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Quais as melhores vitaminas e minerais para o cérebro?

Vitaminas para o cérebro fadiga e cabelo quais as mais importantes? Quais os minerais mais relevantes? O que são exatamente as vitaminas e para que servem? Quando devo tomar um suplemento? Qual o melhor suplemento vitamínico? O excesso de vitaminas que problemas pode causar? Quais os sintomas de falta e de excesso?

Na minha prática profissional quase diariamente alguém me pede vitaminas para o cérebro e cansaço, mas serão mesmo necessárias? Para conseguir ajudar corretamente preciso de descobrir, antes de mais, o tipo de alimentação que têm, os suplementos que tomam, quais os sintomas para os quais procuram ajuda e os medicamentos que estão a tomar pois alguns, de facto, podem causar deficiência vitamínica.

No entanto antes de tudo isso deixo claro que o fator mais relevante, estruturante e decisivo para para o nosso cérebro e para um bom desempenho cognitivo é a qualidade do nosso sono… sem o qual não existem vitaminas ou minerais que possam fazer milagres!

Em 2012 a neurocientista dinamarquesa Maiken Nedergaard, descobriu, no nosso cérebro, o que designou de sistema glinfático, responsável pela “limpeza” diária do nosso cérebro e que ocorre durante a fase de sono profundo. Saiba tudo sobre este assunto no meu artigo sobre os segredos do sono, clicando na imagem abaixo.

Vitaminas o que são?

As vitaminas e os minerais são considerados nutrientes essenciais, isto é, não podem ser sintetizados pelo organismo e, portanto, devem ser consumidos na dieta. No entanto se tivermos uma microbita intestinal equilibrada e saudável este geralmente incluiu bactérias produtoras de certas vitaminas.

O que são vitaminas? As vitaminas são chamadas de micronutrientes essenciais porque são necessárias ao organismo em pequenas quantidades em inúmeras reações químicas que incluem desde o metabolismo de hidratos de carbono, proteínas e gorduras, passando pela manutenção de um bom sistema imunitário, estabilidade do sistema nervoso central e até ás funções de reparação de DNA nas nossas células.

Sem as vitaminas estas reações químicas essenciais não se realizam ou ficam descompensadas causando com o tempo diversas doenças, algumas bastante graves! O organismo não armazena a maioria das vitaminas, nomeadamente as hidrossolúveis como as do complexo B (exceto a B12) e vitamina C. A deficiência dessas vitaminas geralmente desenvolve-se em semanas a meses. Portanto, as pessoas devem consumi-las regularmente.

Quantas vitaminas existem?

Atualmente a lista contém 20 vitaminas. O complexo de vitaminas B contém 8, o complexo de vitaminas K contém 5, o complexo de vitaminas D contém 4 e as vitaminas A, E e C completam a lista, conforme descrevo de seguida:

  • Vitamina A (retinol);
  • Vitamina D ou D3 (colecalciferol), D2, D4 e D5;
  • Vitamina E (tocoferol);
  • Vitamina K (naftoquinona), K1, K2, K3 e K4;
  • Vitamina C (ácido ascórbico);
  • Vitamina B1 (tiamina);
  • Vitamina B2 (riboflavina);
  • Vitamina B3 (niacina, vitamina PP, ácido nicotínico ou nicotinamida);
  • Vitamina B5 (ácido pantoténico);
  • Vitamina B6 (piridoxina, piridoxal ou piridoxamina);
  • Vitamina B7, B8 ou H (biotina);
  • Vitamina B9 (ácido fólico);
  • Vitamina B12 (cianocobalamina).

As vitaminas são classificadas conforme a sua solubilidade na água. Assim dividem-se em:

  • Vitaminas hidrossolúveis – Vitamina C e os oito membros do complexo da vitamina B;
  • Vitaminas lipossolúveis – Vitaminas A, D, E e K.

Apenas as vitaminas A, E e B12 são armazenadas em grande quantidade no corpo.

Microbioma e vitaminas

As bactérias do cólon são responsáveis por sintetizar vitaminas, sobretudo, a tiamina (B1), a B12, a biotina (B7), o ácido fólico (B9), e a vitamina K e fermentam hidratos de carbono indigeríveis (fibras) em ácidos gordos de cadeia curta que constituem fontes de energia para o hospedeiro (Gerritsen et al., 2011; Prakash, 2011).

As bactérias residentes do trato gastrintestinal contribuem para preservar parte da energia contida nos hidratos de carbono
indigeríveis da dieta como a celulose, hemicelulose e pectina, metabolizando os mesmos em ácidos gordos que são fontes de energia para as células do epitélio intestinal e facilitam a absorção de sódio e água, além de sintetizarem proteínas e vitaminas do complexo B (Prakash, 2011).

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Funções alimentos doenças e dose diária

As vitaminas são essenciais em inúmeras funções vitais do nosso corpo. Nas tabelas seguintes descrevo:

  • Todas as vitaminas que existem;
  • Funções;
  • Alimentos onde existem;
  • Doenças provocadas pela falta de vitaminas;
  • Ingestão diária recomendada;
  • Toxicidade ou limite superior de segurança.

Atualmente as vitaminas B4, B10 já não são consideradas vitaminas por não serem essenciais e a vitamina B11 não existe. a tabela seguinte descreve então as funções mais relevantes de cada vitamina no nosso organismo.

VitaminaFunções mais relevantes
A
(retinol ou axeroftol)
Mucosas, pele, imunidade e visão.
– Necessária para formar células nervosas sensíveis à luz (fotorreceptores) na retina, ajudando a manter a visão noturna;
– Ajuda a manter a saúde da pele, da córnea e do revestimento dos pulmões, do intestino e do trato urinário;
– Ajuda a proteger contra infeções;
– Formação de rodopsina (um pigmento fotorreceptor na retina);
– Integridade do epitélio;
– Estabilidade do lisossoma;
– Síntese de glicoproteína (união de uma proteína com um hidrato de carbono. As glicoproteínas estão muitas vezes presentes na superfície das células, como proteínas da membrana plasmática ou como parte da matriz extracelular e desempenham um papel crítico nas interações entra células e nos mecanismos de infeção por vírus e bactérias.
D ou D3 (colecalciferol)
D2 (ergocalciferol)
D4 (diidroergocalciferol)
D5
Coração, dentes, músculos e imunidade.
– Promove a absorção de cálcio e fósforo a partir do intestino;
– Necessária para a formação, crescimento e reparação (mineralização) dos ossos;
– Fortalece o sistema imunológico e reduz o risco de doenças autoimunes.
– Função reguladora do metabolismo da insulina (deficiência pode diminuir a resistência à insulina);
– Função reguladora do bom funcionamento da tiroide;
E
(tocoferol)
Células.
– Antioxidante intracelular;
– Remove os radicais livres nas membranas biológicas.
K (naftoquinona)
K1 (filoquinona)
K2 (menaquinonas)
K3 (menadiona)
K4 (menadiol)
Coagulação, ossos, coração e dentes.
– Auxilia na formação de protrombina, outros fatores de coagulação sanguínea e, portanto, é necessária para a normal coagulação do sangue.
– Necessária para a saúde dos ossos, dentes e outros tecidos.
B1
(tiamina)
Cérebro, coração e energia.
– Necessária para o metabolismo dos hidratos de carbono, glicose, aminoácidos e proteínas, gorduras e álcool;
– Funcionamento normal dos nervos (função celular nervosa central e periférica) e do coração (função miocardia).
B2
(riboflavina)
Células, cérebro, coração, energia e visão.
– Vários aspectos do metabolismo dos hidratos de carbono e proteínas;
– Integridade da mucosa. (ex: mucosa bucal).
B3
(niacina, vitamina PP, ácido nicotínico ou nicotinamida)
Mucosas, pele, cérebro e energia.
– Metabolismo celular de hidratos de carbono, de gorduras e muitas outras substâncias, para o funcionamento normal das células;
– Reações de oxidação e redução.
B4 ou Adenina
Atualmente não é considerada uma vitamina
B5
(ácido pantoténico)
Cérebro e energia.
– Necessário para o metabolismo de hidratos de carbono, proteínas e gorduras. É essencial na síntese da coenzima A, sendo por isso uma vitamina essencial no metabolismo dos mamíferos. 
B6
(piridoxina, piridoxal, piridoxamina )
Cérebro, coração, energia e imunidade.
– Necessária para o metabolismo de hidratos de carbono, aminoácidos e gorduras, para o funcionamento normal dos nervos, para a formação de glóbulos vermelhos e para uma pele saudável;
– Importante em muitos aspectos do metabolismo do nitrogênio (p. ex., transaminação, síntese heme e porfirina, conversão do triptofano em niacina)
– Biossíntese de ácido nucleico.
B7 ou
B8 ou
H
(biotina)
Digestão, mucosas, pele, unhas e energia.
Essencial a todos os organismos. Alguns conseguem sintetizá-la, como algumas estirpes de bactérias, leveduras, fungos, algas e certas espécies de plantas.
– Necessária para o metabolismo de carboidratos e ácidos gordos. Funciona como uma coenzima no metabolismo das purinas e dos hidratos.
– Atua na formação da pele, unhas e cabelo,.
B9
(ácido fólico)
Digestão, cérebro, coração, energia, imunidade e reprodução.
– Necessária para a formação dos glóbulos vermelhos do sangue (maturação dos eritrócitos) para a síntese do DNA e do RNA e para o desenvolvimento normal do sistema nervoso no feto;
– Síntese de purinas, pirimidinas e metionina;
B10
(ácido 4-aminobenzoico)
Atualmente não é considerada uma vitamina
B11 não existe
B12
(cianocobalamina)
Cérebro, coração e imunidade.
– Necessária para a formação e maturação dos glóbulos vermelhos do sangue, para o funcionamento dos nervos e para a síntese do DNA.
– Síntese e reparação de mielina. A bainha de mielina é uma membrana protetora essencial do axónio que é uma parte relevante das células nervosas.
C
(ácido ascórbico)
Células, mucosas, pele, unhas, coração, dentes, músculos, imunidade e energia.
– Necessária para a formação, crescimento e reparação dos ossos, pele e tecido conjuntivo;
– Melhora a cicatrização de feridas e queimaduras. É importante para o funcionamento normal dos vasos sanguíneos;
– Atua como um antioxidante, protegendo as células contra danos causados pelos radicais livres;
– Ajuda o organismo a absorver o ferro;
– Formação de colagénio;
– Síntese de aminoácidos, hormonas e carnitina;
Fonte: Manual MSD, Por 
Larry E. Johnson , MD, PhD, University of Arkansas for Medical Sciences

Alimentos com vitaminas

A maior parte das vitaminas encontram-se quer na carne quer nos vegetais. No entanto algumas só se encontram na quantidade saudável necessária a nossa alimentação incluir carne e vegetais.

Assim, se não comer carne, por exemplo se for vegan, dificilmente conseguirá um aporte saudável de vitamina B12. Por outro lado se não comer vegetais, por exemplo se seguir uma dieta carnívora, dificilmente conseguirá ingerir a quantidade necessária de vitamina C.

VitaminasFontes
alimentares
A (retinol)Como vitamina pré-formada: óleos de fígado de peixe, fígado, gemas de ovos, manteiga, produtos lácteos enriquecidos com vitamina A
Como carotenoides pró-vitamina: vegetais verdes escuros e amarelos, cenoura e frutas amarelas e laranjas
D (colecalciferol)Irradiação direta da pele por ultravioleta B (fonte principal); derivados do leite enriquecidos (principal fonte dietética), óleos de fígado de peixe, peixes gordos, fígado
E (tocoferol)Óleos vegetais (prefira azeite extra virgem) e oleaginosas como nozes, amêndoas, avelãs, castanha de caju, castanha do Pará, pistáchios e macadâmia.
K (naftoquinona)Vegetais folhosos verdes (em especial couve, espinafre e saladas verdes), soja, óleos vegetais
Bactérias do trato gastrointestinal após o período neonatal.
B1 (tiamina)Grãos integrais, carnes (em especial porco e fígado), cereais enriquecidos, oleaginosas, legumes, batatas.
B2 (riboflavina)Leite, queijos, fígado, carnes, ovos, cereais enriquecidos.
B3 (niacina)Fígado, carne vermelha, peixe, aves, legumes, pães e cereais de grãos integrais ou enriquecidos.
B5 (ácido pantoténico)Fígado, carne, gema de ovo, levedura, batatas, brócolos e cereais integrais. O termo pantoténico tem origem no grego “pantos” significando “em toda a parte”. Assim, a vitamina B5 encontra-se na maioria dos alimentos de origem vegetal e animal. A B5 também pode ser sintetizada pelas bactérias intestinais.
B6 (piridoxina)Vísceras (p. ex., fígado), cereais integrais, peixe, legumes.
B7 ou B8 ou H (biotina)Fígado, rim, carnes, ovos, leite, peixe, levedura seca, batata-doce, sementes e nozes.
B9 (ácido fólico)Verduras folhosas frescas, frutas, vísceras (p. ex., fígado), pães e cereais enriquecidos.
B12 (cianocobalamina)Carnes (em especial bovina, de porco e vísceras [p. ex., fígado]), aves, ovos, cereais enriquecidos, leite e laticínios, mariscos, ostras, cavala, salmão.
C
(ácido ascórbico)
Frutas cítricas, tomates, batatas, brócolos, morango, pimentas doces.
Fonte: Manual MSD, Por 
Larry E. Johnson, MD, PhD, University of Arkansas for Medical Sciences

No que concerne à tabela acima descrita e nomeadamente a fontes alimentares a minha opinião é clara e pode ser resumida nos seguintes pontos mais relevantes:

  • Inclua nas refeições diversidade de alimentos de produção biológica/orgânica quer de origem animal quer de origem vegetal, em quantidades sempre moderadas;
  • Exclua todos os alimentos processados;
  • Coma muito pouco (ou nenhum) pão, cereais, sementes e leite;
  • Não exagere na fruta por causa do excesso de frutose;
  • Coma poucas vezes por dia, de preferência apenas duas refeições;
  • Se não tiver doenças graves, todos os dias faça pelo menos 12 a 16 horas de jejum (incluindo as horas de sono), mas comece de forma moderada se não estiver habituado. Se tiver alguma doença crónica e/ou grave deve, obviamente, falar com o seu médico e pedir o seu apoio, desde que este tenho um conhecimento atualizado sobre os benéficos do jejum (a maioria infelizmente vai dizer que é muito perigoso!). Se a resposta for negativa ouça uma segunda opinião médica mas pergunte qual o suporte científico dessa decisão. Se ambas as opiniões médicas forem negativas aceite e esqueça o jejum.

Doenças associadas

As vitaminas são uma parte vital de uma dieta saudável. Foi determinada a ingestão diária recomendada (IDR) para a maioria das vitaminas, ou seja, a quantidade diária que a maioria das pessoas saudáveis precisa para se manter saudável. Para algumas vitaminas, foi determinado um limite superior de segurança (nível superior de ingestão tolerado). O consumo que excede esse nível aumenta o risco de ocorrência de um efeito prejudicial (toxicidade).

A falta de vitaminas pode provocar doenças graves mas o seu excesso, a hipervitaminose, também esconde muitos perigos! A tabela seguinte descreve as doenças provocadas pela falta de vitaminas.

VitaminasEfeitos da deficiência e do excesso (toxicidade)
A (retinol)Deficiência: Cegueira noturna, hiperqueratose peri folicular, xeroftalmia, queratomalacia, aumento da morbidade e mortalidade em crianças mais novas.
Toxicidade: Queda de cabelo, lábios rachados, pele seca, enfraquecimento dos ossos, dores de cabeça, elevações dos níveis de cálcio no sangue e um distúrbio raro caracterizado pelo aumento da pressão dentro do crânio, denominado hipertensão intracraniana idiopática e hepatoesplenomegalia.
D (colecalciferol)Deficiência: Raquitismo (às vezes com tetania), osteomalacia.
Toxicidade: Hipercalcemia (cálcio elevado no sangue), calcificação das artérias, anorexia, falência renal, calcificação metastática.
E (tocoferol)Deficiência: Hemólise de eritrócitos, deficites neurológicos.
Toxicidade: Tendência a sangramento.
K (naftoquinona)Deficiência: Sangramento decorrente de deficiência de protrombina e outros fatores, osteopenia.
B1 (tiamina)Deficiência: Beribéri (neuropatia periférica, insuficiência cardíaca), síndrome de Wernicke-Korsakoff e psicose de Korsakoff.
B2 (riboflavina)Deficiência: Queilose, estomatite angular, vascularização corneal.
B3 (niacina)Deficiência: Anemia megaloblástica, defeitos do tubo neural no nascimento, confusão.
B5 (ácido pantoténico)Deficiência: Está presente na maioria dos alimentos, por isso a carência é rara. Nestes casos os sintomas serão náuseas, vómitos, diarreia, dores abdominais, alopécia, fadiga e dor de cabeça.
Toxicidade: Rara. Transtornos gastrointestinais e probabilidade de hemorragias quando tomado em simultâneo com antiagregantes plaquetários (salicilatos).
B6 (piridoxina)Deficiência: Convulsões, anemias, neuropatias, dermatite seborreica.
Toxicidade: Neuropatia periférica.
B7 ou B8 ou H (biotina)Deficiência: Rara mas pode originar alopécia, letargia e ataxia. Ocorre geralmente em três situações, são elas a alimentação parentérica prolongada sem suplemento de biotina, lactentes alimentados com leite em pó sem biotina e consumo de clara do ovo crua por um período prolongado. A clara do ovo contém uma glicoproteína, chamada avidina que se liga à biotina com grande afinidade e impede a sua absorção. Quando a clara é cozinhada, a avidina sofre alterações e perde essa capacidade de ligação à biotina.
B9 (ácido fólico)Deficiência: Anemia megaloblástica, defeitos do tubo neural no nascimento, confusão.
B12 (cianocobalamina)Deficiência: Anemia megaloblástica, deficits neurológicos (confusão, parestesias, ataxia).
C
(ácido ascórbico)
Deficiência: Escorbuto (hemorragias, perdas dentárias, gengivites, defeitos ósseos).
Fonte: Manual MSD, Por 
Larry E. Johnson, MD, PhD, University of Arkansas for Medical Sciences

Ingestão diária recomendada e toxicidade

As vitaminas A, D, E, B3, B6, B9 e C apresentam uma dosagem limite superior de segurança. Quando esta dosagem diária máxima é ultrapassada pode causar toxicidade e doenças associadas.

VitaminasIngestão diária recomendada (IDR)
num adulto
Limite superior de segurança
A (retinol)700 microgramas para mulheres
900 microgramas para homens
770 microgramas para gestantes
1.300 microgramas para mulheres a amamentar
3.000 microgramas
D (colecalciferol)600 UI para pessoas de 1 a 70 anos
800 UI para pessoas com mais de 70 anos
4.000 UI (unidades internacionais)
E (tocoferol)15 miligramas (22 unidades de natural ou 33 unidades de sintética)
19 miligramas para mulheres a amamentar
1.000 miligramas
K (naftoquinona)90 microgramas para mulheres
120 microgramas para homens
B1 (tiamina)1,1 miligramas para mulheres
1,2 miligramas para homens
1,4 miligramas para gestantes ou mulheres que estejam a amamentar
B2 (riboflavina)1,1 miligramas para mulheres
1,3 miligramas para homens
1,4 miligramas para gestantes
1,6 miligramas para mulheres a amamentar
B3 (niacina)14 miligramas para mulheres
16 miligramas para homens
18 miligramas para gestantes
17 miligramas para mulheres a amamentar
35 miligramas
B5 (ácido pantoténico)5 miligramas (mas a QDR não foi estabelecida)
6 miligramas para gestantes
7 miligramas para mulheres a amamentar
B6 (piridoxina)1,3 miligramas para mulheres e homens mais jovens
1,5 miligramas para mulheres com mais de 50 anos
1,7 miligramas para homens com mais de 50 anos
1,9 miligramas para gestantes
2,0 miligramas para mulheres a amamentar
100 miligramas
B7 ou B8 ou H (biotina)30 microgramas (mas a QDR não foi estabelecida)
35 microgramas para mulheres a amamentar
B9 (ácido fólico)400 microgramas
600 microgramas para gestantes
500 microgramas para mulheres a amamentar
1.000 microgramas
B12 (cianocobalamina)2,4 microgramas
2,6 microgramas para gestantes
2,8 microgramas para mulheres a amamentar
C
(ácido ascórbico)
75 miligramas para mulheres
90 miligramas para homens
85 miligramas para gestantes
120 miligramas para mulheres a amamentar
35 miligramas a mais no caso de fumadores
2.000 miligramas
Fonte: Manual MSD, Por 
Larry E. Johnson, MD, PhD, University of Arkansas for Medical Sciences

Interações com medicamentos

VitaminasFármacos
A (retinol)Colestiramina, óleo mineral
D (colecalciferol)Antipsicóticos, corticoides, óleo mineral, anticonvulsivantes, rifampicina
E (tocoferol)Óleo mineral, varfarina
K (naftoquinona)Antibióticos, anticonvulsivantes, óleo mineral, rifampicina, varfarina
B1 (tiamina)Álcool, contraceptivos orais, antagonistas de tiamina presentes no café, chá, peixe cru e repolho roxo
B2 (riboflavina)Álcool, barbitúricos, fenotiazinas, diuréticos tiazídicos, antidepressivos tricíclicos
B3 (niacina)Álcool, isoniazida
B5 (ácido pantoténico)
B6 (piridoxina)Álcool, anticonvulsivantes, corticoides, ciclosserina, hidralazina, isoniazida, levodopa, contraceptivos orais, penicilamina
B7 ou B8 ou H (biotina)Antibióticos (matam bactérias produtoras de biotina), anticonvulsivantes ( carbamazepina, fenobarbital, 
fenitoína e primidona).
B9 (ácido fólico)Álcool, 5-fluoruracila, metformina, metotrexato, contraceptivos orais, anticonvulsivantes (p. ex., fenobarbital, fenitoína, primidona), sulfassalazina, triantereno, trimetoprima
B12 (cianocobalamina)Antiácidos, metformina, óxido nitroso (exposição recorrente)
C
(ácido ascórbico)
Corticoides
Fonte: Manual MSD, Por 
Larry E. Johnson, MD, PhD, University of Arkansas for Medical Sciences

Deficiência vitamínica causada por fármacos e drogas

No geral, todos os medicamentos cujo princípio activo seja uma molécula estranha ao nosso corpo causam alguma deficiência vitamínica ou mineral que pode ser importante e originar outros problemas de saúde. Na tabela seguinte descrevo as carências vitamínicas mais conhecidas causadas por medicamentos importantes muito utilizados como antibióticos, antidiabéticos, antiácidos e outras substâncias que ingerimos.

Fármaco ou substânciaVitaminas afetadas
ÁlcoolÁcido fólico
Tiamina
Vitamina B6
Antiácidos (para o estômago) como bicarbonato de sódio, carbonato de cálcio, hidróxido de alumínio e hidróxido de magnésio.Vitamina B12
Antibióticos, como a isoniazida, tetraciclina e sulfametoxazol/trimetoprim
Vitaminas do complexo B
Ácido fólico
Vitamina K
Anticoagulantes, como a varfarina
(utilizados para evitar tromboses)
Vitamina E
Vitamina K
Anticonvulsivantes, como fenitoína e fenobarbital
(utilizados na epilépsia)
Biotina
Ácido fólico
Vitamina B6
Vitamina D
Vitamina K
AntipsicóticosRiboflavina
Vitamina D
Barbitúricos, como o fenobarbitalÁcido fólico
Riboflavina
Vitamina D
Medicamentos quimioterápicos, como o metotrexato
(utlilizados como anticancerígenos)
Ácido fólico
Colestiramina
(capta o colesterol e transforma-o em ácidos biliares. Diminui o colesterol no sangue)
Vitamina A
Vitamina D
Vitamina E
Vitamina K
Corticosteroides
(utilizados em doenças autoimunes e inflamação)
Vitamina C
Vitamina D
Cicloserina
(antibiótico para tratar tuberculose)
Vitamina B6
Hidralazina
(hipertensão arterial e pulmonar e insuficiência cardíaca congestiva)
Vitamina B6
Levodopa
(antiparkinsónicos)
Vitamina B6
Óleo mineral (parafina ou vaselina liquida)
se usado por prazo longo
Vitamina A
Vitamina D
Vitamina E
Vitamina K
Metformina
(antidiabético mais utilizado no mundo)
Ácido fólico
Vitamina B12
Óxido nitroso se exposição repetida
(anestésico fraco com efeito analgésico)
Vitamina B12
Contraceptivos orais
(para evitar gravidez)
Ácido fólico
Tiamina
Vitamina B6
Penicilamina
(anti-reumático e antiurolítico)
Vitamina B6
Fenotiazinas como a clorpromazina
(antipsicóticos e neuroléticos)
Riboflavina
Primidona
(anticonvulsivante)
Ácido fólico
Vitamina D
Rifampicina
(antibiótico usado na tuberculose)
Vitamina D
Vitamina K
Sulfassalazina
(antimicrobiano. Possui ação anti-reumatoide e também é utilizada na doença intestinal inflamatória crónica)
Ácido fólico
Hidroclorotiazida e diuréticos tiazídicos
(hipertensão arterial e Insuficiência cardíaca inicial)
Riboflavina
Triantereno
(diurético usado na hipertensão e edema)
Ácido fólico
Antidepressivos tricíclicos, como a amitriptilina e a imipraminaRiboflavina
Fonte: Manual MSD, Por 
Larry E. Johnson, MD, PhD, University of Arkansas for Medical Sciences

Vitaminas e minerais para o cérebro e outros fatores relevantes!

Quais as vitaminas e minerais mais importantes para o cérebro? As vitaminas e os minerais são nutrientes necessários ao funcionamento fisiológico normal. Muitas delas desempenham funções cruciais no cérebro numa variedade de processos. Mas será que são assim tão importantes ou existem outros fatores bem mais relevantes para a nossa saúde cerebral? Vamos por partes!

Vitamina B1 (tiamina)

Vitamina B1 ou tiamina, é uma coenzima do ciclo das pentoses fosfato, que é um passo necessário na síntese de ácidos gordos, esteroides, ácidos nucleicos e aminoácidos para neurotransmissores e outros compostos bioativos essenciais na função cerebral (Kerns et al., 2015).
Desempenha um papel neuromodulador sobre o neurotransmissor acetilcolina e contribui para a estrutura e função das membranas celulares, incluindo neurónios e células da glia (Bâ, 2008).

Numa revisão de ensaios clínicos randomizados controlados envolvendo
suplementação com tiamina na dose de 3 mg/dia, os resultados da função cognitiva foram inconsistentes. O tamanho pequeno da amostra e o desenho do estudo inadequado, tal como um estudo cruzado que não é recomendado para doenças progressivas como o Alzheimer, foram as principais causas para essa inconsistência (Rodríguez-Martín et al., 2001).

O limitado número de estudos e a falta de ensaios clínicos randomizados
indicam que há evidência insuficiente para tirar conclusões acerca da influência da tiamina na função cognitiva em idosos saudáveis. São necessários melhores estudos coorte e experimentais concebidos nesta área (Koh et al., 2015).

Vitamina B2 (riboflavina)

Vitamina B2 ou riboflavina, é um poderoso antioxidante obtido a partir da carne e de produtos lácteos. Contudo, apesar dessa sua característica, há poucos estudos de neuroprotecção com riboflavina. A sua deficiência leva a sintomas como fadiga, mudança de personalidade e disfunção cerebral (Zempleni, 2007). Baixos níveis de vitaminas B estão associados ao aumento de homocisteína, conhecida por ter efeito neurotóxico direto (Ho et al., 2001).

Num estudo com população idosa coreana, a hiperhomocisteinémia manifestou-se como um fator de risco significativo para o declínio cognitivo. Na população com Alzheimer desse mesmo estudo, não se observou associação entre a função cognitiva e os parâmetros dietéticos. Por outro lado, nos participantes com défice cognitivo leve, a ingestão de vitamina B2 influenciou positivamente os testes de memória e de reconhecimento.

Já no grupo dos indivíduos saudáveis, não houve associação entre a ingestão de vitamina B2 e a função cognitiva. Contudo, sendo este estudo observacional, não pode provar a causalidade, para além de os resultados serem difíceis de interpretar e aplicar à população em geral, pois não foi usada uma amostra aleatória. Assim, são necessários mais estudos prospetivos para investigar a relação de causalidade entre a função cognitiva e a ingestão de vitamina
B2 (Kim et al., 2014).

Vitamina B3 (niacina)

Vitamina B3 ou nicotinamida, tem sido extensivamente estudada como agente neuroprotetor. O tratamento com nicotinamida demonstrou melhoria sensorial, motora e cognitiva (Vonder Haar et al., 2011; Vonder Haar et al., 2014).

Com base na evidência em modelos animais, há um potencial considerável para o uso de nicotinamida em patologias neurológicas, todavia ainda há alguns fatores, nomeadamente o limite máximo para a toxicidade humana e a eficácia na população idosa e a longo prazo, que precisam de ser investigados antes de evoluir para os ensaios clínicos (Vonder Haar et al., 2013).

Vitamina B6 (piridoxina)

Vitamina B6 ou piridoxina, é essencial à síntese dos neurotransmissores dopamina e serotonina para além de reduzir os níveis de homocisteína, visto que o seu aumento está associado ao risco de doença cerebrovascular e possíveis efeitos tóxicos sobre os neurónios do SNC (Ford et al., 2012).

Estudos epidemiológicos indicam que um nível baixo de vitamina B6 é comum entre os idosos, sendo a hiperhomocisteinémia uma possível causa da demência. No entanto, numa revisão que incluiu ensaios duplamente cegos e cujo objetivo primário era avaliar a eficácia da suplementação de vitamina B6 na cognição, não foi encontrada evidência do seu benefício, a curto prazo, sobre o humor (sintomas de
depressão, fadiga e tensão) ou nas funções cognitivas. (Malouf et al, 2003).

Também num ensaio multicêntrico e duplamente cego, cujo objetivo era a avaliação da eficácia e segurança da suplementação com vitaminas B, entre as quais a B6, não se observou o decréscimo do declínio cognitivo em doentes de Alzheimer (Aisen et al., 2008).

Deste modo, são necessários mais ensaios clínicos para explorar os possíveis benefícios da suplementação com esta vitamina em indivíduos saudáveis bem como com défice cognitivo e demência.

Vitamina B9 (ácido fólico)

Vitamina B9 ou ácido fólico, tem sido largamente estudado no que diz respeito aos seus efeitos na cognição, particularmente em idosos. Juntamente com a vitamina B6 e a B12, a vitamina B9 é um importante cofator no ciclo da homocisteína, que é crucial para inúmeros processos, incluindo a expressão de ADN e a síntese de creatina, melatonina e noradrenalina (Haar et al., 2015).

Num ensaio clínico randomizado, unicêntrico e controlado, envolvendo 180 indivíduos acima dos 65 anos, foram avaliados os efeitos da suplementação com ácido fólico na função cognitiva dessa mesma população. Nos 159 que completaram o ensaio, verificaram-se melhorias no ácido fólico sérico, na homocisteína e na vitamina B12 sérica.

De um modo geral, encontrou-se evidência do efeito benéfico da suplementação, a curto prazo, em dois testes de avaliação da função cognitiva. Num futuro próximo, será necessário realizar ensaios maiores, a longo prazo e cujo um dos resultados a avaliar seja a demência, a fim de se chegar a uma melhor conclusão (Ma et al., 2015).

Vitamina B12 (cianobalamina)

Vitamina B12 ou cianocobalamina, é necessária na metilação da homocisteína. A sua deficiência tem sido associada a doenças neurodegenerativas e comprometimento cognitivo, contudo o tratamento com suplementação de vitamina B12 não altera consideravelmente a função cognitiva em indivíduos com
deficiência pré-existente (Moore et al., 2012). Por outro lado, o tratamento com vitamina B12 e ácido fólico, em indivíduos com comprometimento cognitivo, levou à diminuição da atrofia cerebral (Health Quality Ontario, 2013).

Há ainda uma grande necessidade de ensaios clínicos para compreender a natureza da associação de insuficiência de vitamina B12 com doença
neurodegenerativa. As vitaminas B6, B9 e B12 são essenciais ao normal funcionamento do cérebro à medida que envelhecemos, como resultado da sua ação sobre o metabolismo da homocisteína e outros mecanismos.

Contudo, investigações até ao momento ainda não demonstraram evidência convincente do benefício da suplementação de vitaminas B na capacidade cognitiva, sendo prematuro concluir acerca desta terapia.
São necessárias mais pesquisas para avaliar a dose ideal, a janela terapêutica e as diferenças individuais (Forbes et al., 2015).

Vitamina C (ácido ascórbico)

Vitamina C ou ácido ascórbico, é um antioxidante essencial no cérebro que exerce numerosas funções, incluindo a eliminação de ROS, neuromodulação e envolvimento na angiogénese. Estudos experimentais em animais apontam a vitamina C como um fator chave na prevenção do declínio cognitivo, tanto no envelhecimento como em doenças neurodegenerativas. Contudo, ensaios clínicos em humanos não têm sido capazes de confirmar os efeitos benéficos da suplementação e/ou intervenção da vitamina C, tendo como uma das principais razões a diferença dos critérios de inclusão.

Consequentemente, são necessários mais estudos usando a vitamina como única substância, ao invés de combinações de vitaminas, e focando subgrupos específicos com aumento da prevalência de deficiência de vitamina C (Hansen et al., 2014).

Vitamina E (tocoferol)

Vitamina E sob a forma de tocoferóis e tocotrienóis, desempenha um papel crucial na proteção do SNC, atuando como antioxidante. A evidência de que os radicais livres podem contribuir para os processos patológicos da função cognitiva, incluindo a doença de Alzheimer, levou ao aumento do interesse pela utilização de vitamina E no tratamento do défice cognitivo ligeiro (DCL) e da DA (Mangialasche et al., 2010).

Contudo, há também a evidência de que a vitamina E usada em doses elevadas é considerada tóxica (acima de 3000 UI/dia) e pode estar associada a sintomas como fadiga e distúrbios gastrointestinais, ou mesmo conduzir à mortalidade. Por outro lado, tem havido um aumento crescente de evidências de que a suplementação com esta vitamina, em doses terapêuticas, pode também causar efeitos adversos como o aumento da tendência para hemorragias e a potenciação do efeito da aspirina. (Farina et al., 2012; Miller et al., 2005).

No entanto, as conclusões acerca da eficácia da vitamina são baseadas apenas na forma alfa-tocoferol e, portanto, não é possível comentar acerca das outras formas, sendo necessárias investigações futuras acerca destas para encontrar provas convincentes de que a vitamina E é ou não benéfica no tratamento de demências (Farina et al., 2012).

Sódio (Na)

O sódio (Na) é consumido na forma de cloreto de sódio (NaCl) ou sal. Controla a função nervosa e muscular em estreita ligação com o potássio K) , mantendo o equilíbrio hídrico nas células e nos tecidos do nosso corpo. Nos países ocidentais, a maioria das pessoas ingere sal em excesso, por isso a deficiência de sódio é rara.

Precauções sobre o sódio

Obviamente o excesso de sódio (sal) é sabido que pode causar sérios problemas de hipertensão arterial, pelo que deve ser cuidadoso.

Potássio (K)

O potássio é essencial para a transmissão de impulsos nervosos, sendo um dos eletrólitos do corpo, que são minerais que carregam uma carga elétrica quando dissolvidos em líquidos corporais, como o sangue. O corpo precisa de potássio para as células nervosas e musculares funcionarem. Assim, os sinais iniciais de deficiência de potássio são geralmente apatia e fraqueza. Os alimentos de origem vegetal, geralmente, são boas fontes de potássio. Alguns bons exemplos são as bananas, oleaginosas, sementes, leguminosas, abacate, grãos integrais, frutos secos, tomates e batatas. 

Precauções sobre o potássio

O excesso de potássio (hipercalémia) também pode interferir na função transmissora de impulsos nervosos. Por si só, o aumento da ingestão de potássio geralmente não causa hipercalemia, uma vez que os rins normais realizam um bom trabalho na excreção de qualquer potássio em excesso.

Regra geral, a hipercalemia resulta de diversos problemas simultâneos, tais como:

  • Distúrbios renais que impedem que os rins excretem potássio suficiente;
  • Medicamentos que impedem que os rins excretem quantidades normais de potássio (causa comum de hipercalemia leve);
  • Uma dieta rica em potássio;
  • Tratamentos que contenham potássio;

A causa mais comum da hipercalemia leve é o uso de medicamentos que diminuem o fluxo sanguíneo para os rins ou impedem que os rins excretem quantidades normais de potássio. Alguns exemplos são os seguintes:

  • Alisquireno (anti-hipertensivo);
  • Inibidores da enzima conversora de angiotensina (ECA), são dos anti-hipertensivos mais utilizados;
  • Bloqueadores dos recetores da angiotensina (anti-hipertensivos);
  • Ciclosporina (usada para prevenir a rejeição de órgãos transplantados);
  • Diuréticos que ajudam os rins a conservar potássio, como eplerenona, espironolactona e triantereno;
  • Medicamentos anti-inflamatórios não esteroides;
  • Tacrolimo (usado para prevenir a rejeição de órgãos transplantados)
  • Trimetoprima (antibiótico)

A insuficiência renal pode provocar hipercalemia grave. A doença de Addison também pode causar hipercalemia.

A hipercalemia leve causa poucos sintomas, ou nenhum. Às vezes, a pessoa pode apresentar fraqueza muscular. Em uma doença rara chamada paralisia periódica hipercalêmica familiar, a pessoa apresenta crises de fraqueza que podem progredir até a paralisia.

Quando a hipercalemia se torna mais grave, ela pode causar ritmos cardíacos anormais . Se os níveis estiverem muito altos, o coração pode parar de bater.

Cálcio (Ca)

O cálcio é essencial para promover o funcionamento adequado dos nervos e músculos porque está envolvido na condução de impulsos elétricos ao longo dos axónios das células nervosas. A sua deficiência, designada hipocalcemia, pode manifestar-se por espasmos musculares e fadiga generalizada. São boas fontes de cálcio o leite e derivados, hortaliças de folhas verde-escuras e sardinha em lata com a espinha.

Precauções sobre o cálcio

O hiperparatiroidismo é a causa mais comum de hipercalcémia (excesso de cálcio).

A ingestão de doses elevadas de cálcio durante algum tempo aumenta o risco de formação de pedra nos rins e pode originar insuficiência renal, calcificação dos tecidos moles e vasculares e hipercalciúria (níveis elevados de cálcio na urina).

Parte do cálcio absorvido é eliminado pela urina, fezes e suor, o que pode ser afetado pela ingestão de sódio (a ingestão de níveis altos de sódio aumenta a excreção de cálcio), consumo de cafeína (aumenta a excreção de cálcio) e álcool (reduz a absorção de cálcio).

O cálcio diminui a absorção de antibióticos, bifosfonatos (medicamentos para a osteoporose) e da levotiroxina (medicamento para a tiroide), por isso a toma destes medicamentos e de suplementos de cálcio deve ser separada por um intervalo de 2 horas.

Os antagonistas dos recetores H2 e os inibidores da bomba de protões diminuem a absorção de carbonato de cálcio e fosfato de cálcio. Sabe-se ainda que os glucocorticoides também diminuem a absorção de cálcio.

Os diuréticos, tal como as tiazidas (medicamentos para a hipertensão), aumentam o risco de hipercalcémia (excesso de cálcio) por aumento da reabsorção de cálcio nos rins.

Doses elevadas de cálcio em pessoas que tomam digoxina (medicamento para o coração) aumenta a probabilidade de alterações no ritmo cardíaco, por isso é preciso precaução nesta associação.

O cálcio será mais eficaz se for acompanhado das vitaminas A, C e D, ferro, magnésio e fósforo.

Magnésio (Mg)

O magnésio é um dos minerais mais importantes para o nosso organismo estando envolvido em mais de 300 reações essenciais do nosso corpo. O magnésio é importante para o funcionamento do hipocampo, que é uma parte do sistema límbico que controla o humor, a memória e a aprendizagem. Boas fontes de magnésio são por exemplo as oleaginosas, damascos secos, figos secos, aveia, farinha integral e extrato de levedura.

Precauções sobre o magnésio

No entanto a suplementação com magnésio deve ser cuidadosa pois pode causar sérios transtornos gastro intestinais, nomeadamente diarreias perigosas.

Ferro (Fe)

O ferro é essencial para a formação de hemoglobina nas hemácias. a hemoglobina é a substância que leva um fluxo constante de oxigênio para o cérebro. O consumo adequado melhora a função mental e o desempenho académico. Os sinais iniciais de deficiência de ferro são a fadiga e falta de concentração. Exemplos de boas fontes de ferro são a carne, os miúdos do animal, sardinha, gemas e hortaliças de folhas verde-escuras.

Precauções sobre o ferro

A suplementação com ferro deve ser cuidadosamente vigiada pelo médico pois o excesso de ferro pode ser muito perigoso por causa da sua enorme capacidade de oxidação. Na natureza pode observa-se esse poderoso fenómeno de oxidação com a ferrugem das peças compostas de ferro.

Zinco (Zn)

O zinco é um mineral essencial encontrado em alguns alimentos e suplementos. É necessária a sua ingestão diária uma vez que o nosso organismo não possui reservas deste mineral.

A importância do zinco na nutrição humana e na saúde pública foi conhecida há relativamente pouco tempo. A deficiência neste mineral foi descrita pela primeira vez em 1961, quando o consumo de dietas com baixa biodisponibilidade de zinco devido aos fitatos presentes nos alimentos foi associado ao nanismo. Assim, a deficiência em zinco foi reconhecida como um problema importante de saúde pública, principalmente nos países em desenvolvimento.

O zinco está envolvido inúmeras etapas do metabolismo celular. É essencial para a atividade de mais de 300 enzimas e tem um papel relevante nas seguintes funções e processos:

  • Função imunitária,
  • Síntese proteica, 
  • Metabolismo dos hidratos de carbono,
  • Metabolismo dos lípidos,
  • Medeia o metabolismo de algumas vitaminas como a vitamina A (retinol), vitamina B6 (piridoxina) e vitamina B9 (folato ou ácido fólico),
  • Cicatrização de feridas,
  • Síntese do DNA, 
  • Divisão celular e apoptose,
  • Libertação de hormonas como a testosterona,
  • Transmissão dos impulsos nervosos,
  • Promove a ação da insulina,
  • Essencial para os sentidos do olfato e paladar e tem propriedades antioxidantes,
  • Contribui ainda para o normal crescimento e desenvolvimento durante a gravidez, infância e adolescência.

A ingestão de zinco contribui ainda para uma normal função cognitiva, para uma fertilidade e reprodução normal, e para a manutenção de ossos, cabelo, unhas, pele e visão normais.

Fontes de zinco

O zinco pode ser encontrado numa grande variedade de alimentos tais como carne vermelha e de aves, feijão, nozes, marisco (ostras, caranguejo e lagosta), cereais enriquecidos, gérmen de trigo, levedura de cerveja, sementes de abóbora, ovos e laticínios.

As melhores fontes de zinco são:

  • Marisco 7,14mg/100g
  • Queijo 2,94mg/100g
  • Carne 2,86mg/100g
  • Ovos 1,04mg/100g
  • Peixe 0,59mg/100g

Fonte: Minerals Basics, Manual, Roche Consumer Health. 

Valores de referência do nutriente (VRN)

Não existem estudos que permitam estabelecer o VRN, mas os seguintes valores garantem uma nutrição saudável:

  • Homens 11mg/dia,
  • Mulheres 8mg/dia.

Cuidado com os fitatos!

Os fitatos do pão integral, cereais, legumes e outros alimentos ligam-se ao zinco e inibem a sua absorção, por isso a biodisponibilidade do zinco a partir de cereais e vegetais é menor do que a partir de alimentos de origem animal.

Carência em zinco

Não são comuns os casos de deficiência em zinco. Quando ocorre regra geral deve-se à ingestão ou absorção inadequadas, aumento das perdas de zinco no organismo ou aumento das necessidades.

A carência em zinco pode ocorrer em casos de doenças associadas ao trato gastrointestinal, vegetarianismo, gravidez e amamentação, ou pessoas que sofrem de alcoolismo e caracteriza-se por atraso no crescimento, perda de apetite e função imunitária alterada.

Nos casos graves ocorre queda de cabelo, diarreia, infeções frequentes, desenvolvimento sexual retardado, impotência, hipogonadismo nos homens, danos nos olhos e pele, perda de peso, cicatrização de feridas demorada, alterações no paladar e letargia.

Uso terapêutico

Doentes com úlceras crónicas na perna apresentam alterações no metabolismo do zinco e baixos níveis deste mineral no sangue, assim, os médicos tratam as úlceras com suplementos de zinco.

A deficiência em zinco provoca uma alteração na resposta imunitária que contribui para uma maior susceptibilidade a infeções, o que pode aumentar a probabilidade de contrair diarreia, principalmente nas crianças. Por isso a OMS (Organização Mundial de Saúde) e a UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância) recomendam um suplemento diário de zinco de 20mg durante 10 a 14 dias para crianças com diarreia aguda e 10mg para bebés com menos de 6 meses de idade para reduzir a gravidade da situação e prevenir novas ocorrências nos 2-3 meses seguintes.

Nas constipações, foi demonstrado que o zinco é benéfico na redução da duração e gravidade em pessoas saudáveis, se usado nas primeiras 24 horas após o aparecimento dos sintomas. No entanto, são necessários mais estudos para determinar a dose, formulação e duração do tratamento para uma recomendação mais precisa.

Precauções

A toxicidade causada pelo zinco pode ser aguda ou crónica. Na fase aguda, podem ocorrer náuseas, vómitos, perda de apetite, dores abdominais, diarreia e dores de cabeça.

Na toxicidade crónica, teremos níveis baixos de cobre, alterações no ferro, redução da função imunitária e níveis reduzidos de HDL (colesterol bom).

Grandes quantidades de ferro nos suplementos podem diminuir a absorção de zinco, por isso os suplementos de ferro devem ser tomados no intervalo das refeições de modo a diminuir esta interação. Por outro lado, doses elevadas de zinco podem inibir a absorção de cobre.

A deficiência em zinco está associada a uma diminuição da libertação de vitamina A a partir do fígado. Assim, aumentando a ingestão de zinco, torna-se necessário aumentar também a ingestão de vitamina A.

Algumas substâncias inibem a absorção do zinco, tais como fibras, cálcio, magnésio, fósforo, ferro inorgânico e fitatos. Outras substâncias promovem a sua absorção, tais como a carne, metionina, cisteína, ácido cítrico e ácido láctico.

Alguns medicamentos podem diminuir os níveis de zinco, como é o caso da cisplatina, desferroxamina, diuréticos, IECAs (Inibidores da Enzima Conversora da Angiotensina) e valproato de sódio.

O zinco fortalece o sistema imunitário, por isso não deve ser tomado juntamente com medicamentos imunossupressores como corticosteroides ou ciclosporina.

O zinco reduz a absorção e a ação da penicilamina, por isso, os suplementos de zinco, devem ser tomados pelo menos 2 horas antes ou depois da toma de penicilamina.

O zinco atua melhor em associação com a vitamina A, cálcio e fósforo.

O que faz bem ao cérebro?

Desengane-se se considera que apenas um suplemento multivitamínico e mineral, por si só, vai resolver o problema de saúde do nosso cérebro pois este é demasiado complexo para uma abordagem tão simplista como gostaríamos! Para além das vitaminas e minerais acima descritas serem importantes para a nossa saúde cerebral, existem outros fatores muito relevantes sem os quais dificilmente teremos a capacidade para manter uma boa memória, raciocino, boas decisões, lucidez e provavelmente felicidade! Descrevo de seguida os mais importantes e os artigos que já publiquei (basta clicar na imagem para ler) sobre esses temas tão importantes:

  • Qualidade do sono;
  • Atividade física;
  • Ansiedade ou stress sob controle;
  • Tensão arterial controlada;
  • Não beber álcool.

Os temas acima descritos estão detalhados nos seguintes artigos já publicados:

Referências

Antinutrientes lectinas fitatos oxalatos e glúten quais os mais perigosos?

Antinutrientes são substâncias químicas encontradas em plantas que impedem o nosso corpo de absorver nutrientes essenciais dos alimentos; Os principais antinutrientes que devemos observar são lectinas, fitatos, glúten e oxalatos, embora nem todos sejam maus;

Algumas pessoas são mais sensíveis aos antinutrientes do que outras; Testa a tua sensibilidade com uma dieta de eliminação para confirmar os sintomas; Comer uma fonte constante de antinutrientes pode levar a problemas intestinais, inflamação, artrite e confusão mental, sendo mais inteligente comer alimentos que não apresentam riscos potenciais;

Antinutrientes o que são?

Antinutrientes são compostos encontrados em alimentos que interferem na absorção de nutrientes e minerais benéficos. Eles impedem que o corpo seja a esponja de micronutrientes eficiente que deveria ser. Extraímos os alimentos e nutrientes que  necessitamos a partir do ambiente que nos rodeia mas a evolução desenvolveu plantas com capacidade de se protegerem de maneira a poderem sobreviver. Os fitoquímicos que consomem nutrientes protegem as plantas comestíveis saborosas de serem devorados até ao ponto de extinção.

Esse sistema de defesa de última geração ensinou aos animais que o consumo excessivo resultava em doenças e às vezes em morte. Os animais evoluíram para conseguirem digerir as plantas ricas em antinutrientes ou para deixarem de as comer.

Os antinutrientes são encontrados em maiores concentrações nos grãos, feijões, leguminosas e nozes, mas também podem ser encontrados em folhas, raízes e frutos de certas variedades de plantas.

Será que temos mesmo de evitar estas plantas?

Nem todos os antinutrientes são maus. É impossível evitá-los todos e não se sentiremos bem se cortarmos todos da nossa dieta. Em vez disso, precisamos evitar aqueles que causam grandes danos no nosso intestino ou aqueles que são gatilhos para reações mais agressivas do nosso organismo. Somente eliminando um alimento da dieta e reintroduzindo-o se pode determinar se esse alimento é prejudicial.

As cinco grandes mentiras sobre saúde
As cinco grandes mentiras sobre saúde

Lectinas

As lectinas são proteínas que causam problemas no sistema digestivo, aderindo à parede intestinal e criando permeabilidade intestinal.1 Quando a comida se move pelo trato gastrointestinal, ela atinge o revestimento do intestino, causando microtrauma. Normalmente, as células e os nossos mecanismos de proteção reparam esses danos  antes que isso leve a qualquer problema real. As lectinas atrapalham esse processo. Elas aderem às paredes do seu intestino, impedindo a reparação. O dano resultante causa inflamação de baixo nível no trato gastrointestinal.

Quando comemos muitas lectinas, a parede intestinal desenvolve “buracos” e o conteúdo passa para a corrente sanguínea, causando a síndrome do intestino permeável.

Existem milhares de variedades de lectinas pois elas estão presentes na maioria das espécies de plantas. Nem todas são tóxicas ou causam danos intestinais. As fontes mais comuns de lectinas incluem:

  • Grãos, 
  • Legumes, 
  • Solanáceas. 

Exemplos de plantas que contêm drasticamente mais lectinas do que outras fontes de alimentos, são os seguintes:

  • Trigo, 
  • Feijão, 
  • Quinoa, 
  • Ervilha, 
  • Amendoim, 
  • Batata branca, 
  • Tomate, 
  • Berinjela. 

Todos são suspeitos e podem causar problemas sem tu saberes! Quanto mais comemos, mais danos causam ao nosso corpo. Em vez disso, concentra-te em obter a maior parte dos nutrientes de alimentos de baixo risco. Dito isto, a sensibilidade à lectina varia muito de pessoa para pessoa. Pode comer lectinas de manhã, ao meio-dia e à noite e nunca ter problemas, no entanto podes ter um amigo que não pode tocar nessas plantas. Sabes que tens um problema com as lectinas se, depois de comer uma refeição rica em lectinas, sentires os seguintes sintomas:

  • Inflamação,
  • Confusão mental,
  • Enxaquecas,
  • Problemas gástricos,
  • Acne
  • Dor nas articulações.

Solanáceas

As lectinas das solanáceas, em particular, são um gatilho autoimune comum e podem causar sensibilidade em muitas pessoas. Para testar a tua sensibilidade, experimenta um almoço cheio de solanáceas tais como tomates, pimentões e batatas e analisa como te sentes depois.

Na maioria das vezes, podes eliminar ou reduzir o número de lectinas na comida cozinhando-a primeiro. O Dr. Steven Gundry, famoso cirurgião cardíaco, pesquisador, médico e autor, explica como diferentes métodos de preparação podem reduzir o teor de lectinas, o que minimiza os efeitos indesejáveis ​​dos antinutrientes.

“O cozimento sob pressão faz  um bom trabalho na destruição das lectinas. A ideia de deixar o feijão de molho com várias trocas de água definitivamente diminui as lectinas. O calor diminui as lectinas”, explica Gundry. “Mas existem documentos muito válidos que mostram que isso provavelmente não é suficiente para indivíduos muito sensíveis.”

Dicas de dieta:

  • Escolhe arroz branco em vez de arroz integral, as lectinas estão na casca do arroz;
  • A batata-doce tem drasticamente menos teor de lectinas do que a batata branca;
  • Evita a manteiga de amendoim pois as lectinas do amendoim causam uma resposta inflamatória na maioria das pessoas e não são destruídas pelo calor;

Ácido fítico (fitatos)

O ácido fítico, também conhecido como fitatos, é um dos antinutrientes mais perigosos, bloqueando a absorção de nutrientes pesados ​​como magnésio, zinco, cálcio e ferro, entre outros. Encontrado em grãos integrais, nozes, soja e sementes, o ácido fítico liga-se a esses minerais, impedindo a sua absorção.

Os fitatos também inibem as enzimas digestivas pepsina, tripsina e amilase. A amilase é necessária para a quebra do amido, enquanto a tripsina e a pepsina estão envolvidas na quebra da proteína. Quando essas enzimas não estão presentes nas quantidades certas, os alimentos não são processados ​​adequadamente e o nosso corpo perde os principais nutrientes.

Se o nosso corpo tem um grande influxo de fitatos, isso significa que há menos nutrientes para distribuir, mas o corpo também é substancialmente menos eficiente em quebrar os macronutrientes nos seus componentes mais básicos e nutritivos.

O nosso corpo pode lidar com uma certa quantidade de fitatos, mas é uma boa ideia eliminar as principais fontes para que os nossos minerais sejam absorvidos. Além disso, removê-los completamente de nossa dieta seria impossível.

Para construir músculos ou queimar gordura, o corpo precisa de uma certa quantidade de proteínas ou carboidratos. No entanto, essa quantidade depende em grande parte de quão saudável é nosso intestino. Isso porque um sistema digestivo otimizado requer menos comida para alimentar o corpo adequadamente.

O ácido fítico é mais concentrado no farelo de grãos, por isso prefere o arroz branco em vez do arroz integral. Nas leguminosas, o ácido fítico é encontrado na camada de cotilédones, que é muito mais difícil de remover, por isso leguminosas como feijão, lentilhas e soja devem ser consumidas com muito cuidado.

Cozinhar certos alimentos que são ricos em fitatos e depois drenar a água ou mergulhá-los em um ácido como limão ou vinagre reduz os fitatos, mas muitos dos grãos e sementes que contêm fitatos são irritantes para o intestino mesmo quando cozidos.

Dicas de dieta:

  • Evite a canola ou outros óleos de sementes; cozinhe com óleo de abacate, óleo de coco ou manteiga/ghee.
  • Evite o feijão pois é rico em carboidratos e não particularmente rico em nutrientes

Ácido oxálico (oxalatos)

Se gostas de batidos de espinafre e couve fica a saber que podes estar a causar mais mal do que bem ao teu organismo! O ácido oxálico é um composto antinutriente encontrado em muitas plantas, como vegetais crucíferos crus tais como:

  • Couve, 
  • Rabanete, 
  • Couve-flor, 
  • Brócolos  
  • Acelga, 
  • Espinafre, 
  • Salsa, 
  • Beterraba, 
  • Pimenta preta, 
  • Chocolate, 
  • Nozes, 
  • Frutas,
  • Feijão.

Quando os oxalatos se ligam ao cálcio no sangue, formam-se pequenos cristais de ácido oxálico que podem ser depositados em qualquer parte do corpo e causar dores musculares. Quando isso acontece nos rins, causa pedras nos rins. Os oxalatos também causam uma condição nas mulheres chamada vulvodinia, que leva ao sexo doloroso por causa dos cristais de ácido oxálico nos lábios.

Em pessoas sensíveis, mesmo pequenas quantidades de oxalatos causam queimação nos olhos, ouvidos, boca e garganta. Consumir grandes quantidades pode causar dor abdominal, fraqueza muscular, náusea e diarreia. As pessoas que comem grandes quantidades de vegetais crus podem ser particularmente suscetíveis.

Como os fitatos, os oxalatos podem ser reduzidos cozinhando e drenando a água, ou mergulhando em ácido. O magnésio e o zinco dietéticos adicionados ligam-se ao ácido oxálico, diminuindo substancialmente a absorção de oxalato.2

Dicas de dieta:

  • Nunca adicione couve crua, espinafre ou acelga a saladas ou batidos. Cozinhe-os a vapor primeiro.
  • Ao temperar as refeições, não use a pimenta preta para evitar oxalatos.

Glúten

O glúten é uma proteína encontrada no trigo, cevada, centeio e aveia que pode causar permeabilidade intestinal (ou seja, intestino permeável). “O problema com o glúten é que nenhum humano pode digeri-lo. É impossível digerir as proteínas do glúten que estão no trigo, cevada e centeio”, segundo o nutricionista certificado Tom O’Bryan, autor de “The Autoimmune Fix”.

O espectro de reação à indigestibilidade do glúten coloca as pessoas em duas categorias: 

  • Sensibilidade ao glúten celíaca 
  • Sensibilidade ao glúten não celíaca.

A maioria da população tem sensibilidade ao glúten não celíaca. Substâncias não digeríveis no sistema digestivo causam uma resposta imune, as respostas imunes assumem a forma de inflamação. A inflamação é, na maioria das vezes, a culpada por trás de nossa névoa cerebral, desconforto digestivo e absorção de nutrientes abaixo do ideal.

Grãos contendo glúten decompõem-se no intestino em compostos opióides chamados gluteomorfinas que acionam os mesmos receptores cerebrais que drogas opiáceas como a heroína, o que significa que são altamente viciantes.

Estruturalmente, o glúten é composto de dois tipos de proteínas de armazenamento, prolaminas e glutelinas.3 As glutelinas à base de trigo são chamadas gluteninas, que consistem em subunidades de alto peso molecular (HMW) e baixo peso molecular (LMW). Os produtos de trigo feitos com níveis mais elevados de HMW tendem a ser mais elásticos e consequentemente mais mastigáveis ​​como a massa de pizza; enquanto níveis mais baixos de HMW tendem a assumir a forma de doces.4 Originalmente, pensava-se que a giladina (a prolamina à base de trigo) era o principal antinutriente que contribui para o glúten, mas foi demonstrado que a glutenina é igualmente tóxica.5 Assim, mesmo quando comemos algo que parece mais leve, estamos a degradar o nosso seu sistema digestivo pois é na mesma uma forma de glúten.

O glúten está escondido em lugares além das fontes óbvias; produtos como molho de soja, cerveja e até carnes processadas contêm glúten o que pode estar prejudicar o nosso desempenho físico e mental.

Dicas de dieta:

  • Substitui qualquer farinha à base de trigo por farinha de mandioca para evitar o glúten;
  • Se bebes álcool, evita a cerveja e bebe vodka de batata ou gim para evitar o glúten em tua bebida.

Referências

1. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/15302522

2. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/9096270

3. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28244676

4. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17995810

5. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16772825

As cinco grandes mentiras sobre saúde

Com emoção partilho convosco um projeto com mais de dois anos finalmente disponível e publicado para aquisição. Trata-se do livro “As cinco grandes mentiras sobre saúde”.

Para adquirir basta clicar nas imagens do livro.

Partilho de seguida o texto de introdução presente no livro.

Descobrir a verdade acerca das 5 grandes mentiras sobre saúde mudou, em pouco tempo, a minha vida para sempre. Lembro-me bem da manhã solar em que despertei sem dores de costas após ensaiar pequenas renovações de alimentos e hábitos diários. Com uma história de tantos anos de dores matinais, era árduo acreditar que em tão escasso limite temporal fosse possível lograr o abandono dos analgésicos e dos seus “primos” anti-inflamatórios. Naquela manhã senti que a sebenta do tempo me ofereceu uma página nova para reescrever a minha vida. Nos dias seguintes a minha digestão voltou a trilhar o caminho da normalidade e a qualidade do sono sanou de forma intrigante. A autoestima cicatrizada, de repente, demonstrou-me que o controle da minha vida e da minha saúde, em particular, voltou a estar no conforto das minhas mãos, aquecidas pelo calor do meu miocárdio que batia feliz. Dei comigo a sorrir sem parar, numa sensação de luz e alegria sem preço possível de registar.

O nosso universo nasceu há cerca de 13,8 biliões de anos e não fazemos a mais pequena ideia sobre o que existia antes disso, sendo este o maior de todos os enigmas por desvendar. Nesse momento inicial do nascimento com a grande explosão, matéria e antimatéria formaram-se na mesma proporção mas por alguma razão, absolutamente desconhecida até hoje, os átomos de matéria prevaleceram sobre os da antimatéria. Não fosse esse intrigante poder da matéria e hoje apenas existiria energia, nada mais.  O século 21 ofereceu já ao humano, pela primeira vez, o poder e criar em laboratórios de alta segurança átomos de antimatéria. Outro imenso mistério é saber como surgiu a consciência humana. Esta é uma característica tão poderosa, tão profunda e tão enigmática que raramente pensamos nela, aliás a maioria nem sequer a considera relevante, afinal ter consciência é normal e de facto é nos humanos, mas apenas nos humanos! Sem consciência não saberíamos da existência do universo, que existimos como parte do mesmo e não teríamos reflexões sobre a nossa própria existência! Como diria Jorge Luís Borges “todos os animais são imortais exceto os humanos porque só nós temos consciência de que vamos morrer”.

Sem consciência desconheceríamos a nossa história evolutiva como espécie e a poderosa influência que, ainda hoje, essa evolução tem na nossa saúde. A Terra tem cerca de 4,6 biliões de anos e a vida na Terra surgiu aproximadamente há 3,5 biliões de anos. Os dinossauros desapareceram, subitamente, há cerca de 66 milhões de anos. No entanto, o primeiro hominídeo, denominado Australopithecus, apareceu em África “apenas” há cerca de 7 milhões de anos e não comia carne. O género Homo surgiu na África há cerca de 2,5 milhões de anos, curiosamente a mesma altura em que provamos carne pela primeira vez, mas apenas as sobras das presas de outros animais, caçadores mais poderosos. Foi necessário 1 milhão de anos de evolução para sermos muito melhores caçadores e usufruir primeiro da carne de animais de grande porte, deixando as sobras para outros. Do género Homo destacam-se algumas espécies como o Homo habilis, surgido entre 2 milhões e 1,4 milhões de anos atrás,  tendo sido a primeira a criar artefactos a partir de fragmentos de rocha, absolutamente essenciais para o início e evolução da nossa jornada como poderosos caçadores de animais.  Depois surgiu o Homo erectus (1,6 milhão a 150 mil anos atrás), o Homo neanderthalensis que existiu há cerca de 150 mil a 30 mil anos atrás e o Homo sapiens surgido há cerca de 130 mil anos e que sobrevive até hoje! 

A agricultura mudou a nossa saúde para sempre e surgiu, aproximadamente, há 12.000 a 10.000 anos atrás. Os Sumérios, que habitavam na Mesopotâmia, situada entre os rios Tigre e Eufrates,  (atualmente uma região entre a Síria e o Iraque), inventaram a escrita e o dinheiro há aproximadamente 5.000 anos. O antigo Egito surgiu em 3100 a.C. na margem norte do vale do Nilo e durou até ao ano 30 a.C., data da anexação pelos romanos. A Grécia antiga surgiu em 800 a.C. e estendeu-se até 140 a.C.. O império Chinês começou em 221 a.C. e o império Romano surgiu no ano 27 a.C. e dominou até 476 d.C. Em todas estas civilizações surgiram hábitos alimentares e descobertas que moldaram a nossa saúde. Alguns perderam-se no rumo da história e outros influenciam a nossa vida até hoje. Paradoxalmente, alguns dos hábitos perdidos há séculos voltam agora em pleno século 21, à medida que a ciência prova a sua eficácia mesmo quando comparadas com algumas das mais modernas e sofisticadas terapêuticas farmacológicas.

Certa vez alguém perguntou porque era tão velho o universo? A essa questão alguém respondeu que “é o tempo que demora a criar o humano moderno”! Esta extraordinária frase sublinha, resumidamente, o longo e complexo caminho que fizemos até aqui chegar, civilização após civilização, para criar um animal humano sofisticado que está agora consciente da sua longa herança, complexidade, incrível capacidade de conhecimento, poder para alterar o seu destino, dominar o planeta que habita, viajar para outros planetas, apostar na terraformação de marte e tentar, ainda este século, duplicar a idade média de vida dos humanos que tenham essa ambição. Sim, existem já avanços científicos que nos permitem sonhar com essa realidade de vida longa e de qualidade, desde que a nossa natureza tribal não nos destrua por dentro.

Numa altura de crescimento exponencial do conhecimento, em todas as áreas, com particular relevância para a inteligência artificial, realidade virtual, nanotecnologia, robótica e ciências da saúde, é essencial tirarmos o máximo partido da nossa consciência para identificar e prevenir, por exemplo, as doenças do envelhecimento. Ganha cada vez mais força a corrente científica que defende ser o envelhecimento a causa de quase todas as doenças e que, portanto, se descobrirmos os mecanismos do envelhecimento podemos retardá-lo imenso e ficar livres de doenças durante muitas mais dezenas de anos.

Este livro fala precisamente dos cinco pilares mais importantes para manter a  nossa saúde, de forma integrada, com qualidade e alegria, uns bons anos acima da esperança média de vida. No entanto, terás de fazer opções, será necessária a consciência de reconhecer algumas mentiras, descobrir os detalhes da verdade que suportam tal ambição e aceitar que todos os pilares estão unidos num único ser e harmonizam-se em conjunto. O desequilíbrio relevante de um deles pode afetar de forma dramática todas as outras dimensões da nossa saúde.

Neste livro descreve-se também a experiência pessoal do autor, que experimenta, há já alguns anos, alterações simples de hábitos alimentares, físicos, profissionais, relacionais, familiares, sociais e  gestão otimizada de ansiedade, sendo esta um dos pilares, absolutamente estruturantes, da qualidade de vida.

O livro apresenta e suporta-se em estudos sólidos, incluindo recentes factos científicos, para revelar as cinco grandes mentiras sobre saúde que, por falta de conhecimento, continuam a degradar a vida de muitos milhões de pessoas, que  hoje poderiam viver mais 10, 20 ou até 30 anos, com muito melhor qualidade de vida, se aplicassem diariamente este conhecimento e aprendizagem simples de ciência da saúde. Depois dos cinco capítulos que desvendam outras tantas mentiras, preparei um último capítulo bónus que resume detalhes de conhecimento de ciência da saúde que se revelaram, na minha vida, absolutamente nucleares no combate à doença, à mitigação do stresse, na procura de alegria, felicidade e criação de energia positiva para quem nos acompanha nesta caminhada pela vereda da vida.

Sou Farmacêutico comunitário há trinta anos. Gosto do que faço e tenho um prazer especial em ajudar os doentes e as pessoas saudáveis a entender, em linguagem corrente, o que se passa com a sua saúde. Este gosto surgiu da pesquisa para compreender o que se passava com a minha própria saúde que, há alguns anos atrás, não era a mais recomendável. Sentia má digestão, distensão abdominal, obstipação crónica, dores articulares e lombares diárias, rigidez matinal, ansiedade, colesterol elevado, hipertensão, escoliose e um diagnóstico de espondilite anquilosante feito em 2002, aos 34 anos de idade, por um reumatologista conhecido da cidade do Porto, após cruzar a imagem de raio x da minha coluna vertebral com os sintomas diários de rigidez na zona sacro ilíaca.

A espondilite anquilosante (EA) é uma doença autoimune que provoca inflamação crónica articular progressiva de grandes articulações, principalmente a coluna. Os sintomas mais frequentes são dores nas costas e rigidez. Os primeiros sinais aparecem na adolescência ou no início da idade adulta. Regra geral a doença evolui e provoca, movimentos da coluna progressivamente mais limitados, devido a fusão óssea nas vértebras, chamada de anquilose.

Este quadro de dores com origem em doença inflamatória crónica levava-me a tomar anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) com frequência, por vezes diária, o que por sua vez teve como efeito secundário o aparecimento ou agravamento de lesões gastro-intestinais. Todo este quadro ficou ainda mais severo quando, por razões profissionais, foi necessário fazer turnos de noites de serviço que alteraram o meu ritmo circadiano originando, com frequência, mudanças de humor nomeadamente irritabilidade e ansiedade crescentes, assim, como falhas de memória mais evidentes e prolongados períodos diários de falta de energia. Nesses dias, o meu “menu terapêutico” era rico em anti-inflamatórios, analgésicos, anti-ácidos, inibidores da bomba de protões, anti-histamínicos e claro o inevitável anti-hipertensor.

Hoje, mais de vinte anos depois, sinto mais energia do que nunca, não sinto ansiedade, a minha memória melhorou, tenho uma digestão normal, não tomo quaisquer anti-inflamatórios ou analgésicos e as minhas dores desapareceram por completo. Regularizei a minha tensão arterial, depois de muitos anos a tomar uma dosagem baixa de perindopril e consegui um objetivo que julgava quase impossível, deixar de tomar quaisquer medicamentos.  Foi de certa forma uma surpresa pois já tinha tentado o desmame do anti-hipertensor, por diversas vezes, mas sem sucesso.

No final do livro, fazendo parte do capítulo bónus, descrevo tudo o que me permitiu, libertar-me do último medicamento do meu “menu terapêutico” inicial. Além de tudo isto, o meu bom humor parece intacto, o que por sua vez reforça o meu sistema imunitário. 

No final do livro, fazendo parte do capítulo bónus, descrevo tudo o que me permitiu, libertar-me do último medicamento do meu “menu terapêutico” inicial. Além de tudo isto, o meu bom humor parece intacto, o que por sua vez reforça o meu sistema imunitário. 

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Franklim Moura Fernandes

Estratégias para proteger o fígado e evitar cirrose

Pessoas que não consomem álcool podem desenvolver fígado gordo ou esteatose hepática e cirrose não alcoólica que pode tornar-se grave. Descubra toda a verdade sobre este perigo oculto! O que significa, quais os sintomas, quais as causas, qual o melhor tratamento e qual a prevenção mais adequada.

Fígado gordo é um problema de saúde muito importante que pode causar uma grave doença denominada cirrose hepática não alcoólica, que se instala lentamente e afeta milhares de pessoas sem que a maioria se aperceba atempadamente do perigo que corre, pois os sintomas na fase inicial são discretos.

Este artigo pretende ser uma ferramenta importante para ajudar a detetar os sinais precoces desta perigosa condição de saúde, ajudar a corrigir os principais hábitos de vida e erros alimentares e, talvez, salvar muitas vidas!

Leia também: Estes são os piores óleos alimentares!

Neste artigo vou tratar os seguintes temas:

  • Anatomia do fígado
  • Figado o que é e qual a função?
  • Figado gordo o que é?
  • Sintomas
  • Causas
  • Perigos e complicações
  • Cirrose hepática não alcoólica
  • Tratamentos
  • Prevenção

Fígado

O fígado é a maior glândula e o maior órgão maciço do corpo humano. Funciona como glândula exócrina, libertando secreções num sistema de canais que se abrem numa superfície externa, e também como glândula endócrina, pois também liberta substâncias no sangue ou nos vasos linfáticos.

Localiza-se no hipocôndrio direito, epigástrio e pequena porção do hipocôndrio esquerdo, sob o diafragma e tem um peso aproximado de 1,3-1,5 kg num homem adulto e ligeiramente menos numa mulher. Em crianças é proporcionalmente maior, pois constitui cerca de 5% do peso total de um recém nascido.

Localização do fígado

Anatomia e localização abdominal

Leia também: Dor de barriga, estas são as mais perigosas!

Funções do fígado

O fígado é o segundo maior órgão do corpo e desempenha inúmeras funções, tanto na digestão e utilização dos nutrientes, como na remoção de substâncias prejudiciais, além de uma boa regulação da coagulação. Em termos simples o figado tem três principais funções:

  • Digerir alimentos;
  • Armazenar energia;
  • Remover substâncias tóxicas.

Em algumas espécies animais o metabolismo alcança a atividade máxima logo depois da alimentação o que diminui a capacidade de reação a estímulos externos. Em outras espécies, o controle metabólico é estável, sem diminuição desta reação. Esta diferença é determinada pela função reguladora do figado, órgão essencial da coordenação fisiológica.

Leia também: Estes são os segredos do nosso metabolismo!

Em mais detalhe, as funções do fígado mais relevantes são as seguintes:

  • Desintoxicação do organismo;
  • Produção de bile, cerca de 1,5 litros por dia;
  • Emulsificação de gorduras facilitando o processo digestivo destas, através da secreção da bile;
  • Síntese do colesterol;
  • Reciclagem de hormonas;
  • Armazenamento das vitaminas A, B12, D, E e K;
  • Armazenamento de alguns minerais como o ferro;
  • Conversão de amónia em ureia;
  • Síntese de protrombina e fibrinogênio (fatores de coagulação do sangue);
  • Destruição das hemácias (glóbulos vermelhos);
  • Transformação de glicose em glicogénio;
  • Síntese, armazenamento e quebra do glicogênio quando é necessária glicose para produção de energia;
  • Lipogênese, a produção de triacilglicerol (formação de gorduras);
  • Síntese de albumina (importante para a osmolaridade do sangue);
  • Síntese de angiotensinógeno (hormona que aumenta a pressão sanguínea quando ativada pela renina);
  • No primeiro trimestre de gravidez é o principal produtor de eritrócitos, no entanto perde essa função nas últimas semanas de gestação;
  • Sintese de heparina e vitamina A;
  • Ação antitóxica importante, processando e eliminando os elementos nocivos de bebidas alcoólicas, café, barbitúricos, gorduras, medicamentos e outras substâncias potencialmente tóxicas;
  • Papel vital no processo de absorção de alimentos.

Leia também: Esta é a melhor forma de desintoxicação!

Fígado gordo o que é?

Fígado gordo ou esteatose hepática (EH) é uma deposição difusa de gordura, principalmente triglicéridos, nos hepatócitos (células do fígado), excedendo habitualmente 5% do peso do fígado.

Numa tese de mestrado em Nutrição da Faculdade de Medicina de Lisboa, citam-se estudos realizados entre 2004 e 2013 que referem prevalência de EH como sendo de 26,0% na China, 21,8% no Japão e 31% nos Estados Unidos, sendo superior em certos grupos étnicos (45% nos hispânicos). Isto significa que em 2020, com o aumento da obesidade na população, os números serão certamente ainda piores!

Dados interessantes sobre a prevalência de figado gordo:

  • Presente em cerca de 20% a 30% da população independentemente da idade, género ou etnia.
  • Maior prevalência em homens, principalmente em idades mais avançadas, e também nas mulheres pós-menopáusicas.
  • Pode atingir cerca de 3% das crianças (com idades próximas aos quatro anos) e 20% a 50% das crianças obesas.

Esteatose hepática classificação

A estetose hepática é habitualmente classificada de acordo com os consumos de álcool (com o cut-off de 20g/d) e após exclusão de hepatites B ou C em:

  • Esteatose hepática alcoólica (EHA)
  • Esteatose hepática não alcoólica (EHNA)

Sintomas

A maioria dos doentes não apresenta sintomas numa fase inicial o que torna esta doença ainda mais perigosa pois permite que avance de forma oculta e por vezes até atingir uma fase de difícil reversão. Por vezes, podem surgir as seguintes manifestações clínicas:

  • Cansaço,
  • Dor ou desconforto no quadrante superior direito do abdómen,
  • Perda de apetite,
  • Náuseas e vómitos,
  • Dor de cabeça,
  • Fezes esbranquiçadas,

Sintomas em fase avançada da doença

Numa fase avançada da doença, já com lesão e inflamação do fígado, aparecem os seguintes sintomas:

  • Icterícia (cor amarelada nos olhos e na pele),
  • Febre,
  • Ascite ou barriga inchada (distensão do abdómen por acumulação de líquido).

Causas

Pensa-se que a patogénese destas doenças esteja relacionada com um processo de duas fases, onde numa primeira fase ocorre acumulação de ácidos gordos no fígado, levando à esteatose hepática.

Este desenvolvimento de esteatose está relacionado com o excesso de consumo de álcool no caso da esteatose hepática alcoólica.

A gordura que é ingerida é metabolizada no fígado e noutros tecidos. Se ela for excessiva, fica armazenada no tecido adiposo. Daí pode ser transferida para outros locais e também para o fígado. Noutros casos, a gordura acumula-se neste órgão que se revela incapaz de a transformar para ser eliminada.

Cerca de 80% dos consumidores de álcool desenvolvem esta patologia porque o álcool permite uma rápida acumulação de ácidos gordos no fígado.

Doença do fígado gordo não alcoólica

A esteatose hepática não alcoólica surge em pessoas que não consomem alcool e o seu desenvolvimento está intrinsecamente ligado aos seguintes factores principais:

  • Obesidade, principalmente visceral;
  • Dislipidémia (colesterol e triglicéridos elevados);
  • Resistência à insulina (diabetes).

A acumulação de gordura hepática predispõe o fígado ao dano hepático na segunda fase do processo, onde ocorre necrose, inflamação, fibrose e por fim, cirrose hepática.

As causas secundárias de esteatose hepática não alcoólica ou doença do fígado gordo não alcoólica são diversas, sendo muito importantes as descritas na seguinte tabela.

Causas secundárias da
esteatose hepática não alcoólica
Exemplos
NutricionaisMalnutrição
Perda rápida de peso
MetabólicasLipodistrofia
Farmacológica/medicamentosAmiodarona
Estrogénios
Corticosteroides
Tamoxifeno
Antiretrovirais
Tetraciclinas
Ingestão de toxinasProdutos quimicos
Cogumelos (algumas espécies)
OutrasSindrome do intestino irritável também denominado cólon irritável ou colite nervosa

Evolução da doença

A EHNA é uma condição normalmente benigna e reversível, a sua progressão a fibrose e cirrose é denominada esteatohepatite não alcoólica (nonalcoholic steatohepatitis, NASH) e representa um estado mais grave da doença. Estima-se que nos Estados Unidos, a NASH afete cerca de 3-6% da população, com 30% de morbilidade em pacientes obesos.

Não são totalmente compreendidos os determinantes na progressão desta doença, que pode afetar tanto crianças como adultos. Entre 45% e 100% dos pacientes com EH não apresentam sintomas, revelando-se assim, como uma doença “silenciosa”.

A gravidade na EHNA depende não só das consequências tardias, como a cirrose e o carcinoma hepatocelular, mas também das elevadas taxas de eventos cardiovasculares associados, que fazem desta doença um
problema de saúde pública relevante

Diagnóstico

As técnicas de diagnóstico mais usadas são as descritas na tabela seguinte.

Técnica de diagnósticoObjetivo
Ecografia abdominalRevelar o volume do fígado
Análises ao sangue em doentes obesos, diabéticos e/ou dislipidémicosDetetar aumento das enzimas hepáticas denominadas transaminases
BiópsiaConfirmar o diagnóstico e avaliar o grau de inflamação

As principais alterações laboratoriais na esteatose hepática (EH) são as elevações das seguintes enzimas hepáticas:

  • Aspartato aminotransferase (AST);
  • Alanina aminotransferase (ALT);
  • Gamaglutamiltransferase (GGT), esta mais comum no diagnóstico de consumo crónico de álcool.

Biópsia e exames de imagem

As enzimas hepáticas poderão refletir um meio de rastreio,
porém não poderão ser meio de diagnóstico na EH, pois cerca de 70% dos indivíduos com EH não apresenta estas alterações enzimáticas.
.
Atualmente, a biópsia hepática é o exame mais eficaz para o diagnóstico da EH, porém tornaram-se necessárias técnicas de rastreio menos invasivas e mais acessíveis, mas igualmente precisas.

Os exames complementares de imagem (ecografia abdominal,
tomografia computadorizada ou ressonância nuclear magnética) são capazes de identificar a presença de EH de forma rápida e não invasiva para o paciente.

Tratamento e prevenção

Não existem medicamentos eficazes para tratar o fígado gordo. Vale a pena sublinhar que, nas suas fases iniciais, o fígado gordo é reversível mas para que tal acontece é de facto obrigatório que faça alterações alimentares e de estilo de vida. Se não o fizer o “preço a pagar” pode ser a sua vida!

Descrevo de seguida, por experiência pessoal e profissional, as prioridades para reverter, ainda a tempo, o excesso de gordura hepática e visceral. Assim deve controlar os seguintes parâmetros e aplicar os seguintes hábitos:

  • Evitar o consumo de bebidas alcoólicas;
  • Glicémia (açúcar no sangue) em jejum e 2 horas após refeição, principalmente se já tem diabetes ou está próximo dos valores de referência máximos;
  • Colesterol LDL;
  • Triglicéridos;
  • Eliminar totalmente os hidratos de carbono processados;
  • Eliminar em geral os alimentos processados que têm excesso de açúcar e óleos vegetais de má qualidade;
  • Fazer jejum mínimo de 12 horas por dia;
  • Uma ou duas vezes por semana fazer jejum de 16 horas seguidas;
  • Caminhar ao ar livre o mais possível;
  • Fazer exercícios físicos de curta duração mas alta intensidade, bastam 15 minutos por dia destes exercícios.
  • Dormir pelo menos 7:30 horas de qualidade para não desregular as hormonas que controlam o nosso apetite e nos causam, principalmente, vontade de comer os hidratos de carbono errados (processados) ou em quantidade exagerada.
  • Controle o stress em excesso pois este quando descontrolado tende a alterar os nossos comportamentos favorecendo os hábitos viciantes incluindo a vontade de ingerir a comida errada em “doses” excessivas.

Complicações do fígado gordo

Embora a maioria dos casos tenha evolução benigna, é possivel a evolução para cirrose que é uma grave doença hepática e potencialmente fatal! Este risco aumenta nos doentes com mais idade, diabéticos e nos que já apresentam inflamação do fígado (chamada esteatohepatite não alcoólica).

Referências

Estratégia anti-envelhecimento: Glutationa e fascinante relação com a melatonina

A glutationa é um dos antioxidantes mais importantes do nosso organismo, talvez até o mais poderoso, desempenhando um papel crucial na manutenção da saúde, combate aos sinais de envelhecimento e na prevenção de doenças. Neste artigo, explora-se detalhadamente o que é a glutationa, as suas funções e como contribui para a nossa saúde. Além disso, descrevo maneiras de aumentar os níveis de glutationa através da alimentação, suplementação, hábitos de vida saudáveis e qual a sua intrigante relação com a melatonina que regula o nosso sono.

O que é a glutationa?

Glutationa, glutationo ou glutatião é um tripeptídeo linear, com uma ligação ‘Y-amida incomum, constituído por três aminoácidos: 

  • Ácido glutâmico (glutamato), 
  • Cisteína,
  • Glicina.

O grupo tiol da cisteína o local ativo responsável pelas suas propriedades bioquímicas.

A glutationa (gama-glutamil-cisteinil-glicina; GSH) é o tiol de baixo peso molecular mais abundante, e o dissulfeto de GSH/glutationa é o principal par redox nas células animais. A síntese de GSH a partir de glutamato, cisteína e glicina é catalisada sequencialmente por duas enzimas citosólicas, a gama-glutamilcisteína sintetase e a GSH sintetase. 

Evidências convincentes mostram que a síntese de GSH é regulada principalmente pela atividade da gama-glutamilcisteína sintetase, pela disponibilidade de cisteína e pela inibição por feedback da GSH. Estudos em animais e humanos demonstram que a nutrição proteica adequada é crucial para a manutenção da homeostasia do GSH. Além disso, a cistina entérica ou parentérica, a metionina, a N-acetilcisteína e a L-2-oxotiazolidina-4-carboxilato são precursores eficazes da cisteína para a síntese de GSH tecidual.

A glutationa é encontrada em todas as células do corpo e é conhecido por ser um potente antioxidante. Além disso, a glutationa é essencial para várias funções celulares e metabólicas, incluindo a desintoxicação de compostos nocivos, síntese de proteínas e regulação do sistema imunitário.

Funções essenciais

A glutationa desempenha papéis importantes na defesa antioxidante, no metabolismo dos nutrientes e na regulação de eventos celulares, incluindo:

  • Expressão genética, 
  • Síntese de ADN e proteínas, 
  • Proliferação celular e apoptose, 
  • Transdução de sinal, 
  • Produção de citocinas e resposta imunitária, 
  • Glutationilação proteica. 

A deficiência de glutationa contribui para o stress oxidativo, que desempenha um papel fundamental no envelhecimento e na patogénese de muitas doenças, tais como:

  • Diabetes,
  • Cancro, 
  • Doença de Alzheimer
  • Doença de Parkinson, 
  • Doença hepática, 
  • Fibrose quística, 
  • Anemia falciforme, 
  • VIH, 
  • SIDA, 
  • Ataque cardíaco, 
  • Acidente vascular cerebral,
  • Kwashiorkor (desnutrição intermediária),
  • Convulsão.

Novos conhecimentos sobre a regulação nutricional do metabolismo da GSH são críticos para o desenvolvimento de estratégias eficazes para melhorar a saúde e tratar estas doenças.

A glutationa tem múltiplas funções, destacando-se principalmente como um antioxidante que protege as células contra os danos causados pelos radicais livres. Este composto também desempenha um papel importante na desintoxicação, ajudando a neutralizar e eliminar toxinas do organismo. Além disso, a glutationa é fundamental no transporte de aminoácidos, síntese de proteínas, proteção contra a radiação solar e na manutenção da saúde geral.

Ação antioxidante

Como antioxidante, a glutationa protege as células dos danos oxidativos, neutralizando os radicais livres e outras espécies reativas de oxigênio. Estes radicais livres podem causar danos às células, proteínas e DNA, contribuindo para o envelhecimento precoce e o desenvolvimento de várias doenças. A glutationa ajuda a manter o equilíbrio redox celular, promovendo a saúde celular e prevenindo danos oxidativos.

Eliminação de toxinas

Uma das funções mais importantes da glutationa é a desintoxicação. Ele ajuda a converter toxinas lipossolúveis em compostos hidrossolúveis, facilitando a sua excreção do organismo através da urina ou bílis. Este processo é crucial para a remoção de substâncias nocivas, como metais pesados, poluentes ambientais, radiação e produtos químicos presentes em medicamentos. 

Os átomos de  enxofre presentes na sua estrutura atuam como um íman na atração de radicais livres e toxinas, mercúrio e metais pesados, que são excretados pelas fezes e urina. 

Transporte de aminoácidos

A glutationa também desempenha um papel essencial no transporte de aminoácidos através das membranas celulares. Este processo é fundamental para a síntese de proteínas e para a manutenção do equilíbrio de aminoácidos no nosso corpo, contribuindo para a saúde muscular, regeneração celular e diversas funções metabólicas.

Síntese de proteínas

No caso de situações de extremo stress oxidativo, ocorre depleção ou diminuição da síntese proteica e, como sabemos, as proteínas são parte fundamental na composição de células e tecidos no organismo, inclusive do nosso sistema imunológico. 

Portanto, a síntese proteica tem um papel fundamental para a recuperação e o fortalecimento do organismo, bem como para atenuar casos de sarcopenia (perda de massa muscular em decorrência do envelhecimento) e também atua na produção dos anticorpos, fortalecendo ainda mais o sistema imunitário. 

A síntese de proteínas é um processo vital para a reparação e crescimento celular, a glutationa participa na formação de novas proteínas, atuando como um substrato e regulador da atividade enzimática. A presença adequada de glutationa no organismo assegura que as proteínas sejam sintetizadas corretamente, o que é crucial para a manutenção da saúde e do funcionamento adequado do nosso organismo..

Proteção contra a radiação solar

A glutationa também oferece proteção contra os efeitos nocivos da radiação ultravioleta (UV) do sol. A exposição prolongada ao sol pode causar danos à pele, envelhecimento prematuro e aumentar o risco de cancro de pele. A glutationa ajuda a neutralizar os radicais livres gerados pela radiação UV, protegendo a pele e promovendo a saúde cutânea.

Combate envelhecimento e pele mais saudável

Os níveis de glutationa no corpo tendem a diminuir com a idade, o que pode contribuir para o aparecimento de sinais de envelhecimento. Manter níveis adequados de glutationa é essencial para combater os efeitos do envelhecimento, como rugas, perda de elasticidade da pele e diminuição da função celular. A glutationa ajuda a preservar a juventude celular e a manter uma aparência saudável e jovem.

A glutationa é um dos antioxidantes que ajudam na desintoxicação, prevenção de doenças e resistência ao declínio cognitivo, protegendo as células e as mitocôndrias contra os danos oxidativos e peroxidativos. Também está relacionada com o fornecimento de energia, uma vez que a sua síntese depende do trifosfato de adenosina (ATP), molécula que fornece energia celular. 

Quando o corpo envelhece a capacidade de produzir glutationa diminui, no entanto existem maneiras de otimizar a molécula no organismo por meio de uma alimentação saudável e suplementação adequada, como veremos mais adiante.

Declínio cognitivo e dano mitocondrial

O stress oxidativo e o dano mitocondrial estão implicados na evolução de doenças neurodegenerativas. O aumento do dano oxidativo em regiões específicas do cérebro durante o envelhecimento pode tornar o cérebro suscetível à degeneração. Existem evidências de  um aumento do dano oxidativo e uma diminuição da função antioxidante na substância negra durante o envelhecimento, tornando-a vulnerável à degeneração associada à doença de Parkinson. Para compreender se o envelhecimento contribui para a vulnerabilidade das regiões cerebrais na doença de Alzheimer, foram avaliados os marcadores oxidantes e antioxidantes, as enzimas metabólicas da glutationa, a expressão da proteína glial fibrilar ácida e a atividade do complexo mitocondrial I no hipocampo e córtex frontal em comparação com o cerebelo  em cérebros humanos com o aumento da idade.

As regiões do hipocampo e do córtex frontal estão sujeitas a stress oxidativo generalizado, perda de função antioxidante e expressão aumentada de proteína ácida fibrilar glial durante o envelhecimento, o que pode torná-las mais suscetíveis à fisiologia perturbada e à degeneração neuronal seletiva.

O declínio cognitivo está associado ao envelhecimento e a doenças neurodegenerativas, como a doença de Alzheimer e a doença de Parkinson. A glutationa desempenha um papel crucial na proteção do sistema nervoso central, ajudando a prevenir danos oxidativos nos neurónios e melhorando a função cognitiva. Manter níveis adequados de glutationa pode ser uma estratégia importante para prevenir ou retardar o declínio cognitivo.

Sistema imunitário

A glutationa é fundamental para o bom funcionamento do sistema imunitário. Ele ajuda a regular a resposta imunitária, promovendo a atividade das células imunes e protegendo-as contra o stress oxidativo. Níveis adequados de glutationa são essenciais para a manutenção de um sistema imunitário forte e eficaz, capaz de combater infeções e doenças.

Proteção e recuperação celular

A proteção e recuperação celular são processos vitais para a saúde do organismo. A glutationa ajuda a proteger as células contra danos e promove a reparação celular, assegurando que as células danificadas sejam restauradas de forma eficiente. Este processo é crucial para a manutenção da saúde e para a prevenção de doenças crónicas.

Cicatrização

A glutationa desempenha um papel importante na cicatrização de feridas, promovendo a regeneração celular e a síntese de colagénio. A presença adequada de glutationa no organismo acelera o processo de cicatrização e assegura que as feridas sejam curadas de forma eficiente e eficaz.

Efeitos do stress e do envelhecimento no metabolismo da glutationa

A glutationa desempenha um papel crítico em muitos processos biológicos, tanto diretamente como cofator em reações enzimáticas como indiretamente como o principal tampão redox tiol-dissulfeto em células de mamíferos. Também fornece um sistema de defesa crítico para a proteção das células contra muitas formas de stress. No entanto, o stress ligeiro aumenta geralmente os níveis de glutationa, muitas vezes, mas não exclusivamente, através de efeitos sobre a glutamato cisteína ligase, a enzima limitante da taxa de biossíntese da glutationa. 

Esta regulação positiva da glutationa proporciona uma proteção contra um stress mais severo e pode ser uma característica crítica do pré-condicionamento e da tolerância. Em contraste, durante o envelhecimento, os níveis de glutationa parecem diminuir em vários tecidos, colocando assim as células em maior risco de sucumbirem ao stress. A evidência de tal declínio é mais forte no cérebro, onde a perda de glutationa está implicada tanto na doença de Parkinson como na lesão neuronal após acidente vascular cerebral.

Níveis baixos de glutationa no sangue em adultos saudáveis

Uma investigação científica testou a hipótese de que os níveis de glutationa no sangue são mais baixos nos seres humanos idosos, como já foi encontrado anteriormente no sangue e nos tecidos dos modelos padrão de envelhecimento em roedores. Assim, foi realizado um estudo com 39 homens e 130 mulheres, dos 20 aos 94 anos, selecionados pelos critérios de serem ambulatórios, saudáveis ​​e livres de diabetes mellitus, doenças da tiroide, anemias e cancro. O grupo de referência foi constituído por indivíduos dos 20 aos 39 anos, cujos níveis de glutationa no sangue foram de 547 ± 53,5 μg/1010 eritrócitos, para 40 indivíduos e definiu o intervalo de referência (limites de confiança de 95 %) de 440 para 654. 

Com base no limite de 440 μg/1010 eritrócitos, a incidência de baixo teor de glutationa no sangue nos indivíduos mais velhos aumentou significativamente, particularmente no grupo dos 60 aos 79 anos de idade. Os seus níveis de glutationa foram 452 ± 86,8 μg/1010 eritrócitos, 17% inferiores ao grupo de referência). Estes resultados demonstram um aumento da incidência de níveis baixos de glutationa em idosos aparentemente saudáveis, que podem estar em risco devido a uma diminuição da capacidade de manter muitas reações metabólicas e de desintoxicação mediadas pela glutationa.

Como aumentar os níveis de glutationa

Manter níveis adequados de glutationa no organismo é crucial para a saúde geral. A produção de glutationa pode ser afetada por diversos fatores, incluindo a idade, dieta, stress e exposição a toxinas. Existem várias maneiras de aumentar os níveis de glutationa, incluindo a ingestão de alimentos ricos em precursores de glutationa e antioxidantes, uso de suplementos eficazes e adoção de hábitos de vida saudáveis.

Melhores alimentos para aumentar os níveis de glutationa

Os alimentos ricos em precursores de glutationa e antioxidantes são essenciais para manter e aumentar os níveis de glutationa no organismo. Alguns dos melhores alimentos incluem:

  • Vegetais crucíferos: brócolos, couve, couve-flor, couve-de-bruxelas e agrião.
  • Alho e cebola: ricos em compostos sulfurados que ajudam na síntese de glutationa.
  • Espinafre e outros vegetais de folhas verdes: contêm precursores de glutationa e antioxidantes.
  • Abacate: uma fonte rica de antioxidantes e precursores de glutationa.
  • Frutas cítricas: laranjas, limões e toranjas são ricas em vitamina C, que ajuda na regeneração de glutationa.
  • Curcumina.
  • Proteína do soro de leite de alta qualidade.
  • Leite não pasteurizado e que não contenha pesticidas, hormonas ou antibióticos.

Suplementos

Existem algumas dúvidas sobre a estabilidade das fórmulas orais de glutationa já disponíveis. Destas deve escolher-se a que utilizar a glutationa lipossomal que apresenta uma melhor absorção orgãnica. No entanto, alguns  suplementos podem ser uma maneira eficaz de aumentar os níveis de glutationa, especialmente para aqueles que têm  dificuldades em obter quantidades adequadas através da dieta. É importante escolher suplementos de alta qualidade e seguir as recomendações com a dosagem adequada.

Melhores suplementos para aumentar níveis de  glutationa

Alguns dos melhores suplementos para aumentar os níveis de glutationa incluem:

  • N-acetilcisteína (NAC): um precursor da glutationa que ajuda a aumentar os níveis deste antioxidante no corpo;
  • Glutationa lipossomal: uma forma de glutationa que é melhor absorvida pelo organismo;
  • Ácido alfa-lipóico: um antioxidante que ajuda a regenerar a glutationa no corpo.
  • Selénio: um mineral essencial que apoia a atividade da glutationa peroxidase, uma enzima dependente de glutationa;
  • Nutrientes de metilação: Ácido fólico (vitamina B9), vitamina B6 e vitamina B12;
  • Vitamina C;
  • Vitamina E;
  • Cardo-mariano, também conhecido como Cardo-leiteiro (usado há muito tempo em doenças do fígado).
  • Cistitone forte (marca comercial da Cantabria Labs): Junta 500 mg de L-Cistina, 10 mg de L-Glutationa, Cobre, Zinco, Vitaminas B5 e B6, sendo utilizada no combate à queda de cabelo.
  • Advancis capilar essencial (marca comercial da Farmodiética): Contém glutamato e glicina que são precursores da glutationa. Usado para fortalecer cabelo e unhas.

Suplementação de glicina e N-acetilcisteína (GlyNAC) em idosos

O stress oxidativo (OxS) e a disfunção mitocondrial estão implicados como fatores causais do envelhecimento. Os adultos mais velhos (OAs) têm uma prevalência aumentada de OxS elevada, oxidação de combustível mitocondrial (MFO) prejudicada, inflamação elevada, disfunção endotelial, resistência à insulina, declínio cognitivo, fraqueza muscular e sarcopenia, mas os mecanismos contribuintes são desconhecidos e as as intervenções são limitadas/falta. Relatamos anteriormente que a indução da deficiência do tripeptídeo antioxidante glutationa (GSH) em ratinhos jovens resulta em disfunção mitocondrial, e que a suplementação de GlyNAC (combinação de glicina e N-acetilcisteína [NAC]) em ratinhos idosos melhora a deficiência natural de GSH, o comprometimento mitocondrial , OxS e resistência à insulina. 

Estudo em humanos

A investigação sobre a causa do declínio funcional que pode ocorrer com o envelhecimento tem progredido rapidamente nos últimos anos. Os investigadores na área do envelhecimento e da longevidade estão a trabalhar para desenvolver tratamentos que não só atrasem o aparecimento de doenças relacionadas com a idade, mas que possam realmente reverter alguns dos seus aspectos. Um estudo avalia uma estratégia nutricional que pode aumentar as defesas celulares em indivíduos mais velhos para proteger contra o stress oxidativo, corrigir defeitos mitocondriais, aumentar a força muscular e a cognição e promover um envelhecimento saudável.

Um ensaio clínico piloto em humanos de março de 2021 publicado na Clinical and Translational Medicine sugere que os indivíduos mais velhos que tomam GlyNAC – uma combinação de glicina e N-acetilcisteína que são precursores do antioxidante glutationa – podem melhorar alguns fatores causais associados ao envelhecimento, incluindo deficiência de glutationa, oxidação stress, disfunção mitocondrial, inflamação, resistência à insulina, disfunção endotelial, gordura corporal, toxicidade genómica, força muscular, velocidade de marcha, capacidade de exercício e função cognitiva. Os autores do estudo indicam que a suplementação de GlyNAC pode ser uma solução simples, segura e eficaz estratégia nutricional para idosos.

Estudo: Glycine and N-acetylcysteine (GlyNAC) supplementation in older adults improves glutathione deficiency, oxidative stress, mitochondrial dysfunction, inflammation, insulin resistance, endothelial dysfunction, genotoxicity, muscle strength, and cognition: Results of a pilot clinical trial

Este ensaio clínico piloto exploratório aberto testou os efeitos da suplementação nutricional com GlyNAC durante um período de 24 semanas e da retirada do GlyNAC durante 12 semanas. Os investigadores trabalharam com adultos mais velhos, com idades compreendidas entre os 70 e os 80 anos, e compararam-nos com mais jovens do mesmo género adultos entre os 21 e os 30 anos. Observaram melhorias em muitos defeitos característicos do envelhecimento e, especificamente, após a toma de GlyNAC durante 24 semanas, todos os defeitos em adultos mais velhos melhoraram e alguns até reverteram para os níveis encontrados em adultos jovens. Os benefícios diminuíram após a interrupção da suplementação durante 12 semanas.

“Acredita-se que a correção destas características do envelhecimento poderia melhorar ou reverter muitos distúrbios relacionados com a idade e ajudar as pessoas a envelhecer de forma mais saudável”, disse o autor correspondente, o endocrinologista Dr. Rajagopal Sekhar, num comunicado de imprensa emitido pelo Baylor College of Medicine. “No entanto, não compreendemos completamente porque é que estes defeitos característicos acontecem, e atualmente não existem soluções para corrigir sequer um único defeito característico do envelhecimento.” Dr. Sekhar, que tem estudado o envelhecimento natural em humanos mais velhos nos últimos 20 anos, acredita que melhorar a saúde das mitocôndrias com mau funcionamento no envelhecimento é a chave para uma vida mais saudável. Alguns estudos sugerem que os níveis de glutationa nas pessoas mais velhas podem ser mais baixos do que nas pessoas mais jovens e os níveis de stress oxidativo podem ser muito mais elevados.

Os investigadores descobriram que a principal razão para a deficiência de glutationa em adultos mais velhos pode ser a diminuição da síntese causada pela diminuição da disponibilidade de glicina e cistina. É por isso que acreditam que o GlyNAC é uma melhoria em relação à suplementação apenas com NAC. A síntese de glutationa requer duas etapas bioquímicas: na primeira etapa, a cisteína é adicionada ao ácido glutâmico para formar a glutamilcisteína intermédia e, na segunda etapa, a glicina é adicionada à glutamilcisteína para formar a glutationa. 

Os autores do estudo especulam que o O GlyNAC representa três forças que poderiam estar a operar simultaneamente para resultar em melhorias generalizadas nos adultos mais velhos:

  • A correção da deficiência de glutationa resulta na correção do stress oxidativo e da disfunção mitocondrial.
  • GlyNAC contém glicina, um importante dador de grupo metilo que é importante para o funcionamento normal do cérebro.
  • O GlyNAC contém N-acetilcisteína, que funciona como dador de cisteína e é de importância crucial no metabolismo energético.

Os investigadores disseram que lhe chamam o “poder do 3” porque acreditam que são necessários os benefícios combinados da glicina, NAC e glutationa para alcançar esta melhoria generalizada em indivíduos mais velhos.

Hábitos de vida para melhorar os níveis de glutationa

Manter um estilo de vida saudável é fundamental para preservar os níveis de glutationa no organismo. Algumas práticas recomendadas incluem:

  • Exercício físico regular: ajuda a aumentar os níveis de glutationa, melhorar a desintoxicação e as defesas antioxidantes do nosso organismo.
  • Sono adequado: o descanso é essencial para a regeneração celular e a manutenção dos níveis de glutationa.
  • Gestão do stress: práticas como meditação, yoga e técnicas de respiração podem ajudar a reduzir o stress e a preservar os níveis de glutationa.
  • Evitar toxinas: reduzir a exposição a poluentes ambientais, produtos químicos e tabaco pode ajudar a manter os níveis de glutationa.

Relação entre glutationa e melatonina

A glutationa e a melatonina são duas moléculas de extrema importância orgânica, conhecidas principalmente pelas suas propriedades antioxidantes. Ambas desempenham papéis cruciais na proteção celular contra o stress oxidativo e têm sido estudadas extensivamente pelas suas interações e efeitos sinérgicos. De seguida explora-se a relação entre a glutationa e a melatonina, detalha-se a síntese de glutationa e apresentam-se fontes bibliográficas relevantes sobre a interação dessas moléculas.

Síntese da Glutationa

A glutationa é um tripeptídeo composto por glutamato, cisteína e glicina. A  síntese ocorre em duas etapas principais:

  1. Formação do γ-Glutamilcisteína: Catalisada pela enzima γ-glutamilcisteína sintetase, esta etapa envolve a combinação de glutamato e cisteína.
  2. Formação da Glutationa: Catalisada pela enzima glutationa sintetase, esta etapa combina γ-glutamilcisteína com glicina para formar a glutationa completa.

Melatonina a hormona do sono

Em humanos, a melatonina tem sua principal função em regular o sono, ou seja, em um ambiente escuro e calmo, os níveis de melatonina do organismo aumentam, causando o sono. Por isso é importante eliminar do ambiente quaisquer fontes de som, luz, aroma, ou calor que possam acelerar o metabolismo e impedir o sono, mesmo que não perceptíveis. Outra função atribuída à melatonina é a de antioxidante, agindo na recuperação de células epiteliais expostas à radiação ultravioleta e, através da administração suplementar, ajudando na recuperação de neurónios afectados pela doença de Alzheimer e por episódios de isquémia (como os resultantes de acidentes vasculares cerebrais).

A melatonina é também considerada segura e eficaz na prevenção ou diminuição dos sintomas de jet lag. É especialmente eficaz para quem viaja por mais de 5 zonas horárias, mas pode ser usado para qualquer viagem que ultrapasse mais do que uma zona horária para quem é mais susceptível a sintomas. Estudo clínicos constataram que a melatonina ajuda a regular o horário orgânico com mais rapidez, criando as condições necessárias para atingir mais rápido relaxamento e descanso cerebral em viajantes, trazendo rápida adaptação ao novo fuso horário.

Existem também estudos que demonstram que a melatonina age como regulador de cada uma das etapas do balanço energético: a ingestão alimentar, o fluxo de energia para e dos stocks ou reservas, e o dispêndio energético.

Melatonina potente antioxidante mitocondrial

A melatonina foi relatada pela primeira vez como um potente antioxidante e eliminador de radicais livres em 1993. In vitro, a melatonina atua como um eliminador direto de radicais de oxigênio e espécies reativas de nitrogênio, incluindo OH−, O2− e NO. Nas plantas a melatonina atua com outros antioxidantes para melhorar a eficácia geral de cada antioxidante.

Foi comprovado que a melatonina é duas vezes mais ativa que a vitamina E, considerada o antioxidante lipofílico mais eficaz. Por meio da transdução de sinal por meio de receptores de melatonina, a melatonina promove a regulação positiva de enzimas antioxidantes, como superóxido dismutase, glutationa peroxidase, glutationa redutase e catalase.

A melatonina ocorre em altas concentrações no líquido mitocondrial, que excedem em muito a concentração plasmática de melatonina. Devido à sua capacidade de eliminação de radicais livres, efeitos indiretos na expressão de enzimas antioxidantes e concentrações significativas nas mitocôndrias, vários autores consideram que a melatonina tem uma função fisiológica importante como um antioxidante mitocondrial.

Melatonina e glutationa

A melatonina é conhecida pelas suas propriedades antioxidantes, onde atua como um agente direto de remoção de radicais livres e também regula a atividade de várias enzimas antioxidantes, incluindo aquelas envolvidas na síntese e regeneração da glutationa. Estudos indicam que a melatonina pode aumentar os níveis de glutationa em diversas condições de stress oxidativo, melhorando a capacidade antioxidante do organismo.

Efeitos Sinérgicos

A interação entre melatonina e glutationa é complexa e bidirecional. A melatonina não apenas aumenta a síntese de glutationa, mas também protege a glutationa existente da oxidação. Além disso, a glutationa pode regenerar a melatonina oxidada, formando um ciclo de proteção antioxidante eficiente.

A relação entre glutationa e melatonina é um campo de estudo fascinante e 

promissor, com ambas as moléculas a desempenharem papéis complementares na defesa antioxidante do organismo. A melatonina, além de suas funções reguladoras do ciclo circadiano, mostra-se uma poderosa aliada na manutenção dos níveis de glutationa e na proteção celular contra o stress oxidativo. Estudos contínuos são essenciais para aprofundar a compreensão dessas interações e das suas aplicações clínicas potenciais.

Revisão Bibliográfica

Vários estudos publicados em plataformas científicas, como PubMed, têm explorado a interação entre melatonina e glutationa:

  • Manchester et al. (2015) destacam que a melatonina pode ser induzida sob condições de stress oxidativo moderado, aumentando a capacidade antioxidante do organismo e protegendo contra o stress oxidativo​ (MDPI)​.
  • Karolczak e Watala (2021) revisaram os efeitos da melatonina na redução do stress oxidativo induzido por homocisteína, demonstrando a capacidade da melatonina em proteger células endoteliais e neurónios​ (MDPI)​.
  • Estudos adicionais apontam que a melatonina pode influenciar diretamente os níveis de glutationa em diversas condições patológicas, incluindo doenças neurodegenerativas e cardiovasculares​ (BioMed Central)​​ (Oxford Academic)​​ (SpringerLink)​.

Conclusão

A glutationa é um antioxidante essencial para a saúde, desempenhando um papel crucial na proteção celular, desintoxicação e regulação do sistema imunitário. Manter níveis adequados de glutationa é fundamental para a prevenção de doenças e para a promoção de uma vida saudável. Através de uma alimentação equilibrada, suplementação adequada e hábitos de vida saudáveis, é possível aumentar e manter os níveis de glutationa no organismo, garantindo assim uma melhor qualidade de vida.

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Unhas fracas e micoses qual o melhor tratamento




Micose fungo na unha e unhas fracas  onicomicose ou tinha das unhas toda a verdade! Quais os sintomas? Quais as causas? Qual o melhor tratamento? Os fungos nas unhas são muito frequentes. Este artigo pretende ser um contributo importante para melhorar a saúde e beleza das suas unhas.

Leia também: Micose no pé toda a verdade

Este artigo vai responder ás seguintes perguntas:

  • Micose e fungo na unha onicomicose ou tinha das unhas, o que é?
  • Qual a anatomia de uma unha?
  • Quais os sintomas de onicomicose?
  • Causas e perigos?
  • Celulite infeciosa e erisipela, qual o perigo?
  • Os fungos das unhas são contagiosos?
  • Como se apanham?
  • Quais os factores de risco da onicomicose?
  • Quais as formas mais comuns de onicomicose?
  • Qual a diferença entre onicomicose distal, proximal e superficial?
  • Como se faz o diagnóstico de onicomicose?
  • Existem lesões identicas causadas por outras patologias?
  • Qual o tratamento mais utilizado?
  • O tratamento local com cremes e vernizes é eficaz?
  • Quais os principais antifungicos tópicos?
  • Como funciona o tratamento por via tópica?
  • Como se previne?
  • Como evitar o contágio?



Onicomicose o que é?

Onicomicose ou tinha das unhas é uma infeção fúngica das unhas. Embora possa afetar todas as unhas, é mais comum nas unhas dos pés. A onicomicose ocorre em cerca de 10% da população adulta. A doença afeta com maior frequência pessoas idosas  e é mais comum entre homens do que entre mulheres. Os casos de onicomicose correspondem a cerca de metade dos casos de doenças das unhas.

Anatomia de uma unha

Anatomia da unha fungo na unhae micose melhorsaude.org

Anatomia da unha e fungo na unha

Sintomas de onicomicose

Os sintomas habituais de onicomicose são os seguintes:

  • Descoloração branca ou amarela da unha,
  • Espessamento da unha,
  • Separação da unha da pele.

O diagnóstico é geralmente suspeitado com base na aparência e confirmado com exames de laboratório.

As lesões da unha provocadas pela onicomicose apresentam algumas variações na sua apresentação, dependendo do tipo de fungo e de gravidade da infecção. Em geral, a micose da unha costuma apresentar um ou mais dos seguintes sintomas:

  • Unha grossa, mais espessa
  • Unha amarelada, sem brilho e opaca
  • Unha quebradiça e frágil
  • Separação da unha do leito ungueal
  • Distorções na forma da unha
  • Unha com coloração negra, em casos mais graves.

Causas e fatores de risco

As infecções fúngicas das unhas são geralmente causadas por um fungo que pertence a um grupo denominado dermatófitos, que também pode causar infecções nos pelos do corpo e na pele, como no caso do pé de atleta.

Leia também: Micose no pé toda a verdade

Outro grupo de fungos que também pode causar micoses das unhas são as leveduras. Em regra, as leveduras causam onicomicose nas mãos e os dermatófitos provocam onicomicose nas unhas dos pés. A onicomicose é uma infecção fúngica que pode afectar qualquer parte da unha, incluindo a lâmina, o leito ou a raiz da unha.

Afecta actualmente cerca de 30% da população europeia. Raramente afeta crianças, principalmente devido ao rápido crescimento da unha, que complica o desenvolvimento dos fungos.

Perigos complicações da onicomicose

Em  diabéticos ou imunossuprimidos a onicomicose pode servir como porta de entrada para bactérias, favorecendo o surgimento de infecções secundárias, como erisipela ou celulite da perna que é uma infeção grave na pele.

Não confundir esta celulite infecciosa da perna com ao termo usado para descrever a celulite como problema estético na pele da maioria das mulheres!

Leia também: Celulite tratamento e toda a verdade

Celulite infeciosa da perna

A celulite é uma infecção bacteriana que enolve as camadas interiores da pele e afeta especificamente a derme e gordura subcutânea.  A área de infecção é geralmente dolorosa. Os vasos linfáticos podem, ocasionalmente, ser envolvidos e a pessoa pode apresentar febre e sensação de cansaço. Antes de fazer um diagnóstico, infecções mais graves tais uma infecção óssea na base ou a fasciíte necrosante devem ser descartadas.

Sintomas e risco de necrose e amputação

A celulite infecciosa é caracterizada por uma mancha vermelha (eritema), com bordos mal definidos, inflamada (inchada, sensível, dolorosa e quente) e que cresce difusamente. Pode formar pus, abcessos e inflamar nódulos linfáticos. A infecção sistémica, quando as bactérias entram na corrente sanguínea, pode causar febre, mal estar, cansaço e infectar outros órgãos. Em raros casos, penetra para as fáscias e causa necrose com risco de amputação da perna!

Erisipela

Em contraste com a celulite, a erisipela é uma infecção bacteriana que envolve camadas mais superficiais da pele, e apresentam uma área de vermelhidão com bordas definidas, e mais frequentemente é associada a uma febre. é uma infecção bacteriana cutânea (tipo piodermite) causada, principalmente, por Streptococcus β-hemolíticodo grupo A. Outras causas menos frequentes são Streptococos β-hemolítico dos grupos C e G e Staphylococcus aureus.

Lesões na pele como infecção fúngica (ex: onicomicose e outras micoses), picadas de inseto, mordidas e cirurgias podem servir de porta de entrada para as bactérias.

O tratamento geralmente é feito com penicilina V, em casos severos pode-se usar penicilina G. Outras alternativas incluem doxiciclina (no caso de Staphylococcus), ceftriaxona, cefazolina ou em caso de resistências usar vancomicina. Há uma crescente resistência dos Streptococcus tipo A aos macrólidos.

Tratamento da celulite infeciosa

O tratamento geralmente é com antibióticos tomados por via oral, tais como a cefalexina, amoxicilina, ou cloxacillina.

Para aqueles que apresentam alergia grave à penicilina, eritromicina ou clindamicina podem ser usadas. Quando S. aureus resistentes à meticilina (MRSA) é uma preocupação, doxiciclina ou trimetoprim/sulfametoxazol podem ser recomendados.  A preocupação está relacionada com a presença de pus ou infecções anteriores por MRSA.  Elevar a área infectada pode ser útil, assim como analgésicos.

Contágio e como se apanha

É uma doença bastante contagiosa, sendo frequente o contágio em locais humidos e quentes como piscinas e balneários públicos, através do uso de toalhas, alicates ou tesouras, mal lavadas ou contaminadas. Pode também ocorrer contágio em casa, pois basta um elemento da família estar contaminado, para contagiar facilmente o resto da família. Banheiras e tapetes de pés, são também locais propícios a contágios.

Não se apanha micose das unhas apenas por apertar a mão ou tocar em objetos manipulados por alguém infectado porque é necessário um contacto mais prolongado ou uma lesão já pré-existente entre a pele e a unha.

As unhas mais comumente afetadas são as dos pés, em consequência do uso de sapatos fechados, o que origina um ambiente ideal (humidade, temperatura e ausência de luz) para o desenvolvimento dos fungos.

O contacto com o fungo por si só não costuma ser suficiente para se adquirir a onicomicose. Geralmente é preciso haver pequenas lesões entre a unha e a pele para que o fungo consiga penetrar por baixo da unha e alojar-se. Também é necessário que a unha seja exposta frequentemente a ambientes húmidos para que o fungo possa multiplicar-se com mais facilidade.

A onicomicose nas unhas dos pés é muito mais comum do que nas unhas das mãos. Os pés costumam estar mais expostos a locais húmidos, não só quando se anda descalço em locais públicos, mas também por passar boa parte do dia fechado dentro de meias e calçados. Calor, falta de luz e humidade é tudo que um fungo deseja para proliferar. Além disso, os dedos dos pés estão no ponto do corpo mais distante do coração, não sendo tão bem vascularizados com os dedos da mão. Deste modo, os anticorpos e as células de defesa do organismo não chegam às unhas dos pés com tanta facilidade quanto a outros pontos do organismo.




Fatores de risco da onicomicose

A presença de alguns fatores favorece a infecção da unha por fungos. Por exemplo, pessoas com pé de atleta, que é uma infecção fúngica da pele dos dedos, têm um maior risco de contrair também infecção fúngica das unhas. Outros fatores de risco são:

Os atletas também são um grupo de risco para onicomicose. porque costumam estar com os pés frequentemente calçados e húmidos pela transpiração, além de terem uma maior incidência de traumas nas unhas devido ao impacto de suas atividades físicas.

Formas mais comuns de onicomicoses

Descrevo de seguida as formas mais comuns de onicomicose e uma imagem para apoiar a distinguir a diferença.

1. Onicomicose subungueal distal

É de longe a forma mais comum e caracteriza-se pela infecção da ponta da unha. O dedo grande do pé é geralmente o primeiro a ser afetado. A infecção começa com uma descoloração esbranquiçada, amarelada ou acastanhada numa das pontas laterais da unha, estendendo-se lentamente por toda unha, em direção à cutícula. A unha pode descolar-se e a ponta costuma partir-se e cair, expondo a pele que serve de leito para a unha.

2. onicomicose subungueal proximal

É a forma menos comum de onicomicose. È parecida com a onicomicose subungueal distal , porém, a progressão ocorre de forma oposta, iniciando-se próxima à cutícula e depois estendendo-se em direção à ponta da unha. Este tipo de micose de unha ocorre geralmente em doentes imunossuprimidos, sendo comum nos indivíduos com HIV.

3. Onicomicose superficial branca

É uma forma comum nas crianças, mas que nos adultos corresponde a apenas 10% dos casos de micose da unha. Caracteriza-se pelo aparecimento de manchas brancas sobre a superfície da unha, geralmente mais próxima da cutícula do que da ponta. Quando não tratada, as manchas tendem a espalhar-se centrifugamente por toda a unha, deixando-a quase toda branca, além de áspera e quebradiça.

Fungo na unha melhorsaude.org

Diagnóstico da onicomicose

Lesões idênticas com causas não fungicas

As lesões das unhas da onicomicose podem ser semelhantes ás lesões da unha de outras doenças, como psoríase, eczemas, traumas, líquen plano, deficiência de ferro, etc. A maioria dos estudos atesta que a onicomicose é responsável por apenas metade dos casos de lesões das unhas. Em várias situações não é possível afirmar que o paciente sofre de onicomicose apenas olhando e examinando a unha.

A imagem seguinte descreve alguns problemas das unhas (sem onicomicoses) cujas causas são diversas nomeadamente falta de hidratação, carências orgânicas, excesso de utilização de acetona, má alimentação e contato com produtos químicos.

É, por isso, importante demonstrar de forma clara a presença do fungo antes de se iniciar o tratamento antifúngico. Para tal, o médico deve fazer uma pequena raspagem da unha, colher amostras e enviar para avaliação laboratorial à procura de fungos.

Tratamento qual o melhor

A micose da unha é uma infecção difícil de tratar porque as unhas crescem lentamente e recebem pouca irrigação sanguínea. Durante muitos anos os medicamentos utilizados para o tratamento da onicomicose não eram muito eficazes e os resultados eram frequentemente decepcionantes. Porém, actualmente, os tratamentos melhoraram substancialmente, principalmente por causa da introdução de medicamentos antifúngicos orais mais eficazes.

Estudos recentes mostram que medicamentos por via oral como Terbinafina e Itraconazol, embora mais agressivos (mais efeitos secundários que os tratamentos tópicos) apresentam taxas de cura mais altas que a Griseofulvina e o Cetoconazol, que eram usadas antigamente.

Taxas de cura dos principais antifúngicos orais:

  • Terbinafina 250 mg (73 a 79%).
  • Itraconazol 100 mg (56 a 70%).
  • Griseofulvina (54 a 66%).
  • Fluconazol (43 a 52%).

O tratamento com Terbinafina com comprimidos por via oral deve ser feito durante 6 semanas para onicomicose das mãos ou 12 semanas para onicomicose dos pés.

O tratamento tópico da micose de unhas com vernizes, como o Ciclopirox, tem menor eficácia que o tratamento por via oral, mas pode ser usado como complemento da terapêutica com Terbinafina ou Itraconazol.

Uma vez curada a micose de unha, se o doente não tiver cuidado a taxa de reinfecção pode chegar a 50%. Portanto, é preciso ter cuidado com os pés para que a unhas não voltem a ficar colonizadas por fungos.

Efeitos secundários

Os tratamentos por via oral são os mais eficazes mas também os mais agressivos no que concerne a eventuais efeitos secundários, principalmente por causa da duração prolongada dos tratamentos.

Retida do folheto aprovado pelo INFARMED (Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de saúde) a longa lista de efeitos secundários da terbinafina que descrevo de seguida é elucidativa dos riscos associados ao tratamento, embora a maioria sejam classificados de pouco frequentes, raros ou muito raros!

Os problemas hepáticos (figado) embora raros são dos que podem causar problemas mais graves.

Efeitos secundários muito frequentes (podem afetar mais de 1 em cada 10 pessoas):

  • Sensação de enfartamento,
  • Perda de apetite,
  • Mal-estar de estômago (indigestão),
  • Náuseas, dor abdominal ligeira e diarreia,
  • Reações alérgicas cutâneas, tais como irritação ou urticária,
  • Dor nas articulações ou nos músculos.

Efeitos secundários Frequentes (podem afetar até 1 em cada 10 pessoas):

  • Dor de cabeça.

Efeitos secundários pouco frequentes (podem afetar até 1 em cada 100 pessoas):

  • Perda ou diminuição do sentido do paladar. Isto resolve-se
    geralmente dentro de várias semanas depois de ter parado de tomar o medicamento.
  • Diminuição do consumo de alimentos, levando a uma perda de
    peso significativa em casos graves muito raros.

Efeitos secundários raros (podem afetar até 1 em cada 1000 pessoas):

  • Dormência ou formigamento
  • Diminuição da sensibilidade
  • Tontura
  • Problemas de fígado.

Efeitos secundários muito raros (podem afetar até 1 em cada 10.000 pessoas):

  • Problemas de fígado graves,
  • Reações cutâneas graves (com aparecimento súbito, que
    podem ser recorrentes, que se podem espalhar, que podem aparecer sob a forma de
    bolhas salientes, que podem ser acompanhadas de comichão e febre),
  • Exacerbação da psoríase,
  • Redução de certos tipos de células sanguíneas (neutropenia, agranulocitose, trombocitopenia),
  • Perda de pelo,
  • Fadiga,
  • Reações de hipersensibilidade graves (inchaço da face, olhos e língua, dificuldade em engolir, náuseas e vómitos, fraqueza, tonturas, dificuldade em respirar) ,
  • Precipitação e exacerbação do lúpus eritematoso dérmico e
    sistémico,
  • Distúrbio menstrual (hemorragia intermenstrual e um ciclo
    irregular) em doentes que tomam terbinafina concomitantemente com contracetivos
    orais.

Tratamento tópico com cremes e vernizes

O tratamento por via tópica não é geralmente tão eficaz como o efectuado por via oral. No entanto pode ser uma alternativa quando os efeitos secundários dos antifungicos orais não são bem tolerados pelos doentes.

Principais antifúngicos tópicos

Actualmente os principais antifúngicos tópicos usados nas onicomicoses são:

  • Acido acético
  • Ciclopirox
  • Amorolfina
  • Clotrimazol (apenas depois de removida a parte da unha doente)

Tratamento por via tópica

1ª fase – Remoção da zona infectada da unha

Remover a zona infectada da unha é a 1ª fase para o tratamento da onicomicose. Esta remoção tópica é geralmente executada limando a unha ou aplicando uma pomada de ureia. A aplicação de uma pomada de ureia a 40% amolece e prepara a unha para a remoção da zona afectada com uma espátula própria, sem causar dor.

2ª fase – aplicação de um antifúngico local

Na 2ª fase, o tratamento deve ser completado com um creme antifúngico, de forma a eliminar a infecção na sua origem. A remoção da zona infectada da unha é fundamental para uma acção eficaz do creme antifúngico.

Resumindo as fases do tratamento:

  • Tratamento em 2 fases que garantem a eliminação da onicomicose;
  • Remoção da zona infectada da unha de uma forma simples e indolor, preparando-a para a 2º fase do tratamento, que consiste na aplicação de um creme antifúngico;
  • Melhorias visíveis diariamente.

Fungo na unha e micose melhorsaude.org

Prevenção da micose e fungo na unha

A onicomicose pode causar dor, embaraço e interferir com as nossas actividades diárias, reduzindo a nossa qualidade de vida.

Trata-se de uma doença contagiosa, que pode também funcionar como porta de entrada a outro tipo de infecções (ex. bacterianas). Deste modo, é importante iniciar o tratamento logo que detectado o problema, assim como adoptar medidas preventivas de forma a evitar o contágio.

Evitar o contágio do fungo na unha

  • Use calçado confortável sem saltos ou pontas estreitas e que deixe a pele respirar;
  • Use meias limpas e troque-as diariamente;
  • Em caso de infecção, ao vestir-se, calce primeiro as meias para evitar a propagação dos fungos a outras partes do corpo.
  • Lave os pés diariamente e seque com cuidado a zona entre os dedos;
  • Utilize chinelos nos balneários públicos;
  • Não partilhe toalhas ou tapetes de banho;
  • Corte as unhas e mantenha-as curtas.
  • Utilize um corta-unhas diferente para as unhas infectadas, de modo a evitar a infecção de outras unhas;
  • Se tiver Pé-de-Atleta, deve tratá-lo sempre, de forma a evitar que os fungos contagiem as unhas, causando a onicomicose.

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Concluindo

As micoses das unhas são infecções fúngicas comuns e contagiosas que embora não sejam graves são portas de entrada para outros microorganismos patogénicos, tais como bactérias, que podem causar infecções secundárias mais severas e agravar problemas de saúde pré-existentes. Devem portanto ser tratadas de imediato porque na primeira oportunidade que o nosso sistema imunitário esteja mais debilitado podem ocorrer infecções sem causa aparente mas que podem ter ocorrido em consequência da porta aberta pela onicomicose!

Fique bem!

Franklim Fernandes

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Micose fungo e pÉ DE ATLETA melhorsaude.org

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Varíola dos macacos monkeypox ou mpox clade I perigos

A varíola dos macacos (Monkeypox ou mpox) foi descoberta pela primeira vez em 1958, quando dois surtos de uma doença semelhante à varíola ocorreram em colónias de macacos mantidos para pesquisa, daí o nome “monkeypox”.

Segundo o Manual MSD a varíola do macaco, assim como a varíola, é um membro do grupo dos ortopoxvírus. Apesar do nome, os primatas não humanos não são reservatórios do vírus da varíola. Embora o reservatório seja desconhecido, os principais candidatos são pequenos roedores (p. ex., esquilos) nas florestas tropicais da África, principalmente na África Ocidental e Central.

A doença em humanos ocorre na África esporadicamente e em epidemias ocasionais. A maioria dos casos notificados ocorreu na República Democrática do Congo. Desde 2016, também foram notificados casos confirmados em Serra Leoa, Libéria, República Centro-Africana, República do Congo e Nigéria, que sofreu o maior surto recente.

Acredita-se que um aumento recente de 20 vezes na incidência seja decorrente da interrupção da vacinação contra a varíola em 1980; as pessoas que receberam a vacina contra a varíola, mesmo > 25 anos antes, têm menor risco de varíola símia. Casos da varíola símia na África também estão a aumentar porque as pessoas estão a invadir cada vez mais os habitats dos animais que carregam o vírus.

Nos EUA, em 2003, ocorreu uma epidemia de varíola do macaco quando roedores infetados, importados da África como animais de estimação, disseminaram o vírus para cães de estimação que, então, infetaram pessoas no Meio Oeste. Essa epidemia teve 35 casos confirmados, 13 prováveis e 22 suspeitos em 6 estados, mas não houve mortes.

Depois de a Suécia ter registado o primeiro caso de uma variante mais contagiosa e perigosa da doença, a Organização Mundial de Saúde alertou para a possibilidade de serem detetados na Europa outros casos importados de mpox, anteriormente conhecida como varíola dos macacos.

O mpox transmite-se sobretudo pelo contacto próximo com pessoas infetadas, incluindo por via sexual. A nova variante, clade I, pode ser facilmente transmitida por contacto próximo entre dois indivíduos, sem necessidade de contacto sexual, e é considerada mais perigosa do que a variante de 2022. A quase totalidade dos casos são homens, com idades entre os 19 e os 64 anos. Em 2022, uma epidemia mundial do subtipo clade II propagou-se a uma centena de países onde a doença não era endémica, afetando principalmente homens homossexuais e bissexuais.

Ao contrário de surtos anteriores, em que as lesões eram visíveis sobretudo no peito, mãos e pés, a nova estirpe causa sintomas moderados e lesões nos genitais, tornando-o mais difícil de identificar, o que significa que as pessoas podem infetar terceiros sem saber que estão infetadas.

Sinais e sintomas

Em humanos, os sintomas da varíola são semelhantes, mas mais leves do que os sintomas da varíola. Monkeypox começa com febre, dor de cabeça, dores musculares e exaustão. A principal diferença entre os sintomas da varíola e da varíola do macaco é que a varíola do macaco faz com que os gânglios linfáticos inchem (linfadenopatia), enquanto a varíola não. O período de incubação (tempo desde a infecção até os sintomas) da varíola dos macacos é geralmente de 7 a 14 dias, mas pode variar de 5 a 21 dias.

A doença começa com:

  • Febre
  • Dor de cabeça
  • Dores musculares
  • Dor nas costas
  • Linfonodos inchados
  • Arrepios
  • Exaustão
  • Dentro de 1 a 3 dias (às vezes mais) após o aparecimento da febre, o paciente desenvolve uma erupção cutânea, geralmente começando no rosto e se espalhando para outras partes do corpo.

As lesões progridem através dos seguintes estágios antes de cair:

  • Máculas
  • Pápulas
  • Vesículas
  • Pústulas
  • Escaras
  • A doença geralmente dura de 2 a 4 semanas. Na África, a varíola dos macacos causa a morte de até 1 em cada 10 pessoas que contraem a doença.

Transmissão

A varíola símia é provavelmente transmitida de animais através de secreções fisiológicas, como gotículas de saliva ou respiratórias ou contato com exsudato de feridas. A transmissão de um indivíduo para outro ocorre de modo ineficaz e acredita-se que ocorra principalmente por meio de grandes gotículas respiratórias via contato direto e pessoal prolongado. A taxa geral de ataque secundário depois do contato com uma fonte humana conhecida é de 3%, e taxas de ataque de até 50% foram relatadas em pessoas que vivem com uma pessoa infetada pela varíola do macaco. Também foi documentada transmissão em ambientes hospitalares. A maioria dos pacientes é criança. Na África, a taxa de casos fatais varia de 4 a 22%.

Diagnóstico

Clinicamente, a varíola símia é semelhante à varíola; entretanto, as lesões cutâneas ocorrem com mais frequência em surtos e a linfadenopatia ocorre na varíola símia, mas não na varíola humana. Infecção bacteriana secundária da pele e dos pulmões pode ocorrer.

A diferenciação clínica entre varíola do macaco e varíola e varicela (um herpesvírus, não um vírus pox) pode ser difícil. O diagnóstico da varíola símia é por cultura, PCR (polymerase chainreaction), exame imuno-histoquímico ou microscopia eletrônica, dependendo de quais testes estão disponíveis.

Tratamento

Não há tratamento seguro e comprovado para infecção por vírus da varíola do macaco. O tratamento da varíola símia é de suporte. Fármacos potencialmente úteis incluem:

  • Tecovirimat – fármaco antiviral tecovirimat, aprovado pela US Food and Drug Administration (FDA)] para o tratamento da varíola;
  • O fármaco antiviral cidofovir ou brincidofovir (CMX001)

Todas esses fármacos têm atividade contra a varíola símia in vitro e em modelos experimentais. Mas nenhum desses fármacos foi estudado ou utilizado em áreas endêmicas para tratar a varíola do macaco.


Prevenção

ACAM200 e JYNNEOSTM (também conhecido como Imvamune ou Imvanex) são as duas vacinas atualmente licenciadas nos Estados Unidos para prevenir a varíola. JYNNEOS também é licenciado especificamente para prevenir a varíola dos macacos.

A nova vacina contra varíola JYNNEOS foi autorizada pela FDA em 2019 para a prevenção tanto da varíola símia quanto da varíola. A aprovação foi baseada em dados sobre imunogenicidade e eficácia obtidos de estudos com animais. O Advisory Committee on Immunization Practices (ACIP) está atualmente avaliando a JYNNEOS para a proteção daqueles em risco de exposição ocupacional ao ortopoxvírus. A JYNNEOS não está disponível ao público.

Dados prévios da África sugerem que a vacina contra varíola é pelo menos 85% eficaz na prevenção da varíola símia, pois o vírus desta doença está intimamente relacionado com o vírus que causa a varíola.

Referências

DOENÇAS DE VERÃO TODA A VERDADE

Doenças de verão mais comuns toda a verdade. No verão não são apenas os escaldões que prejudicam a saúde, existem outras complicações que podem mesmo estragar as férias. Descrevo aqueles que são os oitos problemas de saúde mais comuns no verão e que são muitas vezes desvalorizados e alguns podem ser bastante perigosos!

Irritações nos olhos

Os óculos de sol podem não ser suficientes para a proteção dos olhos durante o verão. Mesmo que estejam colocados, os raios ultravioletas, as poeiras, pólenes e até mesmo cloro da água das piscinas podem causar serias irritações, como é o caso da inflamação na córnea ou conjuntivite.

Sintomas:

    • Dores
    • Visão nublada.
    • Prurido
    • Olho vermelho

Tratamento:

O tratamento principal passa por evitar as causas da irritação que muitas vezes é conhecida e recorrente em anos anteriores. A alergia aos pólenes é um exemplo flagrante em que deve evitar-se a saída para o exterior em dias quente e ventosos.

A aplicação local de um anti-histamínico em gotas oculares ou a toma de comprimidos é necessária com frequência quando os sintomas de prurido e irritação já se manifestam.

Quando o sintoma é dor ocular é urgente uma consulta médica.

Leia também: Doenças dos olhos mais comuns, toda a verdade!

Intoxicação alimentar

É no verão que os jantares de família e entre amigos mais acontecem, mas é também nesta estação do ano que as indisposições são mais frequentes. Entre comidas menos frescas ou escolhas menos adequadas para a temperatura ambiente, as intoxicações alimentares podem estragar uma viagem, principalmente se for ao estrangeiro e os níveis de higiene não estiverem assegurados.

Sintomas:

    • Cólicas,
    • Enjoos,
    • Diarreia
    • Vómitos.

Tratamento:

A hidratação é fundamental para controlar o mau estar e “limpar” o organismo. Uma consulta médica é necessária quando os sintomas são mais agressivos nomeadamente febre, vómitos ou diarreia.

Leia também: Será alergia ou intolerância alimentar, toda a verdade!

Otites

O calor pede muitas idas à água mas os mergulhos mal calculados ou as ondas mais agressivas com entrada de água nos ouvidos podem provocar vários problemas.

Sintomas:

    • Dores
    • Zumbidos
    • Dores de cabeça

Prevenção e tratamento:

Para prevenir esta situação, é recomendado o uso de tampões e a limpeza dos ouvidos após os mergulhos. Quando já existe otite é necessária uma consulta médica por causa do risco de infeção.

Leia também: Dores de ouvidos, toda a verdade!

Febre dos fenos:

Comum nos dias em que os níveis de pólenes estão mais elevados, esta doença começa por parecer uma mera alergia mas pode mesmo acabar no aparecimento de eczemas.

Sintomas:

    • Tosse
    • Corrimento nasal
    • Prurido
    • Dores de cabeça
    • Cansaço

Tratamento

Evitar a todo o custo sair à rua principalmente junto de zonas arborizadas, em dias de calor e vento de forma a evitar os pólenes e a reação de hipersensibilidade.

Se já está com uma crise então deve tomar um anti-histamínico como a cetirizina, loratadina e a desloratadina. Pode usar um spray nasal vasoconstritor , como o ácido cromoglicico, para aliviar os sintomas do nariz e um colírio  anti-histamínico se houver sintomas oculares como prurido e lacrimejo mais intenso. Em casos mais graves a consulta médica é necessária e pode acrescentar um corticosteroide para controlar os sintomas mais agressivos.

Leia também: Alergia e renite alérgica, toda a verdade!

Insolação:

A exposição excessiva ao sol e sem proteção provoca queimaduras usualmente chamadas de “escaldões”. Contudo, esta situação (muito comum no verão) é extremamente agressiva para a pele, podendo originar infeções e, nos casos mais graves, ao aparecimento de cancro na pele.

Sintomas:

    • Pele vermelha e quente
    • Suores frios,
    • Dores,
    • Cansaço,
    • Náusea,
    • Dores de cabeça,
    • Febre
    • Confusão

Tratamento:

  • Aplicar um gel com ação calmante sobre a pele afetada
  • Beber mais água
  • Tomar um anti-histamínico em comprimidos
  • Consultar com urgência um médico em caso de ser extensa a área do corpo afetada e/ou apresentar dores, febre, confusão e náuseas

Leia também: Onda de calor perigos fatais, toda a verdade!

Doença de Lyme (Febre da carraça)

As idas ao campo podem ser ótimas para relaxar mas podem também ser propícias a infeções bacterianas como a doença de Lyme. Transmitida por carraças, esta doença pode ser das mais graves a acontecer no verão.

Médicos dizem que está subdiagnosticada, não é de notificação obrigatória e pensava-se que não existia cá nem no resto da Europa. Só que nos últimos anos foram detetados milhares de casos.

Se algum dia foi mordido por uma carraça e tempos depois – meses, um ano, cinco, uma década ou mais – lhe diagnosticaram um problema ao nível do sistema nervoso central, talvez valha a pena perguntar ao seu médico o que acha sobre a despistagem da doença de Lyme. A mesma que se pode confundir com esclerose múltipla, artrite reumatoide ou fibromialgia, mas que será combatida com antibiótico. Trata-se, afinal, de uma bactéria, do género Borrelia (Borrelia burgdorferi) que se transmite através da mordida da carraça, mas que ainda está subdiagnosticada no nosso país.

Contudo, a transmissão apenas acontece se a carraça estiver em contacto com a pele da pessoa pelo menos 36 horas.

Sintomas:

    • Inchaço no local da picada
    • Dores nas articulações
    • Sintomas gripais
    • Febre,
    • Calafrios
    • Dores de cabeça.

Tratamento:

Se for picado por uma carraça deve imediatamente consultar um médico para avaliar o risco de infeção.

Leia também: Como retirar uma carraça perigosa!

Exaustão por calor

O calor provoca desidratação e temperaturas elevadas no corpo, que levam a que a pessoa se sinta cansada e sem forças. A hidratação, mais uma vez, é fundamental para manter o corpo com a temperatura ideal. Além disso, o exercício físico nos dias de calor deve ser moderado.

Erupções cutâneas

Seja por insolações, picadas de mosquitos ou eczemas provocados por irritações, as erupções cutâneas são comuns e podem provocar outros problemas dermatológicos.

Sintomas

São muito variados os sinais de erupções cutâneas.

    • Pele vermelha
    • Pele a descamar
    • Borbulhas
    • Prurido

Tratamento:

O tratamento depende do risco de infeção das lesões e da sua quantidade ou seja quanto mais lesões maior o risco de algumas infetarem. Deve ser dada especial atenção e consulta assistência médica se aparecer febre e dor local nas lesões. Nunca é demais lembrar que uma lesão na pele, principalmente quando existe ferida é uma porta de entrada de fungos, vírus e bactérias que podem estar na origem das mais variadas doenças.

Leia também: Picada de inseto pode ser fatal, como prevenir? Toda a verdade!

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Fique bem!

Franklim Moura Fernandes

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Polimedicação vs desprescrição como retirar medicamentos a mais?

Polimedicação vs desprescrição e efeitos adversos que provocam mais prescrição, como travar esse ciclo vicioso? Como farmacêutico comunitário este é um problema de confrontação diária em conversa com os meus utentes. Existem cada vez mais doentes crónicos polimedicados que tomam mais de 10 medicamentos por dia! Os efeitos adversos são inevitáveis mas muitas vezes são erradamente interpretados como novas doenças a tratar! Isto origina tipicamente um ciclo vicioso de polimedicação denominado cascata de prescrição que consiste basicamente na prescrição de mais medicamentos para tratar os efeitos secundários em vez de se tentar a desprescrição ou seja o desmame ou substituição do medicamento que está a causar esse efeito adverso.

Se é certo que em alguns casos graves não é possível retirar o medicamento que causa efeitos adversos noutros é perfeitamente exequível a desprescrição sendo até o mais adequado terapeuticamente… desde que o diagnóstico seja correto! Esta é sempre uma tarefa difícil que deve ser preparada em conjunto pelo médico e farmacêutico que assistem o doente.

Neste artigo descreve-se um caso típico de uma doente crónica idosa que toma 14 medicamentos diferentes por dia e quais os medicamentos que poderiam ser retirados do seu esquema terapêutico aplicando uma desprescrição adequada e segura.

Polimedicação caso de estudo

The University of British Columbia caso de estudo: Uma mulher de 70 anos é diagnosticada com Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC), apneia do sono obstrutiva, disfunção ventricular esquerda com obstrução da via de saída, hipertensão, embolia, insônia, ansiedade, depressão, comprometimento cognitivo leve e laringite inexplicável. Ela toma 14 medicamentos prescritos e 4 suplementos, mas prefere menos. A sua enfermeira de cuidados primários consulta um farmacêutico clínico de ambulatório para uma revisão abrangente da medicação.

A lista de patologias, medicamentos e respetiva posologia está descrita na tabela seguinte:

Coração/pressão arterial:Doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC):
1. Espironolactona 25mg/dia de manhã8. Tiotrópio 2,5mcg 2 inalações de manhã
2. Diltiazem 180mg/dia de manhã9. Budesonida 100mcg / formoterol 6mcg 2xdia
3. Bisoprolol 2,5mg/dia de manhã10. Salbutamol 100mcg 3xdia se necessário
4. Furosemida 40mg 2/2 dias de manhãAnsiedade/Depressão/Sono:
5. Rosuvastatina 10mg/dia ao deitar11. Venlafaxina 300mg/dia de manhã
Prevenção de tromboembolismo venoso:12. Mirtazapina 30mg/dia ao deitar
6. Rivaroxabano 20mg/dia à noite13. Clonazepam 0,25mg/dia ao deitar
Suspeita de refluxo gástrico (sem sangramento):14. Melatonina 3mg/dia ao deitar
7. Pantoprazol 40mg/dia de manhã15.-18. Ferro, cálcio, vitamina C e vitamina D
Fonte: The University of British Columbia, Therapeutics letter 138 July-August 2022

Cascatas de prescrição escondidas

Antes inimagináveis, listas de medicamentos intimidadoras agora são comuns.1 A mitigação pode ser mais fácil se os prescritores e farmacêuticos dispensadores reconhecerem o potencial de “cascatas de prescrição” e começarem a “especializar-se” também em desprescrição. Cunhado por dois geriatras em 1995,2 “uma cascata de prescrição começa quando um medicamento é prescrito, ocorre um evento adverso de medicamento que é interpretado erradamente como uma nova condição médica e um medicamento subsequente é prescrito para tratar esse efeito adverso induzido por medicamento.”3 As sequelas também incluem medicamentos não sujeitos a receita médica ou dispositivos médicos (por exemplo, inserção de pacemaker cardíaco).

As potenciais cascatas de prescrição identificadas, neste caso de estudo, são as que constam da tabela seguinte, que apresenta os medicamentos usados (coluna 1), os efeitos adversos mais comuns dessa medicação (coluna 2) e os fármacos acrescentados a esta medicação crónica apenas para combater os efeitos secundários (coluna 3).

MedicamentoEfeito adverso comumCascata de prescrições possível (para combater efeitos adversos)
DiltiazemEdema periféricoFurosemida para tratar edema erradamente diagnosticado como excesso de volume ou insuficiência cardíaca noturna
TiotrópioAnticolinérgico: Rouquidão/laringitePantoprazol para reduzir o ácido gástrico erradamente diagnosticado como refluxo gástrico
BudesonidaCorticosteroide: Candidíase/rouquidãoPantoprazol
MirtazapinaAnticolinérgico: Esvaziamento gástrico deficiente; Rouquidão/laringitePantoprazol
VenlafaxinaNáuseas, indigestão, mal-estar gástricoPantoprazol
VenlafaxinaInsónia, agitação, ansiedadeClonazepam, melatonina, mirtazapina
VenlafaxinaTaquicardia/palpitaçõesBisoprolol com dose aumentada
PantoprazolAbsorção de ferro deficienteSuplemento de ferro
Sulfato de ferro (FeSO4)Náuseas e indigestãoPantoprazol
Fonte: The University of British Columbia, Therapeutics letter 138 July-August 2022

Prescrições adicionadas para combater um ou mais efeitos de medicamentos podem induzir quedas por super sedação, “distúrbio cognitivo leve” ou outros efeitos anticolinérgicos (anti muscarínicos) ou efeitos adversos de um Inibidor da Bomba de Protões (IBP). Dado o interesse dessa mulher em desprescrever, o farmacêutico clínico também questionou outros medicamentos da sua lista.

Efeitos adversos e cascatas de prescrição

Os estudos publicados sobre cascatas de prescrição concentram-se em várias classes de medicamentos.4 Os identificados anteriormente incluem alguns dos 200 medicamentos mais frequentemente prescritos. Descrevo de seguida sete exemplos predominantes sobre possíveis cascatas de prescrição.

Medicamentos anticolinérgicos >> disfunção cognitiva >> medicamentos para a demência

Medicamentos anticolinérgicos (por exemplo, antidepressivos tricíclicos, ciclobenzaprina, mirtazapina, Quetiapina, oxibutinina)5 bloqueiam a neurotransmissão acetilcolinérgica no cérebro, prejudicando a cognição e a memória mesmo na presença de inibidores da acetilcolinesterase (AChE-I: donepezilo, galantamina, rivastigmina).6,7 O declínio cognitivo percebido como uma nova condição ou agravamento da demência pode levar a novas prescrições ou aumento das doses de AChE-I.8,9

Medicamentos para a demência >> incontinência >> medicamentos anticolinérgicos

Por outro lado, os inibidores da acetilcolinesterase (AChE-I) podem causar incontinência urinária ou fecal, que pode causar uma “cascata” para prescrição de um anticolinérgico. Dois estudos encontraram aumento do uso de medicamentos antimuscarínicos da bexiga (por exemplo, oxibutinina) após prescrição de inibidores da colinesterase para demência.10 Bradicardia ou síncope (muscarínica) ou cãibras musculares (nicotínicos) são outros efeitos colinérgicos que podem precipitar novos tratamentos.11-13

Anticolinérgicos >> dispepsia/refluxo >> medicamentos inibidores da bomba de protões

Dispepsia ou azia devido ao esvaziamento gástrico retardado podem ser confundidos com refluxo gastrointestinal espontâneo. Essa associação foi sugerida como uma possível cascata em um estudo que avaliou prescrições de IBPs de longa data.14 Num estudo nos EUA com 248 residentes de casas de repouso, a probabilidade de receber um IBP aumentou com a carga anticolinérgica. Similarmente um grande estudo de coorte, de idosos com demência, na da Nova Escócia sugeriu que os anticolinérgicos aumentaram a prescrição de IBP “consistente com uma cascata de prescrição”.16

Anticolinérgicos >> obstipação >> medicamentos laxantes

A obstipação induzida por medicamentos é uma associação bem conhecida e confirmada por uma revisão sistemática de 2021.17 Entre os residentes de casas de repouso italianas, os antidepressivos tricíclicos aumentaram o uso de laxantes (OR 2,98, IC 95% 1,31-6,77), assim como outros antidepressivos, especialmente mirtazapina ( OR 1,37, IC 95% 1,09-1,71).18

Bloqueadores dos canais de cálcio / gabapentina/pregabalina >> edema >> medicamentos diuréticos

Os bloqueadores dos canais de cálcio dihidropiridínicos (BCC), tais como, por exemplo, amlodipina, lercanidipina, nifedidina e felodipina, frequentemente causam edema dose-dependente, afetando até 30% dos pacientes idosos.19,20 Dois estudos de coorte recentes descobriram que as prescrições de furosemida aumentaram em pessoas que tomam BCC, em comparação com outros anti hipertensivos.21,22 A redução ou interrupção de um BCC pode ser preferível à adição de furosemida, dada a sua multiplicidade efeitos adversos.

A gabapentina e a pregabalina também causam edema periférico dose-dependente. Na dor crônica, isso afeta até 9% das pessoas que tomam gabapentina e 10% para pregabalina (até 4 vezes versus placebo).23-25 Um grande estudo de coorte de Ontário de 2011-2019 encontrou aumento nas prescrições de diuréticos de alça após o início de gabapentina/pregabalina para dor lombar de início recente em idosos (HR: 1,44, IC 95%: 1,23, 1,70; aumento do risco absoluto 0,7%).26 Ambos podem ser associada ao diagnóstico inadequado de insuficiência cardíaca.27

Desordem de movimentos induzida por medicamentos >> medicamentos anti Parkinson

A maioria dos antipsicóticos, alguns antidepressivos e os antieméticos metoclopramida e proclorperazina bloqueiam os recetores de dopamina ou causam distúrbios do movimento por outros mecanismos. Esses eventos adversos podem ser confundidos com a doença de Parkinson.28 Embora um estudo canadiano tenha achado essas cascatas de prescrição incomuns,10 outros veem mais motivos para preocupação. As prescrições de antipsicóticos, antidepressivos e metoclopramida mais recentes e mais antigos foram associadas ao aumento da prescrição subsequente de l-DOPA/carbidopa e outros medicamentos antiparkinsonianos.3,28-32

Hipertensão induzida por medicamentos >> medicamentos anti-hipertensores

Cerca de 15% dos adultos americanos (19% dos adultos com hipertensão) tomam um medicamento que pode aumentar a pressão arterial.33 Antidepressivos (8,7% dos adultos) e AINEs prescritos (6,5%) foram os candidatos potenciais mais frequentes para uma cascata de prescrição pouco reconhecida.

Desprescrição

A desprescrição ou seja prevenir, detetar e reverter cascatas de prescrição não é fácil.34 Os pesquisadores citados nesta Carta propõem uma abordagem abrangente, enquanto a Canadian Deprescribe Network oferece uma mais simples para o público.4,35,36 Reconhecer e intercetar cascatas ainda requer conhecimento e revisão especializada de medicamentos, incluindo atenção a cascatas conhecidas.37 Como um revisor médico rural desta Carta escreveu:

“O problema é em grande parte a nossa mentalidade de tratar reflexivamente novos sintomas com medicamentos, sem primeiro pensar em relação aos efeitos colaterais induzidos por medicamentos em pacientes que já tomam muitos”.

Conclusões

▪ As cascatas de prescrição causam polimedicação e danos evitáveis.

▪ Preveni-los por meio de prescrição cuidadosa baseada em indicação e triagem de cascatas durante as revisões de medicamentos. Utilizar o farmacêutico especializado ou consulta médica quando disponível.

▪ Comece pela familiarização com cascatas envolvendo medicamentos comuns na atenção primária; reduza as doses se a desprescrição parecer muito radical.

▪ Identificar uma cascata de prescrição é um momento de aprendizagem, use-o.

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Reducing prescribing cascades https://www.ti.ubc.ca/wordpress/wp-content/uploads/2022/09/138.pdf

Esquizofrenia 30 respostas essenciais toda a verdade!

Esquizofrenia (schizophrenia) 30 respostas essenciais! Segundo a Associação de Educação e Apoio na Esquizofrenia (AEAPE) a doença mental e a esquizofrenia em particular são condições de saúde sub-diagnosticadas e de enorme dificuldade de gestão no que concerne à vida relacional e social dos doentes e suas famílias. Tratam-se de problemas muito graves que podem destruir a vida de muitas pessoas se o diagnóstico não for atempado, correto e a abordagem terapêutica e apoio familiar não for adequado!

Este artigo pretende ser um contributo para melhorar a escassa informação da população em geral sobre esta doença mental em particular.

Neste artigo vou responder ás seguintes 30 questões:

  1. O que é a esquizofrenia?
  2. O que é uma alucinação?
  3. O que são delírios?
  4. Quais os sinais precoces de esquizofrenia?
  5. Qual a prevalência da esquizofrenia na população?
  6. Como evoluíram os medicamentos para a esquizofrenia e os antipsicóticos de 1ª geração?
  7. Quais os novos antipsicóticos de 2ª geração?
  8. Os antipsicóticos provocam dependência?
  9. Os antipsicóticos provocam ou não um efeito “zombie”?
  10. O que acontece se interromper a medicação?
  11. Quais os efeitos secundários?
  12. O que é a Discinesia tardia?
  13. Qual a relação entre o tabaco e a esquizofrenia?
  14. Qual o impacto da esquizofrenia?
  15. O abuso de substância ilícitas pode causar esquizofrenia?
  16. Como se faz o diagnóstico da esquizofrenia?
  17. Quais as causas?
  18. De que forma a família e os amigos podem ajudar?
  19. O que pode esperar dos médicos responsáveis pelo tratamento?
  20. Os esquizofrénicos são violentos e agressivos?
  21. O que costumam sentir os familiares?
  22. Como gerir os sentimentos?
  23. Como lidar com o doente diariamente?
  24. O que fazer quando o doente chega a casa após internamento?
  25. Quais as atitudes corretas da família para ajudar o doente?
  26. Quais as técnicas mais úteis?
  27. O que se deve evitar no contacto com o doente?
  28. Como promover uma melhor adesão à terapêutica?
  29. Qual o papel dos medicamentos?
  30. Quais as principais causas da falta de adesão ao tratamento?

No final disponibilizamos, na nossa área reservada, o relatório sobre saúde mental em Portugal vs Europa e EUA. Conheça os dados e tabelas mais surpreendentes desse relatório!

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Esquizofrenia o que é?

A Esquizofrenia é uma perturbação psiquiátrica, provavelmente das mais angustiantes e incapacitantes. A esquizofrenia é muitas vezes descrita de forma incorreta como “dupla personalidade”. Este termo pode constituir a tradução literal mas a esquizofrenia é na realidade uma patologia do cérebro, que afeta de forma grave o modo de pensar da pessoa, a sua vida emocional e o comportamento em geral.

As pessoas com esquizofrenia sofrem de sintomas psicóticos. Entre estes, contam-se:

  • Alucinações (por ex. ver ou ouvir coisas que não existem),
  • Delírios (ter crenças de natureza bizarra ou paranoide que não são verdadeiras),
  • comportamento agressivo,
  • Insónia,
  • Alterações da memória e da concentração
  • Medo intenso.

Os delírios e as alucinações são exemplos de sintomas denominados “positivos”.

Os “sintomas negativos” também surgem na esquizofrenia:

  • As pessoas ficam ausentes e alheadas,
  • Mostram muito pouca iniciativa,
  • Não conseguem sentir prazer e
  • Têm uma vida emocional pobre

Muitas vezes, as pessoas com esquizofrenia isolam-se socialmente, e têm grandes dificuldades nas relações interpessoais, sobretudo em situações de maior stress. Todos estes sintomas originam alterações na maneira de ser da pessoa, que começa também a ter dificuldades no desempenho escolar e/ou laboral.

Uma importante característica reside no facto de as pessoas com esquizofrenia não acreditarem que estas ideias/sintomas se devem a uma doença, algo que os médicos denominam falta de “insight” ou de “juízo crítico”. Este é um fator determinante para o atraso na busca de ajuda médica, mas também para a aceitação do tratamento necessário.

Alucinações

Uma alucinação surge quando alguém vê, ouve, saboreia ou sente coisas que na verdade “não existem”. As alucinações mais frequentes na esquizofrenia são auditivas, e mais especificamente auditivo-verbais (i.e. a pessoa ouve vozes a falar consigo sem estar ninguém por perto). Alguns doentes podem “sentir” bichos debaixo da pele ou dispositivos dentro do corpo, e também podem achar que a comida tem um sabor diferente. As alucinações podem surgir em pessoas sob o efeito de drogas ou em indivíduos com esquizofrenia. As alucinações podem ser muito assustadoras, pois para os doentes são “reais”.

Delírios

Os delírios são crenças falsas, de natureza bizarra ou paranoide, que não são partilhadas pelo resto da sociedade ou do meio em que o indivíduo vive. Os delírios mais comuns na esquizofrenia têm a ver com a perseguição e os indivíduos acham que existe uma conspiração para os prejudicar ou a alguém que lhes é querido. Também é frequente acreditarem que são Deus, a Virgem Maria ou alguém importante, ou que foram imbuídos de uma missão neste Mundo. Os delírios podem ser bizarros e os doentes acreditarem que o seu pensamento é manipulado por máquinas ou extraterrestres.

Os delírios têm de tal modo um papel importante na vida da pessoa, que a mesma é drasticamente afetada. Por exemplo, se as pessoas que estão a sofrer de delírios pensam que alguém as está a tentar envenenar, poderão deixar de se alimentar, ou ser eles a preparar a comida, ou só comer comida embalada.

Primeiros sinais

Os primeiros sinais da esquizofrenia aparecem tipicamente na adolescência ou no início da idade adulta. Os sintomas da doença são difíceis de identificar, sobretudo na fase inicial, pois confundem-se com “queixas” habituais nesta fase da vida. Habitualmente o comportamento da pessoa muda, e esta começa a isolar-se e a achar que o Mundo está diferente e que algo de estranho vai acontecer. É muito comum surgir tristeza, ansiedade, dificuldades com o sono e/ou com o apetite e outras queixas relativamente inespecíficas. A doença pode demorar semanas a anos a manifestar-se completamente, e quando surgem os sintomas mais típicos (i.e. alucinações e delírios) diz-se que o doente teve um 1º surto psicótico. Estes sintomas deixam as pessoas afetadas pela doença muito limitadas na sua capacidade de interagir com outras pessoas e de manter o seu ritmo de vida habitual.

Sinais precoces

  • Isolamento social e deixar de passar muito tempo com pessoas da mesma idade;
  • Perda de memória, por exemplo esquecer-se onde as coisas foram colocadas;
  • Alterações da perceção: quando os objetos mudam de forma ou de cor;
  • Paranoia: pensam que alguém está a falar acerca delas e que as coisas estão a ser feitas “nas suas costas”;
  • Preocupação extrema com religião, filosofia, o paranormal, etc.; ou mesmo tornar-se membro de uma seita ou culto;
  • Alterações do pensamento: argumentos incoerentes, ilógicos ou demasiadamente abstratos;
  • Dificuldade em manter a atenção: distrair-se com facilidade;
  • Tristeza ou depressão;
  • Agressividade, irritabilidade ou hostilidade inesperada;
  • Falta de energia;
  • Falta de prazer nas atividades que lhe eram habituais;
  • Perturbações do sono: muitas não conseguindo dormir noites seguidas;
  • Medo, tremor das mãos ou voz trémula;
  • Perda de apetite, ou apetite voraz;

Prevalência na população

A esquizofrenia afeta entre 1% das pessoas durante a sua vida. A esquizofrenia surge em todo o mundo, sendo a prevalência da doença muito semelhante entre os diferentes países. Os homens e as mulheres têm risco idêntico de desenvolver a doença; contudo, nos homens  a doença manifesta-se habitualmente entre os 16 e os 25 anos, enquanto que nas mulheres tal acontece um pouco mais tarde, entre os 25 e os 30 anos.

Medicamentos e outros tratamentos

Os medicamentos e outros tratamentos para a esquizofrenia, quando usados regularmente e de acordo com a prescrição, podem ajudar a reduzir e a controlar os sintomas incapacitantes da doença. No entanto, algumas pessoas não conseguem obter ajuda considerável a partir dos tratamentos disponíveis pois interrompem prematuramente o tratamento devido aos efeitos secundários desagradáveis dos mesmos, por não acreditarem que têm uma doença psiquiátrica, ou por outras razões. Mesmo quando o tratamento é eficaz, as consequências da doença são persistentes (tais como dificuldades relacionais e de integração, dificuldades cognitivas, estigma e sintomas residuais) e podem ser muito difíceis e limitantes para os doentes, impedindo-os de terem uma vida normal.

Evolução do tratamento

Os primeiros medicamentos eficazes para o tratamento da esquizofrenia foram desenvolvidos na década de 50 do século XX. Existe uma série de medicamentos antipsicóticos diferentes, ditos “convencionais”. Estes medicamentos parecem atuar sobretudo através da redução dos efeitos do neurotransmissor dopamina no cérebro. A sua principal eficácia consiste no tratamento dos sintomas positivos, o que permite a muitos doentes permanecerem fora do hospital e desempenharem relativamente bem as suas funções na comunidade.

No entanto, os antipsicóticos convencionais não parecem ser tão eficazes nos sintomas negativos da esquizofrenia nem nos sintomas relacionados com o humor (sintomas afetivos). Além disso, alguns doentes podem responder de forma incompleta ou mesmo não responder a estes medicamentos. Os antipsicóticos convencionais apresentam também uma série de efeitos adversos desagradáveis e os doentes podem ter a necessidade de tomar outros medicamentos para contrariar e reduzir estes efeitos. Os efeitos secundários podem contribuir para que os doentes não tomem os seus medicamentos (falta de adesão), o que pode levar ao reaparecimento dos sintomas da esquizofrenia e a novos episódios (recaídas).
No final do século XX, surgiram diversos medicamentos eficazes para a esquizofrenia com um perfil de efeitos secundários diferente dos antipsicóticos mais antigos e eficácia semelhante.

Novos medicamentos

Os novos antipsicóticos, também chamados atípicos ou de 2ª geração, parecem bloquear quer os efeitos da dopamina quer da serotonina e parecem ter efeito numa gama mais alargada de sintomas da esquizofrenia. De facto, são eficazes no tratamento das alucinações e dos delírios e podem ser úteis noutros sintomas, como os sintomas negativos da doença (por ex. falta de motivação ou a pobre expressão emocional).

A grande maioria das pessoas com esquizofrenia mostram melhoria substancial quando tratadas com medicamentos antipsicóticos. De facto, quando existe a certeza que o indivíduo tem o diagnóstico de esquizofrenia, deverá ser tratado com fármacos antipsicóticos pelo menos por um período de tempo.

Principais antipsicóticos

Antipsicóticos de 1º geração

Os principais antipsicóticos de 1ª geração e as doses mais eficazes são os seguintes:

  • Clorpromazina (Largactil®), de 50mg duas vezes ao dia até 100mg quatro vezes ao dia;
  • Haloperidol(Haldol®)/Flupentixol(Fluanxol®), de 1mg por dia a 5mg quatro vezes ao dia;
  • Supiride (Dogmatil®), de 100mg duas vezes ao dia a 200mg quatro vezes ao dia;

Antipsicóticos de 2ª geração

Os antipsicóticos de segunda geração são prescritos em doses francamente mais baixas, aliás em consonância, também, com a evidência de que é em doses mais baixas que são mais úteis. Os principais antipsicóticos de 2ª geração e as doses mais eficazes são os seguintes:

  • Risperidona (Risperdal®), de 1-6mg ao dia;
  • Olanzapina (Zyprexa®), de 10-20mg ao dia;
  • Clozapina (Leponex®), de 400-600mg ao dia;

Como frequentemente os antipsicóticos não permitem resultados satisfatórios, há a prática de lhes associar outros fármacos tais como:

  • Benzodiazepinas,
  • Antidepressivos,
  • Anticonvulsivantes,
  • Outros antipsicóticos.

Por outro lado, sabendo-se dos riscos e problemas que este tipo de fármacos comporta, a boa prática consistirá, exatamente, em prescrever as doses mínimas possíveis, devendo, sempre que possível, a farmacoterapia ser combinada com terapias psicológicas (Healy, 2005).

Efeitos secundários dos antipsicóticos

Os antipsicóticos podem originar uma grande variedade de reações adversas. Essas reações poderão estender-se à generalidade dos sistemas corporais. Uma das consequências mais graves é o chamado síndroma neuroléptico tardio, que pode ser fatal e que pode provocar:

  • Catatonia: A Catatonia é uma perturbação do comportamento motor que pode ter tanto uma causa psicológica ou neurológica. A sua forma mais conhecida envolve uma posição rígida e imóvel que pode durar horas, dias ou semanas. Mas também pode se referir a agitação motora sem propósito mesmo sem estímulos ambientais. Uma forma menos extrema de catatonia envolve atividade motora muito lenta
  • Disartria: Disartria é uma perturbação neurológica caracterizada pela dificuldade em articular as palavras de maneira correta.
  • Febre,
  • Mudanças na pressão sanguínea,
  • Rigidez muscular,
  • Estupor: Estupor é um estado de consciência ou sensibilidade apenas parcial ou insensibilidade acompanhada por pronunciada diminuição da faculdade de exibir reações motoras.
  • Taquicardia: Taquicardia é um termo médico utilizado para designar um aumento da frequência cardíaca. Convenciona-se como normal no ser humano com mais de 15 anos, uma frequência cardíaca entre 60 e 100 batimentos por minuto. A partir de 100, inclusive, considera-se que há taquicardia.

Sintomas extrapiramidais induzidos por neurolépticos (SEP)

Tomados como um conjunto, os vários distúrbios poderão agrupar-se num vasto padrão de reações ou sintomas extrapiramidais. Segundo Pagliaro & Pagliaro (1998), cerca de 30% das pessoas medicadas com “antipsicóticos” desenvolvem algum tipo de reação extrapiramidal. Numa população clínica de 4000 pessoas tratadas com neurolépticos, Ayd (1991, citado por Cohen, 1997) estimou em cerca de 62% a percentagem de pessoas afetadas por SEP desencadeados por aquele tipo de medicação.

Uma das particularidades mais perturbantes nos SEP é a sua semelhança com distúrbios psicopatológicos comuns. Daí que possam não ser reconhecidos como provocados pela própria medicação e ser atribuídos a outras causas. Daqui resulta, frequentemente, que as pessoas são reforçadas nessa mesma medicação ou iniciadas noutras medicações. Acrescente-se que, além do mais, estes SEP são muitas vezes irreversíveis (mesmo depois de retirada da medicação).

As reações extrapiramidais incluem a ACATÍSIA (impossibilidade da pessoa estar quieta, não conseguindo manter-se sentada em sossego ou dormir), DISQUINÉSIA (perturbação nos movimentos musculares voluntários), DISTONIA (ocorrência de súbitos espasmos musculares, particularmente afetando a cabeça e pescoço) e outros, como a lentificação da fala, a hipersalivação (a pessoa “baba-se”), o PARKINSONISMO (com bradiquinésia, fazer “caretas”, rigidez no rosto, tremores).
De notar que cada um destes síndromas pode ocorrer isoladamente ou concomitantemente com qualquer um dos outros. Qualquer um deles, para além do mais, poderá aparecer em qualquer momento do tratamento com neurolépticos (podem ser dias ou meses após o início da sua toma).

Os antipsicóticos provocam habituação?

Os doentes e as suas famílias ficam muitas vezes preocupados com os medicamentos antipsicóticos utilizados para tratar a esquizofrenia. Além das preocupações relativas aos efeitos secundários, preocupam-se com o facto de estes medicamentos poderem levar à habituação. No entanto, os fármacos antipsicóticos não produzem (euforia) nem dependência (vício) nas pessoas que os tomam.

Antipsicóticos e efeito “zombie”

Uma outra ideia errada relativa aos medicamentos antipsicóticos consiste em considerar que estes atuam como uma espécie de controladores da mente ou como um “colete-de-forças químico”. Se usados nas doses apropriadas, os fármacos antipsicóticos não põem as pessoas “como zombies” nem lhes retiram a sua livre decisão. Embora estes fármacos possam ser sedativos, este efeito pode ser útil em circunstâncias especiais (tal como no início do tratamento, especialmente se o indivíduo estiver muito agitado e/ou com insónia grave). No entanto, a utilidade destes fármacos não se deve à sua capacidade sedativa, mas sim à capacidade em reduzir as alucinações, os delírios, a agitação e outros sintomas associados a um episódio/surto psicótico. Desta forma, os medicamentos antipsicóticos acabam por ajudar os indivíduos com esquizofrenia a lidar com o mundo duma forma mais racional.

Os antipsicóticos reduzem o risco de episódios psicóticos futuros em doentes que recuperaram dum episódio agudo (evitam uma recaída). No entanto, na maioria dos casos em que o tratamento é interrompido, a recaída acaba por acontecer, habitualmente passadas semanas ou meses. Se bem que não seja correto dizer que o tratamento continuado “evita” o aparecimento de recaídas, sem dúvida que reduz a frequência e intensidade das mesmas. O tratamento dos sintomas psicóticos graves exige geralmente doses mais elevadas do que as utilizadas para o tratamento de manutenção. Se os sintomas reaparecem com uma dose mais baixa, um aumento temporário pode prevenir o aparecimento duma recaída completa.

O que acontece se interromper a medicação?

Uma vez que as recaídas são mais prováveis quando os medicamentos antipsicóticos são interrompidos ou tomados de forma irregular, é muito importante que as pessoas com esquizofrenia colaborem com os seus médicos e famílias de forma a manterem-se fiéis ao seu esquema de tratamento. Isto envolve tomar o medicamento apropriado na dose correta e nas alturas certas do dia, ir às consultas médicas e seguir de forma escrupulosa todos os outros procedimentos relacionados com o tratamento. Embora isto seja muitas vezes difícil para as pessoas com esquizofrenia, tal fardo pode tornar-se mais leve com a ajuda de várias estratégias e consequentemente pode conseguir-se uma melhoria da qualidade de vida.

Efeitos secundários

Os antipsicóticos, tais como quase todos os medicamentos, para além dos seus efeitos benéficos podem ter efeitos indesejáveis. Durante a fase inicial do tratamento, os doentes podem queixar-se de:

  • Sonolência,
  • Agitação,
  • Espasmos musculares,
  • Tremor,
  • Secura de boca,
  • Visão turva.

A maioria deles pode ser corrigida com a diminuição da dose ou podem ser controlados com outros medicamentos. A resposta ao tratamento com antipsicóticos e os efeitos secundários associados variam de doente para doente. Determinados doentes podem responder melhor a um fármaco que a outro.

Discinesia tardia

Os efeitos dos antipsicóticos quando tomados a longo-prazo, podem colocar um problema consideravelmente mais grave. A discinesia tardia (DT) é uma situação que se caracteriza por movimentos involuntários, na maioria das vezes afetando a boca, lábios e língua e algumas vezes o tronco ou outras partes do corpo tais como os braços e as pernas. Ocorre em cerca de 15 a 20% dos doentes que foram medicados com os antipsicóticos mais antigos (i.e. convencionais) durante muitos anos, mas a discinesia tardia também pode surgir em doentes medicados com estes fármacos durante períodos mais curtos de tempo. Na maioria dos casos, os sintomas da discinesia tardia são ligeiros e o doente pode nem ter consciência deles, mas em alguns casos podem ser muito graves e incapacitantes.

Os novos antipsicóticos (i.e. atípicos ou de 2ª geração) parecem ter um risco muito menor de produzir DT que os fármacos mais antigos. No entanto, o risco não é nulo e por sua vez podem produzir outros efeitos secundários tais como:

  • Sonolência,
  • Aumento de peso,
  • Aumento do colesterol

Embora os medicamentos mais recentes sejam geralmente melhor tolerados que os convencionais, o perfil de efeitos adversos dos antipsicóticos atípicos varia de fármaco para fármaco, e estas diferenças podem afetar a adesão do doente ao esquema de tratamento. No entanto, os novos antipsicóticos constituem um avanço muito importante no tratamento destes doentes, e a optimização do seu uso em doentes com esquizofrenia é um tema atualmente objeto de investigação aprofundada.

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Impacto da esquizofrenia

A maioria das pessoas com esquizofrenia sofre ao longo das suas vidas, perdendo desta forma oportunidades de carreira e de relacionamento com outros indivíduos. Como consequência da falta de compreensão por parte da sociedade relativamente à doença, as pessoas com esquizofrenia muitas vezes sentem-se isoladas e estigmatizadas, e podem ter relutância ou dificuldade em falar sobre a sua doença. Embora a disponibilidade de novos medicamentos com menos efeitos secundários tenha melhorado a vida de muitos doentes, atualmente apenas uma pessoa em cada cinco das afetadas pode atingir a “recuperação” da doença, sendo que uma em cada dez pessoas com esquizofrenia acaba por cometer suicídio.

De todas as doenças mentais, a esquizofrenia é provavelmente a que apresenta mais dificuldades para todos os envolvidos. Os doentes sofrem, sem qualquer dúvida, uma enorme perturbação das suas vidas. No entanto, as famílias e os amigos são também profundamente afetados, devido à angústia de verem os efeitos da doença no seu ente querido, e como resultado da sobrecarga derivada da necessidade de assistência ao doente.

Enfrentar os sintomas da esquizofrenia pode ser especialmente difícil para os membros da família que se recordam de como a pessoa era ativa e dinâmica antes de ficar doente. Apesar de existirem inequívocas evidências do contrário, algumas pessoas ainda acreditam que a causa da esquizofrenia são maus pais ou falta de força de vontade. Ora, tal não é de todo o caso. A esquizofrenia é uma doença complexa, que se pensa ser devida a vários fatores atuando em conjugação. Estes fatores parecem incluir:

  • Influências genéticas,
  • Traumatismos (lesões) do cérebro na altura da gravidez ou após o nascimento,
  • Efeitos sociais e/ou stress,
  • Consumo de algumas drogas.

Outros parâmetros podem também ser importantes, mas nenhum fator pode ser incriminado isoladamente como causa da esquizofrenia. Em vez disso, pensa-se que cada um destes fatores pode aumentar o risco de que uma pessoa venha a manifestar a doença.

Abuso de substâncias ilícitas

O abuso de substâncias ilícitas é uma preocupação comum das famílias de pessoas com esquizofrenia. Uma vez que algumas pessoas que abusam de fármacos, apresentam sintomas semelhantes aos das que sofrem de esquizofrenia, as pessoas com esta doença podem ser olhadas erradamente como pessoas que tomaram “muitas drogas”.

As pessoas que têm esquizofrenia muitas vezes consomem álcool e/ou drogas de forma excessiva e podem ter reações particularmente negativas a certas drogas. O abuso de substâncias pode também reduzir a efetividade do tratamento para a esquizofrenia. Os estimulantes (por ex. anfetaminas e cocaína) parecem ser especialmente prejudiciais em doentes com esquizofrenia, e algumas pessoas sofrem um agravamento dos sintomas quando consomem estas drogas. O abuso de substâncias também reduz a probabilidade dos doentes seguirem o plano de tratamento recomendado pelos seus médicos.

Relação com o tabaco

A forma mais comum de dependência de substâncias em doentes com esquizofrenia é a dependência de nicotina por consumo excessivo de tabaco. A prevalência do tabagismo em doentes com esquizofrenia é cerca de três vezes superior à da população em geral, mas a relação entre o tabaco e a esquizofrenia é complexa. Embora as pessoas com esquizofrenia possam fumar para se “automedicarem” e aliviarem alguns dos seus sintomas, o tabaco parece interferir com o efeito de alguns fármacos antipsicóticos, pelo que os doentes que fumam muito podem necessitar de doses mais elevadas de medicação antipsicótica.

Diagnóstico

A maioria das doenças psiquiátricas são muito difíceis de diagnosticar e a esquizofrenia não constitui exceção, uma vez que não existem testes ou exames que possam identificar quem tem a doença. O diagnóstico depende da exclusão de outras causas que possam originar sintomas semelhantes aos da esquizofrenia (tais como abuso de drogas, epilepsia, tumores cerebrais, doenças da tiróide, entre outras). É importante excluir outras doenças, porque algumas vezes as pessoas têm sintomas mentais graves devido a doenças médicas subjacentes que não são diagnosticadas. Por este motivo, deve ser colhida uma história clínica, ser realizado um exame físico e pedidos exames laboratoriais ou imagiológicos (por ex. TAC cranioencefálica). Além disso, como algumas drogas podem causar sintomas semelhantes aos da esquizofrenia, estas substâncias devem ser pesquisadas em amostras de sangue ou de urina dos doentes em causa.

Após terem sido excluídas outras causas, o médico deve então efetuar um diagnóstico, baseando-se nos sintomas observados no doente e descritos pelo mesmo e pela família. Isto pode provocar problemas e atrasos no diagnóstico porque muitos sintomas podem só ser evidentes quando a doença já está avançada. De facto, para que se possa estabelecer um diagnóstico formal, os sintomas devem estar presentes durante pelo menos seis meses.

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Perguntas e Respostas

Quais são as “causas” da esquizofrenia?

Não existe uma causa única para a esquizofrenia. Tal como as doenças cardíacas, muitas doenças resultam de vários fatores genéticos, ambientais e outros. Pode também ser o que acontece na esquizofrenia. Não compreendemos ainda completamente todos os fatores que estão na base da esquizofrenia, mas os especialistas concordam que a doença é devida a anomalias na função cerebral, algumas das quais ainda não são completamente conhecidas.

A esquizofrenia é uma doença da mente, e os seus sintomas são atribuíveis a anomalias na transferência e processamento de informação dentro do cérebro. As células nervosas no cérebro (i.e os neurónios) comunicam umas com as outras libertando substâncias químicas (neurotransmissores) a partir das suas terminações nervosas. Muitos dos sintomas da esquizofrenia foram associados a anomalias na atividade de certos neurotransmissores específicos, nomeadamente da Dopamina.

Qual o impacto da genética familiar?

A investigação em famílias com vários indivíduos afetados pela esquizofrenia indica que a vulnerabilidade à doença é genética. Uma criança cujo progenitor tenha esquizofrenia tem uma probabilidade de cerca de 10% de desenvolver a doença. Comparativamente, o risco de esquizofrenia na população em geral é de cerca de 1%. No entanto, entre indivíduos com esquizofrenia que tenham um gémeo idêntico e que assim partilham o mesmo património genético, há apenas uma possibilidade de 50% de que ambos os gémeos sejam afetados pela doença. Isto demonstra que a informação genética não é determinante para a manifestação da doença, sendo importante a combinação de vários fatores de risco.

De que forma a família e os amigos podem ajudar?

Se tiver sido diagnosticada esquizofrenia a algum membro da sua família, você pode desempenhar um papel muito importante ao oferecer-lhe apoio e ao ajudá-lo a receber os cuidados médicos adequados. É importante ter uma boa compreensão da doença. O médico envolvido deve estar preparado para responder a qualquer questão que você possa ter sobre o que é a esquizofrenia e de que forma deve ser tratada.

É provável que no caso de ter um familiar com esquizofrenia, lhe seja pedido em determinada altura que converse com um médico sobre o seu familiar e que lhe descreva o seu comportamento. As pessoas com esquizofrenia algumas vezes não são capazes de fornecer muita informação durante uma consulta. Algumas vezes, apenas a família ou outros próximos da pessoa com esquizofrenia estarão conscientes do comportamento estranho ou de ideias bizarras que a pessoa tenha exprimido. Uma vez que os doentes podem não dar voluntariamente essa informação durante uma consulta, os membros da família ou os amigos devem solicitar para falarem com a pessoa que avalia o doente de modo que toda a informação relevante possa ser tomada em consideração.

Esteja preparado para dar informações e formular questões ao médico. Ajudará saber algo sobre a história clínica da sua família e que medicamentos o seu familiar está a tomar. Pode também querer questionar o médico sobre os medicamentos, efeitos secundários, riscos para a saúde a longo-prazo e hospitalização. É boa ideia anotar previamente as suas perguntas e ter papel e caneta consigo no caso de pretender tomar notas.

O que pode esperar dos médicos responsáveis pelo tratamento do seu familiar com esquizofrenia?

Como parte do processo de diagnóstico e de tratamento, o psiquiatra efetuará o seguinte:

  • Colher uma história completa
  • Investigar sintomas que possam ser devidos a outras doenças (físicas e psiquiátricas), pedindo os exames adequados
  • Obter informações relativamente a outras medicações antipsicóticas
  • Ajustar o tratamento quando necessário
  • Rever a medicação regularmente
  • Estar interessando no bem estar global do doente e fazer as referências indicadas para os cuidados posteriores, alojamento, suporte social e ajuda financeira
  • Explicar de forma clara o que está a acontecer e o que está a ser planeado para o tratamento do doente
  • Envolver a família no processo de tratamento.

Devido à natureza da doença, algumas pessoas com esquizofrenia podem negar que necessitam de medicação, e podem recusar a toma dos fármacos prescritos ou deixar de os tomar devido aos efeitos secundários indesejados. Pode ser difícil para os doentes lembrarem-se de tomar a medicação devido à desorganização do pensamento que é característica das pessoas com esquizofrenia. Se os familiares ou os amigos estiverem envolvidos no processo de tratamento, eles podem dar suporte inestimável, ao verificarem a toma dos medicamentos por parte do doente, instigando-os a tomá-los quando se esquecem de o fazer, ou lembrando-os dos problemas que possam ter ocorrido em ocasiões prévias quando decidiram deixar de tomar a medicação.

É também importante assegurar que uma pessoa com esquizofrenia continue a receber tratamento após a hospitalização. Um doente pode interromper a medicação ou deixar de acorrer às consultas, o que muitas vezes conduz ao reaparecimento dos sintomas. Encorajar o/a doente a continuar o tratamento e assisti-lo/a no processo terapêutico pode influenciar de forma positiva a recuperação. Sem tratamento, algumas pessoas com esquizofrenia ficam de tal modo psicóticas e desorganizadas que não podem cuidar das suas necessidades básicas, tais como alimentarem-se, vestirem-se ou protegerem-se. Não raramente, as pessoas com doenças mentais graves acabam nas ruas ou na prisão, onde acabam por não receber o tipo de tratamento de que necessitam.

Os que estão próximos das pessoas com esquizofrenia não estão seguros sobre o que responder quando os doentes fazem afirmações que parecem estranhas ou falsas. Para o indivíduo com esquizofrenia, as crenças bizarras ou alucinações parecem bem reais; não são apenas fantasias imaginárias. Em vez de “ir na onda” dos delírios da pessoa, os membros da família ou os amigos podem dizer à pessoa que não vêem as coisas da mesma maneira ou que não concordam com as suas conclusões, embora reconhecendo que as coisas podem parecer de maneira diferente para o doente.

Registar os tipos de sintomas e quando aparecem para prever melhor o futuro

Pode ser também útil, para aqueles que conhecem bem a pessoa com esquizofrenia, manter um registo de quais os tipos de sintomas que apareceram, que medicações (incluindo doses) foram tomadas e quais os efeitos que os vários tratamentos condicionaram. Ao conhecer quais os sintomas que estiveram presentes antes, os familiares podem saber melhor o que procurar no futuro. As famílias podem mesmo ser capazes de identificar alguns sinais precoces de alarme ou potenciais recaídas, tais como a tendência para o isolamento ou alterações no padrão de sono, mesmo ainda numa fase precoce e melhor do que os próprios doentes.

Assim, o reaparecimento da psicose pode ser detetado precocemente e o tratamento pode prevenir uma recaída completa. Além disso, a família sabendo quais as medicações que ajudaram o doente ou que lhe causaram efeitos indesejáveis no passado, pode ajudar quem tem a tarefa de tratar o doente a escolher a melhor alternativa terapêutica mais rapidamente.

Suporte e encorajamento

Além do envolvimento na procura de auxílio ao doente, a família, os amigos e os colegas podem proporcionar suporte e encorajamento à pessoa com esquizofrenia para que volte a recuperar as suas capacidades. É importante que os objetivos sejam realistas, uma vez que um doente que se sente pressionado e/ou repetidamente criticado pelos outros irá provavelmente sentir stress levando ao agravamento dos sintomas. Tal como qualquer outra pessoa, os doentes com esquizofrenia precisam de saber quando estão a fazer as coisas corretamente. Uma abordagem positiva pode ser útil e talvez mais eficaz a longo prazo que as críticas. Este conselho aplica-se a qualquer pessoa que entre em contacto com o doente.

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A família, a doença e o doente

Os esquizofrénicos são violentos e agressivos?

Nem todos os doentes com esquizofrenia são violentos. A violência que pode surgir em algumas fases da doença tem a ver com o sofrimento e desorientação sentidos pelo doente em momentos de agravamento da doença.
Por isso, é necessário aprender a lidar com estas situações. Eis alguns conselhos.

O que costumam sentir os familiares?

Quando a família toma conhecimento de que o seu familiar tem esquizofrenia, as suas emoções são comparáveis às que sentiria perante uma notícia de um acidente grave ou de uma catástrofe.

Alguns dos sentimentos mais frequentemente relatados são:

  • Tristeza: “Sentimo-nos como se tivéssemos perdido um filho.”
  • Ansiedade: “Temos medo de o deixar sozinho ou de ferir os seus sentimentos.”
  • Medo: “Pode fazer-nos mal? Pode magoar-se a si ou aos outros.”
  • Vergonha e culpa: “Somos culpados.”, “Que vão pensar de nós?”
  • Isolamento: “Ninguém nos compreende.”
  • Ressentimento: “Porque nos aconteceu isto a nós?”
  • Preocupação com o futuro: “Quem vai tratar dele quando nós não estivermos?”
  • Ciúme: “Os irmãos ficam ciumentos com a atenção que recebe.”
  • Depressão: “Não conseguimos evitar chorar.”
  • Negação da doença: “Isto não pode acontecer na nossa família.”
  • Negação da gravidade da doença: “Isto vai passar. É só uma fase.”
  • Culparem-se uns aos outros: “Se tivesses feito isto, se não tivesses dito aquilo…”
  • Falar constantemente da doença: “Passámos a vida toda a tentar entender o que tinha.”
  • Problemas no casal: “Irritas-te demasiado.”
  • Divórcio: “Não suporto mais esta situação caótica.”

Como gerir os sentimentos?

Reconhecer estes sentimentos e declará-los abertamente num diálogo familiar pode ajudar a aliviar tensões, evitar ruturas e clarificar os papéis de cada um dos membros. Deste modo a família pode tornar-se numa equipa eficiente que poderá apoiar o trabalho dos terapeutas e maximizar o efeito da medicação.

Há alguns conselhos que podem ajudar a viver melhor com a doença mental na família:

  • É importante aceitar que esta doença não tem cura.
  • Não se deve sentir culpado.
  • É normal sentir rancor. Os sentimentos de revolta são naturais, já que esta doença afeta muito o funcionamento familiar.
  • Aceitar que a doença mental é tão difícil para quem a sofre, como para a família.
  • É normal que após uma fase de negação, de tristeza e de raiva, surjam sentimentos de aceitação e compreensão.
  • Não se deve sentir envergonhado pela doença mental de um familiar. É comum encontrar estigma e preconceitos em qualquer lado, mas isso é apenas um sinal de medo e ignorância.
  • Apesar do doente poder ter comportamentos que considera estranhos, deve compreender que estes resultam da doença, e desse modo não se sentir tão magoado.
  • Deve reconhecer a coragem do doente em lidar com a sua doença.
  • É importante saber que, embora a sintomatologia possa variar ao longo do tempo, a doença persiste.
  • É importante impor limites claros. O facto de o seu familiar ter capacidades limitadas, não significa que não se possa esperar mais nada dele.
  • Não deve ter receio em perguntar ao doente se está a pensar magoar-se. O risco de suicídio é real.
  • As necessidades do doente nem sempre estão em primeiro lugar: se você não consegue cuidar de si, também não vai conseguir cuidar do seu familiar.
  • Não deve assumir todas as responsabilidades no tratamento do doente. Procure partilhá-las com mais alguém.
  • Deve ter consciência que não é um profissional. O seu papel é de irmão, filho ou pai/mãe…
  • Não se deve sentir sozinho. Partilhar pensamentos e sentimentos em grupos de autoajuda é muito benéfico e enriquecedor.
  • Deve pedir ao médico todas as informações e esclarecimentos sobre a doença que necessite.

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Como gerir o doente no dia-a-dia?

Doente chega a casa após um internamento:

Gerir os sentimentos

Algumas estratégias podem ajudar as famílias a lidar com o doente neste início do período estável. Fale com o seu médico sobre quais as melhores estratégias a usar depois de uma crise aguda.

  •  Fale lentamente e em tom baixo. Use frases curtas e simples para evitar mal-entendidos. Se for necessário, repita as frases e perguntas, usando as mesmas palavras.
  • Explique o que está a fazer e porquê. Por exemplo, “Estou a arrumar a roupa limpa no teu armário e podes escolher o que quiseres vestir.”
  • Organize a sua rotina diária. Seja consistente e quando disser que vai fazer alguma coisa, evite mudar de ideias.
  • Elogie-o frequentemente (por ex. ao pentear-se após vários dias sem o ter feito, diga-lhe como lhe fica bem).
  • Reduza a tensão e o stress (por ex. se comer à mesa com o resto da família for um esforço demasiado grande, não o obrigue).
  • Procure estratégias para que tome a medicação, mas evitando a violência.

Em doentes estabilizados:
Gradualmente, o doente poderá assumir certas responsabilidades.

  • Fale com ele sobre como se sentiria fazendo mais coisas.
  • Comece por uma melhor gestão da higiene pessoal, vestir-se e comer em horários estabelecidos.
  • Dê-lhe tarefas em casa que estejam dentro das suas possibilidades. Verifique se prefere trabalhar sozinho ou com outros.
  • Dê-lhe ânimo, mas não o pressione para participar em atividades de grupo. Talvez seja preferível 1 ou 2 amigos a jantar em casa, que um evento familiar numeroso.
  • Procure saber o que prefere fazer no seu passeio semanal. Talvez tomar um café numa pastelaria lhe seja mais fácil que um almoço no restaurante.
  • Não seja curioso. Não lhe pergunte constantemente em que está a pensar ou porque faz determinada coisa. Prefira conversas sobre temas externos, como por exemplo “Viste o novo programa na televisão?…”
  • Compreenda que lhe pode ser difícil manter uma conversa, mas que a sua companhia pode ser agradável em qualquer outra atividade. Talvez gostasse que lhe lesse alguma coisa.
  • Evite a crítica constante. Trate dos comportamentos que o incomodam de forma direta e franca. Por exemplo, a higiene pessoal costuma ser uma fonte de irritação para a família, mas nada resolveria dizendo “porque não tomas banho?” ou “que mal que cheiras!”. Seria melhor apresentar o problema de outra maneira: “para mim é importante que tomes banho; podíamos chegar a um acordo para que tomes banho todos os dias?”
  • Para que colabore, “esqueça-se” de algumas coisas, por exemplo: “esqueci-me do leite, podes trazer-mo?”
  • Estimule-o a ter algumas responsabilidades deixando, por exemplo, uma nota com instruções sobre como começar a preparar o almoço em caso de você chegar tarde. E, então, chegue tarde.
  • Mostre-lhe como lidar com o pânico em público, depois de uma situação de stress. Por exemplo, leve-o até à casa-de-banho e deixe-o tranquilo até que passe o medo.
  • Lembre-se de que, muitas vezes, você é o seu único amigo. Trate-o como tal. Convide-o a ver um filme, por exemplo.
  • Tente sempre pôr-se no lugar dele. Respeite os seus sentimentos. Se ele sentir medo, não lhe diga “não sejas tonto, não tenhas medo!”. Permita-lhe sentir medo dizendo-lhe, por exemplo: “Não faz mal que sintas medo. Senta-te ao meu lado até que passe”.
  • Respeite os seus sentimentos. Se o incomoda que fale sobre esquizofrenia ou algum outro tema na frente dos outros, não o faça.

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Resumo de conselhos à família:

  • Seja amigável, sereno e alegre.
  • Aceite a situação.
  • Reserve um tempo para o ouvir.
  • Trate-o com ternura.
  • Inclua-o e respeite-o.

Algumas técnicas úteis:

  • Fale lenta, calma e claramente.
  • Use frases curtas e simples.
  • Dê uma só instrução ou ordem de cada vez.
  • Espere o momento adequado.

Evitar (especialmente numa crise):

  • Olhá-lo insistentemente nos olhos.
  • Impedir-lhe a passagem.
  • Ser arrogante, altivo ou hipercrítico.
  • Encurralá-lo em situações em que não se sinta confortável.
  • Mostrar-se melancólico ou triste.
  • Contacto físico (tocar o doente) quando está zangado.
  • Discutir com ele na presença de outras pessoas.
  • Falar demasiado ou dar sermões.
  • Ser intolerante, mentiroso ou demasiado exigente.
  • Gritar ou ser sarcástico.

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Dez mandamentos de ternura e compreensão:

  1. Dê-lhe atenção.
  2. Faça-o sentir-se à vontade e confortável.
  3. Alegre-se com ele nos seus pequenos sucessos.
  4. Escute-o com atenção e envolva-o nas conversas familiares.
  5. Partilhe o seu tempo com ele.
  6. Elogie-o.
  7. Compreenda-o, pondo-se no seu lugar.
  8. Seja seu companheiro.
  9. Estimule-o nos seus projetos.
  10. Incuta-lhe esperança.

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Adesão à Terapêutica

O papel dos medicamentos

Os medicamentos são uma parte fundamental do tratamento da esquizofrenia.
A função dos medicamentos é:

  • Controlar os sintomas
  • Evitar recaídas

O tratamento é prolongado (habitualmente durante toda a vida) e não deve ser interrompido sob nenhum pretexto ou circunstância, salvo indicação médica para tal.
A interrupção do tratamento é a principal causa de agravamento da doença (recaídas). Tal como na diabetes ou na hipertensão, o doente deve tomar a medicação e ser acompanhado regularmente pelo seu médico.

  • Os medicamentos não são “drogas” e não causam habituação.
  • Não se destinam a controlar a mente, nem a agir como um “colete químico”.
  • Não há medicamentos que curem a esquizofrenia, tal como não há medicamentos que curem muitas outras doenças, como a asma, a hipertensão, a diabetes ou a epilepsia.
  • Para reduzir o risco de agravamento da doença, é muito importante cumprir as tomas da medicação como indicado pelo médico.

O que significa “falta de adesão ao tratamento”?

Pode falar-se em falta de adesão ao tratamento quando:

  • Ocorrem falhas na toma da medicação, ainda que sejam apenas algumas tomas.
  • Não se toma a dose indicada pelo médico.
  • Não se respeitam os horários indicados pelo médico.
  • Não se cumprem as indicações do médico.
  • Se interrompe totalmente a terapêutica.
  • Se falta à consulta.
  • Não se fazem os exames pedidos.

Causas da falta de adesão ao tratamento

Existem múltiplos motivos que podem dificultar a adesão ao tratamento. Os mais comuns são:

  • Esquecimento.
  • O doente não reconhece que está doente e não fica convencido da necessidade de tomar a medicação.
  • Falta de eficácia do medicamento.
  • Complexidade do tratamento.
  • O tratamento exige várias tomas diárias.
  • O doente sente-se melhor e acha que já não precisa da medicação.
  • Os efeitos secundários da medicação são intoleráveis.
  • Os familiares ou amigos propõem parar a medicação porque o doente parece estar bem.
  • Falta de medicação.
  • Os sintomas negativos que reduzem o interesse no tratamento.

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Concluindo

Neste artigo mostramos a complexidade e dificuldade de gerir a doença mental e a esquizofrenia em particular. O diagnóstico é difícil, o doente muitas vezes não reconhece nem aceita a doença, a família não sabe como lidar com o doente e este por sua vez sem o apoio e a compreensão familiar necessária fica cada vez pior, tornando-se também um problema social!

A doença mental grave é o parente pobre do apoio social do estado precisamente por serem doentes que não aceitam/reconhecem a sua própria doença e por conseguinte mesmo havendo um diagnóstico não aderem muitas vezes de forma correta e regular à medicação que os pode tornar estáveis e permitir uma vida digna!

Pessoalmente julgo que um dos caminhos evidentes para melhorar este panorama é a informação à população sobre os sinais precoces e sintomas das principais doenças mentais que são de forma geral desconhecidos ou mal interpretados. Por outro lado, na doença mental, existem demasiados casos em que o internamento compulsivo (difícil do ponto de vista legal) é o único caminho para começar um tratamento e demonstrar ao doente que tem um problema que necessita de tratamento.

Quando um doente que tinha alucinações ou delírios percebe que estes sintomas desaparecem ou ficam controlados com o tratamento iniciado é claro que as possibilidades de aceitar a sua doença aumentam muito e isso é uma condição básica para poderem melhorar e ter uma vida digna com a sua família!

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Fique bem!

Franklim Moura Fernandes

Fontes: 

Disponivel na nossa área reservada relatório detalhado sobre saúde mental em Portugal vs Europa e EUA. Leia as tabelas e conheça as surpresas evidenciadas pelo relatório:

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