A OMS (Organização Mundial de Saúde) através da sua Agência Internacional para a Pesquisa sobre o Cancro (IARC- sigla inglesa) classificou, em 2015, carne processada como cancerígena para as pessoas. Trata-se de uma atitude “corajosa” numa altura em que a industria da carne, em quase todo o mundo, movimenta um volume de negócios exorbitante, muitas vezes alicerçado em carne de má qualidade, proveniente de animais criados em condições miseráveis e sujeitos a uma sobrecarga inacreditável de medicamentos e suplementos para crescerem mais rápido e serem mais produtivos.
Este artigo, vai tratar a carne processada cujos exemplos mais comuns são as salsichas, fiambre, bacon, linguiça, mortadela, chouriços, morcelas, alheiras, presunto e derivados de charcutaria e não propriamente o “bife” que chega ao seu parto!
Para que fique claro, não sou vegan, nem vegetariano, nem carnívoro e acredito que a nossa alimentação para proteger a nossa saúde deve ter dois pilares estruturantes:
- Comer alimentos reais, não processados, como vegetais, fruta, carne de animais de pastagem, ovos e peixe;
- Comer poucas vezes por dia de preferência numa janela de 8 horas com as restantes 16 horas do dia em jejum, bebendo apenas água durante o jejum.
Leia também: Incrível, novas descobertas sobre o jejum, toda a verdade!
A carne vermelha de animais de pastagem (não alimentados com ração), é simplesmente um dos alimentos mais extraordinários para a nossa saúde tal a riqueza em proteínas de qualidade, gordura saturada mas saudável, vitaminas, minerais, sem açúcares nem óleos vegetais que destroem a nossa saúde!
A título de mau exemplo, relembro apenas o triste e perigoso hábito diário de milhões de adultos e crianças que é comer pão com fiambre… muitas vezes até mais de uma vez por dia, todos os dias, durante anos!
Neste artigo vou responder ás seguintes questões:
- O que diz a OMS sobre carne processada?
- Qual a quantidade diária acima da qual o risco aumenta?
- O que são as carnes processadas?
- Porque são processadas as carnes?
- Quais os principais exemplos de carnes processadas?
- Como é realizado o processamento?
- Quais os tipos e técnicas de processamento?
- Qual o nível de processamento que a carne pode sofrer?
- Quais os riscos para a saúde?
- Qual o problema dos nitritos /nitratos usados no processamento?
- O que diz a IARC (International Agency for Research on Cancer) sobre o risco de cancro da carne processada?
- Porquê colocar nitrito na carne?
- Quais as alternativas naturais ao curado?
- Quais os impactos e aspetos ambientais?
- Quais as 13 perguntas e respostas da IARC sobre a carne processada?
- Quais as 10 decisões que pode aplicar já para diminuir o risco de doença?
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O que diz a OMS sobre carne processada?
Segundo a OMS, carne processada é carne que foi salgada, curada, fermentada, fumada ou processada de forma a intensificar o seu sabor e melhorar a sua conservação.
Os avisos da OMS surgem num relatório da instituição. Segundo estudos feitos pela Agência Internacional de Investigação do Cancro, o consumo de carne processada está diretamente relacionada com um tipo de específico de cancro, o colo-rectal.
A OMS escreveu na sua página que existem provas suficientes que mostram que o consumo de carne processada por humanos causa cancro colo-rectal.
Quantidade consumida e risco aumentado
O consumo diário de 50 gramas de carne processada aumenta o risco de cancro colo-rectal em 18%, calculam os especialistas da OMS.
Nas últimas décadas, com a vida agitada das grandes cidades, as carnes processadas ganharam espaço à mesa, na população em geral. Muitas pessoas apreciam o sabor, a variedade e a conveniência que elas podem oferecer. Mas tudo tem o seu lado menos bom e este pode ser muito perigoso em relação ao caso em apreço!
Carnes processadas
Segundo a história antiga, o processamento de carnes tem a sua origem na salga e defumação dos alimentos, que se iniciou séculos antes da prática da refrigeração, amplamente disponível nos dias de hoje. O principal objetivo desses processos era o de conservar a carne por um período mais longo, a fim de garantir o consumo em períodos de escassez de alimentos.
De uma forma simples, as carnes processadas são produtos frescos (geralmente feitos a partir de carne bovina, suína, de frango e de peru) que foram alterados a partir de seu estado original, sendo submetidos a uma (ou mais) fase de transformação ou elaboração, tais como:
- Moagem,
- Adição de ingredientes
- Adição de aditivos,
- Cozimento,
- Outros processos.
Porque são processadas as carnes?
Estes procedimentos, entre outros aspetos tecnológicos, visam aumentar a aceitação do consumidor, melhorando os seguintes aspetos:
- Aparência,
- Textura,
- Sabor,
- Tempo de conservação e validade,
- Facilidade e rapidez de utilização (uma das principais características procuradas pelo consumidor na hora da compra).
Exemplos de carne processada
Os principais exemplos de carnes processadas e seus derivados presentes no mercado são:
- Carnes em peças,
- Carnes temperadas,
- Carne seca (charques),
- Presuntos,
- Bacon,
- Fiambre,
- Peito de peru (que é carne branca),
- Mortadelas,
- Salsichas,
- Alheiras,
- Chouriços,
- Linguiças,
- Salames,
- Patês,
- Carnes enlatadas,
- Caldos de carnes concentrados.
Como é realizado o processamento?
Os tecidos animais, principalmente carne de músculo e gordura, são os principais ingredientes utilizados no processamento. Ocasionalmente outros tecidos animais também são usados, tais como órgãos internos, peles e sangue ou ingredientes de origem vegetal, segundo informações da FAO, braço da ONU que trata das questões relacionadas a agricultura e alimentação.
Técnicas de processamento
O tipo de processamento varia em função do tipo de carne, sendo que quanto mais processado o produto for, mais ele perde as suas características nutricionais, e mais ele aumenta os riscos de possíveis danos para a saúde, quando comparado com a carne fresca. As transformações no alimento são feitas por meio de tratamentos físicos, químicos e/ou biológicos, a saber:
- Cura,
- Moagem e mistura,
- Cozimento,
- Emulsão,
- Pasteurização,
- Fermentação,
- Secagem,
- Desidratação,
- Defumação,
- Apertização.
Cura
O termo cura de carnes refere-se à conservação de um produto por um período de tempo mais longo, pela adição de sal, compostos fixadores de cor (nitratos e/ou nitritos), açúcar e condimentos, onde também é obtida a melhoria das propriedades sensoriais, como o sabor e o aroma mais agradáveis e coloração vermelha ou rósea atraente. A concentração de cada agente de cura depende da natureza do alimento e da tecnologia aplicada.
A indústria tem realizado várias modificações nas práticas de cura com o objetivo de obter produtos de qualidade mais uniforme e econômica, reduzir a incidência de alterações bacterianas da carne durante a cura e o processamento, sendo que a maior preocupação é com o Clostridium botulinum, bactéria que causa o Botulismo, capaz de produzir uma toxina letal.
Moagem e mistura
A moagem consiste na subdivisão da matéria-prima em partículas, proporcionando melhor homogeneização do produto final e maior exposição das proteínas. No caso de enchidos de massa grossa (linguiça e salame), durante a operação, temperaturas relativamente baixas auxiliam na obtenção de partículas, com forma geométrica mais definida e evita o esmagamento da gordura. Os enchidos de massa fina necessitam de maior grau de subdivisão de partículas para melhorar a extração de proteínas solúveis em sal (miofibrilares) e a formação do completo encapsulamento das partículas de gordura.
A mistura é bastante utilizada para melhorar a homogeneidade dos diversos componentes da formulação, que se devem encontrar previamente nas dimensões desejadas para a mistura. Os produtos sofrem esse processo antes do enchimento. Geralmente utiliza-se um equipamento chamado de “cutter” ou um misturador horizontal com braços helicoidais.
Cozimento
O cozimento pode causar alterações físicas evidentes devido à coagulação das proteínas na superfície da carne e a mudança da cor vermelha para cor cinza ou marrom acinzentado.
Emulsão
A emulsão é definida como a mistura dos líquidos imiscíveis, sendo um disperso no outro. A emulsão da carne constitui um sistema de duas fases, a fase dispersa formada por partículas de gordura sólida ou líquida e a fase contínua formada por água que contêm dissolvidas e suspensas proteínas solúveis e a água forma uma matriz que encapsula os glóbulos de gordura.
As emulsões geralmente são instáveis, se não possuírem outro composto como agente emulsionante ou estabilizante. Os agentes emulsionantes atuam reduzindo a tensão entre ambas as fases e permitem a formação de uma emulsão com menor energia interna, aumentando, portanto, sua estabilidade.
Para que a emulsão de carne seja estável, é absolutamente necessário que as proteínas se encontrem dissolvidas ou solubilizadas. As proteínas miofibrilares (actina e miosina) são insolúveis em água e soluções salinas diluídas, mas são solúveis em solução salina mais concentrada. Uma das funções mais importantes do sal nas emulsões de enchidos é solubilizar estas proteínas na fase aquosa para que se encontrem em condições de recobrir as partículas de gordura (2% de sal na massa de carne é adequado, 3% é um pouco mais eficaz e acima de 3% poderá haver restrições quanto ao paladar).
Pasteurização
Tratamento térmico relativamente suave. Utilizam-se temperaturas inferiores a 100ºC e, portanto pressão atmosférica normal. Este método inativa as enzimas e destrói os microrganismos sensíveis a temperaturas mais elevadas, sem modificar o valor nutritivo e as características sensoriais do alimento, permitindo apenas o prolongamento da sua “vida-de-prateleira” da carne processada.
Fermentação
Processo que utiliza o crescimento controlado de microrganismos selecionados, capazes de modificar a textura, sabor e aroma, assim como as propriedades nutricionais da carne processada.
Entre os tipos a fermentação láctica é largamente utilizado na preservação dos alimentos, o ácido láctico produzido pela ação das bactérias sobre os açúcares, fornecendo sabor característico ao produto. Alguns produtos de origem vegetal, como picles, chucrute e azeitonas e de origem animal como queijo e salames são elaborados por meio da fermentação láctica.
Na fermentação de produtos pouco ácidos como leite e carnes, realizada com objetivo de aumentar a concentração de microrganismos fermentadores, para reduzir o tempo de fermentação e inibir o crescimento de germes patogênicos e deterioradores, adiciona-se uma determinada quantidade de microrganismos selecionados, com o objetivo de iniciar a fermentação; essa cultura é conhecida como “cultura starter”.
Secagem ou desidratação
A deterioração de carne torna-se mais lenta com a remoção da água da carne. Isto pode ser conseguido por meio da salga ou secagem natural. A secagem deve ser efetuada cuidadosa e uniformemente. Os melhores resultados são obtidos em condições de clima seco com muito vento (BERKEL et al., 2005). A secagem também concentra os componentes do sabor.
Defumação
Segundo Arima (2002) a defumação é um processo de aplicação no alimento de fumo produzido pela combustão incompleta de algumas madeiras, com a finalidade de conferir aroma, sabor e cor característicos e prolongar a vida útil. Normalmente fazem parte do processo a secagem inicial, a deposição do fumo e a secagem adicional e/ou cozimento do produto. A quantidade e a velocidade da deposição do fumo dependem do substrato da defumação, das condições da estufa e dos tipos de fumo.
Em carnes, o contacto com o calor e o fumo provoca a perda da água, tornando a superfície ressecada e a cor estabilizada. A perda de água e a ação dos constituintes da fumo conferem ao alimento barreiras físicas e químicas eficientes contra a penetração e a atividade de micro-organismos. Essa capa protetora pode ser devido à desidratação que se processa na superfície do produto, principalmente na defumação a quente, à coagulação proteica que ocorre durante a defumação e ao depósito das substâncias antimicrobianas que existem na fumo, que se condensam e encontram-se depositadas na superfície do produto (USP – CENA/PCLQ, 2005).
Apertização
É a aplicação do processo térmico a um alimento convenientemente acondicionado numa embalagem hermética, resistente ao calor, a uma temperatura e um período de tempo cientificamente determinados, para atingir a esterilização comercial. Este processo corresponde ao aquecimento do produto já elaborado, embalado em latas, vidros, plásticos ou outros materiais e relativamente isentos de ar.
Nível de processamento da carne
1. Produtos minimamente processados
Peças de carnes que não envolvam adição de sal, açúcar, óleos, gorduras e outras substâncias, e são vendidas em supermercados ou em feiras livres e podem ser encontradas frescas, resfriadas ou congeladas. Englobam as carnes bovinas, suínas, aves e pescados.
2. Produtos processados
Carnes processadas são fabricadas pela indústria adicionando à carne fresca sal, açúcar ou de outras substância de uso culinário para torná-las duráveis e mais agradáveis ao paladar. Como exemplo temos:
- Carne seca,
- Toucinho,
- Sardinha e atum enlatados, entre outros produtos.
3. Produtos ultraprocessados
Alimentos ultraprocessados são formulações industriais feitas inteiramente ou maioritariamente de substâncias extraídas de alimentos, derivadas de constituintes de alimentos ou sintetizadas em laboratório com base em matérias orgânicas como petróleo e carvão. Como exemplo temos:
- Hambúrgueres,
- Extratos de carne e frango,
- Peixe na forma de panados do tipo “nuggets”,
- Salsichas e outros enchidos.
Riscos para a saúde
Durante o processamento de carne, é necessário considerar que existem diversos riscos que podem afetar a saúde do consumidor, por isso, quando comprar verifique se o mesmo apresenta o selo do órgão fiscalizador oficial como por exemplo do Ministério da Agricultura que garante a segurança alimentar do produto. Alguns exemplos são:
Perigos biológicos
Micoorganismos patogénicos (destacando-se as bactérias e fungos) que podem causar doenças e intoxicações alimentares.
Perigos físicos
Podem ser causados pelos restos de materiais indesejados tais como:
- Vidro,
- Fragmentos de ossos,
- Dentes de animais (no caso da carne da cabeça),
- Fragmentos metálicos, como clipes de salsicha, lâminas de faca quebradas, agulhas,
- Plásticos,
- Pedras.
Perigos químicos
São os contaminantes tais como:
- Metais pesados,
- PCB (bifenilos policlorados),
- Solventes químicos, de limpeza e de desinfeção compostos.
Resíduos tais como:
- Medicamentos veterinários,
- Aditivos alimentares,
- Pesticidas.
Aditivos alimentares com risco de overdose, tais como:
- Nitrato,
- Nitrito,
- Conservantes químicos.
Todos estes processos são comuns aos alimentos industrializados, mas alguns são mais comuns quando se fala de carne processada, principalmente os riscos físico e químico.
Nas carnes processadas, há grande quantidade de fragmentos que não seriam aproveitados pela indústria de carnes e que muitas vezes contêm alta concentração de gordura.
Ingestão de nitritos e nitratos
Como as carnes são perecíveis, para aumentar os lucros da industria, elas precisam de substâncias que prolonguem sua vida útil de forma a poderem estar mais tempo disponíveis nas prateleiras dos supermercados Porém o composto que é utilizado para esse fim é o nitrito/nitrato, inserido no processo de cura da carne.
O problema é que, em certas condições, o nitrito e o nitrato, que são substâncias possivelmente cancerígenas para humanos, podem formar nitrosaminas que são compostos químicos cancerígenos em animais, segundo a Agência Internacional de Pesquisa sobre o Cancro (IARC – sigla inglesa) que pertence à OMS.
Isto acontece nos produtos à base de carne fortemente cozidos ou fritos e que foram previamente curados com nitrito ou nitrato. Segundo a IARC, nitritos e nitratos em alimentos estão associados à incidência de aumento de cancro do estômago.
IARC da OMS sobre o risco de cancro
De acordo com a Agência Internacional de Pesquisa sobre o Cancro (IARC – na sigla em inglês), ligada à Organização Mundial da Saúde (OMS), a carne processada é cancerígena. Uma avaliação dos riscos do consumo de carne vermelha e processada concluiu e classificou as carnes processadas como carcinogénicas para humanos (grupo 1). Produtos como tabaco, álcool e amianto estão registados no mesmo grupo de risco.
As evidências são suficientes para afirmar que o consumo desse tipo de alimento provoca cancro colorretal. A ingestão diária de uma porção de 50 gramas de carne processada aumenta o risco de cancro colorretal em 18%, segundo especialistas da Iarc que realizaram a avaliação. Além disso, o risco aumenta com a quantia de carne consumida.
Estimativas recentes feitas pelo Global Burden of Disease Project, uma organização acadêmica de pesquisa independente, apontam que, por ano, cerca de 34 mil mortes são causadas por cancro decorrente de dietas ricas em carne processada.
Os especialistas ainda não desvendaram totalmente como o risco de cancro é influenciado pela carne processada e pela carne vermelha (esta última foi classificada no Grupo 2A – provavelmente carcinogénica para humanos). Contudo, sabe-se que, durante o processamento formam-se químicos carcinogénicos como os N-nitrosos e hidrocarbonetos aromáticos policíclicos.
No processo de cozimento também são formadas aromáticas policíclicas, que estão presentes até na poluição do ar. O potencial carcinogénico de alguns desses químicos é comprovado e outros são classificados como provavelmente cancerígenos.
Para o Dr. Kurt Straif, líder do Iarc Monographs Programme, a incidência de cancro causada pelo consumo de carne processada é uma questão de saúde pública. O diretor da organização, Christopher Wild, diz ainda que estas descobertas indicam a necessidade de recomendações sobre a limitação do consumo de carnes.
Porquê colocar nitrito na carne?
O nitrito inibe a germinação do Clostridium botulinum e previne a formação de toxinas nas carnes curadas, evitando assim intoxicação alimentar por botulismo, que pode ser letal ou causar sequelas irreversíveis se não diagnosticada e tratada rapidamente. Admite-se que a concentração mínima de nitrito necessária para inibir o C. botulinum seja de 150 partes por milhão (ppm).
Quais as alternativas naturais ao curado?
Algumas das alternativas naturais são:
- Aipo em pó,
- Sal marinho,
- Sumo de beterraba.
De acordo com o American Meat Institute alguns consumidores preferem carnes que são curadas usando nitrato natural e fontes de nitrito encontradas em extratos vegetais, como aipo em pó. Estes produtos estão cada vez mais disponíveis nos supermercados. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) exige que nas embalagens destes produtos se declare “não curado”, e que na rotulagem contenha que “não há nitratos ou nitritos adicionados, excepto para os contidos naturalmente no aipo em pó”.
Outras alternativas aos salitres (sais de nitrato de sódio ou de nitrato de potássio) são o sal marinho e sumo de beterraba.
Impactos e aspectos ambientais
Além dos riscos citados acima, é importante considerar que em todas as etapas do processamento de carnes, assim como em várias indústrias do sector alimentar, os principais aspectos e impactos ambientais resultantes dos processos de produção são:
- Alto consumo de água,
- Geração de efluentes líquidos com alta carga poluidora, principalmente orgânica,
- Alto consumo de energia,
No caso da produção de carnes, as emissões atmosféricas e odor, resíduos sólidos e ruído são bastantes significativos.
O melhor é não consumir carne processada, preferindo uma dieta vegetariana ou que faça uso de carne fresca ou curada de outra maneira. Caso não tenha jeito, procure comer carne processada em doses muito pequenas.
13 perguntas e respostas da IARC sobre carne processada
A Agência Internacional de Pesquisa sobre o Cancro (IARC) divulgou sua avaliação sobre os riscos de cancro que o consumo de carnes vermelha e processada podem causar. O primeiro tipo, que tem itens como linguiça, presunto e salame, pode ser considerado cancerígeno para humanos (Grupo 1); já a carne vermelha foi alocada no Grupo 2A – provavelmente cancerígena para humanos.
Depois dessa avaliação, muita gente ficou com a pulga atrás da orelha. Devemos apenas comer peixe e frango? Devemos ser vegetarianos? Quais os grupos de risco que mais são afetados? A IARC antecipou-se e escreveu uma sessão de perguntas frequentes e respostas para quem está preocupado.
1. O que faz com que carne vermelha e carne processada aumentem o risco de cancro?
As carnes contêm múltiplos componentes e também podem possuir químicos que se formam dependendo do processamento ou do cozimento. Por exemplo, químicos carcinogénicos que se formam durante o processamento da carne incluem N-nitrosos e hidrocarbonetos aromáticos policíclicos.
Cozinhar carne vermelha ou carne processada também produz aminas aromáticas policíclicas, que podem ser encontradas em outros alimentos e na poluição do ar. Alguns desses químicos são reconhecidamente ou provavelmente cancerígenos. Apesar desse conhecimento, ainda não é possível entender totalmente como o risco de cancro é aumentado pela carne vermelha e pela carne processada.
2. Os métodos de cozimento de carne alteram o risco?
Cozimentos feitos em altas temperaturas geram compostos que podem contribuir para o risco cancro, mas o papel desses compostos ainda não é totalmente compreendido.
3. Quais os métodos mais seguros de cozinhar carne?
Cozinhar carne em altas temperaturas ou com o alimento em contato direto com a chama ou com uma superfície muito quente, como na preparação de churrascos ou frituras, produz uma quantidade maior de certos tipos de químicos cancerígenos (como os hidrocarbonetos aromáticos policíclicos e aminas aromáticas heterocíclicas). Mesmo assim, não houve evidências suficientes para se chegar a alguma conclusão sobre o método mais seguro.
4. Comer carne crua é mais seguro?
Não há dados suficientes para responder a essa questão em relação ao risco de cancro. De qualquer modo, é preciso estar atento ao risco de infeção a partir do consumo de carne crua.
5. A carne processada é tão cancerígena como o amianto e o fumo do tabaco?
Carne processada foi classificada como carcerígena para humanos (Grupo 1). Tabaco e amianto também estão classificados no mesmo grupo. Isso significa que o consumo de carne processada é tão carcerígeno quanto aspirar fumo de tabaco ou partículas de amianto?
Não, a carne processada foi classificada na mesma categoria de tabaco e amianto, mas isso não significa que sejam igualmente perigosos. As classificações da IARC descrevem a força da evidência científica sobre um agente ser ou não a causa de cancro, mas não lida com níveis de risco.
6. Quantos casos de cancro são causados todos os anos devido ao consumo de carnes processada e vermelha?
Segundo as estimativas mais recentes feitas pelo Global Burden of Disease Project, uma organização acadêmica de pesquisa independente, cerca de 34 mil mortes por cancro ocorrem todos os anos no mundo inteiro devido a dietas ricas em carne processada. Comer carne vermelha ainda não foi estabelecido como causa de cancro. Mesmo assim, se for levado em conta casos em que a associação de ingestão de carne vermelha foi provada como causa, a mesma organização estima que as dietas ricas em carne vermelha sejam responsáveis por 50 mil mortes por cancro anualmente em todo o mundo. Esses números contrastam com o número de mortes por cancro anuais, em todo o Mundo, causados por:
- 1 milhão por ano devido ao fumo de tabaco,
- 600 mil por ano devido ao consumo de álcool,
- 200 mil por ano causadas pela poluição do ar.
7. O risco é maior em crianças, pessoas idosas, mulheres ou homens?
Os dados disponíveis não permitiram chegar a conclusões sobre como os riscos diferem em distintos grupos de pessoas.
8. Devemos parar de comer carne?
Comer carne traz conhecidos benefícios à saúde. Muitas recomendações nacionais orientam pessoas a limitar o consumo de carne processada e de carne vermelha, o que pode ter relação com maiores riscos de morte a partir de doenças cardíacas, diabetes e outras enfermidades.
9. Há uma quantidade segura de carne para consumo?
Os riscos aumentam com a quantia de carne consumida, mas não há dados para uma avaliação que permita concluir sobre uma quantidade segura.
10. Devemos comer apenas aves e peixe?
O risco de cancro associado ao consumo de aves e peixes não foi avaliado.
11. Devemos ser vegetarianos?
Dietas vegetarianas e dietas que incluem carne têm diferentes vantagens e desvantagens para a saúde. De qualquer modo, esta avaliação não compara diretamente os riscos de saúde envolvidos em vegetarianos e em pessoas que comem carne. O tipo de comparação é difícil porque esses grupos podem ter muitas diferenças entre si para além do consumo de carne.
12. Há algum tipo de carne vermelha que é mais seguro?
Alguns estudos investigaram riscos de cancro associados com diferentes tipos de carne, como bovina e suína, e com diversos tipos de carne processada, como presunto e salsicha. Mesmo assim, não há informação suficiente para dizer quais os tipos de carne vermelha ou de carne processada proporcionam maiores ou menores riscos de cancro.
13. O método de preservação pode influenciar no risco de cancro?
Diferentes métodos de preservação podem resultar na formação de carcinogénicos, mas o quanto isso contribui para o risco de cancro é um dado desconhecido.
Como diminuir risco de doença?
Esta é uma listagem publicada no Best-seller do New York Times “O FIM DA DOENÇA”, escrito pelo Dr. David B. Agus, um dos oncologistas e investigadores de Biomedicina mais conceituados do mundo, galardoado com diversos prémios entre os quais o da American Cancer Society, respondendo a uma pergunta de um leitor:
Quais as 10 acções mais importantes que posso realizar hoje mesmo para reduzir o meu risco de doença, em particular das duas doenças mais temidas que podem surgir no fim da vida, o cancro e a demência?
(clique nos links para mais informação)
- Consuma alimentos reais ou seja que surjam naturalmente e sejam colhidos do cultivo da “terra”
- Evite tomar vitaminas e suplementos
- Discuta com o seu médico a possibilidade de tomar aspirina e estatinas
- Participe em programas de rastreio do cancro
- Faça exercício regularmente e movimente-se ao longo do dia
- Mantenha um índice de massa corporal baixo
- Evite o tabaco
- Evite a exposição solar direta sem um protetor solar
- Evite fontes de inflamação
- Tome anualmente a vacina da gripe
Concluindo
Os perigos do processamento de carne abalaram ainda mais a nossa confiança em relação à carne processada que consumimos. Não se tratam de alarmismo exagerados mas sim da confirmação por parte da Organização Mundial de Saúde (OMS) de algo que a comunidade cientifica há muito já sabia! Desta vez a diferença está no carimbo da OMS depois de analisados centenas de estudos científicos credíveis e sujeitos à apreciação de um conjunto de especialistas com créditos reconhecidos.
Não existem portanto dúvidas do potencial cancerígeno das carnes processadas não esquecendo nunca que falamos de probabilidades ou seja estas aumentam em 18% o risco de desenvolver cancro colo-rectal. Também não convém esquecer que estas probabilidades têm uma relação proporcionalidade com a quantidade consumida ou seja a partir de 50g diárias o risco aumenta bastante.
Neste quadro de grande pessimismo convém não esquecer o bom senso que nos lembra que não será certamente por comer pontualmente um bom presunto ou um hambúrguer com bacon que “assinamos uma sentença de cancro” nas nossas vidas!
O nosso organismo é uma “máquina extraordinária” que tem sempre ativos mecanismos diários de correção das “degenerações celulares” que podem levar ao desenvolvimento de uma lesão cancerígena, desde que o ajudemos a não ter de corrigir demasiadas lesões ou seja, de forma simplista, desde que levemos uma vida saudável com alimentação variada, não exagerada nas quantidades, onde predominem legumes, frutas e peixe, pouco álcool, sem tabaco e com exercício físico diário mínimo, trocando o sofá por uma caminha após a refeição ou um passeio com o cão!
Sim… vou continuar a comer o meu hambúrguer com bacon ou uma refeição com saborosos enchidos uma vez por mês na companhia da família… se nos apetecer… mas fica claro também que mais do que isso pode colocar a saúde em graves apuros e que, nesse caso, já não podem contar comigo!
Fiquem bem!
Franklim Moura Fernandes
Referências:
- Organização Mundial de Saúde (OMS);
- International Agency for Research on Cancer (IARC);
- Food and Agriculture Organization (FAO);
- American Meat Institute;
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