para uma abordagem tão simplista como gostaríamos! Para além das vitaminas e minerais acima descritas serem importantes para a nossa saúde cerebral, existem outros fatores muito relevantes sem os quais dificilmente teremos a capacidade para manter uma boa memória, raciocino, boas decisões, lucidez e provavelmente felicidade! Descrevo de seguida os mais importantes e os artigos que já publiquei (basta clicar na imagem para ler) sobre esses temas tão importantes:
Qualidade do sono;
Atividade física;
Ansiedade ou stress sob controle;
Tensão arterial controlada;
Não beber álcool.
Os temas acima descritos estão detalhados nos seguintes artigos já publicados:
Antinutrientes são substâncias químicas encontradas em plantas que impedem o nosso corpo de absorver nutrientes essenciais dos alimentos; Os principais antinutrientes que devemos observar são lectinas, fitatos, glúten e oxalatos, embora nem todos sejam maus;
Algumas pessoas são mais sensíveis aos antinutrientes do que outras; Testa a tua sensibilidade com uma dieta de eliminação para confirmar os sintomas; Comer uma fonte constante de antinutrientes pode levar a problemas intestinais, inflamação, artrite e confusão mental, sendo mais inteligente comer alimentos que não apresentam riscos potenciais;
Antinutrientes o que são?
Antinutrientes são compostos encontrados em alimentos que interferem na absorção de nutrientes e minerais benéficos. Eles impedem que o corpo seja a esponja de micronutrientes eficiente que deveria ser. Extraímos os alimentos e nutrientes que necessitamos a partir do ambiente que nos rodeia mas a evolução desenvolveu plantas com capacidade de se protegerem de maneira a poderem sobreviver. Os fitoquímicos que consomem nutrientes protegem as plantas comestíveis saborosas de serem devorados até ao ponto de extinção.
Esse sistema de defesa de última geração ensinou aos animais que o consumo excessivo resultava em doenças e às vezes em morte. Os animais evoluíram para conseguirem digerir as plantas ricas em antinutrientes ou para deixarem de as comer.
Os antinutrientes são encontrados em maiores concentrações nos grãos, feijões, leguminosas e nozes, mas também podem ser encontrados em folhas, raízes e frutos de certas variedades de plantas.
Será que temos mesmo de evitar estas plantas?
Nem todos os antinutrientes são maus. É impossível evitá-los todos e não se sentiremos bem se cortarmos todos da nossa dieta. Em vez disso, precisamos evitar aqueles que causam grandes danos no nosso intestino ou aqueles que são gatilhos para reações mais agressivas do nosso organismo. Somente eliminando um alimento da dieta e reintroduzindo-o se pode determinar se esse alimento é prejudicial.
As lectinas são proteínas que causam problemas no sistema digestivo, aderindo à parede intestinal e criando permeabilidade intestinal.1 Quando a comida se move pelo trato gastrointestinal, ela atinge o revestimento do intestino, causando microtrauma. Normalmente, as células e os nossos mecanismos de proteção reparam esses danos antes que isso leve a qualquer problema real. As lectinas atrapalham esse processo. Elas aderem às paredes do seu intestino, impedindo a reparação. O dano resultante causa inflamação de baixo nível no trato gastrointestinal.
Quando comemos muitas lectinas, a parede intestinal desenvolve “buracos” e o conteúdo passa para a corrente sanguínea, causando a síndrome do intestino permeável.
Existem milhares de variedades de lectinas pois elas estão presentes na maioria das espécies de plantas. Nem todas são tóxicas ou causam danos intestinais. As fontes mais comuns de lectinas incluem:
Grãos,
Legumes,
Solanáceas.
Exemplos de plantas que contêm drasticamente mais lectinas do que outras fontes de alimentos, são os seguintes:
Trigo,
Feijão,
Quinoa,
Ervilha,
Amendoim,
Batata branca,
Tomate,
Berinjela.
Todos são suspeitos e podem causar problemas sem tu saberes! Quanto mais comemos, mais danos causam ao nosso corpo. Em vez disso, concentra-te em obter a maior parte dos nutrientes de alimentos de baixo risco. Dito isto, a sensibilidade à lectina varia muito de pessoa para pessoa. Pode comer lectinas de manhã, ao meio-dia e à noite e nunca ter problemas, no entanto podes ter um amigo que não pode tocar nessas plantas. Sabes que tens um problema com as lectinas se, depois de comer uma refeição rica em lectinas, sentires os seguintes sintomas:
Inflamação,
Confusão mental,
Enxaquecas,
Problemas gástricos,
Acne
Dor nas articulações.
Solanáceas
As lectinas das solanáceas, em particular, são um gatilho autoimune comum e podem causar sensibilidade em muitas pessoas. Para testar a tua sensibilidade, experimenta um almoço cheio de solanáceas tais como tomates, pimentões e batatas e analisa como te sentes depois.
Na maioria das vezes, podes eliminar ou reduzir o número de lectinas na comida cozinhando-a primeiro. O Dr. Steven Gundry, famoso cirurgião cardíaco, pesquisador, médico e autor, explica como diferentes métodos de preparação podem reduzir o teor de lectinas, o que minimiza os efeitos indesejáveis dos antinutrientes.
“O cozimento sob pressão faz um bom trabalho na destruição das lectinas. A ideia de deixar o feijão de molho com várias trocas de água definitivamente diminui as lectinas. O calor diminui as lectinas”, explica Gundry. “Mas existem documentos muito válidos que mostram que isso provavelmente não é suficiente para indivíduos muito sensíveis.”
Dicas de dieta:
Escolhe arroz branco em vez de arroz integral, as lectinas estão na casca do arroz;
A batata-doce tem drasticamente menos teor de lectinas do que a batata branca;
Evita a manteiga de amendoim pois as lectinas do amendoim causam uma resposta inflamatória na maioria das pessoas e não são destruídas pelo calor;
O ácido fítico, também conhecido como fitatos, é um dos antinutrientes mais perigosos, bloqueando a absorção de nutrientes pesados como magnésio, zinco, cálcio e ferro, entre outros. Encontrado em grãos integrais, nozes, soja e sementes, o ácido fítico liga-se a esses minerais, impedindo a sua absorção.
Os fitatos também inibem as enzimas digestivas pepsina, tripsina e amilase. A amilase é necessária para a quebra do amido, enquanto a tripsina e a pepsina estão envolvidas na quebra da proteína. Quando essas enzimas não estão presentes nas quantidades certas, os alimentos não são processados adequadamente e o nosso corpo perde os principais nutrientes.
Se o nosso corpo tem um grande influxo de fitatos, isso significa que há menos nutrientes para distribuir, mas o corpo também é substancialmente menos eficiente em quebrar os macronutrientes nos seus componentes mais básicos e nutritivos.
O nosso corpo pode lidar com uma certa quantidade de fitatos, mas é uma boa ideia eliminar as principais fontes para que os nossos minerais sejam absorvidos. Além disso, removê-los completamente de nossa dieta seria impossível.
Para construir músculos ou queimar gordura, o corpo precisa de uma certa quantidade de proteínas ou carboidratos. No entanto, essa quantidade depende em grande parte de quão saudável é nosso intestino. Isso porque um sistema digestivo otimizado requer menos comida para alimentar o corpo adequadamente.
O ácido fítico é mais concentrado no farelo de grãos, por isso prefere o arroz branco em vez do arroz integral. Nas leguminosas, o ácido fítico é encontrado na camada de cotilédones, que é muito mais difícil de remover, por isso leguminosas como feijão, lentilhas e soja devem ser consumidas com muito cuidado.
Cozinhar certos alimentos que são ricos em fitatos e depois drenar a água ou mergulhá-los em um ácido como limão ou vinagre reduz os fitatos, mas muitos dos grãos e sementes que contêm fitatos são irritantes para o intestino mesmo quando cozidos.
Dicas de dieta:
Evite a canola ou outros óleos de sementes; cozinhe com óleo de abacate, óleo de coco ou manteiga/ghee.
Evite o feijão pois é rico em carboidratos e não particularmente rico em nutrientes
Ácido oxálico (oxalatos)
Se gostas de batidos de espinafre e couve fica a saber que podes estar a causar mais mal do que bem ao teu organismo! O ácido oxálico é um composto antinutriente encontrado em muitas plantas, como vegetais crucíferos crus tais como:
Couve,
Rabanete,
Couve-flor,
Brócolos
Acelga,
Espinafre,
Salsa,
Beterraba,
Pimenta preta,
Chocolate,
Nozes,
Frutas,
Feijão.
Quando os oxalatos se ligam ao cálcio no sangue, formam-se pequenos cristais de ácido oxálico que podem ser depositados em qualquer parte do corpo e causar dores musculares. Quando isso acontece nos rins, causa pedras nos rins. Os oxalatos também causam uma condição nas mulheres chamada vulvodinia, que leva ao sexo doloroso por causa dos cristais de ácido oxálico nos lábios.
Em pessoas sensíveis, mesmo pequenas quantidades de oxalatos causam queimação nos olhos, ouvidos, boca e garganta. Consumir grandes quantidades pode causar dor abdominal, fraqueza muscular, náusea e diarreia. As pessoas que comem grandes quantidades de vegetais crus podem ser particularmente suscetíveis.
Como os fitatos, os oxalatos podem ser reduzidos cozinhando e drenando a água, ou mergulhando em ácido. O magnésio e o zinco dietéticos adicionados ligam-se ao ácido oxálico, diminuindo substancialmente a absorção de oxalato.2
Dicas de dieta:
Nunca adicione couve crua, espinafre ou acelga a saladas ou batidos. Cozinhe-os a vapor primeiro.
Ao temperar as refeições, não use a pimenta preta para evitar oxalatos.
Glúten
O glúten é uma proteína encontrada no trigo, cevada, centeio e aveia que pode causar permeabilidade intestinal (ou seja, intestino permeável). “O problema com o glúten é que nenhum humano pode digeri-lo. É impossível digerir as proteínas do glúten que estão no trigo, cevada e centeio”, segundo o nutricionista certificado Tom O’Bryan, autor de “The Autoimmune Fix”.
O espectro de reação à indigestibilidade do glúten coloca as pessoas em duas categorias:
Sensibilidade ao glúten celíaca
Sensibilidade ao glúten não celíaca.
A maioria da população tem sensibilidade ao glúten não celíaca. Substâncias não digeríveis no sistema digestivo causam uma resposta imune, as respostas imunes assumem a forma de inflamação. A inflamação é, na maioria das vezes, a culpada por trás de nossa névoa cerebral, desconforto digestivo e absorção de nutrientes abaixo do ideal.
Grãos contendo glúten decompõem-se no intestino em compostos opióides chamados gluteomorfinas que acionam os mesmos receptores cerebrais que drogas opiáceas como a heroína, o que significa que são altamente viciantes.
Estruturalmente, o glúten é composto de dois tipos de proteínas de armazenamento, prolaminas e glutelinas.3 As glutelinas à base de trigo são chamadas gluteninas, que consistem em subunidades de alto peso molecular (HMW) e baixo peso molecular (LMW). Os produtos de trigo feitos com níveis mais elevados de HMW tendem a ser mais elásticos e consequentemente mais mastigáveis como a massa de pizza; enquanto níveis mais baixos de HMW tendem a assumir a forma de doces.4 Originalmente, pensava-se que a giladina (a prolamina à base de trigo) era o principal antinutriente que contribui para o glúten, mas foi demonstrado que a glutenina é igualmente tóxica.5 Assim, mesmo quando comemos algo que parece mais leve, estamos a degradar o nosso seu sistema digestivo pois é na mesma uma forma de glúten.
O glúten está escondido em lugares além das fontes óbvias; produtos como molho de soja, cerveja e até carnes processadas contêm glúten o que pode estar prejudicar o nosso desempenho físico e mental.
Dicas de dieta:
Substitui qualquer farinha à base de trigo por farinha de mandioca para evitar o glúten;
Se bebes álcool, evita a cerveja e bebe vodka de batata ou gim para evitar o glúten em tua bebida.
A glutationa é um dos antioxidantes mais importantes do nosso organismo, talvez até o mais poderoso, desempenhando um papel crucial na manutenção da saúde, combate aos sinais de envelhecimento e na prevenção de doenças. Neste artigo, explora-se detalhadamente o que é a glutationa, as suas funções e como contribui para a nossa saúde. Além disso, descrevo maneiras de aumentar os níveis de glutationa através da alimentação, suplementação, hábitos de vida saudáveis e qual a sua intrigante relação com a melatonina que regula o nosso sono.
O que é a glutationa?
Glutationa, glutationo ou glutatião é um tripeptídeo linear, com uma ligação ‘Y-amida incomum, constituído por três aminoácidos:
Ácido glutâmico (glutamato),
Cisteína,
Glicina.
O grupo tiol da cisteína o local ativo responsável pelas suas propriedades bioquímicas.
A glutationa (gama-glutamil-cisteinil-glicina; GSH) é o tiol de baixo peso molecular mais abundante, e o dissulfeto de GSH/glutationa é o principal par redox nas células animais. A síntese de GSH a partir de glutamato, cisteína e glicina é catalisada sequencialmente por duas enzimas citosólicas, a gama-glutamilcisteína sintetase e a GSH sintetase.
Evidências convincentes mostram que a síntese de GSH é regulada principalmente pela atividade da gama-glutamilcisteína sintetase, pela disponibilidade de cisteína e pela inibição por feedback da GSH. Estudos em animais e humanos demonstram que a nutrição proteica adequada é crucial para a manutenção da homeostasia do GSH. Além disso, a cistina entérica ou parentérica, a metionina, a N-acetilcisteína e a L-2-oxotiazolidina-4-carboxilato são precursores eficazes da cisteína para a síntese de GSH tecidual.
A glutationa é encontrada em todas as células do corpo e é conhecido por ser um potente antioxidante. Além disso, a glutationa é essencial para várias funções celulares e metabólicas, incluindo a desintoxicação de compostos nocivos, síntese de proteínas e regulação do sistema imunitário.
A glutationa desempenha papéis importantes na defesa antioxidante, no metabolismo dos nutrientes e na regulação de eventos celulares, incluindo:
Expressão genética,
Síntese de ADN e proteínas,
Proliferação celular e apoptose,
Transdução de sinal,
Produção de citocinas e resposta imunitária,
Glutationilação proteica.
A deficiência de glutationa contribui para o stress oxidativo, que desempenha um papel fundamental no envelhecimento e na patogénese de muitas doenças, tais como:
Novos conhecimentos sobre a regulação nutricional do metabolismo da GSH são críticos para o desenvolvimento de estratégias eficazes para melhorar a saúde e tratar estas doenças.
A glutationa tem múltiplas funções, destacando-se principalmente como um antioxidante que protege as células contra os danos causados pelos radicais livres. Este composto também desempenha um papel importante na desintoxicação, ajudando a neutralizar e eliminar toxinas do organismo. Além disso, a glutationa é fundamental no transporte de aminoácidos, síntese de proteínas, proteção contra a radiação solar e na manutenção da saúde geral.
Ação antioxidante
Como antioxidante, a glutationa protege as células dos danos oxidativos, neutralizando os radicais livres e outras espécies reativas de oxigênio. Estes radicais livres podem causar danos às células, proteínas e DNA, contribuindo para o envelhecimento precoce e o desenvolvimento de várias doenças. A glutationa ajuda a manter o equilíbrio redox celular, promovendo a saúde celular e prevenindo danos oxidativos.
Eliminação de toxinas
Uma das funções mais importantes da glutationa é a desintoxicação. Ele ajuda a converter toxinas lipossolúveis em compostos hidrossolúveis, facilitando a sua excreção do organismo através da urina ou bílis. Este processo é crucial para a remoção de substâncias nocivas, como metais pesados, poluentes ambientais, radiação e produtos químicos presentes em medicamentos.
Os átomos de enxofre presentes na sua estrutura atuam como um íman na atração de radicais livres e toxinas, mercúrio e metais pesados, que são excretados pelas fezes e urina.
Transporte de aminoácidos
A glutationa também desempenha um papel essencial no transporte de aminoácidos através das membranas celulares. Este processo é fundamental para a síntese de proteínas e para a manutenção do equilíbrio de aminoácidos no nosso corpo, contribuindo para a saúde muscular, regeneração celular e diversas funções metabólicas.
Síntese de proteínas
No caso de situações de extremo stress oxidativo, ocorre depleção ou diminuição da síntese proteica e, como sabemos, as proteínas são parte fundamental na composição de células e tecidos no organismo, inclusive do nosso sistema imunológico.
Portanto, a síntese proteica tem um papel fundamental para a recuperação e o fortalecimento do organismo, bem como para atenuar casos de sarcopenia (perda de massa muscular em decorrência do envelhecimento) e também atua na produção dos anticorpos, fortalecendo ainda mais o sistema imunitário.
A síntese de proteínas é um processo vital para a reparação e crescimento celular, a glutationa participa na formação de novas proteínas, atuando como um substrato e regulador da atividade enzimática. A presença adequada de glutationa no organismo assegura que as proteínas sejam sintetizadas corretamente, o que é crucial para a manutenção da saúde e do funcionamento adequado do nosso organismo..
Proteção contra a radiação solar
A glutationa também oferece proteção contra os efeitos nocivos da radiação ultravioleta (UV) do sol. A exposição prolongada ao sol pode causar danos à pele, envelhecimento prematuro e aumentar o risco de cancro de pele. A glutationa ajuda a neutralizar os radicais livres gerados pela radiação UV, protegendo a pele e promovendo a saúde cutânea.
Combate envelhecimento e pele mais saudável
Os níveis de glutationa no corpo tendem a diminuir com a idade, o que pode contribuir para o aparecimento de sinais de envelhecimento. Manter níveis adequados de glutationa é essencial para combater os efeitos do envelhecimento, como rugas, perda de elasticidade da pele e diminuição da função celular. A glutationa ajuda a preservar a juventude celular e a manter uma aparência saudável e jovem.
A glutationa é um dos antioxidantes que ajudam na desintoxicação, prevenção de doenças e resistência ao declínio cognitivo, protegendo as células e as mitocôndrias contra os danos oxidativos e peroxidativos. Também está relacionada com o fornecimento de energia, uma vez que a sua síntese depende do trifosfato de adenosina (ATP), molécula que fornece energia celular.
Quando o corpo envelhece a capacidade de produzir glutationa diminui, no entanto existem maneiras de otimizar a molécula no organismo por meio de uma alimentação saudável e suplementação adequada, como veremos mais adiante.
Declínio cognitivo e dano mitocondrial
O stress oxidativo e o dano mitocondrial estão implicados na evolução de doenças neurodegenerativas. O aumento do dano oxidativo em regiões específicas do cérebro durante o envelhecimento pode tornar o cérebro suscetível à degeneração. Existem evidências de um aumento do dano oxidativo e uma diminuição da função antioxidante na substância negra durante o envelhecimento, tornando-a vulnerável à degeneração associada à doença de Parkinson. Para compreender se o envelhecimento contribui para a vulnerabilidade das regiões cerebrais na doença de Alzheimer, foram avaliados os marcadores oxidantes e antioxidantes, as enzimas metabólicas da glutationa, a expressão da proteína glial fibrilar ácida e a atividade do complexo mitocondrial I no hipocampo e córtex frontal em comparação com o cerebelo em cérebros humanos com o aumento da idade.
As regiões do hipocampo e do córtex frontal estão sujeitas a stress oxidativo generalizado, perda de função antioxidante e expressão aumentada de proteína ácida fibrilar glial durante o envelhecimento, o que pode torná-las mais suscetíveis à fisiologia perturbada e à degeneração neuronal seletiva.
O declínio cognitivo está associado ao envelhecimento e a doenças neurodegenerativas, como a doença de Alzheimer e a doença de Parkinson. A glutationa desempenha um papel crucial na proteção do sistema nervoso central, ajudando a prevenir danos oxidativos nos neurónios e melhorando a função cognitiva. Manter níveis adequados de glutationa pode ser uma estratégia importante para prevenir ou retardar o declínio cognitivo.
Sistema imunitário
A glutationa é fundamental para o bom funcionamento do sistema imunitário. Ele ajuda a regular a resposta imunitária, promovendo a atividade das células imunes e protegendo-as contra o stress oxidativo. Níveis adequados de glutationa são essenciais para a manutenção de um sistema imunitário forte e eficaz, capaz de combater infeções e doenças.
Proteção e recuperação celular
A proteção e recuperação celular são processos vitais para a saúde do organismo. A glutationa ajuda a proteger as células contra danos e promove a reparação celular, assegurando que as células danificadas sejam restauradas de forma eficiente. Este processo é crucial para a manutenção da saúde e para a prevenção de doenças crónicas.
Cicatrização
A glutationa desempenha um papel importante na cicatrização de feridas, promovendo a regeneração celular e a síntese de colagénio. A presença adequada de glutationa no organismo acelera o processo de cicatrização e assegura que as feridas sejam curadas de forma eficiente e eficaz.
Efeitos do stress e do envelhecimento no metabolismo da glutationa
A glutationa desempenha um papel crítico em muitos processos biológicos, tanto diretamente como cofator em reações enzimáticas como indiretamente como o principal tampão redox tiol-dissulfeto em células de mamíferos. Também fornece um sistema de defesa crítico para a proteção das células contra muitas formas de stress. No entanto, o stress ligeiro aumenta geralmente os níveis de glutationa, muitas vezes, mas não exclusivamente, através de efeitos sobre a glutamato cisteína ligase, a enzima limitante da taxa de biossíntese da glutationa.
Esta regulação positiva da glutationa proporciona uma proteção contra um stress mais severo e pode ser uma característica crítica do pré-condicionamento e da tolerância. Em contraste, durante o envelhecimento, os níveis de glutationa parecem diminuir em vários tecidos, colocando assim as células em maior risco de sucumbirem ao stress. A evidência de tal declínio é mais forte no cérebro, onde a perda de glutationa está implicada tanto na doença de Parkinson como na lesão neuronal após acidente vascular cerebral.
Níveis baixos de glutationa no sangue em adultos saudáveis
Uma investigação científica testou a hipótese de que os níveis de glutationa no sangue são mais baixos nos seres humanos idosos, como já foi encontrado anteriormente no sangue e nos tecidos dos modelos padrão de envelhecimento em roedores. Assim, foi realizado um estudo com 39 homens e 130 mulheres, dos 20 aos 94 anos, selecionados pelos critérios de serem ambulatórios, saudáveis e livres de diabetes mellitus, doenças da tiroide, anemias e cancro. O grupo de referência foi constituído por indivíduos dos 20 aos 39 anos, cujos níveis de glutationa no sangue foram de 547 ± 53,5 μg/1010 eritrócitos, para 40 indivíduos e definiu o intervalo de referência (limites de confiança de 95 %) de 440 para 654.
Com base no limite de 440 μg/1010 eritrócitos, a incidência de baixo teor de glutationa no sangue nos indivíduos mais velhos aumentou significativamente, particularmente no grupo dos 60 aos 79 anos de idade. Os seus níveis de glutationa foram 452 ± 86,8 μg/1010 eritrócitos, 17% inferiores ao grupo de referência). Estes resultados demonstram um aumento da incidência de níveis baixos de glutationa em idosos aparentemente saudáveis, que podem estar em risco devido a uma diminuição da capacidade de manter muitas reações metabólicas e de desintoxicação mediadas pela glutationa.
Como aumentar os níveis de glutationa
Manter níveis adequados de glutationa no organismo é crucial para a saúde geral. A produção de glutationa pode ser afetada por diversos fatores, incluindo a idade, dieta, stress e exposição a toxinas. Existem várias maneiras de aumentar os níveis de glutationa, incluindo a ingestão de alimentos ricos em precursores de glutationa e antioxidantes, uso de suplementos eficazes e adoção de hábitos de vida saudáveis.
Melhores alimentos para aumentar os níveis de glutationa
Os alimentos ricos em precursores de glutationa e antioxidantes são essenciais para manter e aumentar os níveis de glutationa no organismo. Alguns dos melhores alimentos incluem:
Vegetais crucíferos: brócolos, couve, couve-flor, couve-de-bruxelas e agrião.
Alho e cebola: ricos em compostos sulfurados que ajudam na síntese de glutationa.
Espinafre e outros vegetais de folhas verdes: contêm precursores de glutationa e antioxidantes.
Abacate: uma fonte rica de antioxidantes e precursores de glutationa.
Frutas cítricas: laranjas, limões e toranjas são ricas em vitamina C, que ajuda na regeneração de glutationa.
Curcumina.
Proteína do soro de leite de alta qualidade.
Leite não pasteurizado e que não contenha pesticidas, hormonas ou antibióticos.
Suplementos
Existem algumas dúvidas sobre a estabilidade das fórmulas orais de glutationa já disponíveis. Destas deve escolher-se a que utilizar a glutationa lipossomal que apresenta uma melhor absorção orgãnica. No entanto, alguns suplementos podem ser uma maneira eficaz de aumentar os níveis de glutationa, especialmente para aqueles que têm dificuldades em obter quantidades adequadas através da dieta. É importante escolher suplementos de alta qualidade e seguir as recomendações com a dosagem adequada.
Melhores suplementos para aumentar níveis de glutationa
Alguns dos melhores suplementos para aumentar os níveis de glutationa incluem:
N-acetilcisteína (NAC): um precursor da glutationa que ajuda a aumentar os níveis deste antioxidante no corpo;
Glutationa lipossomal: uma forma de glutationa que é melhor absorvida pelo organismo;
Ácido alfa-lipóico: um antioxidante que ajuda a regenerar a glutationa no corpo.
Selénio: um mineral essencial que apoia a atividade da glutationa peroxidase, uma enzima dependente de glutationa;
Nutrientes de metilação: Ácido fólico (vitamina B9), vitamina B6 e vitamina B12;
Vitamina C;
Vitamina E;
Cardo-mariano, também conhecido como Cardo-leiteiro (usado há muito tempo em doenças do fígado).
Cistitoneforte (marca comercial da Cantabria Labs): Junta 500 mg de L-Cistina, 10 mg de L-Glutationa, Cobre, Zinco, Vitaminas B5 e B6, sendo utilizada no combate à queda de cabelo.
Advancis capilar essencial (marca comercial da Farmodiética): Contém glutamato e glicina que são precursores da glutationa. Usado para fortalecer cabelo e unhas.
Suplementação de glicina e N-acetilcisteína (GlyNAC) em idosos
O stress oxidativo (OxS) e a disfunção mitocondrial estão implicados como fatores causais do envelhecimento. Os adultos mais velhos (OAs) têm uma prevalência aumentada de OxS elevada, oxidação de combustível mitocondrial (MFO) prejudicada, inflamação elevada, disfunção endotelial, resistência à insulina, declínio cognitivo, fraqueza muscular e sarcopenia, mas os mecanismos contribuintes são desconhecidos e as as intervenções são limitadas/falta. Relatamos anteriormente que a indução da deficiência do tripeptídeo antioxidante glutationa (GSH) em ratinhos jovens resulta em disfunção mitocondrial, e que a suplementação de GlyNAC (combinação de glicina e N-acetilcisteína [NAC]) em ratinhos idosos melhora a deficiência natural de GSH, o comprometimento mitocondrial , OxS e resistência à insulina.
Estudo em humanos
A investigação sobre a causa do declínio funcional que pode ocorrer com o envelhecimento tem progredido rapidamente nos últimos anos. Os investigadores na área do envelhecimento e da longevidade estão a trabalhar para desenvolver tratamentos que não só atrasem o aparecimento de doenças relacionadas com a idade, mas que possam realmente reverter alguns dos seus aspectos. Um estudo avalia uma estratégia nutricional que pode aumentar as defesas celulares em indivíduos mais velhos para proteger contra o stress oxidativo, corrigir defeitos mitocondriais, aumentar a força muscular e a cognição e promover um envelhecimento saudável.
Um ensaio clínico piloto em humanos de março de 2021 publicado na Clinical and Translational Medicine sugere que os indivíduos mais velhos que tomam GlyNAC – uma combinação de glicina e N-acetilcisteína que são precursores do antioxidante glutationa – podem melhorar alguns fatores causais associados ao envelhecimento, incluindo deficiência de glutationa, oxidação stress, disfunção mitocondrial, inflamação, resistência à insulina, disfunção endotelial, gordura corporal, toxicidade genómica, força muscular, velocidade de marcha, capacidade de exercício e função cognitiva. Os autores do estudo indicam que a suplementação de GlyNAC pode ser uma solução simples, segura e eficaz estratégia nutricional para idosos.
Este ensaio clínico piloto exploratório aberto testou os efeitos da suplementação nutricional com GlyNAC durante um período de 24 semanas e da retirada do GlyNAC durante 12 semanas. Os investigadores trabalharam com adultos mais velhos, com idades compreendidas entre os 70 e os 80 anos, e compararam-nos com mais jovens do mesmo género adultos entre os 21 e os 30 anos. Observaram melhorias em muitos defeitos característicos do envelhecimento e, especificamente, após a toma de GlyNAC durante 24 semanas, todos os defeitos em adultos mais velhos melhoraram e alguns até reverteram para os níveis encontrados em adultos jovens. Os benefícios diminuíram após a interrupção da suplementação durante 12 semanas.
“Acredita-se que a correção destas características do envelhecimento poderia melhorar ou reverter muitos distúrbios relacionados com a idade e ajudar as pessoas a envelhecer de forma mais saudável”, disse o autor correspondente, o endocrinologista Dr. Rajagopal Sekhar, num comunicado de imprensa emitido pelo Baylor College of Medicine. “No entanto, não compreendemos completamente porque é que estes defeitos característicos acontecem, e atualmente não existem soluções para corrigir sequer um único defeito característico do envelhecimento.” Dr. Sekhar, que tem estudado o envelhecimento natural em humanos mais velhos nos últimos 20 anos, acredita que melhorar a saúde das mitocôndrias com mau funcionamento no envelhecimento é a chave para uma vida mais saudável. Alguns estudos sugerem que os níveis de glutationa nas pessoas mais velhas podem ser mais baixos do que nas pessoas mais jovens e os níveis de stress oxidativo podem ser muito mais elevados.
Os investigadores descobriram que a principal razão para a deficiência de glutationa em adultos mais velhos pode ser a diminuição da síntese causada pela diminuição da disponibilidade de glicina e cistina. É por isso que acreditam que o GlyNAC é uma melhoria em relação à suplementação apenas com NAC. A síntese de glutationa requer duas etapas bioquímicas: na primeira etapa, a cisteína é adicionada ao ácido glutâmico para formar a glutamilcisteína intermédia e, na segunda etapa, a glicina é adicionada à glutamilcisteína para formar a glutationa.
Os autores do estudo especulam que o O GlyNAC representa três forças que poderiam estar a operar simultaneamente para resultar em melhorias generalizadas nos adultos mais velhos:
A correção da deficiência de glutationa resulta na correção do stress oxidativo e da disfunção mitocondrial.
GlyNAC contém glicina, um importante dador de grupo metilo que é importante para o funcionamento normal do cérebro.
O GlyNAC contém N-acetilcisteína, que funciona como dador de cisteína e é de importância crucial no metabolismo energético.
Os investigadores disseram que lhe chamam o “poder do 3” porque acreditam que são necessários os benefícios combinados da glicina, NAC e glutationa para alcançar esta melhoria generalizada em indivíduos mais velhos.
Hábitos de vida para melhorar os níveis de glutationa
Manter um estilo de vida saudável é fundamental para preservar os níveis de glutationa no organismo. Algumas práticas recomendadas incluem:
Exercício físico regular: ajuda a aumentar os níveis de glutationa, melhorar a desintoxicação e as defesas antioxidantes do nosso organismo.
Sono adequado: o descanso é essencial para a regeneração celular e a manutenção dos níveis de glutationa.
Gestão do stress: práticas como meditação, yoga e técnicas de respiração podem ajudar a reduzir o stress e a preservar os níveis de glutationa.
Evitar toxinas: reduzir a exposição a poluentes ambientais, produtos químicos e tabaco pode ajudar a manter os níveis de glutationa.
Relação entre glutationa e melatonina
A glutationa e a melatonina são duas moléculas de extrema importância orgânica, conhecidas principalmente pelas suas propriedades antioxidantes. Ambas desempenham papéis cruciais na proteção celular contra o stress oxidativo e têm sido estudadas extensivamente pelas suas interações e efeitos sinérgicos. De seguida explora-se a relação entre a glutationa e a melatonina, detalha-se a síntese de glutationa e apresentam-se fontes bibliográficas relevantes sobre a interação dessas moléculas.
Síntese da Glutationa
A glutationa é um tripeptídeo composto por glutamato, cisteína e glicina. A síntese ocorre em duas etapas principais:
Formação do γ-Glutamilcisteína: Catalisada pela enzima γ-glutamilcisteína sintetase, esta etapa envolve a combinação de glutamato e cisteína.
Formação da Glutationa: Catalisada pela enzima glutationa sintetase, esta etapa combina γ-glutamilcisteína com glicina para formar a glutationa completa.
Melatonina a hormona do sono
Em humanos, a melatonina tem sua principal função em regular o sono, ou seja, em um ambiente escuro e calmo, os níveis de melatonina do organismo aumentam, causando o sono. Por isso é importante eliminar do ambiente quaisquer fontes de som, luz, aroma, ou calor que possam acelerar o metabolismo e impedir o sono, mesmo que não perceptíveis. Outra função atribuída à melatonina é a de antioxidante, agindo na recuperação de células epiteliais expostas à radiação ultravioleta e, através da administração suplementar, ajudando na recuperação de neurónios afectados pela doença de Alzheimer e por episódios de isquémia (como os resultantes de acidentes vasculares cerebrais).
A melatonina é também considerada segura e eficaz na prevenção ou diminuição dos sintomas de jet lag. É especialmente eficaz para quem viaja por mais de 5 zonas horárias, mas pode ser usado para qualquer viagem que ultrapasse mais do que uma zona horária para quem é mais susceptível a sintomas. Estudo clínicos constataram que a melatonina ajuda a regular o horário orgânico com mais rapidez, criando as condições necessárias para atingir mais rápido relaxamento e descanso cerebral em viajantes, trazendo rápida adaptação ao novo fuso horário.
Existem também estudos que demonstram que a melatonina age como regulador de cada uma das etapas do balanço energético: a ingestão alimentar, o fluxo de energia para e dos stocks ou reservas, e o dispêndio energético.
Melatonina potente antioxidante mitocondrial
A melatonina foi relatada pela primeira vez como um potente antioxidante e eliminador de radicais livres em 1993. In vitro, a melatonina atua como um eliminador direto de radicais de oxigênio e espécies reativas de nitrogênio, incluindo OH−, O2− e NO. Nas plantas a melatonina atua com outros antioxidantes para melhorar a eficácia geral de cada antioxidante.
Foi comprovado que a melatonina é duas vezes mais ativa que a vitamina E, considerada o antioxidante lipofílico mais eficaz. Por meio da transdução de sinal por meio de receptores de melatonina, a melatonina promove a regulação positiva de enzimas antioxidantes, como superóxido dismutase, glutationa peroxidase, glutationa redutase e catalase.
A melatonina ocorre em altas concentrações no líquido mitocondrial, que excedem em muito a concentração plasmática de melatonina. Devido à sua capacidade de eliminação de radicais livres, efeitos indiretos na expressão de enzimas antioxidantes e concentrações significativas nas mitocôndrias, vários autores consideram que a melatonina tem uma função fisiológica importante como um antioxidante mitocondrial.
Melatonina e glutationa
A melatonina é conhecida pelas suas propriedades antioxidantes, onde atua como um agente direto de remoção de radicais livres e também regula a atividade de várias enzimas antioxidantes, incluindo aquelas envolvidas na síntese e regeneração da glutationa. Estudos indicam que a melatonina pode aumentar os níveis de glutationa em diversas condições de stress oxidativo, melhorando a capacidade antioxidante do organismo.
Efeitos Sinérgicos
A interação entre melatonina e glutationa é complexa e bidirecional. A melatonina não apenas aumenta a síntese de glutationa, mas também protege a glutationa existente da oxidação. Além disso, a glutationa pode regenerar a melatonina oxidada, formando um ciclo de proteção antioxidante eficiente.
A relação entre glutationa e melatonina é um campo de estudo fascinante e
promissor, com ambas as moléculas a desempenharem papéis complementares na defesa antioxidante do organismo. A melatonina, além de suas funções reguladoras do ciclo circadiano, mostra-se uma poderosa aliada na manutenção dos níveis de glutationa e na proteção celular contra o stress oxidativo. Estudos contínuos são essenciais para aprofundar a compreensão dessas interações e das suas aplicações clínicas potenciais.
Revisão Bibliográfica
Vários estudos publicados em plataformas científicas, como PubMed, têm explorado a interação entre melatonina e glutationa:
Manchester et al. (2015) destacam que a melatonina pode ser induzida sob condições de stress oxidativo moderado, aumentando a capacidade antioxidante do organismo e protegendo contra o stress oxidativo (MDPI).
Karolczak e Watala (2021) revisaram os efeitos da melatonina na redução do stress oxidativo induzido por homocisteína, demonstrando a capacidade da melatonina em proteger células endoteliais e neurónios (MDPI).
Estudos adicionais apontam que a melatonina pode influenciar diretamente os níveis de glutationa em diversas condições patológicas, incluindo doenças neurodegenerativas e cardiovasculares (BioMed Central) (Oxford Academic) (SpringerLink).
Conclusão
A glutationa é um antioxidante essencial para a saúde, desempenhando um papel crucial na proteção celular, desintoxicação e regulação do sistema imunitário. Manter níveis adequados de glutationa é fundamental para a prevenção de doenças e para a promoção de uma vida saudável. Através de uma alimentação equilibrada, suplementação adequada e hábitos de vida saudáveis, é possível aumentar e manter os níveis de glutationa no organismo, garantindo assim uma melhor qualidade de vida.
Referências bibliográficas
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Micose fungo na unha e unhas fracas onicomicose ou tinha das unhas toda a verdade! Quais os sintomas? Quais as causas? Qual o melhor tratamento? Os fungos nas unhas são muito frequentes. Este artigo pretende ser um contributo importante para melhorar a saúde e beleza das suas unhas.
Micose e fungo na unha onicomicose ou tinha das unhas, o que é?
Qual a anatomia de uma unha?
Quais os sintomas de onicomicose?
Causas e perigos?
Celulite infeciosa e erisipela, qual o perigo?
Os fungos das unhas são contagiosos?
Como se apanham?
Quais os factores de risco da onicomicose?
Quais as formas mais comuns de onicomicose?
Qual a diferença entre onicomicose distal, proximal e superficial?
Como se faz o diagnóstico de onicomicose?
Existem lesões identicas causadas por outras patologias?
Qual o tratamento mais utilizado?
O tratamento local com cremes e vernizes é eficaz?
Quais os principais antifungicos tópicos?
Como funciona o tratamento por via tópica?
Como se previne?
Como evitar o contágio?
Onicomicose o que é?
Onicomicose ou tinha das unhas é uma infeção fúngica das unhas. Embora possa afetar todas as unhas, é mais comum nas unhas dos pés. A onicomicose ocorre em cerca de 10% da população adulta. A doença afeta com maior frequência pessoas idosas e é mais comum entre homens do que entre mulheres. Os casos de onicomicose correspondem a cerca de metade dos casos de doenças das unhas.
Anatomia de uma unha
Sintomas de onicomicose
Os sintomas habituais de onicomicose são os seguintes:
Descoloração branca ou amarela da unha,
Espessamento da unha,
Separação da unha da pele.
O diagnóstico é geralmente suspeitado com base na aparência e confirmado com exames de laboratório.
As lesões da unha provocadas pela onicomicose apresentam algumas variações na sua apresentação, dependendo do tipo de fungo e de gravidade da infecção. Em geral, a micose da unha costuma apresentar um ou mais dos seguintes sintomas:
Unha grossa, mais espessa
Unha amarelada, sem brilho e opaca
Unha quebradiça e frágil
Separação da unha do leito ungueal
Distorções na forma da unha
Unha com coloração negra, em casos mais graves.
Causas e fatores de risco
As infecções fúngicas das unhas são geralmente causadas por um fungo que pertence a um grupo denominado dermatófitos, que também pode causar infecções nos pelos do corpo e na pele, como no caso do pé de atleta.
Outro grupo de fungos que também pode causar micoses das unhas são as leveduras. Em regra, as leveduras causam onicomicose nas mãos e os dermatófitos provocam onicomicose nas unhas dos pés. A onicomicose é uma infecção fúngica que pode afectar qualquer parte da unha, incluindo a lâmina, o leito ou a raiz da unha.
Afecta actualmente cerca de 30% da população europeia. Raramente afeta crianças, principalmente devido ao rápido crescimento da unha, que complica o desenvolvimento dos fungos.
Perigos complicações da onicomicose
Em diabéticos ou imunossuprimidos a onicomicose pode servir como porta de entrada para bactérias, favorecendo o surgimento de infecções secundárias, como erisipela ou celulite da perna que é uma infeção grave na pele.
A celulite é uma infecção bacteriana que enolve as camadas interiores da pele e afeta especificamente a derme e gordura subcutânea. A área de infecção é geralmente dolorosa. Os vasos linfáticos podem, ocasionalmente, ser envolvidos e a pessoa pode apresentar febre e sensação de cansaço. Antes de fazer um diagnóstico, infecções mais graves tais uma infecção óssea na base ou a fasciíte necrosante devem ser descartadas.
Sintomas e risco de necrose e amputação
A celulite infecciosa é caracterizada por uma mancha vermelha (eritema), com bordos mal definidos, inflamada (inchada, sensível, dolorosa e quente) e que cresce difusamente. Pode formar pus, abcessos e inflamar nódulos linfáticos. A infecção sistémica, quando as bactérias entram na corrente sanguínea, pode causar febre, mal estar, cansaço e infectar outros órgãos. Em raros casos, penetra para as fáscias e causa necrose com risco de amputação da perna!
Erisipela
Em contraste com a celulite, a erisipela é uma infecção bacteriana que envolve camadas mais superficiais da pele, e apresentam uma área de vermelhidão com bordas definidas, e mais frequentemente é associada a uma febre. é uma infecção bacteriana cutânea (tipo piodermite) causada, principalmente, por Streptococcus β-hemolíticodo grupo A. Outras causas menos frequentes são Streptococos β-hemolítico dos grupos C e G e Staphylococcus aureus.
Lesões na pele como infecção fúngica (ex: onicomicose e outras micoses), picadas de inseto, mordidas e cirurgias podem servir de porta de entrada para as bactérias.
O tratamento geralmente é feito com penicilina V, em casos severos pode-se usar penicilina G. Outras alternativas incluem doxiciclina (no caso de Staphylococcus), ceftriaxona, cefazolina ou em caso de resistências usar vancomicina. Há uma crescente resistência dos Streptococcus tipo A aos macrólidos.
Tratamento da celulite infeciosa
O tratamento geralmente é com antibióticos tomados por via oral, tais como a cefalexina, amoxicilina, ou cloxacillina.
Para aqueles que apresentam alergia grave à penicilina, eritromicina ou clindamicina podem ser usadas. Quando S. aureus resistentes à meticilina (MRSA) é uma preocupação, doxiciclina ou trimetoprim/sulfametoxazol podem ser recomendados. A preocupação está relacionada com a presença de pus ou infecções anteriores por MRSA. Elevar a área infectada pode ser útil, assim como analgésicos.
Contágio e como se apanha
É uma doença bastante contagiosa, sendo frequente o contágio em locais humidos e quentes como piscinas e balneários públicos, através do uso de toalhas, alicates ou tesouras, mal lavadas ou contaminadas. Pode também ocorrer contágio em casa, pois basta um elemento da família estar contaminado, para contagiar facilmente o resto da família. Banheiras e tapetes de pés, são também locais propícios a contágios.
Não se apanha micose das unhas apenas por apertar a mão ou tocar em objetos manipulados por alguém infectado porque é necessário um contacto mais prolongado ou uma lesão já pré-existente entre a pele e a unha.
As unhas mais comumente afetadas são as dos pés, em consequência do uso de sapatos fechados, o que origina um ambiente ideal (humidade, temperatura e ausência de luz) para o desenvolvimento dos fungos.
O contacto com o fungo por si só não costuma ser suficiente para se adquirir a onicomicose. Geralmente é preciso haver pequenas lesões entre a unha e a pele para que o fungo consiga penetrar por baixo da unha e alojar-se. Também é necessário que a unha seja exposta frequentemente a ambientes húmidos para que o fungo possa multiplicar-se com mais facilidade.
A onicomicose nas unhas dos pés é muito mais comum do que nas unhas das mãos. Os pés costumam estar mais expostos a locais húmidos, não só quando se anda descalço em locais públicos, mas também por passar boa parte do dia fechado dentro de meias e calçados. Calor, falta de luz e humidade é tudo que um fungo deseja para proliferar. Além disso, os dedos dos pés estão no ponto do corpo mais distante do coração, não sendo tão bem vascularizados com os dedos da mão. Deste modo, os anticorpos e as células de defesa do organismo não chegam às unhas dos pés com tanta facilidade quanto a outros pontos do organismo.
Fatores de risco da onicomicose
A presença de alguns fatores favorece a infecção da unha por fungos. Por exemplo, pessoas com pé de atleta, que é uma infecção fúngica da pele dos dedos, têm um maior risco de contrair também infecção fúngica das unhas. Outros fatores de risco são:
Os atletas também são um grupo de risco para onicomicose. porque costumam estar com os pés frequentemente calçados e húmidos pela transpiração, além de terem uma maior incidência de traumas nas unhas devido ao impacto de suas atividades físicas.
Formas mais comuns de onicomicoses
Descrevo de seguida as formas mais comuns de onicomicose e uma imagem para apoiar a distinguir a diferença.
1. Onicomicose subungueal distal
É de longe a forma mais comum e caracteriza-se pela infecção da ponta da unha. O dedo grande do pé é geralmente o primeiro a ser afetado. A infecção começa com uma descoloração esbranquiçada, amarelada ou acastanhada numa das pontas laterais da unha, estendendo-se lentamente por toda unha, em direção à cutícula. A unha pode descolar-se e a ponta costuma partir-se e cair, expondo a pele que serve de leito para a unha.
2. onicomicose subungueal proximal
É a forma menos comum de onicomicose. È parecida com a onicomicose subungueal distal , porém, a progressão ocorre de forma oposta, iniciando-se próxima à cutícula e depois estendendo-se em direção à ponta da unha. Este tipo de micose de unha ocorre geralmente em doentes imunossuprimidos, sendo comum nos indivíduos com HIV.
3. Onicomicose superficial branca
É uma forma comum nas crianças, mas que nos adultos corresponde a apenas 10% dos casos de micose da unha. Caracteriza-se pelo aparecimento de manchas brancas sobre a superfície da unha, geralmente mais próxima da cutícula do que da ponta. Quando não tratada, as manchas tendem a espalhar-se centrifugamente por toda a unha, deixando-a quase toda branca, além de áspera e quebradiça.
Diagnóstico da onicomicose
Lesões idênticas com causas não fungicas
As lesões das unhas da onicomicose podem ser semelhantes ás lesões da unha de outras doenças, como psoríase, eczemas, traumas, líquen plano, deficiência de ferro, etc. A maioria dos estudos atesta que a onicomicose é responsável por apenas metade dos casos de lesões das unhas. Em várias situações não é possível afirmar que o paciente sofre de onicomicose apenas olhando e examinando a unha.
A imagem seguinte descreve alguns problemas das unhas (sem onicomicoses) cujas causas são diversas nomeadamente falta de hidratação, carências orgânicas, excesso de utilização de acetona, má alimentação e contato com produtos químicos.
É, por isso, importante demonstrar de forma clara a presença do fungo antes de se iniciar o tratamento antifúngico. Para tal, o médico deve fazer uma pequena raspagem da unha, colher amostras e enviar para avaliação laboratorial à procura de fungos.
Tratamento qual o melhor
A micose da unha é uma infecção difícil de tratar porque as unhas crescem lentamente e recebem pouca irrigação sanguínea. Durante muitos anos os medicamentos utilizados para o tratamento da onicomicose não eram muito eficazes e os resultados eram frequentemente decepcionantes. Porém, actualmente, os tratamentos melhoraram substancialmente, principalmente por causa da introdução de medicamentos antifúngicos orais mais eficazes.
Estudos recentes mostram que medicamentos por via oral como Terbinafina e Itraconazol, embora mais agressivos (mais efeitos secundários que os tratamentos tópicos) apresentam taxas de cura mais altas que a Griseofulvina e o Cetoconazol, que eram usadas antigamente.
Taxas de cura dos principais antifúngicos orais:
Terbinafina 250 mg (73 a 79%).
Itraconazol 100 mg (56 a 70%).
Griseofulvina (54 a 66%).
Fluconazol (43 a 52%).
O tratamento com Terbinafina com comprimidos por via oral deve ser feito durante 6 semanas para onicomicose das mãos ou 12 semanas para onicomicose dos pés.
O tratamento tópico da micose de unhas com vernizes, como o Ciclopirox, tem menor eficácia que o tratamento por via oral, mas pode ser usado como complemento da terapêutica com Terbinafina ou Itraconazol.
Uma vez curada a micose de unha, se o doente não tiver cuidado a taxa de reinfecção pode chegar a 50%. Portanto, é preciso ter cuidado com os pés para que a unhas não voltem a ficar colonizadas por fungos.
Efeitos secundários
Os tratamentos por via oral são os mais eficazes mas também os mais agressivos no que concerne a eventuais efeitos secundários, principalmente por causa da duração prolongada dos tratamentos.
Retida do folheto aprovado pelo INFARMED (Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de saúde) a longa lista de efeitos secundários da terbinafina que descrevo de seguida é elucidativa dos riscos associados ao tratamento, embora a maioria sejam classificados de pouco frequentes, raros ou muito raros!
Os problemas hepáticos (figado) embora raros são dos que podem causar problemas mais graves.
Efeitos secundários muito frequentes (podem afetar mais de 1 em cada 10 pessoas):
Sensação de enfartamento,
Perda de apetite,
Mal-estar de estômago (indigestão),
Náuseas, dor abdominal ligeira e diarreia,
Reações alérgicas cutâneas, tais como irritação ou urticária,
Dor nas articulações ou nos músculos.
Efeitos secundários Frequentes (podem afetar até 1 em cada 10 pessoas):
Dor de cabeça.
Efeitos secundários pouco frequentes (podem afetar até 1 em cada 100 pessoas):
Perda ou diminuição do sentido do paladar. Isto resolve-se
geralmente dentro de várias semanas depois de ter parado de tomar o medicamento.
Diminuição do consumo de alimentos, levando a uma perda de
peso significativa em casos graves muito raros.
Efeitos secundários raros (podem afetar até 1 em cada 1000 pessoas):
Dormência ou formigamento
Diminuição da sensibilidade
Tontura
Problemas de fígado.
Efeitos secundários muito raros (podem afetar até 1 em cada 10.000 pessoas):
Problemas de fígado graves,
Reações cutâneas graves (com aparecimento súbito, que
podem ser recorrentes, que se podem espalhar, que podem aparecer sob a forma de
bolhas salientes, que podem ser acompanhadas de comichão e febre),
Exacerbação da psoríase,
Redução de certos tipos de células sanguíneas (neutropenia, agranulocitose, trombocitopenia),
Perda de pelo,
Fadiga,
Reações de hipersensibilidade graves (inchaço da face, olhos e língua, dificuldade em engolir, náuseas e vómitos, fraqueza, tonturas, dificuldade em respirar) ,
Precipitação e exacerbação do lúpus eritematoso dérmico e
sistémico,
Distúrbio menstrual (hemorragia intermenstrual e um ciclo
irregular) em doentes que tomam terbinafina concomitantemente com contracetivos
orais.
Tratamento tópico com cremes e vernizes
O tratamento por via tópica não é geralmente tão eficaz como o efectuado por via oral. No entanto pode ser uma alternativa quando os efeitos secundários dos antifungicos orais não são bem tolerados pelos doentes.
Principais antifúngicos tópicos
Actualmente os principais antifúngicos tópicos usados nas onicomicoses são:
Acido acético
Ciclopirox
Amorolfina
Clotrimazol (apenas depois de removida a parte da unha doente)
Tratamento por via tópica
1ª fase – Remoção da zona infectada da unha
Remover a zona infectada da unha é a 1ª fase para o tratamento da onicomicose. Esta remoção tópica é geralmente executada limando a unha ou aplicando uma pomada de ureia. A aplicação de uma pomada de ureia a 40% amolece e prepara a unha para a remoção da zona afectada com uma espátula própria, sem causar dor.
2ª fase – aplicação de um antifúngico local
Na 2ª fase, o tratamento deve ser completado com um creme antifúngico, de forma a eliminar a infecção na sua origem. A remoção da zona infectada da unha é fundamental para uma acção eficaz do creme antifúngico.
Resumindo as fases do tratamento:
Tratamento em 2 fases que garantem a eliminação da onicomicose;
Remoção da zona infectada da unha de uma forma simples e indolor, preparando-a para a 2º fase do tratamento, que consiste na aplicação de um creme antifúngico;
Melhorias visíveis diariamente.
Prevenção da micose e fungo na unha
A onicomicose pode causar dor, embaraço e interferir com as nossas actividades diárias, reduzindo a nossa qualidade de vida.
Trata-se de uma doença contagiosa, que pode também funcionar como porta de entrada a outro tipo de infecções (ex. bacterianas). Deste modo, é importante iniciar o tratamento logo que detectado o problema, assim como adoptar medidas preventivas de forma a evitar o contágio.
Evitar o contágio do fungo na unha
Use calçado confortável sem saltos ou pontas estreitas e que deixe a pele respirar;
Use meias limpas e troque-as diariamente;
Em caso de infecção, ao vestir-se, calce primeiro as meias para evitar a propagação dos fungos a outras partes do corpo.
Lave os pés diariamente e seque com cuidado a zona entre os dedos;
Utilize chinelos nos balneários públicos;
Não partilhe toalhas ou tapetes de banho;
Corte as unhas e mantenha-as curtas.
Utilize um corta-unhas diferente para as unhas infectadas, de modo a evitar a infecção de outras unhas;
Se tiver Pé-de-Atleta, deve tratá-lo sempre, de forma a evitar que os fungos contagiem as unhas, causando a onicomicose.
Concluindo
As micoses das unhas são infecções fúngicas comuns e contagiosas que embora não sejam graves são portas de entrada para outros microorganismos patogénicos, tais como bactérias, que podem causar infecções secundárias mais severas e agravar problemas de saúde pré-existentes. Devem portanto ser tratadas de imediato porque na primeira oportunidade que o nosso sistema imunitário esteja mais debilitado podem ocorrer infecções sem causa aparente mas que podem ter ocorrido em consequência da porta aberta pela onicomicose!
A varíola dos macacos (Monkeypox ou mpox) foi descoberta pela primeira vez em 1958, quando dois surtos de uma doença semelhante à varíola ocorreram em colónias de macacos mantidos para pesquisa, daí o nome “monkeypox”.
Segundo o Manual MSD a varíola do macaco, assim como a varíola, é um membro do grupo dos ortopoxvírus. Apesar do nome, os primatas não humanos não são reservatórios do vírus da varíola. Embora o reservatório seja desconhecido, os principais candidatos são pequenos roedores (p. ex., esquilos) nas florestas tropicais da África, principalmente na África Ocidental e Central.
A doença em humanos ocorre na África esporadicamente e em epidemias ocasionais. A maioria dos casos notificados ocorreu na República Democrática do Congo. Desde 2016, também foram notificados casos confirmados em Serra Leoa, Libéria, República Centro-Africana, República do Congo e Nigéria, que sofreu o maior surto recente.
Acredita-se que um aumento recente de 20 vezes na incidência seja decorrente da interrupção da vacinação contra a varíola em 1980; as pessoas que receberam a vacina contra a varíola, mesmo > 25 anos antes, têm menor risco de varíola símia. Casos da varíola símia na África também estão a aumentar porque as pessoas estão a invadir cada vez mais os habitats dos animais que carregam o vírus.
Nos EUA, em 2003, ocorreu uma epidemia de varíola do macaco quando roedores infetados, importados da África como animais de estimação, disseminaram o vírus para cães de estimação que, então, infetaram pessoas no Meio Oeste. Essa epidemia teve 35 casos confirmados, 13 prováveis e 22 suspeitos em 6 estados, mas não houve mortes.
Depois de a Suécia ter registado o primeiro caso de uma variante mais contagiosa e perigosa da doença, a Organização Mundial de Saúde alertou para a possibilidade de serem detetados na Europa outros casos importados de mpox, anteriormente conhecida como varíola dos macacos.
O mpox transmite-se sobretudo pelo contacto próximo com pessoas infetadas, incluindo por via sexual. A nova variante, clade I, pode ser facilmente transmitida por contacto próximo entre dois indivíduos, sem necessidade de contacto sexual, e é considerada mais perigosa do que a variante de 2022. A quase totalidade dos casos são homens, com idades entre os 19 e os 64 anos. Em 2022, uma epidemia mundial do subtipo clade II propagou-se a uma centena de países onde a doença não era endémica, afetando principalmente homens homossexuais e bissexuais.
Ao contrário de surtos anteriores, em que as lesões eram visíveis sobretudo no peito, mãos e pés, a nova estirpe causa sintomas moderados e lesões nos genitais, tornando-o mais difícil de identificar, o que significa que as pessoas podem infetar terceiros sem saber que estão infetadas.
Sinais e sintomas
Em humanos, os sintomas da varíola são semelhantes, mas mais leves do que os sintomas da varíola. Monkeypox começa com febre, dor de cabeça, dores musculares e exaustão. A principal diferença entre os sintomas da varíola e da varíola do macaco é que a varíola do macaco faz com que os gânglios linfáticos inchem (linfadenopatia), enquanto a varíola não. O período de incubação (tempo desde a infecção até os sintomas) da varíola dos macacos é geralmente de 7 a 14 dias, mas pode variar de 5 a 21 dias.
A doença começa com:
Febre
Dor de cabeça
Dores musculares
Dor nas costas
Linfonodos inchados
Arrepios
Exaustão
Dentro de 1 a 3 dias (às vezes mais) após o aparecimento da febre, o paciente desenvolve uma erupção cutânea, geralmente começando no rosto e se espalhando para outras partes do corpo.
As lesões progridem através dos seguintes estágios antes de cair:
Máculas
Pápulas
Vesículas
Pústulas
Escaras
A doença geralmente dura de 2 a 4 semanas. Na África, a varíola dos macacos causa a morte de até 1 em cada 10 pessoas que contraem a doença.
Transmissão
A varíola símia é provavelmente transmitida de animais através de secreções fisiológicas, como gotículas de saliva ou respiratórias ou contato com exsudato de feridas. A transmissão de um indivíduo para outro ocorre de modo ineficaz e acredita-se que ocorra principalmente por meio de grandes gotículas respiratórias via contato direto e pessoal prolongado. A taxa geral de ataque secundário depois do contato com uma fonte humana conhecida é de 3%, e taxas de ataque de até 50% foram relatadas em pessoas que vivem com uma pessoa infetada pela varíola do macaco. Também foi documentada transmissão em ambientes hospitalares. A maioria dos pacientes é criança. Na África, a taxa de casos fatais varia de 4 a 22%.
Diagnóstico
Clinicamente, a varíola símia é semelhante à varíola; entretanto, as lesões cutâneas ocorrem com mais frequência em surtos e a linfadenopatia ocorre na varíola símia, mas não na varíola humana. Infecção bacteriana secundária da pele e dos pulmões pode ocorrer.
A diferenciação clínica entre varíola do macaco e varíola e varicela (um herpesvírus, não um vírus pox) pode ser difícil. O diagnóstico da varíola símia é por cultura, PCR (polymerase chainreaction), exame imuno-histoquímico ou microscopia eletrônica, dependendo de quais testes estão disponíveis.
Tratamento
Não há tratamento seguro e comprovado para infecção por vírus da varíola do macaco. O tratamento da varíola símia é de suporte. Fármacos potencialmente úteis incluem:
Tecovirimat – fármaco antiviral tecovirimat, aprovado pela US Food and Drug Administration (FDA)] para o tratamento da varíola;
O fármaco antiviral cidofovir ou brincidofovir (CMX001)
Todas esses fármacos têm atividade contra a varíola símia in vitro e em modelos experimentais. Mas nenhum desses fármacos foi estudado ou utilizado em áreas endêmicas para tratar a varíola do macaco.
Prevenção
ACAM200 e JYNNEOSTM (também conhecido como Imvamune ou Imvanex) são as duas vacinas atualmente licenciadas nos Estados Unidos para prevenir a varíola. JYNNEOS também é licenciado especificamente para prevenir a varíola dos macacos.
A nova vacina contra varíola JYNNEOS foi autorizada pela FDA em 2019 para a prevenção tanto da varíola símia quanto da varíola. A aprovação foi baseada em dados sobre imunogenicidade e eficácia obtidos de estudos com animais. O Advisory Committee on Immunization Practices (ACIP) está atualmente avaliando a JYNNEOS para a proteção daqueles em risco de exposição ocupacional ao ortopoxvírus. A JYNNEOS não está disponível ao público.
Dados prévios da África sugerem que a vacina contra varíola é pelo menos 85% eficaz na prevenção da varíola símia, pois o vírus desta doença está intimamente relacionado com o vírus que causa a varíola.
Nolen LD, Osadebe L, Katomba J, et al: Extended human-to-human transmission during a monkeypox outbreak in the Democratic Republic of the Congo. Emerg Infect Dis 22 (6):1014–1021, 2016. doi: 10.3201/eid2206.150579;
Doenças de verão mais comuns toda a verdade. No verão não são apenas os escaldões que prejudicam a saúde, existem outras complicações que podem mesmo estragar as férias. Descrevo aqueles que são os oitos problemas de saúde mais comuns no verão e que são muitas vezes desvalorizados e alguns podem ser bastante perigosos!
Irritações nos olhos
Os óculos de sol podem não ser suficientes para a proteção dos olhos durante o verão. Mesmo que estejam colocados, os raios ultravioletas, as poeiras, pólenes e até mesmo cloro da água das piscinas podem causar serias irritações, como é o caso da inflamação na córnea ou conjuntivite.
Sintomas:
Dores
Visão nublada.
Prurido
Olho vermelho
Tratamento:
O tratamento principal passa por evitar as causas da irritação que muitas vezes é conhecida e recorrente em anos anteriores. A alergia aos pólenes é um exemplo flagrante em que deve evitar-se a saída para o exterior em dias quente e ventosos.
A aplicação local de um anti-histamínico em gotas oculares ou a toma de comprimidos é necessária com frequência quando os sintomas de prurido e irritação já se manifestam.
Quando o sintoma é dor ocular é urgente uma consulta médica.
É no verão que os jantares de família e entre amigos mais acontecem, mas é também nesta estação do ano que as indisposições são mais frequentes. Entre comidas menos frescas ou escolhas menos adequadas para a temperatura ambiente, as intoxicações alimentares podem estragar uma viagem, principalmente se for ao estrangeiro e os níveis de higiene não estiverem assegurados.
Sintomas:
Cólicas,
Enjoos,
Diarreia
Vómitos.
Tratamento:
A hidratação é fundamental para controlar o mau estar e “limpar” o organismo. Uma consulta médica é necessária quando os sintomas são mais agressivos nomeadamente febre, vómitos ou diarreia.
O calor pede muitas idas à água mas os mergulhos mal calculados ou as ondas mais agressivas com entrada de água nos ouvidos podem provocar vários problemas.
Sintomas:
Dores
Zumbidos
Dores de cabeça
Prevenção e tratamento:
Para prevenir esta situação, é recomendado o uso de tampões e a limpeza dos ouvidos após os mergulhos. Quando já existe otite é necessária uma consulta médica por causa do risco de infeção.
Comum nos dias em que os níveis de pólenes estão mais elevados, esta doença começa por parecer uma mera alergia mas pode mesmo acabar no aparecimento de eczemas.
Sintomas:
Tosse
Corrimento nasal
Prurido
Dores de cabeça
Cansaço
Tratamento
Evitar a todo o custo sair à rua principalmente junto de zonas arborizadas, em dias de calor e vento de forma a evitar os pólenes e a reação de hipersensibilidade.
Se já está com uma crise então deve tomar um anti-histamínico como a cetirizina, loratadina e a desloratadina. Pode usar um spray nasal vasoconstritor , como o ácido cromoglicico, para aliviar os sintomas do nariz e um colírio anti-histamínico se houver sintomas oculares como prurido e lacrimejo mais intenso. Em casos mais graves a consulta médica é necessária e pode acrescentar um corticosteroide para controlar os sintomas mais agressivos.
A exposição excessiva ao sol e sem proteção provoca queimaduras usualmente chamadas de “escaldões”. Contudo, esta situação (muito comum no verão) é extremamente agressiva para a pele, podendo originar infeções e, nos casos mais graves, ao aparecimento de cancro na pele.
Sintomas:
Pele vermelha e quente
Suores frios,
Dores,
Cansaço,
Náusea,
Dores de cabeça,
Febre
Confusão
Tratamento:
Aplicar um gel com ação calmante sobre a pele afetada
Beber mais água
Tomar um anti-histamínico em comprimidos
Consultar com urgência um médico em caso de ser extensa a área do corpo afetada e/ou apresentar dores, febre, confusão e náuseas
As idas ao campo podem ser ótimas para relaxar mas podem também ser propícias a infeções bacterianas como a doença de Lyme. Transmitida por carraças, esta doença pode ser das mais graves a acontecer no verão.
Médicos dizem que está subdiagnosticada, não é de notificação obrigatória e pensava-se que não existia cá nem no resto da Europa. Só que nos últimos anos foram detetados milhares de casos.
Se algum dia foi mordido por uma carraça e tempos depois – meses, um ano, cinco, uma década ou mais – lhe diagnosticaram um problema ao nível do sistema nervoso central, talvez valha a pena perguntar ao seu médico o que acha sobre a despistagem da doença de Lyme. A mesma que se pode confundir com esclerose múltipla, artrite reumatoide ou fibromialgia, mas que será combatida com antibiótico. Trata-se, afinal, de uma bactéria, do género Borrelia (Borrelia burgdorferi) que se transmite através da mordida da carraça, mas que ainda está subdiagnosticada no nosso país.
Contudo, a transmissão apenas acontece se a carraça estiver em contacto com a pele da pessoa pelo menos 36 horas.
Sintomas:
Inchaço no local da picada
Dores nas articulações
Sintomas gripais
Febre,
Calafrios
Dores de cabeça.
Tratamento:
Se for picado por uma carraça deve imediatamente consultar um médico para avaliar o risco de infeção.
O calor provoca desidratação e temperaturas elevadas no corpo, que levam a que a pessoa se sinta cansada e sem forças. A hidratação, mais uma vez, é fundamental para manter o corpo com a temperatura ideal. Além disso, o exercício físico nos dias de calor deve ser moderado.
Erupções cutâneas
Seja por insolações, picadas de mosquitos ou eczemas provocados por irritações, as erupções cutâneas são comuns e podem provocar outros problemas dermatológicos.
Sintomas
São muito variados os sinais de erupções cutâneas.
Pele vermelha
Pele a descamar
Borbulhas
Prurido
Tratamento:
O tratamento depende do risco de infeção das lesões e da sua quantidade ou seja quanto mais lesões maior o risco de algumas infetarem. Deve ser dada especial atenção e consulta assistência médica se aparecer febre e dor local nas lesões. Nunca é demais lembrar que uma lesão na pele, principalmente quando existe ferida é uma porta de entrada de fungos, vírus e bactérias que podem estar na origem das mais variadas doenças.
Esquizofrenia (schizophrenia) 30 respostas essenciais! Segundo a Associação de Educação e Apoio na Esquizofrenia (AEAPE) a doença mental e a esquizofrenia em particular são condições de saúde sub-diagnosticadas e de enorme dificuldade de gestão no que concerne à vida relacional e social dos doentes e suas famílias. Tratam-se de problemas muito graves que podem destruir a vida de muitas pessoas se o diagnóstico não for atempado, correto e a abordagem terapêutica e apoio familiar não for adequado!
Este artigo pretende ser um contributo para melhorar a escassa informação da população em geral sobre esta doença mental em particular.
Neste artigo vou responder ás seguintes 30 questões:
O que é a esquizofrenia?
O que é uma alucinação?
O que são delírios?
Quais os sinais precoces de esquizofrenia?
Qual a prevalência da esquizofrenia na população?
Como evoluíram os medicamentos para a esquizofrenia e os antipsicóticos de 1ª geração?
Quais os novos antipsicóticos de 2ª geração?
Os antipsicóticos provocam dependência?
Os antipsicóticos provocam ou não um efeito “zombie”?
O que acontece se interromper a medicação?
Quais os efeitos secundários?
O que é a Discinesia tardia?
Qual a relação entre o tabaco e a esquizofrenia?
Qual o impacto da esquizofrenia?
O abuso de substância ilícitas pode causar esquizofrenia?
Como se faz o diagnóstico da esquizofrenia?
Quais as causas?
De que forma a família e os amigos podem ajudar?
O que pode esperar dos médicos responsáveis pelo tratamento?
Os esquizofrénicos são violentos e agressivos?
O que costumam sentir os familiares?
Como gerir os sentimentos?
Como lidar com o doente diariamente?
O que fazer quando o doente chega a casa após internamento?
Quais as atitudes corretas da família para ajudar o doente?
Quais as técnicas mais úteis?
O que se deve evitar no contacto com o doente?
Como promover uma melhor adesão à terapêutica?
Qual o papel dos medicamentos?
Quais as principais causas da falta de adesão ao tratamento?
No final disponibilizamos, na nossa área reservada, o relatório sobre saúde mental em Portugal vs Europa e EUA. Conheça os dados e tabelas mais surpreendentes desse relatório!
Esquizofrenia o que é?
A Esquizofrenia é uma perturbação psiquiátrica, provavelmente das mais angustiantes e incapacitantes. A esquizofrenia é muitas vezes descrita de forma incorreta como “dupla personalidade”. Este termo pode constituir a tradução literal mas a esquizofrenia é na realidade uma patologia do cérebro, que afeta de forma grave o modo de pensar da pessoa, a sua vida emocional e o comportamento em geral.
As pessoas com esquizofrenia sofrem de sintomas psicóticos. Entre estes, contam-se:
Alucinações (por ex. ver ou ouvir coisas que não existem),
Delírios (ter crenças de natureza bizarra ou paranoide que não são verdadeiras),
comportamento agressivo,
Insónia,
Alterações da memória e da concentração
Medo intenso.
Os delírios e as alucinações são exemplos de sintomas denominados “positivos”.
Os “sintomas negativos” também surgem na esquizofrenia:
As pessoas ficam ausentes e alheadas,
Mostram muito pouca iniciativa,
Não conseguem sentir prazer e
Têm uma vida emocional pobre
Muitas vezes, as pessoas com esquizofrenia isolam-se socialmente, e têm grandes dificuldades nas relações interpessoais, sobretudo em situações de maior stress. Todos estes sintomas originam alterações na maneira de ser da pessoa, que começa também a ter dificuldades no desempenho escolar e/ou laboral.
Uma importante característica reside no facto de as pessoas com esquizofrenia não acreditarem que estas ideias/sintomas se devem a uma doença, algo que os médicos denominam falta de “insight” ou de “juízo crítico”. Este é um fator determinante para o atraso na busca de ajuda médica, mas também para a aceitação do tratamento necessário.
Alucinações
Uma alucinação surge quando alguém vê, ouve, saboreia ou sente coisas que na verdade “não existem”. As alucinações mais frequentes na esquizofrenia são auditivas, e mais especificamente auditivo-verbais (i.e. a pessoa ouve vozes a falar consigo sem estar ninguém por perto). Alguns doentes podem “sentir” bichos debaixo da pele ou dispositivos dentro do corpo, e também podem achar que a comida tem um sabor diferente. As alucinações podem surgir em pessoas sob o efeito de drogas ou em indivíduos com esquizofrenia. As alucinações podem ser muito assustadoras, pois para os doentes são “reais”.
Delírios
Os delírios são crenças falsas, de natureza bizarra ou paranoide, que não são partilhadas pelo resto da sociedade ou do meio em que o indivíduo vive. Os delírios mais comuns na esquizofrenia têm a ver com a perseguição e os indivíduos acham que existe uma conspiração para os prejudicar ou a alguém que lhes é querido. Também é frequente acreditarem que são Deus, a Virgem Maria ou alguém importante, ou que foram imbuídos de uma missão neste Mundo. Os delírios podem ser bizarros e os doentes acreditarem que o seu pensamento é manipulado por máquinas ou extraterrestres.
Os delírios têm de tal modo um papel importante na vida da pessoa, que a mesma é drasticamente afetada. Por exemplo, se as pessoas que estão a sofrer de delírios pensam que alguém as está a tentar envenenar, poderão deixar de se alimentar, ou ser eles a preparar a comida, ou só comer comida embalada.
Primeiros sinais
Os primeiros sinais da esquizofrenia aparecem tipicamente na adolescência ou no início da idade adulta. Os sintomas da doença são difíceis de identificar, sobretudo na fase inicial, pois confundem-se com “queixas” habituais nesta fase da vida. Habitualmente o comportamento da pessoa muda, e esta começa a isolar-se e a achar que o Mundo está diferente e que algo de estranho vai acontecer. É muito comum surgir tristeza, ansiedade, dificuldades com o sono e/ou com o apetite e outras queixas relativamente inespecíficas. A doença pode demorar semanas a anos a manifestar-se completamente, e quando surgem os sintomas mais típicos (i.e. alucinações e delírios) diz-se que o doente teve um 1º surto psicótico. Estes sintomas deixam as pessoas afetadas pela doença muito limitadas na sua capacidade de interagir com outras pessoas e de manter o seu ritmo de vida habitual.
Sinais precoces
Isolamento social e deixar de passar muito tempo com pessoas da mesma idade;
Perda de memória, por exemplo esquecer-se onde as coisas foram colocadas;
Alterações da perceção: quando os objetos mudam de forma ou de cor;
Paranoia: pensam que alguém está a falar acerca delas e que as coisas estão a ser feitas “nas suas costas”;
Preocupação extrema com religião, filosofia, o paranormal, etc.; ou mesmo tornar-se membro de uma seita ou culto;
Alterações do pensamento: argumentos incoerentes, ilógicos ou demasiadamente abstratos;
Dificuldade em manter a atenção: distrair-se com facilidade;
Tristeza ou depressão;
Agressividade, irritabilidade ou hostilidade inesperada;
Falta de energia;
Falta de prazer nas atividades que lhe eram habituais;
Perturbações do sono: muitas não conseguindo dormir noites seguidas;
Medo, tremor das mãos ou voz trémula;
Perda de apetite, ou apetite voraz;
Prevalência na população
A esquizofrenia afeta entre 1% das pessoas durante a sua vida. A esquizofrenia surge em todo o mundo, sendo a prevalência da doença muito semelhante entre os diferentes países. Os homens e as mulheres têm risco idêntico de desenvolver a doença; contudo, nos homens a doença manifesta-se habitualmente entre os 16 e os 25 anos, enquanto que nas mulheres tal acontece um pouco mais tarde, entre os 25 e os 30 anos.
Medicamentos e outros tratamentos
Os medicamentos e outros tratamentos para a esquizofrenia, quando usados regularmente e de acordo com a prescrição, podem ajudar a reduzir e a controlar os sintomas incapacitantes da doença. No entanto, algumas pessoas não conseguem obter ajuda considerável a partir dos tratamentos disponíveis pois interrompem prematuramente o tratamento devido aos efeitos secundários desagradáveis dos mesmos, por não acreditarem que têm uma doença psiquiátrica, ou por outras razões. Mesmo quando o tratamento é eficaz, as consequências da doença são persistentes (tais como dificuldades relacionais e de integração, dificuldades cognitivas, estigma e sintomas residuais) e podem ser muito difíceis e limitantes para os doentes, impedindo-os de terem uma vida normal.
Evolução do tratamento
Os primeiros medicamentos eficazes para o tratamento da esquizofrenia foram desenvolvidos na década de 50 do século XX. Existe uma série de medicamentos antipsicóticos diferentes, ditos “convencionais”. Estes medicamentos parecem atuar sobretudo através da redução dos efeitos do neurotransmissor dopamina no cérebro. A sua principal eficácia consiste no tratamento dos sintomas positivos, o que permite a muitos doentes permanecerem fora do hospital e desempenharem relativamente bem as suas funções na comunidade.
No entanto, os antipsicóticos convencionais não parecem ser tão eficazes nos sintomas negativos da esquizofrenia nem nos sintomas relacionados com o humor (sintomas afetivos). Além disso, alguns doentes podem responder de forma incompleta ou mesmo não responder a estes medicamentos. Os antipsicóticos convencionais apresentam também uma série de efeitos adversos desagradáveis e os doentes podem ter a necessidade de tomar outros medicamentos para contrariar e reduzir estes efeitos. Os efeitos secundários podem contribuir para que os doentes não tomem os seus medicamentos (falta de adesão), o que pode levar ao reaparecimento dos sintomas da esquizofrenia e a novos episódios (recaídas).
No final do século XX, surgiram diversos medicamentos eficazes para a esquizofrenia com um perfil de efeitos secundários diferente dos antipsicóticos mais antigos e eficácia semelhante.
Novos medicamentos
Os novos antipsicóticos, também chamados atípicos ou de 2ª geração, parecem bloquear quer os efeitos da dopamina quer da serotonina e parecem ter efeito numa gama mais alargada de sintomas da esquizofrenia. De facto, são eficazes no tratamento das alucinações e dos delírios e podem ser úteis noutros sintomas, como os sintomas negativos da doença (por ex. falta de motivação ou a pobre expressão emocional).
A grande maioria das pessoas com esquizofrenia mostram melhoria substancial quando tratadas com medicamentos antipsicóticos. De facto, quando existe a certeza que o indivíduo tem o diagnóstico de esquizofrenia, deverá ser tratado com fármacos antipsicóticos pelo menos por um período de tempo.
Principais antipsicóticos
Antipsicóticos de 1º geração
Os principais antipsicóticos de 1ª geração e as doses mais eficazes são os seguintes:
Clorpromazina (Largactil®), de 50mg duas vezes ao dia até 100mg quatro vezes ao dia;
Haloperidol(Haldol®)/Flupentixol(Fluanxol®), de 1mg por dia a 5mg quatro vezes ao dia;
Supiride (Dogmatil®), de 100mg duas vezes ao dia a 200mg quatro vezes ao dia;
Antipsicóticos de 2ª geração
Os antipsicóticos de segunda geração são prescritos em doses francamente mais baixas, aliás em consonância, também, com a evidência de que é em doses mais baixas que são mais úteis. Os principais antipsicóticos de 2ª geração e as doses mais eficazes são os seguintes:
Risperidona (Risperdal®), de 1-6mg ao dia;
Olanzapina (Zyprexa®), de 10-20mg ao dia;
Clozapina (Leponex®), de 400-600mg ao dia;
Como frequentemente os antipsicóticos não permitem resultados satisfatórios, há a prática de lhes associar outros fármacos tais como:
Benzodiazepinas,
Antidepressivos,
Anticonvulsivantes,
Outros antipsicóticos.
Por outro lado, sabendo-se dos riscos e problemas que este tipo de fármacos comporta, a boa prática consistirá, exatamente, em prescrever as doses mínimas possíveis, devendo, sempre que possível, a farmacoterapia ser combinada com terapias psicológicas (Healy, 2005).
Efeitos secundários dos antipsicóticos
Os antipsicóticos podem originar uma grande variedade de reações adversas. Essas reações poderão estender-se à generalidade dos sistemas corporais. Uma das consequências mais graves é o chamado síndroma neuroléptico tardio, que pode ser fatal e que pode provocar:
Catatonia: A Catatonia é uma perturbação do comportamento motor que pode ter tanto uma causa psicológica ou neurológica. A sua forma mais conhecida envolve uma posição rígida e imóvel que pode durar horas, dias ou semanas. Mas também pode se referir a agitação motora sem propósito mesmo sem estímulos ambientais. Uma forma menos extrema de catatonia envolve atividade motora muito lenta
Disartria: Disartria é uma perturbação neurológica caracterizada pela dificuldade em articular as palavras de maneira correta.
Febre,
Mudanças na pressão sanguínea,
Rigidez muscular,
Estupor: Estupor é um estado de consciência ou sensibilidade apenas parcial ou insensibilidade acompanhada por pronunciada diminuição da faculdade de exibir reações motoras.
Taquicardia: Taquicardia é um termo médico utilizado para designar um aumento da frequência cardíaca. Convenciona-se como normal no ser humano com mais de 15 anos, uma frequência cardíaca entre 60 e 100 batimentos por minuto.A partir de 100, inclusive, considera-se que há taquicardia.
Sintomas extrapiramidais induzidos por neurolépticos (SEP)
Tomados como um conjunto, os vários distúrbios poderão agrupar-se num vasto padrão de reações ou sintomas extrapiramidais. Segundo Pagliaro & Pagliaro (1998), cerca de 30% das pessoas medicadas com “antipsicóticos” desenvolvem algum tipo de reação extrapiramidal. Numa população clínica de 4000 pessoas tratadas com neurolépticos, Ayd (1991, citado por Cohen, 1997) estimou em cerca de 62% a percentagem de pessoas afetadas por SEP desencadeados por aquele tipo de medicação.
Uma das particularidades mais perturbantes nos SEP é a sua semelhança com distúrbios psicopatológicos comuns. Daí que possam não ser reconhecidos como provocados pela própria medicação e ser atribuídos a outras causas. Daqui resulta, frequentemente, que as pessoas são reforçadas nessa mesma medicação ou iniciadas noutras medicações. Acrescente-se que, além do mais, estes SEP são muitas vezes irreversíveis (mesmo depois de retirada da medicação).
As reações extrapiramidais incluem a ACATÍSIA (impossibilidade da pessoa estar quieta, não conseguindo manter-se sentada em sossego ou dormir), DISQUINÉSIA (perturbação nos movimentos musculares voluntários), DISTONIA (ocorrência de súbitos espasmos musculares, particularmente afetando a cabeça e pescoço) e outros, como a lentificação da fala, a hipersalivação (a pessoa “baba-se”), o PARKINSONISMO (com bradiquinésia, fazer “caretas”, rigidez no rosto, tremores).
De notar que cada um destes síndromas pode ocorrer isoladamente ou concomitantemente com qualquer um dos outros. Qualquer um deles, para além do mais, poderá aparecer em qualquer momento do tratamento com neurolépticos (podem ser dias ou meses após o início da sua toma).
Os antipsicóticos provocam habituação?
Os doentes e as suas famílias ficam muitas vezes preocupados com os medicamentos antipsicóticos utilizados para tratar a esquizofrenia. Além das preocupações relativas aos efeitos secundários, preocupam-se com o facto de estes medicamentos poderem levar à habituação. No entanto, os fármacos antipsicóticos não produzem (euforia) nem dependência (vício) nas pessoas que os tomam.
Antipsicóticos e efeito “zombie”
Uma outra ideia errada relativa aos medicamentos antipsicóticos consiste em considerar que estes atuam como uma espécie de controladores da mente ou como um “colete-de-forças químico”. Se usados nas doses apropriadas, os fármacos antipsicóticos não põem as pessoas “como zombies” nem lhes retiram a sua livre decisão. Embora estes fármacos possam ser sedativos, este efeito pode ser útil em circunstâncias especiais (tal como no início do tratamento, especialmente se o indivíduo estiver muito agitado e/ou com insónia grave). No entanto, a utilidade destes fármacos não se deve à sua capacidade sedativa, mas sim à capacidade em reduzir as alucinações, os delírios, a agitação e outros sintomas associados a um episódio/surto psicótico. Desta forma, os medicamentos antipsicóticos acabam por ajudar os indivíduos com esquizofrenia a lidar com o mundo duma forma mais racional.
Os antipsicóticos reduzem o risco de episódios psicóticos futuros em doentes que recuperaram dum episódio agudo (evitam uma recaída). No entanto, na maioria dos casos em que o tratamento é interrompido, a recaída acaba por acontecer, habitualmente passadas semanas ou meses. Se bem que não seja correto dizer que o tratamento continuado “evita” o aparecimento de recaídas, sem dúvida que reduz a frequência e intensidade das mesmas. O tratamento dos sintomas psicóticos graves exige geralmente doses mais elevadas do que as utilizadas para o tratamento de manutenção. Se os sintomas reaparecem com uma dose mais baixa, um aumento temporário pode prevenir o aparecimento duma recaída completa.
O que acontece se interromper a medicação?
Uma vez que as recaídas são mais prováveis quando os medicamentos antipsicóticos são interrompidos ou tomados de forma irregular, é muito importante que as pessoas com esquizofrenia colaborem com os seus médicos e famílias de forma a manterem-se fiéis ao seu esquema de tratamento. Isto envolve tomar o medicamento apropriado na dose correta e nas alturas certas do dia, ir às consultas médicas e seguir de forma escrupulosa todos os outros procedimentos relacionados com o tratamento. Embora isto seja muitas vezes difícil para as pessoas com esquizofrenia, tal fardo pode tornar-se mais leve com a ajuda de várias estratégias e consequentemente pode conseguir-se uma melhoria da qualidade de vida.
Efeitos secundários
Os antipsicóticos, tais como quase todos os medicamentos, para além dos seus efeitos benéficos podem ter efeitos indesejáveis. Durante a fase inicial do tratamento, os doentes podem queixar-se de:
Sonolência,
Agitação,
Espasmos musculares,
Tremor,
Secura de boca,
Visão turva.
A maioria deles pode ser corrigida com a diminuição da dose ou podem ser controlados com outros medicamentos. A resposta ao tratamento com antipsicóticos e os efeitos secundários associados variam de doente para doente. Determinados doentes podem responder melhor a um fármaco que a outro.
Discinesia tardia
Os efeitos dos antipsicóticos quando tomados a longo-prazo, podem colocar um problema consideravelmente mais grave. A discinesia tardia (DT) é uma situação que se caracteriza por movimentos involuntários, na maioria das vezes afetando a boca, lábios e língua e algumas vezes o tronco ou outras partes do corpo tais como os braços e as pernas. Ocorre em cerca de 15 a 20% dos doentes que foram medicados com os antipsicóticos mais antigos (i.e. convencionais) durante muitos anos, mas a discinesia tardia também pode surgir em doentes medicados com estes fármacos durante períodos mais curtos de tempo. Na maioria dos casos, os sintomas da discinesia tardia são ligeiros e o doente pode nem ter consciência deles, mas em alguns casos podem ser muito graves e incapacitantes.
Os novos antipsicóticos (i.e. atípicos ou de 2ª geração) parecem ter um risco muito menor de produzir DT que os fármacos mais antigos. No entanto, o risco não é nulo e por sua vez podem produzir outros efeitos secundários tais como:
Sonolência,
Aumento de peso,
Aumento do colesterol
Embora os medicamentos mais recentes sejam geralmente melhor tolerados que os convencionais, o perfil de efeitos adversos dos antipsicóticos atípicos varia de fármaco para fármaco, e estas diferenças podem afetar a adesão do doente ao esquema de tratamento. No entanto, os novos antipsicóticos constituem um avanço muito importante no tratamento destes doentes, e a optimização do seu uso em doentes com esquizofrenia é um tema atualmente objeto de investigação aprofundada.
Impacto da esquizofrenia
A maioria das pessoas com esquizofrenia sofre ao longo das suas vidas, perdendo desta forma oportunidades de carreira e de relacionamento com outros indivíduos. Como consequência da falta de compreensão por parte da sociedade relativamente à doença, as pessoas com esquizofrenia muitas vezes sentem-se isoladas e estigmatizadas, e podem ter relutância ou dificuldade em falar sobre a sua doença. Embora a disponibilidade de novos medicamentos com menos efeitos secundários tenha melhorado a vida de muitos doentes, atualmente apenas uma pessoa em cada cinco das afetadas pode atingir a “recuperação” da doença, sendo que uma em cada dez pessoas com esquizofrenia acaba por cometer suicídio.
De todas as doenças mentais, a esquizofrenia é provavelmente a que apresenta mais dificuldades para todos os envolvidos. Os doentes sofrem, sem qualquer dúvida, uma enorme perturbação das suas vidas. No entanto, as famílias e os amigos são também profundamente afetados, devido à angústia de verem os efeitos da doença no seu ente querido, e como resultado da sobrecarga derivada da necessidade de assistência ao doente.
Enfrentar os sintomas da esquizofrenia pode ser especialmente difícil para os membros da família que se recordam de como a pessoa era ativa e dinâmica antes de ficar doente. Apesar de existirem inequívocas evidências do contrário, algumas pessoas ainda acreditam que a causa da esquizofrenia são maus pais ou falta de força de vontade. Ora, tal não é de todo o caso. A esquizofrenia é uma doença complexa, que se pensa ser devida a vários fatores atuando em conjugação. Estes fatores parecem incluir:
Influências genéticas,
Traumatismos (lesões) do cérebro na altura da gravidez ou após o nascimento,
Efeitos sociais e/ou stress,
Consumo de algumas drogas.
Outros parâmetros podem também ser importantes, mas nenhum fator pode ser incriminado isoladamente como causa da esquizofrenia. Em vez disso, pensa-se que cada um destes fatores pode aumentar o risco de que uma pessoa venha a manifestar a doença.
Abuso de substâncias ilícitas
O abuso de substâncias ilícitas é uma preocupação comum das famílias de pessoas com esquizofrenia. Uma vez que algumas pessoas que abusam de fármacos, apresentam sintomas semelhantes aos das que sofrem de esquizofrenia, as pessoas com esta doença podem ser olhadas erradamente como pessoas que tomaram “muitas drogas”.
As pessoas que têm esquizofrenia muitas vezes consomem álcool e/ou drogas de forma excessiva e podem ter reações particularmente negativas a certas drogas. O abuso de substâncias pode também reduzir a efetividade do tratamento para a esquizofrenia. Os estimulantes (por ex. anfetaminas e cocaína) parecem ser especialmente prejudiciais em doentes com esquizofrenia, e algumas pessoas sofrem um agravamento dos sintomas quando consomem estas drogas. O abuso de substâncias também reduz a probabilidade dos doentes seguirem o plano de tratamento recomendado pelos seus médicos.
Relação com o tabaco
A forma mais comum de dependência de substâncias em doentes com esquizofrenia é a dependência de nicotina por consumo excessivo de tabaco. A prevalência do tabagismo em doentes com esquizofrenia é cerca de três vezes superior à da população em geral, mas a relação entre o tabaco e a esquizofrenia é complexa. Embora as pessoas com esquizofrenia possam fumar para se “automedicarem” e aliviarem alguns dos seus sintomas, o tabaco parece interferir com o efeito de alguns fármacos antipsicóticos, pelo que os doentes que fumam muito podem necessitar de doses mais elevadas de medicação antipsicótica.
Diagnóstico
A maioria das doenças psiquiátricas são muito difíceis de diagnosticar e a esquizofrenia não constitui exceção, uma vez que não existem testes ou exames que possam identificar quem tem a doença. O diagnóstico depende da exclusão de outras causas que possam originar sintomas semelhantes aos da esquizofrenia (tais como abuso de drogas, epilepsia, tumores cerebrais, doenças da tiróide, entre outras). É importante excluir outras doenças, porque algumas vezes as pessoas têm sintomas mentais graves devido a doenças médicas subjacentes que não são diagnosticadas. Por este motivo, deve ser colhida uma história clínica, ser realizado um exame físico e pedidos exames laboratoriais ou imagiológicos (por ex. TAC cranioencefálica). Além disso, como algumas drogas podem causar sintomas semelhantes aos da esquizofrenia, estas substâncias devem ser pesquisadas em amostras de sangue ou de urina dos doentes em causa.
Após terem sido excluídas outras causas, o médico deve então efetuar um diagnóstico, baseando-se nos sintomas observados no doente e descritos pelo mesmo e pela família. Isto pode provocar problemas e atrasos no diagnóstico porque muitos sintomas podem só ser evidentes quando a doença já está avançada. De facto, para que se possa estabelecer um diagnóstico formal, os sintomas devem estar presentes durante pelo menos seis meses.
Perguntas e Respostas
Quais são as “causas” da esquizofrenia?
Não existe uma causa única para a esquizofrenia. Tal como as doenças cardíacas, muitas doenças resultam de vários fatores genéticos, ambientais e outros. Pode também ser o que acontece na esquizofrenia. Não compreendemos ainda completamente todos os fatores que estão na base da esquizofrenia, mas os especialistas concordam que a doença é devida a anomalias na função cerebral, algumas das quais ainda não são completamente conhecidas.
A esquizofrenia é uma doença da mente, e os seus sintomas são atribuíveis a anomalias na transferência e processamento de informação dentro do cérebro. As células nervosas no cérebro (i.e os neurónios) comunicam umas com as outras libertando substâncias químicas (neurotransmissores) a partir das suas terminações nervosas. Muitos dos sintomas da esquizofrenia foram associados a anomalias na atividade de certos neurotransmissores específicos, nomeadamente da Dopamina.
Qual o impacto da genética familiar?
A investigação em famílias com vários indivíduos afetados pela esquizofrenia indica que a vulnerabilidade à doença é genética. Uma criança cujo progenitor tenha esquizofrenia tem uma probabilidade de cerca de 10% de desenvolver a doença. Comparativamente, o risco de esquizofrenia na população em geral é de cerca de 1%. No entanto, entre indivíduos com esquizofrenia que tenham um gémeo idêntico e que assim partilham o mesmo património genético, há apenas uma possibilidade de 50% de que ambos os gémeos sejam afetados pela doença. Isto demonstra que a informação genética não é determinante para a manifestação da doença, sendo importante a combinação de vários fatores de risco.
De que forma a família e os amigos podem ajudar?
Se tiver sido diagnosticada esquizofrenia a algum membro da sua família, você pode desempenhar um papel muito importante ao oferecer-lhe apoio e ao ajudá-lo a receber os cuidados médicos adequados. É importante ter uma boa compreensão da doença. O médico envolvido deve estar preparado para responder a qualquer questão que você possa ter sobre o que é a esquizofrenia e de que forma deve ser tratada.
É provável que no caso de ter um familiar com esquizofrenia, lhe seja pedido em determinada altura que converse com um médico sobre o seu familiar e que lhe descreva o seu comportamento. As pessoas com esquizofrenia algumas vezes não são capazes de fornecer muita informação durante uma consulta. Algumas vezes, apenas a família ou outros próximos da pessoa com esquizofrenia estarão conscientes do comportamento estranho ou de ideias bizarras que a pessoa tenha exprimido. Uma vez que os doentes podem não dar voluntariamente essa informação durante uma consulta, os membros da família ou os amigos devem solicitar para falarem com a pessoa que avalia o doente de modo que toda a informação relevante possa ser tomada em consideração.
Esteja preparado para dar informações e formular questões ao médico. Ajudará saber algo sobre a história clínica da sua família e que medicamentos o seu familiar está a tomar. Pode também querer questionar o médico sobre os medicamentos, efeitos secundários, riscos para a saúde a longo-prazo e hospitalização. É boa ideia anotar previamente as suas perguntas e ter papel e caneta consigo no caso de pretender tomar notas.
O que pode esperar dos médicos responsáveis pelo tratamento do seu familiar com esquizofrenia?
Como parte do processo de diagnóstico e de tratamento, o psiquiatra efetuará o seguinte:
Colher uma história completa
Investigar sintomas que possam ser devidos a outras doenças (físicas e psiquiátricas), pedindo os exames adequados
Obter informações relativamente a outras medicações antipsicóticas
Ajustar o tratamento quando necessário
Rever a medicação regularmente
Estar interessando no bem estar global do doente e fazer as referências indicadas para os cuidados posteriores, alojamento, suporte social e ajuda financeira
Explicar de forma clara o que está a acontecer e o que está a ser planeado para o tratamento do doente
Envolver a família no processo de tratamento.
Devido à natureza da doença, algumas pessoas com esquizofrenia podem negar que necessitam de medicação, e podem recusar a toma dos fármacos prescritos ou deixar de os tomar devido aos efeitos secundários indesejados. Pode ser difícil para os doentes lembrarem-se de tomar a medicação devido à desorganização do pensamento que é característica das pessoas com esquizofrenia. Se os familiares ou os amigos estiverem envolvidos no processo de tratamento, eles podem dar suporte inestimável, ao verificarem a toma dos medicamentos por parte do doente, instigando-os a tomá-los quando se esquecem de o fazer, ou lembrando-os dos problemas que possam ter ocorrido em ocasiões prévias quando decidiram deixar de tomar a medicação.
É também importante assegurar que uma pessoa com esquizofrenia continue a receber tratamento após a hospitalização. Um doente pode interromper a medicação ou deixar de acorrer às consultas, o que muitas vezes conduz ao reaparecimento dos sintomas. Encorajar o/a doente a continuar o tratamento e assisti-lo/a no processo terapêutico pode influenciar de forma positiva a recuperação. Sem tratamento, algumas pessoas com esquizofrenia ficam de tal modo psicóticas e desorganizadas que não podem cuidar das suas necessidades básicas, tais como alimentarem-se, vestirem-se ou protegerem-se. Não raramente, as pessoas com doenças mentais graves acabam nas ruas ou na prisão, onde acabam por não receber o tipo de tratamento de que necessitam.
Os que estão próximos das pessoas com esquizofrenia não estão seguros sobre o que responder quando os doentes fazem afirmações que parecem estranhas ou falsas. Para o indivíduo com esquizofrenia, as crenças bizarras ou alucinações parecem bem reais; não são apenas fantasias imaginárias. Em vez de “ir na onda” dos delírios da pessoa, os membros da família ou os amigos podem dizer à pessoa que não vêem as coisas da mesma maneira ou que não concordam com as suas conclusões, embora reconhecendo que as coisas podem parecer de maneira diferente para o doente.
Registar os tipos de sintomas e quando aparecem para prever melhor o futuro
Pode ser também útil, para aqueles que conhecem bem a pessoa com esquizofrenia, manter um registo de quais os tipos de sintomas que apareceram, que medicações (incluindo doses) foram tomadas e quais os efeitos que os vários tratamentos condicionaram. Ao conhecer quais os sintomas que estiveram presentes antes, os familiares podem saber melhor o que procurar no futuro. As famílias podem mesmo ser capazes de identificar alguns sinais precoces de alarme ou potenciais recaídas, tais como a tendência para o isolamento ou alterações no padrão de sono, mesmo ainda numa fase precoce e melhor do que os próprios doentes.
Assim, o reaparecimento da psicose pode ser detetado precocemente e o tratamento pode prevenir uma recaída completa. Além disso, a família sabendo quais as medicações que ajudaram o doente ou que lhe causaram efeitos indesejáveis no passado, pode ajudar quem tem a tarefa de tratar o doente a escolher a melhor alternativa terapêutica mais rapidamente.
Suporte e encorajamento
Além do envolvimento na procura de auxílio ao doente, a família, os amigos e os colegas podem proporcionar suporte e encorajamento à pessoa com esquizofrenia para que volte a recuperar as suas capacidades. É importante que os objetivos sejam realistas, uma vez que um doente que se sente pressionado e/ou repetidamente criticado pelos outros irá provavelmente sentir stress levando ao agravamento dos sintomas. Tal como qualquer outra pessoa, os doentes com esquizofrenia precisam de saber quando estão a fazer as coisas corretamente. Uma abordagem positiva pode ser útil e talvez mais eficaz a longo prazo que as críticas. Este conselho aplica-se a qualquer pessoa que entre em contacto com o doente.
A família, a doença e o doente
Os esquizofrénicos são violentos e agressivos?
Nem todos os doentes com esquizofrenia são violentos. A violência que pode surgir em algumas fases da doença tem a ver com o sofrimento e desorientação sentidos pelo doente em momentos de agravamento da doença.
Por isso, é necessário aprender a lidar com estas situações. Eis alguns conselhos.
O que costumam sentir os familiares?
Quando a família toma conhecimento de que o seu familiar tem esquizofrenia, as suas emoções são comparáveis às que sentiria perante uma notícia de um acidente grave ou de uma catástrofe.
Alguns dos sentimentos mais frequentemente relatados são:
Tristeza: “Sentimo-nos como se tivéssemos perdido um filho.”
Ansiedade: “Temos medo de o deixar sozinho ou de ferir os seus sentimentos.”
Medo: “Pode fazer-nos mal? Pode magoar-se a si ou aos outros.”
Vergonha e culpa: “Somos culpados.”, “Que vão pensar de nós?”
Isolamento: “Ninguém nos compreende.”
Ressentimento: “Porque nos aconteceu isto a nós?”
Preocupação com o futuro: “Quem vai tratar dele quando nós não estivermos?”
Ciúme: “Os irmãos ficam ciumentos com a atenção que recebe.”
Depressão: “Não conseguimos evitar chorar.”
Negação da doença: “Isto não pode acontecer na nossa família.”
Negação da gravidade da doença: “Isto vai passar. É só uma fase.”
Culparem-se uns aos outros: “Se tivesses feito isto, se não tivesses dito aquilo…”
Falar constantemente da doença: “Passámos a vida toda a tentar entender o que tinha.”
Problemas no casal: “Irritas-te demasiado.”
Divórcio: “Não suporto mais esta situação caótica.”
Como gerir os sentimentos?
Reconhecer estes sentimentos e declará-los abertamente num diálogo familiar pode ajudar a aliviar tensões, evitar ruturas e clarificar os papéis de cada um dos membros. Deste modo a família pode tornar-se numa equipa eficiente que poderá apoiar o trabalho dos terapeutas e maximizar o efeito da medicação.
Há alguns conselhos que podem ajudar a viver melhor com a doença mental na família:
É importante aceitar que esta doença não tem cura.
Não se deve sentir culpado.
É normal sentir rancor. Os sentimentos de revolta são naturais, já que esta doença afeta muito o funcionamento familiar.
Aceitar que a doença mental é tão difícil para quem a sofre, como para a família.
É normal que após uma fase de negação, de tristeza e de raiva, surjam sentimentos de aceitação e compreensão.
Não se deve sentir envergonhado pela doença mental de um familiar. É comum encontrar estigma e preconceitos em qualquer lado, mas isso é apenas um sinal de medo e ignorância.
Apesar do doente poder ter comportamentos que considera estranhos, deve compreender que estes resultam da doença, e desse modo não se sentir tão magoado.
Deve reconhecer a coragem do doente em lidar com a sua doença.
É importante saber que, embora a sintomatologia possa variar ao longo do tempo, a doença persiste.
É importante impor limites claros. O facto de o seu familiar ter capacidades limitadas, não significa que não se possa esperar mais nada dele.
Não deve ter receio em perguntar ao doente se está a pensar magoar-se. O risco de suicídio é real.
As necessidades do doente nem sempre estão em primeiro lugar: se você não consegue cuidar de si, também não vai conseguir cuidar do seu familiar.
Não deve assumir todas as responsabilidades no tratamento do doente. Procure partilhá-las com mais alguém.
Deve ter consciência que não é um profissional. O seu papel é de irmão, filho ou pai/mãe…
Não se deve sentir sozinho. Partilhar pensamentos e sentimentos em grupos de autoajuda é muito benéfico e enriquecedor.
Deve pedir ao médico todas as informações e esclarecimentos sobre a doença que necessite.
Como gerir o doente no dia-a-dia?
Doente chega a casa após um internamento:
Gerir os sentimentos
Algumas estratégias podem ajudar as famílias a lidar com o doente neste início do período estável. Fale com o seu médico sobre quais as melhores estratégias a usar depois de uma crise aguda.
Fale lentamente e em tom baixo. Use frases curtas e simples para evitar mal-entendidos. Se for necessário, repita as frases e perguntas, usando as mesmas palavras.
Explique o que está a fazer e porquê. Por exemplo, “Estou a arrumar a roupa limpa no teu armário e podes escolher o que quiseres vestir.”
Organize a sua rotina diária. Seja consistente e quando disser que vai fazer alguma coisa, evite mudar de ideias.
Elogie-o frequentemente (por ex. ao pentear-se após vários dias sem o ter feito, diga-lhe como lhe fica bem).
Reduza a tensão e o stress (por ex. se comer à mesa com o resto da família for um esforço demasiado grande, não o obrigue).
Procure estratégias para que tome a medicação, mas evitando a violência.
Em doentes estabilizados:
Gradualmente, o doente poderá assumir certas responsabilidades.
Fale com ele sobre como se sentiria fazendo mais coisas.
Comece por uma melhor gestão da higiene pessoal, vestir-se e comer em horários estabelecidos.
Dê-lhe tarefas em casa que estejam dentro das suas possibilidades. Verifique se prefere trabalhar sozinho ou com outros.
Dê-lhe ânimo, mas não o pressione para participar em atividades de grupo. Talvez seja preferível 1 ou 2 amigos a jantar em casa, que um evento familiar numeroso.
Procure saber o que prefere fazer no seu passeio semanal. Talvez tomar um café numa pastelaria lhe seja mais fácil que um almoço no restaurante.
Não seja curioso. Não lhe pergunte constantemente em que está a pensar ou porque faz determinada coisa. Prefira conversas sobre temas externos, como por exemplo “Viste o novo programa na televisão?…”
Compreenda que lhe pode ser difícil manter uma conversa, mas que a sua companhia pode ser agradável em qualquer outra atividade. Talvez gostasse que lhe lesse alguma coisa.
Evite a crítica constante. Trate dos comportamentos que o incomodam de forma direta e franca. Por exemplo, a higiene pessoal costuma ser uma fonte de irritação para a família, mas nada resolveria dizendo “porque não tomas banho?” ou “que mal que cheiras!”. Seria melhor apresentar o problema de outra maneira: “para mim é importante que tomes banho; podíamos chegar a um acordo para que tomes banho todos os dias?”
Para que colabore, “esqueça-se” de algumas coisas, por exemplo: “esqueci-me do leite, podes trazer-mo?”
Estimule-o a ter algumas responsabilidades deixando, por exemplo, uma nota com instruções sobre como começar a preparar o almoço em caso de você chegar tarde. E, então, chegue tarde.
Mostre-lhe como lidar com o pânico em público, depois de uma situação de stress. Por exemplo, leve-o até à casa-de-banho e deixe-o tranquilo até que passe o medo.
Lembre-se de que, muitas vezes, você é o seu único amigo. Trate-o como tal. Convide-o a ver um filme, por exemplo.
Tente sempre pôr-se no lugar dele. Respeite os seus sentimentos. Se ele sentir medo, não lhe diga “não sejas tonto, não tenhas medo!”. Permita-lhe sentir medo dizendo-lhe, por exemplo: “Não faz mal que sintas medo. Senta-te ao meu lado até que passe”.
Respeite os seus sentimentos. Se o incomoda que fale sobre esquizofrenia ou algum outro tema na frente dos outros, não o faça.
Resumo de conselhos à família:
Seja amigável, sereno e alegre.
Aceite a situação.
Reserve um tempo para o ouvir.
Trate-o com ternura.
Inclua-o e respeite-o.
Algumas técnicas úteis:
Fale lenta, calma e claramente.
Use frases curtas e simples.
Dê uma só instrução ou ordem de cada vez.
Espere o momento adequado.
Evitar (especialmente numa crise):
Olhá-lo insistentemente nos olhos.
Impedir-lhe a passagem.
Ser arrogante, altivo ou hipercrítico.
Encurralá-lo em situações em que não se sinta confortável.
Mostrar-se melancólico ou triste.
Contacto físico (tocar o doente) quando está zangado.
Discutir com ele na presença de outras pessoas.
Falar demasiado ou dar sermões.
Ser intolerante, mentiroso ou demasiado exigente.
Gritar ou ser sarcástico.
Dez mandamentos de ternura e compreensão:
Dê-lhe atenção.
Faça-o sentir-se à vontade e confortável.
Alegre-se com ele nos seus pequenos sucessos.
Escute-o com atenção e envolva-o nas conversas familiares.
Partilhe o seu tempo com ele.
Elogie-o.
Compreenda-o, pondo-se no seu lugar.
Seja seu companheiro.
Estimule-o nos seus projetos.
Incuta-lhe esperança.
Adesão à Terapêutica
O papel dos medicamentos
Os medicamentos são uma parte fundamental do tratamento da esquizofrenia.
A função dos medicamentos é:
Controlar os sintomas
Evitar recaídas
O tratamento é prolongado (habitualmente durante toda a vida) e não deve ser interrompido sob nenhum pretexto ou circunstância, salvo indicação médica para tal.
A interrupção do tratamento é a principal causa de agravamento da doença (recaídas). Tal como na diabetes ou na hipertensão, o doente deve tomar a medicação e ser acompanhado regularmente pelo seu médico.
Os medicamentos não são “drogas” e não causam habituação.
Não se destinam a controlar a mente, nem a agir como um “colete químico”.
Não há medicamentos que curem a esquizofrenia, tal como não há medicamentos que curem muitas outras doenças, como a asma, a hipertensão, a diabetes ou a epilepsia.
Para reduzir o risco de agravamento da doença, é muito importante cumprir as tomas da medicação como indicado pelo médico.
O que significa “falta de adesão ao tratamento”?
Pode falar-se em falta de adesão ao tratamento quando:
Ocorrem falhas na toma da medicação, ainda que sejam apenas algumas tomas.
Não se toma a dose indicada pelo médico.
Não se respeitam os horários indicados pelo médico.
Não se cumprem as indicações do médico.
Se interrompe totalmente a terapêutica.
Se falta à consulta.
Não se fazem os exames pedidos.
Causas da falta de adesão ao tratamento
Existem múltiplos motivos que podem dificultar a adesão ao tratamento. Os mais comuns são:
Esquecimento.
O doente não reconhece que está doente e não fica convencido da necessidade de tomar a medicação.
Falta de eficácia do medicamento.
Complexidade do tratamento.
O tratamento exige várias tomas diárias.
O doente sente-se melhor e acha que já não precisa da medicação.
Os efeitos secundários da medicação são intoleráveis.
Os familiares ou amigos propõem parar a medicação porque o doente parece estar bem.
Falta de medicação.
Os sintomas negativos que reduzem o interesse no tratamento.
Concluindo
Neste artigo mostramos a complexidade e dificuldade de gerir a doença mental e a esquizofrenia em particular. O diagnóstico é difícil, o doente muitas vezes não reconhece nem aceita a doença, a família não sabe como lidar com o doente e este por sua vez sem o apoio e a compreensão familiar necessária fica cada vez pior, tornando-se também um problema social!
A doença mental grave é o parente pobre do apoio social do estado precisamente por serem doentes que não aceitam/reconhecem a sua própria doença e por conseguinte mesmo havendo um diagnóstico não aderem muitas vezes de forma correta e regular à medicação que os pode tornar estáveis e permitir uma vida digna!
Pessoalmente julgo que um dos caminhos evidentes para melhorar este panorama é a informação à população sobre os sinais precoces e sintomas das principais doenças mentais que são de forma geral desconhecidos ou mal interpretados. Por outro lado, na doença mental, existem demasiados casos em que o internamento compulsivo (difícil do ponto de vista legal) é o único caminho para começar um tratamento e demonstrar ao doente que tem um problema que necessita de tratamento.
Quando um doente que tinha alucinações ou delírios percebe que estes sintomas desaparecem ou ficam controlados com o tratamento iniciado é claro que as possibilidades de aceitar a sua doença aumentam muito e isso é uma condição básica para poderem melhorar e ter uma vida digna com a sua família!
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Disponivel na nossa área reservada relatório detalhado sobre saúde mental em Portugal vs Europa e EUA. Leia as tabelas e conheça as surpresas evidenciadas pelo relatório:
Depressão e qual o melhor antidepressivo, toda a verdade! Qual a influência do excesso de peso e da insónia na melhor escolha? O que é depressão? Como se faz o diagnóstico Quais as causas? Quais os sintomas? Quais os melhores tratamentos para a depressão? Este artigo pretende ser um contributo importante no apoio a todos os doentes com depressão e que necessitam de uma abordagem realmente eficaz, alicerçada no conhecimento da doença e das reações do doente nomeadamente em relação ás posturas, linguagens e frases a utilizar para aumentar a autoestima do doente.
Como sociedade e civilização estamos a passar um mau bocado com níveis de desigualdade alarmantes quer na vertente financeira quer no acesso a cuidados de saúde de qualidade. Os níveis de depressão são alarmantes e continuam a aumentar alimentados em grande parte pelas redes sociais que mostram a vida de muitos “influencers” falsamente felizes deixando muitos jovens que os seguem a pensar que as suas vidas são miseráveis… quando são apenas vidas normais com coisas boas e coisas menos boas!
Todos precisamos de alguém que nos mostre as coisas boas da vida, aceite as más, quando não podem ser mudadas, e siga em frente pois temos, quase sempre, a decisão e o poder de optar e mudar para melhor!
Para manter um cérebro sem depressão é no entanto necessário reforçar pilares básicos como dormir pelo menos 7:30h, caminhar ou fazer exercício ao ar livre, conversar e ter uma alimentação saudável.
Neste artigo vamos responder ás seguintes questões:
Como reconhecer uma depressão?
Quais os sintomas mais comuns de depressão?
Qual ao exemplo de um cenário de depressão?
Como ajudar um ou uma adolescente ou jovem adulto deprimido?
Que atitudes e posturas devemos utilizar para abordar alguém deprimido?
Porque é importante não julgar e escutar com atenção?
Como informar e apoiar da melhor forma?
Como ajudar a procurar um apoio profissional?
Como incentivar o recurso a outros apoios?
Quais as causas da depressão?
Quais os hábitos que podem proteger-nos da depressão?
Qual a diferença entre depressão e ansiedade?
Qual o tratamento mais usado para a depressão?
Quais as 10 classes de antidepressores?
Quais os efeitos secundários mais relevantes?
Quais os melhores antidepressores?
O que é a Fluoxetina?
Fluoxetina: Como atua e como tomar?
Quanto tempo demora a atuar a fluoxetina?
Fluoxetina será que emagrece?
Quais os efeitos secundários e contraindicações?
Quais os medicamentos que podem provocar interações graves?
Depressão o que é?
A depressão é uma condição clínica caraterizada por um sentimento de tristeza e pela perda de interesse por atividades que antes eram tidas como agradáveis. Para ser considerada uma perturbação e não uma reação normal, estes sintomas devem persistir durante, pelo menos, duas semanas e ser, geralmente, acompanhados por:
A depressão afeta ao longo da vida cerca de 20% da população portuguesa e é considerada a principal causa de incapacidade e a segunda causa de perda de anos de vida saudáveis. Cerca de metade das pessoas que têm um episódio de depressão recuperam e não voltam a tê-lo. No entanto, depois de três episódios, o risco de reincidência aproxima-se dos 100% se não existir tratamento de prevenção.
Mecanismos fisiopatológicos
Existem atualmente várias teorias que tentam explicar os mecanismos fisiopatológicos das perturbações depressivas. A teoria das monoaminas baseia-se na ideia de que a depressão resulta de uma diminuição da atividade dos sistemas noradrenérgicos e/ou serotoninérgicos.
Apesar de comummente aceite, esta teoria apresenta algumas limitações que outros estudos tentaram ultrapassar, como:
Teoria que aponta a falha dos mecanismos de regulação homeostáticos nos sistemas neurotransmissores;
Hipótese de a diminuição da atividade dopaminérgica no sistema mesolímbico contribuir para o aparecimento destas perturbações.
Sintomas mais comuns
Alguns dos sinais mais comuns de depressão, são os seguintes:
Sensação persistente de tristeza;
Menor interesse por atividades do quotidiano, mesmo que antes fossem prazerosas;
Sensação de culpa ou falta de esperança para o futuro;
Fadiga crónica;
Insónias ou hipersónia (dormir em demasia);
Variações abruptas de peso;
Alterações ao nível da cognição (memória, concentração e raciocínio);
Diminuição da autoestima e da autoconfiança.
Causas da depressão
As causas da depressão continuam a ser um mistério! Afinal porque é que pessoas com vidas organizadas, famílias amigas, sem problemas financeiros… enfim vidas sem razões para se sentirem tristes entram em depressão? Não sabemos, embora saibamos que a serotonina parece ter um papel importante nessa evolução pois baixo níveis de serotonina estão quase sempre associados a casos de depressão. O que precisamos descobrir são as situações pessoais, sociais, alimentares ou outras que causam essa diminuição de serotonina. Entre as mais comuns encontramos as seguintes:
Desemprego;
Divórcio;
Stress prolongado;
Discussões em casa;
Discussões no trabalho;
Bulling;
Chantagem emocional;
Doenças graves;
Deixar de comer, por razões de saúde, alimentos de que gosta muito;
Alterações hormonais, principalmente a diminuição de estrogênios, que ocorre durante a gravidez, no pós-parto e na menopausa;
Medicamentos como a Levodopa, Alprazolam, Sinvastatina e o Aciclovir, podem causar depressão devido a diminuição da produção da serotonina;
A Inês tem 16 anos. Tem-se sentido muito triste durante as últimas semanas, sendo encontrada pelos amigos a chorar sem motivo ou razão aparente. Sente-se sempre cansada e tem problemas em manter o sono.
Perdeu o apetite e ultimamente os amigos reparam que tem vindo a perder peso. Tem dificuldade em concentra-se nos estudos e as suas notas têm vindo a descer. As tarefas do dia-a-dia parecem-lhe muito difíceis, pelo que tem adiado a realização dos trabalhos escolares e faltou a varias reuniões de trabalho de grupo a que pertencia.
A relação com os amigos começou a alterar-se há algum tempo e manifesta-se extremamente crítica acerca de si, dizendo que não é capaz de fazer nada corretamente e que tudo o que de mau se passa é culpa sua. Quando os amigos a convidam para sair, recusa e evita todas as atividades que antes a divertiam. Os seus pais e amigos estão muito preocupados com ela.
Como ajudar alguém com depressão?
As seguintes cinco ações, que de seguida descrevo em detalhe, são essenciais para se conseguir ajudar alguém com depressão. São elas as seguintes:
Aproximar-se da pessoa, observar e ajudar;
Não julgar e escutar com atenção;
Informar e apoiar;
Procurar ajuda profissional especializada;
Incentivar o recurso a outros apoios.
1.ª AÇÃO:
Aproximar-se da pessoa, observar e ajudar
Podes reparar que existem sinais de alerta, por exemplo, choro fácil, expressão triste, isolamento e mudança na relação com os amigos, dificuldade de concentração, confusão, pessimismo, apatia e cansaço, baixa autoestima e uma má imagem de si… Sendo amigo da Inês, podes aproximar-te dela e abordá-la para tentares perceber o que se passa e há quanto tempo ela se sente assim.
Esta abordagem deve ser pensada e planeada. Não fales com a Inês acerca deste assunto em qualquer lugar, tenta escolher um local que seja confortável e familiar e onde possam conversar sem que haja risco de serem interrompidos ou escutados. A casa de um de vós pode ser um bom sítio. Outra alternativa é um jardim ou um lugar calmo.
Se te sentires nervoso ou inseguro enquanto estás a falar com a Inês, não te preocupes, é normal. Apesar deste nervosismo, começa a conversa utilizando frases que possam ser entendidas como de preocupação, apoio, interesse e incentivo, como por exemplo:
Estou preocupado contigo e quero ajudar-te para que te sintas melhor;
Sabes que estou disponível para te ouvir, quando te sentires à vontade para falar; – Sou teu amigo e sabes que tens o meu apoio.
Não utilizes, em momento algum da conversa, frases que possam ser entendidas como uma acusação, julgamento, incentivos negativos ou de desvalorização do que a Inês sente, tais como:
– A forma como te tens comportado não é correta! – O teu distanciamento vai-te fazer perder os amigos! – Andas triste, mas isso passa! – Tens tudo, não tens motivo nenhum para andares assim! – Precisas de beber uns copos com a malta!
Não te esqueças que, da mesma forma que tu podes reagir de várias maneiras a esta situação, a Inês também pode manifestar diferentes reações a esta conversa. Pode ficar aliviada por admitir que alguma coisa se passa e que é um problema, pode ficar incomodada e zangada, ou então negar que exista um problema. É importante que mantenhas a calma, e nunca digas: «ok, não queres falar, o problema é teu». Mesmo nessa situação, a tua intervenção foi muito importante porque mostraste a tua disponibilidade. O primeiro passo foi dado.
2.ª AÇÃO:
Não julgar e escutar com atenção
Escutares a Inês é muito importante, porque este é o momento em que ela te vai contar o que se passa, como se sente e o que a faz sentir assim. Apesar de poder ser difícil para ti, é importante que não a julgues ou formes quaisquer juízos de valor acerca daquilo que ela está a contar. O que estás a ouvir, mesmo que te pareça absurdo num primeiro momento, é fundamental que ela sinta que pode confiar e contar contigo. Deves deixá-la falar e não fazer comentários do tipo: «estás a gozar, certo?». Se te perguntar o que pensas, nunca respondas sem refletir bem sobre o assunto, para teres a certeza que falas com ela com uma «mente aberta».
Enquanto estás a escutar a Inês podes sentir-te assustado, triste ou frustrado com aquilo que estás a ouvir, no entanto não deves manifestar emoções negativas. Tenta manter a calma e continua a escutá-la com respeito.
Não te esqueças que este momento pode ser embaraçoso, pois o que ela te está a contar são os seus sentimentos, o que é um sinal de confiança que não deves desvalorizar. Aquilo que a Inês quer, enquanto fala contigo, é que a escutes, que mostres compreensão acerca da sua situação e que faças com que ela sinta que tu percebes aquilo por que ela está a passar. É importante que te certifiques que estás a perceber tudo o que ela te diz, mesmo que tenhas de lhe perguntar mais do que uma vez ou que tenhas de resumir todas as informações que ela te dá. Por exemplo, podes usar a frase: «aquilo que tu me estás a tentar dizer ou disseste é que…»
Para que a comunicação seja eficaz, deves ter em mente três princípios: aceitação, honestidade e empatia.
A aceitação significa que deves respeitar o que a Inês está a passar, bem como valorizar os seus sentimentos e crenças, mesmo que sejam diferentes dos teus;
A honestidade quer dizer que deves ser verdadeiro no teu comportamento, não agindo de forma oposta, isto é, dizer que compreendes e depois afastares-te dela. Não te esqueças que ela confiou em ti;
A empatia significa que és capaz de imaginar o que ela está a passar e consegues colocar-te no lugar dela, ou seja, se ela te estivesse a ajudar, e o que seria se estivesses tu a viver essa situação.
Quando a Inês estiver a falar contigo, evita expressar as tuas convicções pessoais ou reações negativas que possam ser vistas como um julgamento, tais como:
– Acho que não tens razões nenhumas para te sentires assim! – Tens noção que há pessoas com vidas piores que a tua? – Anima-te! Aprende a controlar os teus sentimentos! – Tens que andar com a vida para a frente! – É normal andar assim de vez em quando!
Lembra-te sempre que o comportamento da Inês é causado pelo seu problema e não por teimosia ou fraqueza pessoal. Não esqueças, também, que nem sempre é fácil falar acerca de nós e do que sentimos. Tenta ser paciente, mesmo que ela tenha dificuldades em falar ou fale de forma mais lenta, e não a interrompas quando ela o estiver a fazer.
Muitas vezes as nossas expressões faciais e corporais dizem mais que as palavras. Além de respeitar os seus silêncios, deves adotar uma postura amigável, sem fazer cara de admirado, de quem está a fazer um frete ou a apanhar uma seca. Não cruzes os braços pois pode significar que estás na defensiva e tens medo dela. Se puderes, não estejas de frente para ela, mas sim ao seu lado, para não a pressionares. Podes manter o contacto visual, de um modo que ela se sinta confortável. Se ela estiver sentada, senta-te também. Se ela estiver de pé e achares melhor, senta-te para que ela perceba que não tens pressa.
3.ª AÇÃO:
Informar e apoiar
Depois de escutares a Inês torna-se mais fácil seres capaz de lhe prestar apoio e procurar informação útil. É muito importante que ela sinta que a tua preocupação é genuína e que a compreendes. Sê paciente e atencioso para que ela não sinta que a vais abandonar.
Não te esqueças que a Inês se sente fragilizada e está vulnerável, por isso trata-a com respeito e dignidade, não receando ouvir as suas decisões, sentimentos e crenças, mesmo que ela, em alguns momentos, possa não ser simpática contigo.
Lembra-te que não sabes como reagirias se estivesses a passar por esta situação! Acima de tudo, não a culpes pelo seu estado, muito pelo contrário, diz-lhe que a culpa não é dela e demonstra-lhe o teu apoio para ultrapassar esta situação. É importante que não desvalorizes aquilo pelo qual ela está a passar e o que sente. Evita frases como:
– Não me parece que estejas tão mal como pensas! – Tenta andar com um sorriso nos lábios, vais sentir-te melhor! – A andares triste é que não melhoras, de certeza!
Fá-la acreditar que há esperança que ela melhore e que venha a sentir-se melhor. Contudo, evita fazer promessas que não possas cumprir. Se prometeres estar com ela nesta fase, está mesmo e cumpre, pois é uma forma de ajuda. Pensa sempre que ela tem um problema e que até a tarefa mais simples do dia a dia lhe pode ser muito difícil de realizar. Podes utilizar frases como:
– A seguir à tempestade vem sempre a bonança! – Não há mal que sempre dure! – Não há rosas sem espinhos!
Podes, também, oferecer-lhe a tua ajuda na realização de algumas tarefas em que ela necessite de auxílio. No entanto, tem cuidado, para não adotares uma atitude de superproteção (fazer todas as atividades dela, por exemplo trabalhos escolares), tratá-la como se ela fosse incapaz (dizer: deixa estar que eu faço, tu não estás em condições) ou então que apenas dependa de ti para executar estas tarefas (há momentos em que não podes ou não vais estar presente). Quando estiveres a falar com ela não utilizes um tom de voz que possa parecer que estás a falar para uma criança.
Existe informação disponível que podes procurar e fornecer sobre apoio a problemas de saúde mental, como é este caso. Procura informação correta e apropriada para a situação e idade da Inês. Se sabes pouco sobre o assunto, assume e procura a informação com ela.
Não cedas à tentação de querer descobrir o problema, querendo agir como um profissional que não és, ou ainda pensar que és a única opção que ela tem. És amigo, a tua ajuda é valiosa mas não és a pessoa que vai resolver o problema.
4.ª AÇÃO:
Procurar ajuda profissional especializada
Se os problemas já se prolongam há algum tempo, por exemplo 2 ou 3 semanas e a situação está a afetar o dia a dia da Inês, é fundamental que a encorajes a procurar ajuda especializada ou então que a acompanhes na procura. A maioria das pessoas com sintomatologia depressiva só procura ajuda especializada quando alguém a sugere, sendo por vezes mesmo uma «obrigação» imposta. Contudo, esta última opção depende da família. Quanto a ti, é preferível que a informes sobre as opções de ajuda disponíveis. Lembra-te que quanto mais cedo a Inês procurar ajuda, maior é a probabilidade de ela ultrapassar a situação.
Se a Inês admitir que precisa de ajuda, informa-te e discute com ela as várias opções de profissionais disponíveis. Se ela não souber onde pode procurar ajuda, incentiva-a e acompanha-a nessa busca, mesmo que demore algum tempo. É fundamental que não desistam!
Devido à sua situação, a Inês pode não querer ajuda. Neste caso, procura perceber as suas razões, pois podem estar relacionadas com os preconceitos ainda existentes relativamente às fontes de ajuda. O teu apoio pode ser essencial para que ela consiga ultrapassar os seus medos. Se mesmo assim ela não quiser procurar ajuda profissional, lembra-lhe sempre que tem o teu apoio caso mude de ideias. É de considerar a possibilidade de contactares os seus pais. Contudo deves centra-te na procura de ajuda sem revelares pormenores desnecessários. Tal não implica que estejas a trair a sua confiança, pois procuras a melhor forma de a ajudar. Sê compreensivo, positivo e encorajador. Não desistas de a ajudar.
5.ª AÇÃO:
Incentivar o recurso a outros apoios
Encoraja a Inês a procurar outros apoios, tais como a família e os amigos. Se for necessário contacta também organizações que disponibilizem informação e prestem apoio a pessoas que estão a passar pela mesma situação. Esclarece as tuas dúvidas. A recuperação da Inês pode ser mais rápida e eficaz se ela se sentir apoiada e confortável no ambiente que a rodeia.
Incentiva-a a utilizar estratégias de autoajuda, no entanto, não te esqueças que o interesse dela pode depender da fase da perturbação e da intensidade dos seus sintomas. Quem avalia esse estado é o profissional de saúde adequado, por exemplo, se acompanhares a Inês a uma consulta médica no centro de saúde, ela depois poderá ser encaminhada para os profissionais mais adequados para o tratamento do seu problema.
Ansiedade ou depressão?
Clique na imagem para saber a resposta:
Depressão e ansiedade qual a diferença
Ansiedade
A ansiedade pode manifestar-se através de sintomas físicos e psicológicos. É normalmente caracterizada por uma preocupação excessiva face a uma situação futura. Não se vive bem o presente, sempre com inquietação pelo futuro. Quando controlada, é uma reação natural do organismo a possíveis ameaças, que permite que nos mantenhamos alerta para qualquer perigo que possa surgir.
No entanto, por vezes a ansiedade apresenta-se de forma intensa, prolongada e sem causa aparente. Nestes casos, as pessoas tendem a isolar-se e a evitar quaisquer situações que considerem perigosas, mesmo quando não o são.
Tipos de ansiedade
De forma simples a ansiedade pode ser de dois tipos:
Generalizada e constante;
Específica, manifestando-se em situações especiais.
Em relação a situações específicas temos os seguintes exemplos mais comuns:
Ataques de pânico;
Perturbações obsessivo-compulsivas;
Agorafobia (medo de espaços abertos ou no meio de uma multidão);
Ansiedade social;
Stresse pós-traumático.
Medicamentos antidepressores
Segundo o Centro de Informação do Medicamento (CIM) da Ordem dos Farmacêuticos, a utilização de fármacos antidepressores tem aumentado significativamente durante a última década. Entre as possíveis razões para este facto estão não só o aumento do número de antidepressores disponíveis e a maior amplitude de indicações terapêuticas, mas também uma maior sensibilização para a doença e aceitação para o tratamento por parte dos doentes e da sociedade. Existem disponíveis no mercado várias classes de antidepressores, com diferentes propriedades farmacocinéticas e farmacodinâmicas, diferentes perfis de segurança e com uma grande amplitude de indicações terapêuticas. Em geral, os antidepressores têm eficácia semelhante, quando administrados em doses comparáveis.
Qual o melhor antidepressor?
A escolha do antidepressor deverá ter como base a sua tolerabilidade, segurança, menor custo, história individual do doente e os antecedentes de resposta a tratamentos realizados anteriormente. Independentemente do antidepressor escolhido, o seu início de ação não é imediato. Em média, a redução de cerca de 50% da intensidade dos sintomas ocorre entre as 4 e as 8 semanas após a instituição da terapêutica, altura em que se deve proceder a uma reavaliação clínica do doente.
Tempo de resposta terapêutica
Se não houver uma resposta adequada à terapêutica, poderá ser necessário alterar o antidepressor instituído ou associar um outro antidepressor com um mecanismo de ação diferente e complementar. Nos casos particulares de depressão psicótica, é recomendado associar-se ao tratamento com antidepressor um antipsicótico. Na maioria dos doentes o tratamento antidepressivo deve prolongar-se por 9 a 12 meses após uma resposta terapêutica adequada.
Tratamento mais usado
O cloridrato de fluoxetina, também conhecida pelo seu nome comercial mais famoso, Prozac, é um medicamento antidepressivo que pertence à classe do inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS). A fluoxetina é o mais antigo e o mais estudado antidepressivo do grupo dos ISRS, tendo sido lançada no mercado em 1987.
Apesar de ser classificada como antidepressivo, a fluoxetina pode também ser usada para vários outros distúrbios, tais como transtorno obsessivo-compulsivo, bulimia nervosa e síndrome do pânico.
A tabela de classificação de antidepressores que descrevo de seguida, está atualizada e indica de forma clara as diferentes classes farmacoterapêuticas em que se dividem os diversos antidepressores disponíveis no mercado, o nome dos fármacos e os neurotransmissores sobre os quais exercem efeito terapêutico.
Fonte: CIM (Centro de Informação do Medicamento) da Ordem dos Farmacêuticos
Antidepressores tricíclicos (ADTs)
Os fármacos pertencentes à classe do antidepressores tricíclicos são os seguintes:
Imipramina
Amitriptilina
Clomipramina
Maprotilina
Dosulepina
Nortriptilina
Estes foram os primeiros antidepressores a surgir. Foram sintetizados a partir da cloropromazina, um antipsicótico que tem uma estrutura química com três anéis benzénicos, daí a designação de compostos tricíclicos. São fármacos muito eficazes, mas associados a múltiplos efeitos secundários e toxicidade quando ingeridos em sobredosagem.
Todos os antidepressores tricíclicos bloqueiam a recaptação de noradrenalina (NA). Contudo, existem alguns mecanismos de ação paralelos como a inibição do transportador de serotonina e o antagonismo dos recetores serotoninérgicos 5HT2A e 5HT2C.
Adicionalmente, os ADTs também podem apresentar propriedades antagonistas dos recetores de histamina H1, α-adrenérgicos, muscarínicos e podem bloquear os canais de sódio sensíveis à voltagem, estando estas ações associadas aos seguintes efeitos secundários:
Bloqueio canais de Na+ sensíveis à voltagem – a sobredosagem pode originar convulsões, coma, arritmias, paragem cardíaca e morte.
Por este motivo esta classe farmacológica não constitui a primeira linha de tratamento, sendo utilizada normalmente em doentes refratários.
Antidepressores tricíclicos e afins
Posteriormente, desenvolveram-se outras moléculas com as mesmas características farmacológicas, mas com diferentes estruturas químicas. Surgiram assim o grupo dos tetracíclicos e os grupos com estruturas afins. O conjunto destas moléculas representa atualmente um grupo heterogéneo com eficácia reconhecida, designados por anti-depressores tricíclicos e afins, cujos mais utilizados são:
Trazodona;
Mirtazapina.
Antagonista e inibidor da recaptação da serotonina
Trazodona
A trazodona atua inibindo a recaptação de serotonina, bem como por bloqueio dos recetores 5HT2A e 5HT2C. Além disso, é também capaz de bloquear os recetores α-adrenérgicos e H1. O seu efeito antidepressor é dose-dependente, sendo nas doses mais baixas (25 mg-100 mg) utilizado como hipnótico e nas doses mais altas (150 mg-600 mg) utilizado como antidepressor.
Ação noradrenérgica e serotoninérgica específica
Mirtazapina
A mirtazapina aumenta a transmissão serotoninérgica e noradrenérgica, bloqueando também os recetores α-adrenérgicos. Adicionalmente, tem atividade antagonista dos recetores histamínicos H1, que está associada
às suas propriedades sedativas. Praticamente não possui atividade anticolinérgica e, em doses terapêuticas, tem efeitos limitados sobre o sistema cardiovascular (por exemplo, hipotensão ortostática).
Quando comparada com outros antidepressores serotoninérgicos apresenta menos efeitos secundários gastrointestinais. No entanto, pode induzir um aumento de apetite e de peso, o que a torna uma opção terapêutica interessante, por exemplo nos idosos mais frágeis, mas que pode ser uma limitação importante a ser considerada.
Inibidores da monoaminoxidase (IMAO)
Moclobemida
A partir da década de 60 do século XX foram desenvolvidos fármacos que inibem o metabolismo das catecolaminas. Estes fármacos atuam por inibição enzimática da monoaminoxidase (MAO), a enzima responsável pelo metabolismo da serotonina, noradrenalina, dopamina (DA) e tiramina na fenda sináptica. Existe uma importante interação fármaco-alimento associada a esta classe. A tiramina é uma monoamina derivada da tirosina, presente em várias bebidas e alimentos fermentados, como queijo e vinho.
O facto de não haver uma inibição seletiva da MAO no sistema nervoso central, faz com que esta enzima também seja inibida no intestino e fígado. Assim, ocorre uma diminuição da degradação da tiramina absorvida destes alimentos, o que pode resultar num aumento da concentração de NA (sódio) e consequentemente num aumento de
risco de crise hipertensiva (pressão arterial elevada). Uma vez que desta classe farmacológica a moclobemida é o único inibidor que é reversível, é aquele que menor interação apresenta com os alimentos.
A moclobemida, em regra, não é bem tolerada, apresentando um perfil de interações fármaco-fármaco significativo e efeitos secundários frequentes, como sedação, confusão mental, perda de coordenação motora, xerostomia, retenção urinária, obstipação e aumento de peso. Por este motivo o uso deste fármaco está reservado a casos de depressão resistente ao tratamento.
Inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRSs)
Os fármacos pertencentes à classe do inibidores seletivos da recaptação da serotonina são os seguintes:
Fluoxetina
Sertralina
Paroxetina
Citalopram
Escitalopram
Fluvoxamina
A tentativa de criar moléculas que mantivessem as propriedades antidepressoras e determinassem menos ou diferentes reações adversas em relação aos tricíclicos e afins levou ao desenvolvimento dos ISRSs.
Responsáveis por uma inibição seletiva e potente da recaptação de serotonina (5HT), estes fármacos apresentam uma eficácia semelhante aos antidepressores tricíclicos, mas com melhor tolerabilidade e menor toxicidade em caso de sobredosagem, sendo por isso os mais usados numa primeira linha de tratamento das perturbações depressivas.
Os efeitos adversos mais comuns são no trato gastrointestinal, geralmente dose-dependentes. Cerca de 20% dos doentes tem queixas de náuseas, que frequentemente resolvem com a continuação do tratamento. Alguns doentes podem apresentar queixas de disfunção sexual, que é reversível com a descontinuação da terapêutica. A suspensão abrupta do tratamento com os ISRSs pode induzir síndrome de privação, pelo que a descontinuação do tratamento deve ser feita gradualmente.
Outra importante característica desta classe farmacológica é o facto de inibirem o CYP450, sendo por isso necessário, aquando da instituição desta terapêutica, avaliar o risco de interação farmacocinética.
Inibidores da recaptação da serotonina e noradrenalina (IRSNs)
Os fármacos pertencentes à classe do inibidores da recaptação da serotonina e noradrenalina, são os seguintes:
Venlafaxina
Duloxetina
Milnaciprano
Outra classe de antidepressores de aparecimento posterior é a dos IRSNs. Esta classe terapêutica apresenta uma ação dupla, inibindo os transportadores da serotonina e da noradrenalina. São ainda capazes de
uma ligeira inibição da recaptação da DA. Como não têm afinidade para os recetores α-adrenérgicos, H1 ou M1, apresentam um perfil de reações adversas mais favorável em relação aos ISRSs e aos ADTs. No entanto, destaca-se o risco de aumento da tensão arterial, dose dependente, bem como o risco de arritmia, em situações de sobredosagem, o que faz com que esta classe deva ser utilizada
com precaução em doentes com patologia cardíaca significativa.
Tal como nos ISRSs, alguns doentes podem apresentar disfunção sexual, reversível com a descontinuação da terapêutica. De realçar ainda o menor efeito nas enzimas de metabolização hepática, em comparação
com os ISRSs.
Inibidores seletivos da recaptação da noradrenalina (ISRNAs)
Reboxetina
A reboxetina é um fármaco inibidor potente e altamente seletivo da recaptação da noradrenalina. Tem apenas um efeito fraco na recaptação de 5HT e não afeta a captação de DA. Por não apresentar afinidade significativa para os recetores adrenérgicos e muscarínicos tem menos efeitos secundários que os inibidores da recaptação de serotonina e
noradrenalina.
Inibidor seletivo da recaptação da dopamina e noradrenalina
Bupropiom
O bupropiom tem um mecanismo de ação distinto pois é um inibidor seletivo da recaptação neuronal das catecolaminas (NA e DA), desprovido de efeitos serotoninérgicos, estando associado a um perfil diferente de reações adversas. É menos propenso a induzir efeitos adversos relacionados com a 5HT, como por exemplo a disfunção sexual e o ganho de peso. No entanto, em doses mais elevadas, este fármaco pode aumentar significativamente o risco de convulsões, devendo ser
utilizado com precaução em doentes com epilepsia ou em doentes a tomar concomitantemente fármacos que diminuam o limiar convulsivo. Além do seu efeito antidepressor, está também indicado como adjuvante
em programas de cessação do consumo de nicotina.
Agonista do recetor da melatonina e antagonista do recetor da serotonina
Agomelatina
Em 2010, foi comercializada a agomelatina, um agonista melatoninérgico (recetores MT1 e MT2) e um antagonista 5HT2C. Não tem efeito na absorção das monoaminas nem afinidade para os recetores α e β adrenérgicos, histaminérgicos, colinérgicos, dopaminérgicos e benzodiazepínicos. Por ser capaz de ressincronizar os ritmos circadianos tem demonstrado eficácia nas perturbações depressivas relacionadas com stresse e ansiedade.
Modulador e estimulante da serotonina
Vortioxetina
O antidepressor mais recentemente introduzido no mercado é a vortioxetina. Este tem uma ação moduladora direta da atividade dos recetores serotoninérgicos e inibe o transportador da serotonina. Por ter uma ação em vários recetores 5-HT (antagonista dos recetores 5-HT3, 5-HT7 e 5-HT1D, agonista parcial do recetor 5-HT1B, agonista
do recetor 5-HT1A e inibidor do transportador 5-HT), é capaz de modular a neurotransmissão em vários sistemas, incluindo predominantemente o sistema da serotonina, mas provavelmente também os sistemas da noradrenalina, dopamina, histamina, acetilcolina, GABA e glutamato. Esta atividade multimodal é considerada responsável
pelos efeitos antidepressores e de tipo ansiolítico e pela melhoria da função cognitiva, aprendizagem e memória.
Efeitos secundários
Os antidepressores podem ter efeitos secundários de primeira toma, que surgem tipicamente na fase inicial do tratamento e têm tendência a regredir após a primeira semana de tratamento, tais como:
Náuseas;
Cefaleias.
No entanto, outras reações tendem a persistir durante o tratamento e a sua avaliação deve ser individualizada, tais como:
Efeitos anticolinérgicos;
Disfunção sexual.
Síndrome serotoninérgica
Antidepressores que aumentem a atividade da serotonina, em especial se forem utilizados em associação, podem estar relacionados com a síndrome serotoninérgica. Causada por um aumento excessivo da serotonina na fenda sináptica, esta síndrome é caracterizada por:
Hipertermia (elevação da temperatura corporal);
Rigidez muscular;
Mioclonias (espasmos musculares rápidos e repentinos);
Tremores;
Instabilidade autonómica (pulso ou pressão arterial irregular, sudorese, taquicardia, midríase, diaforese e disritmia cardíaca);
Confusão;
Irritabilidade;
Agitação.
Pode evoluir para o coma ou até mesmo para a morte.
Risco de suicídio
É ainda de ressalvar que transversalmente a todas as classes de antidepressores pode estar associado um risco de suicídio, pelo que alterações mentais e comportamentais que apareçam no decorrer da terapêutica devem ser monitorizadas e avaliadas com precaução.
Doentes obesos
Os doentes obesos devem evitar os antidepressores com efeito antagonista H1 que provocam excesso de peso, tais como:
Antidepressores tricíclicos (ADTs) como imipramina, amitriptilina, clomipramina, maprotilina, dosulepina e nortriptilina;
Trazodona;
Mirtazapina;
Bupropiom.
Doentes com insónia
Os doentes com dificuldade em dormir que tenham peso normal, pelo contrário, podem ser favorecidos pelos ADTs, trazodona e mirtazapina se tomados à noite, pois são antidepressores que provocam sonolência.
A agomelatina é atualmente um dos mais usados nestes doentes com insónia pois é um agonista melatoninérgico ou seja favorece a produção de melatonina (hormona do sono) e ressincroniza os ritmos circadianos.
Crianças e adolescentes
A depressão nas crianças e adolescentes é uma patologia multifatorial que afeta cerca de 2% das crianças e 4 a 8% dos adolescentes, sendo ainda pouco diagnosticada. Pode surgir na sequência de acontecimentos traumáticos para a criança ou o adolescente, ou estar relacionada com alterações bioquímicas que afetam o sistema nervoso central.
Os sinais e sintomas da depressão nos adolescentes não diferem muito daqueles que se encontram nos adultos, nomeadamente sentimentos de
tristeza, ansiedade e desmotivação, distúrbios do sono e do apetite, entre outros. No que diz respeito às crianças, predominam sintomas de irritabilidade e agressividade.
A abordagem terapêutica da depressão nas crianças e adolescentes inclui a intervenção cognitiva-comportamental e, quando necessário, terapêutica farmacológica, embora os dados que suportam a eficácia dos
antidepressores em crianças e adolescentes sejam escassos. A fluoxetina e o escitalopram são antidepressores aprovados pela Food and Drug Administration (FDA) para o tratamento da depressão em doentes com mais de 8 e 12 anos, respetivamente.
A EMA também aprovou a utilização de fluoxetina nas mesmas condições. Contudo, a utilização off label de outros antidepressores (ex. outros ISRS, bupropiom, venlafaxina, duloxetina ou mirtazapina) para a terapêutica da depressão nestas faixas etárias é também uma realidade, sobretudo em situações em que não há resposta adequada aos fármacos aprovados.
É ainda importante referir que, no início do tratamento, todos os antidepressores podem aumentar o pensamento e o comportamento
suicida em crianças, adolescentes e adultos jovens de 18 a 24 anos de idade, pelo que é necessário estar particularmente atento a este risco.
Mulher grávida e latente
A utilização de antidepressores na gravidez está associada com o aumento do risco de aborto espontâneo. No entanto, a depressão
não tratada durante a gravidez e no período pós-parto pode representar um risco tanto para a mãe como para o filho.
Mulheres grávidas com depressão têm mais tendência para o consumo de drogas de abuso, nicotina e álcool, bem como tendem a descurar os cuidados pré-natais e a nutrição. Considerada como o maior fator de risco para o desenvolvimento de depressão pós-parto e para o aparecimento de efeitos negativos na interação mãe-bebé, uma depressão não tratada na gravidez pode condicionar o normal desenvolvimento do feto, bem como influenciar os futuros comportamentos do filho, podendo mesmo apresentar efeitos tardios na criança como atrasos no desenvolvimento e linguagem, distúrbios mentais e problemas comportamentais.
Assim, é importante que não se interrompa o tratamento antidepressivo durante a gravidez e que este seja instituído sempre que o benefício terapêutico que se obtém da utilização de antidepressores se sobreponha ao risco da depressão durante a gravidez e no período pós-parto, tanto para a mãe, como para o filho.
A escolha terapêutica mais adequada nesta fase é aquela que origina o mínimo possível de exposição fetal ou do recém-nascido. Desta forma, as características farmacocinéticas dos diferentes fármacos têm de ser avaliadas, sendo mais seguros os que apresentam menor capacidade de atravessar a barreira placentária e de passar para o leite materno.
Os inibidores seletivos da recaptação da serotonina não demonstraram ser especialmente teratogénicos, com a maioria dos estudos a defender a segurança da fluoxetina e da sertralina. Esta última tem-se destacado
por ter uma menor distribuição placentária e, durante a lactação, produzir níveis indetetáveis no plasma da criança.
Depressão no idoso
A depressão nos indivíduos idosos é frequente, sendo muitas vezes acompanhada por perda de iniciativa, perda de apetite, insónia, fadiga, queixas físicas, perda de interesse nas atividades da vida diária e alteração nas funções cognitivas, nomeadamente dificuldades de concentração, distração ou defeitos de memória. De uma forma geral, em relação à abordagem farmacológica, deve iniciar-se com metade da dose inicial em relação a adultos jovens e deve ser feito um aumento da dose de uma forma mais lenta.
Os idosos podem precisar de 6 a 12 semanas de tratamento para atingir a resposta antidepressiva desejada. Os inibidores seletivos da recaptação da serotonina costumam ser considerados antidepressores de primeira escolha em indivíduos idosos, sendo que o bupropiom, a
venlafaxina e a mirtazapina também são eficazes e bem tolerados.
Fluoxetina mecanismo de ação
O mecanismo de ação da fluoxetina é o mesmo de todos os antidepressivos inibidores seletivos da recaptação da serotonina.
A serotonina é um neurotransmissor, ou seja, é uma substância envolvida na comunicação entre os neurônios. A serotonina age sobre a regulação do humor, das emoções, do sono e do apetite. Níveis reduzidos de serotonina no sistema nervoso central podem causar depressão do humor, alterações de comportamento, e ainda provocam distúrbios no sono e no apetite.
A quantidade de serotonina disponível para os neurónios depende da quantidade produzida e da quantidade removida (recaptada) no cérebro. Os inibidores seletivos da recaptação de serotonina agem diminuindo a taxa de remoção da serotonina da fenda sináptica, local onde este neurotransmissor exerce suas ações.
Deste modo, os ISRS fazem com que a serotonina permaneça disponível por mais tempo para os neurônios, levando a uma melhora do humor dos pacientes.
Indicação terapêutica
Sendo um antidepressivo, é claro que a principal indicação da fluoxetina é para o tratamento da depressão. Contudo, esta não é única. A fluoxetina também é eficaz no tratamento de outros distúrbios de origem psiquiátrica, como, por exemplo:
Transtorno obsessivo-compulsivo,
Bulimia nervosa,
Síndrome do pânico,
Stress pós-traumático,
Tratamento auxiliar na fibromialgia,
Tensão pré-menstrual.
Posologia
A fluoxetina pode ser tomada em qualquer horário e a sua absorção não é influenciada pela alimentação. O medicamento costuma ser tomado em dose única diária, mas doses acima de 20 mg podem ser divididas em 2 tomadas ao longo do dia.
A dose efetiva da fluoxetina costuma ser de 20 mg por dia, porém, para minimizar os efeitos colaterais, o seu médico pode iniciar o tratamento com uma dose de apenas 10 mg por dia, autorizando o aumento para 20 mg após 1 semana.
Esta prática costuma ser comum quando o paciente é idoso. A dose da fluoxetina pode ser progressivamente elevada em 10 a 20 mg a cada 4 semanas até que o efeito desejado seja alcançado.
Quanto tempo demora a fazer efeito?
Os efeitos clínicos da fluoxetina demoram cerca de 15 a 20 dias para se tornarem evidentes, por isso, não indicamos elevações da dose com menos de 1 mês de tratamento. A dose máxima recomendada é 80 mg por dia. Na maioria dos casos, o paciente consegue controle dos seus sintomas com doses entre 20 e 40 mg por dia.
Fluoxetina emagrece?
Apesar de ser uma pergunta pertinente e frequentemente feita na Internet, ela não tem uma resposta única. A fluoxetina emagrece? Depende, às vezes sim outras vezes não. O melhor será perguntar se provoca alterações de peso!
A fluoxetina provoca alterações no peso?
Sim, a fluoxetina pode provocar alterações no peso, seja para mais ou para menos. Ambos os casos costumam estar ligados ao controle da depressão e da ansiedade. A maioria dos pacientes depressivos ou com pânico perdem o apetite e emagrecem.
Conforme a fluoxetina exerce seus efeitos, a depressão e a ansiedade vão sendo controladas e o apetite retorna. Por isso, o paciente ganha peso. O oposto também pode ser real.
O consumo exagerado de alimentos pode ser um sintoma de doença psiquiátrica, que passa a ser controlado conforme a fluoxetina passa a agir. Em alguns doentes, a fluoxetina pode provocar perda de apetite como efeito colateral. nestes casos, ela pode levar à perda de peso.
Efeitos secundários da fluoxetina
Os efeitos secundários mais frequentes da fluoxetina são, por ordem decrescente, os seguintes:
Insónia (10% to 33%),
Náuseas (12% to 29%),
Diarreia (8% to 18%),
Sonolência (5% to 17%),
Diminuição do apetite (4% to 17%),
Ansiedade (6% to 15%),
Tremores (3% to 13%),
Diminuição da libido ou desejo sexual (1% to 11%),
Impotência sexual (7%),
Ejaculação retardada (7%).
Em geral, os efeitos adversos da fluoxetina surgem no início do tratamento e desaparecem com o tempo. A fluoxetina parece ser o antidepressivo ISRS que menos provoca efeitos colaterais na área sexual.
Contraindicações principais
A principal contraindicação da fluoxetina é o seu uso em doentes que estejam a tomar ou que tenham tomado, nos últimos 14 dias, medicamentos antidepressivos que pertençam a classe dos inibidores da monoamina oxidase (IMAO) (ex: Isocarboxazida, Fenelzina ou Tranilcipromina).
Fluoxetina, situações de especial cuidado
A fluoxetina deve ser utilizada com cuidado em doentes com:
Diabetes, pois há um maior risco de hipoglicemia;
Doenças hepática;
Doentes em fase maníaca, pois pode agravar os sintomas;
Doença bipolar (maníaco-depressivo), pois é pouco eficaz.
Consumo de álcool, pois aumenta o risco de efeitos secundários.
Fluoxetina, gravidez e amamentação
Apesar de não ser totalmente contraindicada, a fluoxetina costuma ser evitada na gravidez, já que existem outros antidepressivos mais seguros, como a Sertralina. O mesmo raciocínio vale para as mulheres que estão a amamentar.
Interações perigosas
Alguns medicamentos não devem ser usados em associação com a fluoxetina. Os principais são:
Haloperidol
Ivabradina
Triptofano
Linezolide
Propafenona
Tamoxifeno
Concluindo
O exemplo da Inês é um caso idêntico ao de muitos jovens adolescentes e adultos que necessitam da nossa ajuda. Não é fácil ajudar até porque nos tira da nossa “zona de conforto”. No entanto o mais importante é escutar, compreender, informar e acompanhar… no fundo ser sempre amigo e estar sempre presente durante este doloroso processo de “cura da alma” e… quando ficarem melhores não vão esquecer nunca a tua ajuda!
Por favor PARTILHE este importante artigo e certamente vai ajudar muitas pessoas que vivem em silêncio a sua “dor de alma”!
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