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Hepatite aguda fulminante de origem desconhecida em crianças

Segundo o CEDIME (centro de informação do medicamento) da Ordem dos Farmacêuticos, no dia 15 de abril de 2022, surgiram notícias sobre surtos de hepatite aguda fulminante de etiologia desconhecida em crianças pequenas no Reino Unido e surgiram depois relatos de casos noutros países. Segundo dados do Centro Europeu para o Controlo e Prevenção de Doenças (ECDC) e da Organização Mundial de Saúde (OMS), de 28 de abril de 2022, pelo menos 111 casos foram reportados no Reino Unido, aproximadamente 55 casos prováveis e confirmados reportados em 12 países da UE/EEE, outros 12 casos nos Estados Unidos da América, 12 em Israel e um no Japão.

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Hepatite o que é?

Simplificando, uma hepatite é uma inflamação do fígado. Existem várias causas de hepatite, como drogas, medicamentos, toxinas, mas uma das mais comuns são as infeções virais. A hepatite pode prejudicar o normal funcionamento do fígado, um órgão de extrema importância que desempenha as seguintes funções essenciais:

  • Processamento de nutrientes;
  • Metabolismo e eliminação de substâncias como se fosse responsável pela “Filtração” de substâncias (toxinas, drogas, medicamentos) do sangue;
  • Combate às infeções.

Tipos de hepatites

Existem cinco tipos de hepatites conhecidas, as hepatites A, B, C, D e E cujas formas de transmissão são essencialmente as seguintes:

  • Hepatite A – Transmite-se através do consumo de alimentos ou água contaminados e contacto pessoa a pessoa. Existe vacina.
  • Hepatite B – Transmissível pelo sangue, de mãe para filho durante a gravidez, por contacto sexual desprotegido e por seringas infetadas. Existe vacina.
  • Hepatite C – Transmite-se pelo sangue de pessoa infetada ou por contágio sexual. Existe tratamento.
  • Hepatite D – Apenas infeta pessoas com infeção concomitante com a hepatite B. Não tem vacina.
  • Hepatite E – Infeção aguda contraída pelo contacto com matéria fecal presente em água ou alimentos contaminados.

Sintomas da hepatite aguda grave

O quadro clínico é de hepatite aguda grave que requer hospitalização com icterícia e transaminases hepáticas acentuadamente elevadas. Na maioria dos casos até ao momento, o início da icterícia foi precedido nas semanas anteriores por uma doença gastrointestinal com dor abdominal, vómitos (como característica mais acentuada), diarreia e náusea em crianças até aos 16 anos. A maioria dos casos não apresentou febre.

As informações sobre o desfecho dos casos ainda estão a ser recolhidas e analisadas. Até agora, a maioria dos doentes para os quais há informações disponíveis recuperou, mas alguns evoluíram para insuficiência hepática aguda tendo sido submetidos a transplante de fígado. No Reino Unido, a autoridade de saúde recomendou particular atenção a todas as crianças que apresentem sinais e sintomas potencialmente atribuíveis à hepatite que possam exigir testes de função hepática. os principais sintomas incluem: 

• Descoloração da urina (escura) e/ou fezes (pálido); 

• Icterícia (coloração amarelada da parte branca do olho e da pele);

• Prurido  (comichão);

• Artralgias (dores articulares) e mialgias (dores musculares);

• Pirexia (febre);

• Náuseas, vômitos ou dor abdominal;

• Letargia (falta de energia mental e física) e ou perda de apetite.

Causas da hepatite aguda em crianças

A causa destes casos de hepatite permanece desconhecida mas sabe-se que não há associação com viagens e que os vírus que usualmente causam hepatites (A, B, C, D e E) não foram detetados nestas crianças. Inicialmente, as hipóteses acerca da etiologia dos casos foram no sentido de se tratar de um agente infecioso ou de uma possível exposição tóxica. Não foi identificado nenhum vínculo com a vacina COVID-19 e informações detalhadas, recolhidas por meio de um questionário, sobre alimentos, bebidas e hábitos pessoais não identificaram nenhuma exposição comum.

Infeção por adenovírus será hipótese forte

Atualmente, muito embora as investigações toxicológicas continuem em curso, uma etiologia infeciosa é considerada a mais provável devido ao quadro epidemiológico e às características clínicas dos casos. A infeção por adenovírus é uma das hipóteses em estudo e considerada a principal, à data mas um facto estranho compromete esta hipótese é que em diversos casos não foi detetada qualquer presença de adenovírus, além de ser habitual a presença deste tipo de vírus nas crianças.

Adenovírus F41 é o maior suspeito

Das 169 crianças com esta hepatite severa incluídas no boletim da OMS, 85 foram testadas para a presença do adenovírus. Dessas, 74 apresentaram o resultado positivo.

Existe uma grande variedade na família dos adenovírus, boa parte provoca doenças respiratórias. O serotipo 41, particularmente comum nos exames feitos entre essas crianças, tende a desencadear reações gastrointestinais.

O ECDC tem estado a trabalhar em proximidade com as equipas dos vários países e, em conjunto com a OMS e outros parceiros, tem estado a apoiar as investigações em curso partilhando todas as informações disponíveis com os países através da sua Rede de Hepatites e com organizações clínicas – Associação Europeia para o Estudo do Fígado e Sociedade Europeia de Microbiologia Clínica e Doenças Infeciosas (ESCMID).

O que é um adenovírus?

Adenovírus são vírus de DNA classificados de acordo com 3 antígénios capsídeos principais:

  • hexon,
  • penton,
  • fibra.

Existem 7 espécies de adenovírus humanos (A a G) e 57 serotipos. Diferentes serotipos estão associados a diferentes doenças.

Adenovírus são geralmente adquiridos por meio de contato com secreções (inclusive transmissão por dedos) de uma pessoa infetada ou por contato com um objeto contaminado como uma toalha ou um instrumento. A infeção pode ser transmitida pelo ar ou pela água por exemplo ao nadar em lagos ou em piscinas sem a dose de cloro adequada. A disseminação assintomática do vírus, gastrintestinal ou respiratória, pode continuar durante meses, ou mesmo anos.

Sinais e sintomas das infeções por adenovírus

Em hospedeiros imunocompetentes, a maioria das infeções por adenovírus não apresenta sintomas (assintomática). Quando as infeções são sintomáticas, um amplo espectro de manifestações clínicas é possível porque a maioria dos adenovírus que causam doença leve tem afinidade a vários tecidos no nosso organismo.

A maioria das infecções sintomáticas ocorre nas crianças e causa febre com sinais e sintomas respiratórios altos, como faringite, otite média, tosse e tonsilite exsudativa com adenopatia cervical, que podem ser difíceis de diferenciar da faringite estreptocócica do grupo A.

Os tipos 3 e 7 do adenovírus causam uma síndrome diferente de conjuntivite, faringite e febre (febre da faringoconjuntivite).

As raras síndromes por adenovírus nos lactentes são a bronquiolite e a pneumonia graves. Em populações fechadas de adultos jovens (p. ex., recrutas militares), podem ocorrer epidemias por doença respiratória; os sintomas incluem febre e sintomas do trato respiratório inferior, normalmente traqueobronquite e, algumas vezes, pneumonia.

Ocorreram agrupamentos de casos de doença respiratória grave por adenovírus específicos (particularmente os tipos 7, 14 e 55) em adultos saudáveis.

As infeções por adenovírus são cada vez mais reconhecidas como causas de doença respiratória grave e outras doenças clínicas em adultos imunocomprometidos.

Algumas vezes a ceratoconjuntivite epidêmica é grave e ocorre de forma esporádica e em epidemias. Conjuntivites são frequentemente bilaterais. Adenopatia pré-auricular pode também surgir. Quemose, dor e lesões puntiformes das córneas, visíveis à coloração com fluoresceína, podem estar presentes. Os sinais e sintomas sistémicos são leves ou ausentes. A ceratoconjuntivite epidémica normalmente desaparece em 3 ou 4 semanas, embora as lesões da córnea possam persistir por mais tempo.

Síndromes adenovirais não respiratórias incluem cistite hemorrágica, diarreia em crianças e meningoencefalite.

A maioria dos pacientes recupera completamente. Até mesmo a pneumonia primária grave por adenovírus não é fatal, com exceção de casos fulminantes raros, predominantemente em crianças, recrutas militares e pacientes imunocomprometidos.

Diagnóstico de infeções por adenovírus

  • Avaliação clínica
  • Na doença grave, testes por reação em cadeia da polimerase (PCR [polymerase chain reaction]) das secreções respiratórias e do sangue

O diagnóstico laboratorial de infecção por adenovírus raramente modifica a conduta. Durante a doença aguda, o vírus pode ser isolado de secreções respiratórias e oculares e frequentemente das fezes e da urina. Uma elevação de 4 vezes no título de anticorpos do soro indica infecção recente por adenovírus.

O PCR pode detectar DNA dos adenovírus nas secreções respiratórias e no sangue, sendo útil quando os pacientes têm doença grave e o diagnóstico é necessário.

Tratamento das infeções das crianças por adenovírus

Tratamento sintomático

O tratamento das infeções por adenovírus é sintomático e de suporte. Nenhum antiviral tem eficácia comprovada, embora a ribavirina e o cidofovir tenham sido usados com resultados variados em pacientes imunocomprometidos.

Prevenção de infecções por adenovírus

Como prevenção primária todos nós infelizmente deveremos continuar a ter o hábito de desinfeção das mãos depois de tocar em objetos e superfícies que possam ter secreções de outras pessoas, embora ainda não se tenha a certeza da verdadeira eficácia destas medidas.

Vacinas que contêm adenovírus vivos dos tipos 4 e 7, administradas por via oral em uma cápsula entérica revestida, podem prevenir a maioria das doenças causadas por esses dois tipos. A vacina não esteve disponível durante alguns anos, mas foi reintroduzida em 2011. Contudo, só está disponível para os militares. Pode ser administrada a pacientes dos 17 aos 50 anos de idade e não deve ser prescrita para gestantes ou nutrizes.

Para minimizar a transmissão, os médicos devem trocar as luvas e lavar as mãos depois de examinar os pacientes infetados, esterilizar corretamente os instrumentos e evitar o uso dos mesmos instrumentos oftalmológicos em vários pacientes.

Os adenovírus são resistentes a muitos desinfetantes comuns; recomendam-se produtos contendo água sanitária com 2.000 a 5.000 ppm (partes por mlhão) de cloro, assim como antimicrobianos eficazes contra o norovírus recomendados pela US Environmental Protection Agency (EPA). Os US Centers for Disease Control and Prevention (CDC) emitem recomendações específicas para desinfectar equipamentos oftalmológicos a fim de prevenir a ceratoconjuntivite epidêmica.

Hipótese de Covid longo

A expressão Covid longo é utilizada para se referir às sequelas já conhecidas mas também às que ainda poderão revelar-se com o tempo. Assim convém lembrar um artigo publicado em 28 de março de 2022 na Nature metabolism com o título “Molecular consequences of SARS-CoV-2 liver tropism” cuja tradução do resumo, descrevo de seguida:

As manifestações extrapulmonares da COVID-19 têm ganhado atenção devido às suas ligações com os desfechos clínicos e as suas potenciais sequelas a longo prazo. O coronavírus 2 da síndrome respiratória aguda grave (SARS-CoV-2) exibe tropismo em relação a vários órgãos, incluindo coração e rim. Tem sido debatido se também afeta diretamente o fígado. 

Aqui nós fornecemos evidências clínicas, histopatológicas, moleculares e bioinformáticas para o tropismo hepático do SARS-CoV-2. Descobrimos que a lesão hepática, indicada por uma alta frequência de testes de função hepática anormais, é uma característica clínica comum do COVID-19 em duas coortes independentes de pacientes com COVID-19 que requerem hospitalização. 

Usando amostras de autópsia obtidas de uma terceira coorte de pacientes, fornecemos vários níveis de evidência para o tropismo do fígado por SARS-CoV-2, incluindo deteção de RNA viral em 69% das amostras de fígado de autópsia e isolamento bem-sucedido de SARS-CoV-2 infecioso do tecido hepático post mortem. Além disso, identificamos perfis de atividade baseados em fatores de transcrição, proteômicos e de transcrição em amostras de autópsia hepática, revelando semelhanças com as assinaturas associadas a várias outras infeções virais do fígado humano. 

Juntos, fornecemos uma análise multimodal abrangente do tropismo hepático SARS-CoV-2, que aumenta a nossa compreensão das consequências moleculares do COVID-19 grave e pode ser útil para a identificação de alvos farmacológicos específicos de órgãos.

Após a publicação deste estudo não parece haver dúvidas sobre a capacidade do SARS-CoV-2 causar danos e sequelas de médio longo prazo no fígado, tornando este órgão vital mais vulnerável a infeções virais, toxinas e medicamentos que normalmente não causam doença hepática severa.

Em Israel todas as crianças afetadas pela hepatite aguda tinham sido anteriormente infetadas pelo SARS-CoV-2!

Depois das crianças em geral terem sido poupadas a consequências severas do SARS-CoV-2 seria um ironia do destino a descoberta de tão graves sequelas de Covid-19 nas crianças. Como pai de três sei bem o pesadelo que seria a confirmação desta hipótese!

Evento de saúde pública preocupante

Considerando a etiologia desconhecida, a população pediátrica afetada e o potencial desfecho grave, o ECDC considera estarmos perante um evento de saúde pública preocupante. É essencial estabelecer uma vigilância a nível nacional para os países da UE/EEE o mais rapidamente possível para recolher informações detalhadas sobre os caso, tais como:

  • Epidemiológicas,
  • Clínicas,
  • Virológicas e outras, incluindo análises toxicológicas.

Os Estados-Membros da UE/EEE podem partilhar informações sobre todos os casos suspeitos na plataforma EpiPulse do ECDC para facilitar a investigação. Em Portugal ainda não há casos reportados, mas foi constituída uma taskforce pela Direção-Geral da Saúde (DGS), em articulação com o Programa Nacional para as Hepatites Virais e com a Sociedade Portuguesa de Pediatria. Esta taskforce acompanhará a situação internacional, a avaliação de risco a nível nacional e a elaboração de orientações técnicas para a deteção precoce de eventuais casos que venham a ser identificados no país. A Direção-Geral da Saúde (DGS) irá atualizando as informações e recomendações no seu site. 

Bibliografia

Nature metabolism – Molecular consequences of SARS-CoV-2 liver tropism

CDC – Acute Hepatitis and Adenovirus Infection Among Children — Alabama, October 2021–February 2022

CNN Portugal – Porque é que os médicos não acreditam que seja o adenovírus F41 a causar a hepatite aguda?

1. Centro Europeu para o Controlo e Prevenção de Doenças (ECDC). ECDC publishes Rapid Risk Assessment – Increase in severe acute hepatitis cases of unknown aetiology in children, Disponível em: https://www.ecdc.europa.eu/en/news-events/ecdc-publishes-rapid-risk-assessment-increase-severeacute-hepatitis-cases-unknown , acedido em 28 abril 2022. 

2. Centro Europeu para o Controlo e Prevenção de Doenças (ECDC). Increase in severe acute hepatitis cases of unknown aetiology in children, Disponível em: https://www.ecdc.europa.eu/en/publicationsdata/increase-severe-acute-hepatitis-cases-unknown-aetiology-children , acedido em 28 abril 2022 

3. Direção-Geral da Saúde (DGS). Casos de Hepatite de etiologia desconhecida em diversos países europeus, Disponível em: https://www.dgs.pt/em-destaque/hepatite-aguda-de-origem-desconhecidaem-criancas-informacao.aspx, acedido em 28 abril 2022. 

4. Organização Mundial de Saúde (OMS) (23 abril 2022). Disease Outbreak News; Multi-Country – Acute, severe hepatitis of unknown origin in children, Disponível em: https://www.who.int/emergencies/disease-outbreak-news/item/2022-DON376, acedido em 28 abril 2022. 

5. Centro Europeu para o Controlo e Prevenção de Doenças (ECDC). Increase in acute hepatitis of unknown origin among children – United Kingdom., Disponível em: https://www.ecdc.europa.eu/en/newsevents/increase-acute-hepatitis-unknown-origin-among-children-united-kingdom, acedido em 27 abril 2022. 

6. Site do Governo do Reino Unido (GOV.UK), Disponível em: https://www.gov.uk/government/publications/hepatitis-increase-in-acute-cases-of-unknownaetiology-in-children/increase-in-acute-hepatitis-cases-of-unknown-aetiology-in-children, acedido em 27 abril 2022. 

7. Agência de Segurança em Saúde do Reino Unido (UK Health Security Agency), Disponível em: https://gpwebsite-cdn-prod.s3.amazonaws.com/news-images/1649679961- 72c99b95fd94121c2acd01adf53f42da.pdf, acedido em 27 abril 2022.

8. CEDIME – Centro de informação do medicamento

9. CDC Alerts Providers to Hepatitis Cases of Unknown Origin

BRUXISMO DOR DE DENTES QUE PODE SER GRAVE, A VERDADE!



Bruxismo dor de dentes que pode ser grave! Tem dores de dentes ao acordar? A dor de dentes ao acordar pode ser uma consequência do bruxismo noturno e de uma inflamação, causada pelo desgaste do esmalte. Além disso, esta dor pode ser causada por elevados níveis de stress.

#bruxismo

Neste artigo vou tratar as seguintes questões:

  • Anatomia sabe quantos dentes tem um adulto?
  • Bruxismo o que é?
  • Bruxismo diurno vs noturno: Quais as diferenças?
  • Estudo: Bruxismo conhecimento atual e gestão contemporânea (publicação científica)
  • Estudo: Avaliação do bruxismo e consenso internacional (publicação científica)
  • Estudo: Avaliação da intensidade do bruxismo nos doentes com hipertensão (publicação científica)
  • Sono: o que se passa quando dorme?
  • Causas do bruxismo quais são?
  • Quais as complicações?
  • Quais os sintomas e manifestações clínicas?
  • Diagnóstico: Como se faz?
  • Tratamento: Qual o melhor?
  • Que cuidados diários deve ter?

Estudos:

Dentes e anatomia, quantos temos?

No total a dentição final dos humanos atuais é de 32 dentes, 16 permanentes superiores e mais 16 permanentes inferiores.

Bruxismo noturno o que é?

O bruxismo noturno é um distúrbio do sono caracterizado pelo apertar e ranger dos dentes, de forma involuntária,  aplicando uma força excessiva sobre a musculatura mastigatória. A palavra bruxismo do sono vem do grego brycheinm, que significa ranger dos dentes. O hábito inconsciente de ranger os dentes durante o sono, é extremamente destrutivo para a arcada dentária.

Raspar a superfície dos dentes superiores contra a dos inferiores causa um desgaste do esmalte dentário, alterando a oclusão e a posição de repouso dos músculos mandibulares. O bruxismo envolve movimentos semelhantes aos da mastigação mas com longos períodos de contração destes músculos.

Bruxismo diurno e bruxismo do sono

O bruxismo foi definido pela Academia Americana de Medicina do Sono como a “atividade muscular repetitiva da mandíbula caracterizada pelo apertamento ou ranger dos dentes e / ou empurramento da mandíbula”.

O bruxismo pode ser classificado de acordo com o momento em que ocorre, etiologia, tipo de atividade motora como status de atividade (Tabela 1). Muitas vezes, é difícil diferenciar os diferentes tipos de bruxismo. Para os fins deste artigo, o bruxismo será categorizado em bruxismo diurno (BD) e bruxismo do sono ou noturno (BN). O bruxismo diurno é uma entidade distinta do bruxismo do sono e é caracterizada principalmente pelo apertamento dos dentes.

Fonte: Journal of Conservative Dentistry – Sleep bruxism, Current knowledge and contemporary management

O bruxismo diurno é diferente do bruxismo noturno ( ou do sono ).

Assim, o bruxismo diurno é caracterizado por uma atividade semivoluntária da mandíbula, que aperta os dentes enquanto a pessoa se encontra acordada e, geralmente, não ocorre o ranger de dentes, estando relacionado com um tique ou hábito.

O bruxismo do sono é uma atividade inconsciente de ranger ou apertar os dentes, com produção de sons, enquanto o indivíduo está a dormir. O bruxismo noturno é um problema que afeta sobretudo as crianças podendo também afetar os adultos.

Sono, o que se passa quando dorme?

O sono pode ser dividido em 3 a 5 ciclos de movimentos oculares não rápidos (NREM – non rapid eye movement) e movimentos oculares rápidos (REM- rapid eye movement), com latência REM variando de 90 a 120 min.

O sono não REM pode ser subdividido em sono leve (estágios 1 e 2) e sono profundo (estágios 3 e 4). A maioria dos episódios de bruxismo do sono ocorre nos estágios leves do sono não REM (ou seja, no estágio 1 e no sono 2) e ocasionalmente (<10%) durante o sono REM, em associação com o despertar do sono. Este último é caracterizado por ativações cerebrais corticais momentâneas (3–15 s), aumentos na frequência cardíaca e atividade motora.

Durante o sono REM, os músculos geralmente estão relaxados até ao ponto de paralisia, mas a atividade cerebral é semelhante à que experimentamos quando acordados.

O bruxismo noturno durante o sono REM pode ser uma manifestação subclínica do distúrbio comportamental do sono REM, uma parassonia onde sonhos vívidos são encenados durante o sono.

Os comportamentos típicos durante o sonho incluem falar, gritar, socar, chutar, sentar, saltar da cama, bater nos braços e agarrar-se durante o sono.

Durante o sono, as atividades do músculo mastigatório rítmico (RMMA) são observadas em até 60% dos indivíduos normais e em 80% dos pacientes com bruxismo noturno. RMMA são movimentos lentos de mastigação (1 Hz) na ausência de trituração dentária.

O bruxismo do sono é identificado quando o RMMA é frequente ou associado à trituração dos dentes. RMMA são três vezes mais comuns e cerca de 30% mais intensos em pacientes com bruxismo do sono quando comparados a indivíduos normais.

A relação fisiológica entre bruxismo do sono e RMMA ainda é indefinida. A RMMA pode ser associada a aumentos na salivação para lubrificar as estruturas orofaríngeas ou para ampliar os espaços das vias aéreas superiores. Eles podem estar associados ao gerador de padrão central, uma formação complexa situada no núcleo do trigêmeo que é responsável por controlar os movimentos mastigatórios rítmicos quando acordados.

Entre os muitos fatores fisiopatológicos, o papel dos micro-despertares relacionados com o sono, neuroquímicos, genética e respiração é proeminente. A ligação entre bruxismo noturno e micro-despertares do sono foi substanciada por estudos polissonográficos (PSG). A atividade motora da mandíbula é acompanhada por alterações fisiológicas (ativação cerebral e aumento da frequência cardíaca), conforme figura 1, que corroboram a origem central do bruxismo do sono.

Neuroquímicos como adrenalina, noradrenalina, dopamina, serotonina e ácido gama-aminobutírico foram implicados na gênese do bruxismo noturno.

Devido ao papel assumido da noradrenalina no BN, foram realizados ensaios clínicos com propranolol e clonidina. O propranolol, um betabloqueador não seletivo, não causou redução no BN, mas a clonidina, um agonista alfa do sistema nervoso central, reduziu significativamente o bruxismo noturno.

L-dopa, um precursor da dopamina, diminuiu o BN enquanto bromocriptina, um agonista da dopamina, não teve efeito sobre BN.

Inibidores seletivos de recaptação de serotonina foram sugeridos para induzir ou exacerbar tanto o bruxismo diurno como o noturno. As evidências que suportam o papel dos neurotóxicos na fisiopatologia do bruxismo noturno ainda são limitadas e merecem investigações adicionais em larga escala.

Prevalência

A prevalência do bruxismo diurno em adultos foi relatada como variando de 22,1% a 31%, enquanto a do bruxismo noturno “frequente” foi mais consistente nos 13%. A prevalência do BN em crianças variou de 3,5% a 40,6% de acordo com uma revisão sistemática.

A prevalência exata do bruxismo noturno é difícil de determinar, já que a maioria dos estudos populacionais baseia-se geralmente em questionários autorreferidos devido a restrições técnicas / custo e a maioria dos doentes (> 80%) não tem consciência de seu hábito.

Além disso, constatou-se que a atividade do bruxismo varia significativamente ao longo do tempo. Embora o bruxismo diurno tende a ser maior para as mulheres, não houve diferença entre os sexos no bruxismo noturno para crianças e adultos. Ambos os tipos de bruxismo geralmente diminuem com a idade.

Causas do bruxismo noturno

A etiologia (causa) exata do Bruxismo noturno (BN) ainda não é conhecida e será provavelmente de natureza multifatorial. Originalmente, foi atribuído a fatores periféricos (morfológicos) incluindo má oclusão e interferências oclusais (ver tabela II).

Os estudos, no entanto, encontraram uma prevalência similar de bruxismo noturno em pessoas com ou sem interferências oclusais, e o BN não foi reduzido pela terapia oclusal. Além disso, não houve correlação entre fatores anatómico-estruturais e eventos de bruxismo em pacientes com bruxismo noturno.

A literatura sugere que o bruxismo noturno é regulado centralmente e não perifericamente. Questões centrais podem ser categorizadas em fatores fisiopatológicos e psicossociais (ver tabela II).

Fonte: Journal of Conservative Dentistry – Sleep bruxism, Current knowledge and contemporary management

A ligação a fatores psicossociais, como stresse emocional, foi apoiada pelos estudos que relatam níveis elevados de catecolaminas urinárias em pacientes com bruxismo noturno. Além disso, o bruxismo noturno tem sido relacionado com níveis mais elevados de stresse psicológico e cortisol salivar.

Um estudo de laboratório controlado relatou que os pacientes com BN eram mais competitivos e se sentiam mais ansiosos do que os indivíduos normais.

Comparados com indivíduos sem bruxismo os pacientes com bruxismo (diurno e noturno) também mostraram diferenças significativas e um maior grau de:
– Ansiedade,
– Depressão,
– Hostilidade,
– Ansiedade fóbica e
– Ideias paranoicas.

Assim, as causas do bruxismo do sono são multifatoriais e ainda pouco conhecidas mas existem algumas hipóteses que podem estar relacionadas com este distúrbio, a saber:

  • A má oclusão dentária ou seja o encaixe incorreto dos dentes que origina uma  mordida desajustada, afetando todo o mecanismo dentário;
  • Tensão emocional como stress,  ansiedade, raiva, medo ou frustrações;
  • Fatores genéticos podem ter influência;
  • Ingestão de álcool, cafeína, drogas e tabaco podem causar bruxismo em indivíduos geneticamente predispostos;
  • Medicamentos antidepressivos do grupo dos inibidores seletivos de recaptação de serotonina.

A frequência e a severidade do ranger dos dentes pode variar a cada noite, consoante o estado emocional do doente.

Sintomas do bruxismo noturno

Os doentes com bruxismo apresentam, geralmente, os seguintes sintomas:

  • O ruído característico do ranger dos dentes,
  • Desgaste dentário,
  • Hipertrofia dos músculos mastigatórios e temporais,
  • Dores de cabeça ou de pescoço,
  • Disfunção da articulação temporomandibulares,
  • Má qualidade de sono,
  • Sonolência diurna,
  • Inchaço da face,
  • Maxilares doridos,
  • Dores de ouvidos.

Normalmente, quem sofre de bruxismo não o sabe até que alguém se queixe do ruído que faz ao ranger os dentes enquanto dorme.

Sintomas do bruxismo

Consequências do bruxismo do sono

O bruxismo noturno pode causar problemas graves.

  • Dentes ficarem doloridos ou soltos, e, às vezes, partes dos dentes são literalmente desgastados,
  • Destruição do osso circunvizinho e do tecido da gengiva que pode ser grave,
  • Tensões ao nível das articulações temporomandibulares (ATM) que pode causar desgastes e eventuais problemas graves.

Fonte: Journal of Conservative Dentistry – Sleep bruxism, Current knowledge and contemporary management

Diagnóstico do bruxismo

O diagnóstico é feito pela observação de um desgaste dentário anormal, ruídos de ranger de dentes durante o sono e desconforto muscular mandibular. A polissonografia regista os episódios de ranger dos dentes, permitindo identificar alterações do sono e microdespertares. As alterações predominam na fase 2 do sono não REM e nas transições entre as fases do sono. A polissonografia permite ainda o diagnóstico de outros distúrbios do sono, tais como ronco, apneia do sono, movimentos periódicos dos membros, distúrbio comportamental do sono REM e outros.

Tratamento para o bruxismo noturno

O tratamento deve ser individualizado para cada paciente. Como o bruxismo do sono tem causas variadas, o tratamento também segue na mesma orientação, a saber:

  • O uso de placas orais moles (silicone) ou duras (acrílico) visa a proteção dos dentes prevenindo o desgaste dentário ou fraturas durante o sono.
  • Psicoterapia
  • Intervenção odontológica
  • Intervenção farmacológica e suas combinações, de acordo com o perfil do paciente

Aplicações locais de toxina botulínica nos músculos envolvidos têm sido utilizadas em casos de bruxismo do sono que não respondem ao tratamento convencional.

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O bruxismo é uma das principais causas de desgaste dentário, má oclusão severa, fratura dentária, dores variadas e, mais grave, de artrite temporomaxilar (ATM). A articulação temporomaxilar é a mais complexa do corpo: abre e fecha como uma dobradiça e desliza para a frente, para trás e lateralmente, estando submetida a uma grande pressão durante a mastigação e sendo essencial no nosso dia-a-dia. Para controlar o bruxismo, é aconselhável reduzir o nível de stress e fazer terapias de relaxamento.

Cuidados diários

Para combater o incómodo causado por este distúrbio, existem várias recomendações que deve seguir:

    • Evite alimentos rijos como nozes ou chocolate
    • Massaje os músculos do rosto e pescoço
    • Aplique gelo ou uma toalha quente e molhada na face a fim de relaxar os músculos doridos

Concluindo

Uma dor de dentes ao acordar deve ser analisada pelo seu médico. Como se percebe por este artigo, dores aparentemente simples podem causar problemas muito graves e de difícil tratamento se não forem “atacadas” a tempo! Não facilite, uma dor é sempre um sinal de alerta de que algo não está bem. Pode ser uma situação simples sem gravidade mas também pode ser um início de algo mais grave! Em qualquer caso o caminho é consultar o médico para ter a certeza e dormir com menos essa preocupação!

Fique bem

Franklim Fernandes

Referências bibliográficas:

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2. de la Hoz-Aizpurua JL, Díaz-Alonso E, LaTouche-Arbizu R, Mesa-Jiménez J. Sleep bruxism. Conceptual review and update. Med Oral Patol Oral Cir Bucal. 2011;16:e231–8. [PubMed[]
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Diabetes estes são os 9 sinais de perigo!

Diabetes sintomas causas e tratamento: Quais os 9 sinais que nunca deve ignorar? O que é a diabetes?

Diabetes o que é?

O termo diabetes mellitus descreve uma desordem metabólica de etiologia (causa) múltipla, caracterizada por uma hiperglicemia crónica  ou seja um excesso de glicose no sangue, com distúrbios no metabolismo dos hidratos de carbono, lípidos e proteínas, resultantes de deficiências na secreção ou acção da insulina, ou de ambas.

Complicações

Os efeitos da diabetes mellitus a longo prazo, incluem danos, disfunção e falência de vários orgãos. Nos casos mais graves pode levar a perda de sensibilidade nas extremidades dos membros com risco acrescido de lesões e feridas graves que não cicatrizam e podem no extremo levar a amputação de membros, principalmente dos inferiores.

A cegueira é também uma das complicações mais dramáticas.

Sintomas

A diabetes mellitus pode apresentar sintomas característicos tais como:

  • Sede,
  • Poliúria (excesso de urina),
  • Visão turva,
  • Perda de peso.

Em casos mais graves pode desenvolver-se cetoacidose, ou um estado hiperosmolar não-cetónico que pode conduzir a letargia, coma e, na ausência de tratamento adequado, à morte.

Na maioria das vezes os sintomas não são graves, podendo até estar ausentes, e consequentemente pode estar presente durante muito tempo uma hiperglicemia suficiente para causar alterações patológicas e funcionais, antes de ser feito o diagnóstico. Um dos principais problemas são as lesões cardovasculares que originam uma progressiva fragilidade dos vasos sanguineos com consequências graves no coração, rins, olhos e cérebro.

Insulina

A insulina é uma hormona e pequena proteína produzida pelo pâncreas em resposta ao aumento da glicose no sangue, principalmente durante e após uma refeição, sendo essencial para controlar o excesso de açúcar no sangue.

Desempenha um papel fundamental na regulação do metabolismo dos hidratos de carbono, lípidos e proteínas. É responsável pela utilização, de forma eficiente, da glicose, uma vez que:
• Facilita o uso de glicose pelo músculo, tecido adiposo e vários outros tecidos;
• Estimula o fígado a armazenar glicose sob a forma de glicogénio (glicogénese);
• Inibe a libertação (breakdown) de gordura no tecido adiposo.

Este último ponto, a inibição de libertação da gordura armazenada no tecido adiposo significa por exemplo que se comermos de 3/3h os nossos níveis de insulina vão manter-se elevados ao longo do dia o que significa que mesmo quando temos “gordura a mais armazenada” no tecido adiposo não conseguimos utiliza-la para produzir energia pois isso só é possível com baixos níveis de insulina no sangue.

Isto provoca um ciclo vicioso em que essas pessoas têm de comer mais e com mais frequência pois não conseguem utilizar a sua própria gordura  mas apenas armazenar glicose em forma de gordura e glicogénio.

Durante a digestão os alimentos são decompostos nos seus  nutrientes e a glicose é absorvida para a corrente sanguínea de onde é retirada para ser utilizada no interior das células para produção de energia.

Resistência à insulina

Quando há demasiado açúcar na corrente sanguínea o pâncreas é pressionado e ultrapassa os seus limites libertando demasiada insulina que é a hormona responsável por permitir a abertura de canais de glicose nas membranas celulares que permitem a entrada da glicose nas células para ser utilizada como combustível para produção de ATP (energia).

Ao longo do tempo com excesso crónico de consumo de açúcar as células começam a ficar resistentes à insulina ou seja deixam de reconhecer a insulina e os canais de glicose permanecem fechados à entrada na célula, provocando uma acumulação excessiva de glicose na corrente sanguinea. Tudo isto é consequência de maus hábitos alimentares e estilo de vida.

Tipos de diabetes

A diabetes mellitus é a doença causada pelo excesso de glicose (açúcar) na corrente sanguínea. Existem dois tipos de diabetes, a saber:

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Diabetes mellitus tipo 1

O que é a diabetes tipo 1?

Diabetes tipo 1 é uma doença crónica que ocorre quando o pâncreas produz muito pouca ou nenhuma insulina. A insulina é uma hormona que ajuda o corpo a absorver e utilizar glicose dos alimentos. Sem insulina, os níveis de glicose tornam-se mais elevados que o normal.

Diabetes mellitus tipo 2

O que é a diabetes tipo 2?

Diabetes tipo 2 é uma doença crónica que ocorre por uma combinação de produção insuficiente de insulina e/ou resistência do corpo à mesma ou seja, o paciente produz menos insulina do que deveria e ela ainda funciona mal.

Também acontece que em muitos casos a produção de insulina é suficiente em quantidade mas não em qualidade pois deixa de ser reconhecida pelas células (resistência à insulina). O diabetes tipo 2 está intimamente ligado aos maus hábitos alimentares, sedentarismo e ao excesso de peso.

Quantos diabéticos existem no mundo?
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risco de diabetes

Quais os 9 sintomas iniciais da diabetes?

Excesso de urina

O excesso de urina, chamado em medicina de poliúria, é um dos primeiros sinais e sintomas da diabetes. Quando há uma elevada concentração de glicose no sangue, geralmente acima de 180mg/dl, o corpo precisa arranjar meios de eliminar este excesso; o caminho mais fácil é pelos rins, através da urina.

Como não podemos urinar açúcar puro, o rim precisa de o diluir com água para poder eliminá-lo. Portanto, quanto maior for a glicemia (concentração de glicose no sangue), mais urina o doente eliminará.

Sede excessiva

Se o doente diabético urina em excesso, ele perderá mais água do que era suposto, ficando desidratado. A sede é o principal mecanismo de defesa do organismo contra a desidratação.

O doente diabético que não controla sua glicemia, seja por má adesão ao tratamento ou simplesmente porque ainda não descobriu que tem diabetes, acaba por entrar num ciclo vicioso. O excesso de glicose aumenta a quantidade de água perdida na urina, fazendo o paciente urinar com grande frequência.

A perda de água causa desidratação, que por sua vez desencadeia uma sede excessiva. O paciente bebe muita água, mas como a glicose continua muito alta no sangue, ele continua a urinar com muita frequência.

Cansaço

O cansaço crónico é outro sintoma comum da diabetes e ocorre por duas razões, a saber:

  • Pela desidratação, cujo mecanismo foi acima explicado.
  • Pela incapacidade das células em receber glicose.

A glicose é a principal fonte de energia das células. Quem promove a entrada de glicose do sangue para dentro das células é a insulina, que na diabetes tipo 1 é inexistente e no diabetes tipo 2 não funciona bem.

Sendo assim, a diabetes mellitus caracteriza-se essencialmente pela incapacidade do organismo em transportar glicose para as células, reduzindo a capacidade de produção de energia do nosso corpo.

Perda de peso

A perda de peso é um sintoma muito comum na diabetes tipo 1. Pode também ocorrer também na diabetes tipo 2 mas não é tão frequente.

A insulina também é a hormona responsável pelo armazenamento de gordura e pela síntese de proteínas no organismo. Como na diabetes tipo 1 há ausência de insulina, o doente deixa de armazenar gordura e de produzir músculo.

Além disso, como não há glicose para gerar energia, as células acabam por necessitar de a produzir através da quebra de proteínas e da gordura armazenada no nosso corpo. Portanto, o corpo sem insulina não gera músculos nem gorduras e ainda precisa de consumir as reservas existentes.

Na diabetes tipo 2 como há insulina circulante, estes efeitos são menos evidentes. Além disso, na diabetes tipo 2 a resistência à acção da insulina vai-se desenvolvendo lentamente ao longo dos anos, ao contrário da diabetes tipo 1, que cessa a produção de insulina de modo relativamente rápido. Na verdade, o diabetes tipo 2 está associado ao excesso de peso, que é a principal causa da resistência à insulina.

Fome excessiva

Como as células não conseguem glicose para produzir energia, o corpo interpreta este fato como se o doente estivesse em jejum. O organismo precisa de energia e o único modo que ele conhece para obtê-la é através da alimentação.

Uma das características do emagrecimento da diabetes é que ele ocorre apesar do doente se alimentar com frequência. O problema é que a glicose ingerida não é aproveitada e acaba por ser perdida na urina.

Na diabetes tipo 1 inicialmente há aumento da fome, mas em fases mais avançadas o paciente torna-se anorético, o que contribui ainda mais para a perda de peso.

Visão turva

Um sintoma muito comum da diabetes é a visão turva. O excesso de glicose no sangue causa um inchaço do cristalino, a lente do olho, mudando a sua forma e flexibilidade, diminuindo a capacidade de foco, o que torna a visão embaçada.

A visão costuma ficar turva quando a glicemia está muito elevada, voltando ao normal após o controle da diabetes. Esta alteração nos olhos não tem nada a ver com a retinopatia diabética, a complicação oftalmológica que pode surgir após anos de diabetes.

Cicatrização deficiente

O excesso de glicose no sangue, de modo crónico, causa inúmeros distúrbios no nosso organismo. A dificuldade em cicatrizar feridas ocorre por uma diminuição da função das células responsáveis pela reparação dos tecidos, diminuição da proliferação celular e dificuldade em produzir novos vasos sanguíneos.

Infecções

A diabetes também leva a distúrbios no sistema imunológico, por alterar o funcionamento das células de defesa. O diabético pode ser considerado um doente imunodeprimido e apresenta maior risco de desenvolver infecções, nomeadamente:

  • Infecção urinária (ex: cistite),
  • Infecções de pele (ex: erisipela e celulite),
  • Infecções fungicas (ex: candidiase)
  • Infecções respiratórias (ex: pneumonia).

Cetoacidose diabética

A cetoacidose diabética é uma complicação da diabetes tipo 1, sendo muitas vezes o primeiro sinal da doença. Como há ausência de insulina, as células não recebem glicose e precisam de arranjar outra fonte para gerar energia. A solução é queimar gordura e músculos.

O problema é que estas duas fontes alternativas não geram tanta energia como a glicose e ainda produzem uma quantidade imensa de ácidos (chamados de cetoácidos), o que leva à cetoacidose.

A cetoacidose diabética costuma ocorrer quando os níveis de glicose no sangue ultrapassam os 500mg/dl e é uma emergência médica porque faz com que o pH do sangue caia a níveis perigosos, podendo levar à morte. Os sinais e sintomas da cetoacidose são os seguintes:

  • Náuseas,
  • Vômitos,
  • Dor abdominal,
  • Confusão mental,
  • Prostração,
  • Dificuldade respiratória.

Glicose, qual o valor normal?

Os valores normais de glicose no sangue são os seguintes:

  • Glicose em jejum – 70 a 110 mg/dl de sangue

Diagnóstico da diabetes, valores de referência

O diagnóstico da diabetes faz-se com base nos seguintes valores de referência de glicose (ou glucose) po mililitro de sangue (mg/ml):

  • Anomalia da Glicose em jejum:  ≥110 e <126 mg/dl de sangue;
  • Diabetes mellitus:  ≥126 mg/dl de sangue;
  • Diabetes gestacional (na grávida):  ≥92 e <126 mg/dl de sangue.

Hemoglobina glicada, HbA1c

Hemoglobina Glicada, também abreviada como Hb A1c, é uma forma de hemoglobina presente naturalmente nos eritrócitos humanos que é útil na identificação de altos níveis de glicemia durante períodos prolongados.

Este tipo de hemoglobina é formada a partir de reacções não enzimáticas entre a hemoglobina e a glucose. Quanto maior a exposição da hemoglobina a concentrações elevadas de glucose no sangue, maior é a formação dessa hemoglobina glicada.

A partir da comparação dos valores de hemoglobina glicada com os valores médios de glucose plasmáticas em humanos, foi possível a construção da seguinte tabela:

Hemoglobina_glicada_HbA1c melhorsaude.org melhor blog de saude

HbA1c como se forma?

Em casos normais, o tempo médio de vida de um glóbulo vermelho é de cerca 120 dias. Durante este período, a hemoglobina presente dentro dos glóbulos vermelhos fica exposta a certos elementos como a glicose plasmática.

Desta forma e dependendo da concentração de glucose plasmática, a glucose vai reagir com a hemoglobina de forma espontânea e não enzimática, formando-se assim a hemoglobina glicada. Esta reacção é irreversível. Este fenómeno é mais marcante em indivíduos com diabetes não controlados, pois os seus níveis de glucose plasmática são mais elevados que o normal.

Bioquimicamente, a glucose reage com as cadeias β da hemoglobina do tipo A (α2β2). Este tipo de hemoglobina é, de longe, a que se encontra em maiores concentrações em indivíduos adultos normais (mais de 95%). Da designação de hemoglobina A1c, o “c” representa a fracção de hemoglobina glicada separada da restante hemoglobina não glicada.

Utilidade clínica da HbA1c

Sendo a reacção irreversível, a hemoglobina glicada permite identificar a concentração média de glicose no sangue durante períodos longos de tempo, ignorando alterações de concentração episódicas.

Isto é útil no diagnóstico de diabetes, mesmo que o doente se abstenha de consumir produtos com glucose dias antes da consulta, de forma a esconder a sua situação ou a incorrecta ingestão de alimentos, tendo em conta a sua condição.

Também se evita assim que certos factores que alteram a concentração de glucose do sangue por curtos períodos (como por exemplo, o stress) possam indicar um falso diagnóstico.

HbA1c, importante estudo

Um abrangente estudo sueco, publicado em 2012, demonstrou que a diminuição de 1% nos valores de hemoglobina glicada em diabéticos idosos pode representar até 50% a mais de tempo de vida.

O estudo:  New aspects of HbA1c as a risk factor for cardiovascular diseases in type 2 diabetes: an observational study from the Swedish National Diabetes Register (NDR).

A pesquisa acompanhou mais de 12 mil pessoas ao longo de quatro anos e positivamente correlacionou taxas 50% menores de mortes devidas a doenças cardiovasculares à diminuição nos valores de HbA1c.

Glicação vs glicosilação, qual a diferença?

A glicosilação é um processo enzimático, responsável pela ligação de açúcares a proteínas, lipídeos e outras moléculas orgânicas, produzindo diversos importantes biopolímeros,

A glicação é um processo espontâneo, não-enzimático e não controlado em que ocorre alteração de moléculas como por exemplo proteínas em consequência de excessiva exposição e ligação a açúcares, como em casos de hiperglicemia (demasiado açúcar no sangue)

A glicação é portanto um processo muito mais prejudicial que pode causar imensos problemas de saúde dificeis de diagnosticar.

Stress cortisol e diabetes

A relação e influência do stress e dos niveis de cortisol associados podem ter enorme importância no aparecimento e descontrolo da diabetes!

Clique na imagem abixo para saber tudo:

DIABETES E STRESS melhorsaude.org melhor blog de saude

Inibidores da bomba de protões (IBP) e risco de diabetes tipo 2

Os inibidores da bomba de protões (IBP) muito usados para diminuir a acidez do estômago, são medicamentos eficazes e seguros quando corretamente utilizados. O seu uso prolongado pode causar diversos efeitos adversos, entre os quais alterações do microbioma intestinal. Este tipo de alterações tem vindo a ser associado à patogénese de doenças metabólicas, como a diabetes.

Os autores analisaram prospectivamente três estudos de coortes, num total de 204 689 participantes, concluindo que os utilizadores regulares de IBP tinham um risco de desenvolver diabetes 24% superior aos não utilizadores (taxa de risco (HR) de 1,24), risco este que aumentava com maior duração de uso dos IBP.

Estudo: Regular use of proton pump inhibitors and risk of type 2 diabetes: results from three prospective cohort studies

Jejum e diabetes

Existem casos documentados de enormes benefícios do jejum em alguns diabéticos! Não será para todos mas vale bem a pena falar no assunto ao seu médico… se ele tiver abertura de “espírito” e conhecimento acima da média…!

Clique na imagem abaixo para conhecer casos extraordinários:

JEJUM E DIABETES melhorsaude.org melhor blog de saude

Concluindo

A Diabetes é uma doença que no século XXI tenderá a ser epidémica! Trata-se de uma doença grave que afecta muitos orgãos importantes do nosso corpo e pode levar a uma diminuição drástica da qualidade de vida.

Controle periodicamente ( 1 a 2 x ano ) os seus niveis de Glicose e se sentir algum dos sintomas iniciais descritos neste artigo teste de imediato para despistar ou tratar atempadamente a diabetes. Nunca é demais lembrar que uma alimentação mais saudável e exercício físico frequente são a sua melhor protecção contra esta doença!

Fique bem!

Franklim Fernandes

Referências

Por favor PARTILHE ESTE ARTIGO e ajude imensas pessoas a reconhecer e tratar atempadamente uma doença que pode ser muito grave!

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MEDICAMENTOS PARA A DIABETES melhorsaude.org Risco de diabetes teste melhorsaude.org

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Top 20 laboratórios farmacêuticos mais poderosas!

Top 20 multinacionais farmacêuticas mais poderosas do mundo! Quais os medicamentos mais lucrativos do mundo? A indústria farmacêutica rapidamente assumiu o centro do palco quando a COVID-19 apanhou o mundo desprevenido no início do ano passado. À medida que 2020 avançava, as farmacêuticas fabricantes de medicamentos lutaram contra o coronavírus por um lado e, por outro, enfrentaram interrupções pandêmicas, para a fabricação, marketing, I&D e receitas semelhantes.

Embora o mundo agora tenha desenvolvido medicamentos e vacinas contra a COVID-19, a crise ainda não acabou. Os fabricantes de medicamentos e vacinas estão a flexibilizar as cadeias de fornecimento e a desenvolver capacidade de produção para ajudar o mundo a combater a pandemia e ainda tentando encontrar novos tratamentos e vacinas.

Este ranking elaborado pela Fierce Pharma classifica as 20 maiores farmacêuticas por receitas globais em 2020. Apesar dos desafios associados à pandemia, as empresas atenderam às suas expectativas financeiras no ano passado, à medida que os medicamentos continuavam a chegar aos pacientes, apesar dos bloqueios e do distanciamento social. Além disso, a pandemia ofereceu uma oportunidade para a indústria farmacêutica reabilitar o seu problema de imagem pública visto que a população, em geral, considera que o setor é motivado principalmente pelo lucro e alguma “ganância”!

Leia aqui o ranking top 20 atualizado em 2023

Embora a lista das 20 maiores multinacionais farmacêuticas por volume de vendas não seja muito diferente de ano para ano, os observadores farmacêuticos astutos podem ver algumas diferenças percetíveis nas classificações de 2020 em relação ao relatório do ano passado.

Por exemplo, a Pfizer caiu 5 posições, para a 8ª posição, ao concluir o negócio para desmembrar a Upjohn. A AbbVie ganhou 3 posições e alcançou o top 5 graças à compra da Allergan. A Allergan, a 19ª empresa em 2019, deixou de estar na lista. A Bristol Myers Squibb (BMS), depois de comprar a Celgene, ganhou 4 posições e alcançou a sétima posição.

É assim que as megafusões da indústria farmacêutica remodelam o setor. No futuro, esses negócios podem enfrentar um maior escrutínio graças a uma iniciativa recém-revelada da FTC.

Também medicamentos desenvolvidos em parceria entre grandes multinacionais farmacêuticas são uma realidade. Como exemplo na tabela top 20 descrita mais abaixo neste artigo, aparece o medicamento anticoagulante Eliquis, desenvolvido pela parceria Bristol-Myers Squibb/Pfizer, cujo princípio ativo é o apixabano. Este medicamento ajuda a prevenir a formação de coágulos no sangue através do bloqueio do Fator Xa, que é um importante componente da formação de coágulos.

O única entrada nova no top 20 deste ano é o nº 20 Astellas. A empresa gerou mais de US $ 11 bilhões em 2020, o suficiente para classificá-la acima de outras multinacionais farmacêuticas de médio porte, como Regeneron, Vertex e Alexion.

O ranking das farmacêuticas de 2021 provavelmente trará mais mudanças. As empresas com medicamentos e vacinas de sucesso para a COVID-19 estão na fila para um grande aumento de receita, incluindo a Pfizer e a sua projeção de receita de US $ 15 bilhões para a vacina parceira da BioNTech.

A Moderna, por sua vez, disse que poderia ganhar mais de US $ 11 bilhões com a sua vacina para a COVID-19. A empresa comercializa apenas esse produto, de momento, mas poderia alcançar as 20 primeiras classificações em 2021 com base apenas no sucesso da vacina.

Farmacêuticas mais poderosas TOP 20

Descrevo de seguida a espantosa lista das Top 20 multinacionais farmacêuticas mais poderosas do mundo em 2020:

  1. Johnson & johnson (82,6 biliões USD)
  2. Roche
  3. Novartis
  4. Merck & Co
  5. Abbvie
  6. GlaxoSmithKline
  7. Bristol Myers Squibb
  8. Pfizer
  9. Sanofi
  10. Takeda
  11. Astrazeneca
  12. Bayer
  13. Amgen
  14. Gilead Sciences
  15. Eli Lilly & Co
  16. Boehringer Ingelheim
  17. Novo Nordisk
  18. Teva
  19. Biogen
  20. Astellas (11,51 biliões USD)

TOP 20 tabela de detalhes

RankEmpresa farmacêutica2020 Receita em biliões USDPaísMedicamentos
mais relevantes
1Johnson & Johnson$82.6
($82.1 em 2019)
EUA
New Brunswick, New Jersey
Stelara, Tremfya, Darzalex, Imbruvica, Remicade, Zytiga
2Roche$62.05 ($65.40 em 2019)Suíça
Basel
Ocrevus, Tecentriq, Pralsetinib, Evrysdi, Herceptin, Avastin, Rituxan, Alecensa
3Novartis$48.66 ($47.45 em 20219)Suíça
Basel
Leqvio, Kesimpta, Evrysdi, Cosentyx, Entresto
4Merck & Co$48.00 ($46.84 em 2019)EUA
Kenilworth, New Jersey
Keytruda, Januvia, Gardasil, Varivax, Pneumovax
5AbbVie (comprou Allergan)$45.80 ($33.27 em 2019)EUA
North Chicago, Illinois
Humira, Botox, Vraylar, Restasis, Linzess, Skyrizi, Rinvoq, Imbruvica, Venclexta, Mavyret, Creon 
6Glaxo SmithKline$43.77 ($43.32 em 2019)UK
Brentford
Shingrix, Trelegy, Nucala, Cabenuva, Zejula
7Bristol Myers Squibb$42.52 ($26.15 em 2019)EUA
New York
Revlimid, Orencia, Sprycel, Yervoy, Abraxane, Eliquis, Opdivo, Zeposia, Rebozyl
8Pfizer (fusão com a Upjohn)$41.9  ($51.75 em 2019)EUA
New York
Vyndaqel, Eliquis, Ibrance, Xeljanz, Xtandi, Enbrel, Prevnar 13, Chantix, Lorbrena
9Sanofi$41.08 ($40.46 em 2019)França
Paris
Dupixent, Sarclisa, Libtayo
10Takeda$29.25 ($30.27 em 2019)Japão
Tokyo
Entyvio, Alunbrig, Velcade, Ninlaro, Adcetris, Iclusig, Alunbrig,  Firazyr,  Takhyzro, TAK-003,  TAK-721, Maribavir
11AstraZeneca$26.62 ($24.38 em 2019)UK
Cambridge
 Imfinzi, Tremelimumab, Pulmicort, Tagrisso, Lynparza, AZD1222 (vacina Covid-19)
12Bayer$25.71 ($26.59 em 2019)Alemanha
Leverkusen
Eylea, Xarelto, Nubeqa, Vitrakvi
13Amgen$25.42 ($23.36 em 2019)EUA
Thousand Oaks, California
Neulasta, Neupogen, Sensipar, Aimovig, Evenity, Amgevita, Otezla, Sotorasib, Tezepelumab
14Gilead Sciences$24.69 ($22.45 em 2019)EUA
Foster City, California
Veklury (antiviral contra a Covid-19), Biktarvy, Genvoya, Descovy, Odefsey, Magrolimab
15Eli Lilly & Co.$24.54 ($22.32 em 2019)EUA
Indianapolis, Indiana 
Bamlanivimab + Etesevimab (anticorpos monoclonais humanos contra a Covid-19), Jardiance, Emgality, Olumiant, Donanemab (Alzheimer), Tirzepatide 
16Boehringer Ingelheim$22.29 ($21.64 em 2019)Alemanha
Ingelheim
Jardiance (em parceria Eli Lilly), Spiriva, Ofev, Tislelizumab
17Novo Nordisk$20.24 ($19.57 em 2019)Dinamarca
Bagsværd
Rybelsus (novo), Ozempic, Victoza, Saxenda.
18Teva$16.66 ($16.89 em 2019)Israel
Petah Tikva
Copaxone, Ajovy (enxaqueca), Austedo (doença de Huntington), Azilect, Pro-Air Digihaler, AirDuo Digihaler, ArmonAir Digihaler
19Biogen$13.44 ($14.38 em 2019)EUA
Cambridge, Massachusetts 
Aducanumab (Alzheimer), Spinraza, Tecfidera.
20Astellas$11.51 ($11.83 em 2019)Japão
Tóquio
Padcev (enfortumab), Roxadustat, Xtandi (parceria com Pfizer), Xospata (parceria com SeaGen)
Fonte: Fierce Pharma

Concluindo

O top 20 das mais poderosas multinacionais farmacêuticas do mundo é completamente dominado pelo Estados Unidos da América com 9 farmacêuticas nesta lista. Nos 20 lugares de destaque aparecem também a Suíça, Alemanha, UK, França, Japão, Dinamarca e Israel.

Esta lista revela uma verdade flagrante sobre o enorme poder de inovação, liderança e influência que apenas 8 países conseguem impor ao resto do mundo… para o bem e para o mal.

Embora não sendo ingênuo, como Farmacêutico Europeu, fico de certa forma mais tranquilo por saber que todo este poder, mesmo com os seus interesses próprios, ás vezes ocultos… apesar de tudo está concentrado em países com democracias consolidadas da Europa, EUA e Japão, sendo que a democracia é o pior sistema político à exceção de todos os outros… até prova em contrário!

Referências

Candidíase corrimento vaginal e mau odor



Candidíase corrimento vaginal e mau cheiro toda a verdade! A candidíase e o corrimento vaginal é mais frequente do que se julga. A candidíase vaginal ou infeção fúngica vaginal é um problema desagradável e incómodo, que mesmo não sendo grave, deve ser sempre tratado. Este artigo pretende ajudar todas as mulheres a reconhecerem atempadamente e tratarem melhor este problema de saúde frequente.

Neste artigo vou responder ás seguintes questões:

    • Candidíase vaginal o que é?
    • Que parte da vagina é afetada?
    • Como se desenvolve a candidíase?
    • Quais os sintomas?
    • Quais as mulheres mais em risco?
    • Quais as causas de candidíase?
    • O que é falso acerca da candidíase?
    • Qual o melhor tratamento?
    • Como se pode prevenir?
    • O que acontece na gravidez?
    • O seu parceiro também deve ser tratado?
    • Quais os sintomas nos homens?
    • Quais os sintomas de Balanite?
    • Como se distingue uma infecção fúngica vaginal de uma infecção urinária?
    • Como identificar outras infecções vaginais?
    • Em que  circunstâncias deve consultar o médico?
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Candidíase vaginal o que é?

A candidíase vaginal é uma infeção causada por um fungo chamado Candida albicans. Este fungo está normalmente presente no nosso organismo, onde vive tranquilamente sem provocar quaisquer danos. Todavia, se o pH natural da vagina sofrer qualquer alteração, o que acontece com relativa facilidade, este fungo pode multiplicar-se e desenvolver-se uma candidíase vaginal.

Candida Albicans que parte da vagina afeta?

A Candida Albicans afeta as seguintes partes da vagina:

  • Vulva (parte exterior da vagina)
  • Vagina

Uma higiene íntima adequada contribui favoravelmente para a prevenção de candidíase vaginal. Mas há outras causas, que a dado momento podem causar desequilíbrio na flora vaginal e favorecer a multiplicação dos fungos.

Candidiase vaginal melhorsaude.org melhor blog de saude

Causas

Bipolar mania e euforia toda a verdade!

Bipolar, doença bipolar ou doença maníaco-depressiva é caracterizada por uma alternância anormal de crises de euforia, mania e depressão! International Society for Bipolar Disorders qual a diferença entre doença bipolar e esquizofrenia? Quais os sintomas? Quais as causas? Como tratar? Como estabilizar uma crise? A família e amigos como pode ajudar? Como prever e prevenir as crises?

Segundo palavras de um dos membros da Associação de Apoio aos Doentes Depressivos e Bipolares (ADEB) e passo a citar: “Quanto mais pessoas perceberem que as perturbações do humor são doenças passíveis de tratamento médico – e não um defeito de carácter ou uma malformação da personalidade – mais poderemos minimizar os graves prejuízos humanos e económicos inevitavelmente associados a estas doenças.”

Estudos de elevado interesse sobre a doença bipolar:

Este artigo vai ao encontro de vários pedidos dos nossos leitores para tratar este tema. Pretende ser um contributo importante para clarificar muitas dúvidas sobre a doença bipolar e a diferença comparativa com outras doenças mentais como a esquizofrenia.

Neste artigo vou responder ás seguintes questões:

  • Doença bipolar, o que é?
  • Bipolar: Quais os sintomas?
  • Crise de mania: Quais os sinais?
  • Sintomas de uma crise de depressão, quais são?
  • Bipolar: Quanto tempo dura uma crise?
  • Bipolar: É possível prever a crise?
  • Idade: Em que idade surge a doença?
  • Quantas pessoas são bipolares?
  • Causas da doença Bipolar, quais as mais relevantes?
  • Depois de uma crise volta-se ao normal?
  • Tratamento: Existe cura? Como tratar as crises?
  • Medicamentos, quais mais utilizados?
  • Família e amigos: Qual a importância da consciencialização?
  • Crise de elevação de humor: Como lidar?
  • Como reduzir os efeitos de um ponto alto?
  • Como preparar uma estratégia de antecipação?
  • Euforia, O que fazer quando começa?
  • Quais os sinais de alerta quando se está em subida?
  • Mania e hipomania: O que não deve esquecer?
  • Porquê tomar medidas quando se está em hipomania?
  • Estabilizar a doença bipolar, mas como?
  • Como evolui a doença bipolar?
  • Tratar a doença bipolar, como?
  • Medicamentos mais importantes quais são?
  • Estabilizadores do humor, o que são?
  • Quais são principais estabilizadores do humor?
  • Quando deve consultar novamente o médico?
  • Quando pode parar a medicação?
  • Esquizofrenia e doença bipolar: Qual a diferença?

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No final disponibilizamos, na nossa área reservada, relatório sobre saúde mental em Portugal vs Europa e EUA. Conheça os dados e tabelas mais surpreendentes desse relatório!




Doença Bipolar o que é?

Bipolar ou Doença Bipolar, tradicionalmente designada Doença Maníaco-Depressiva, é uma doença psiquiátrica caracterizada por variações acentuadas do humor, com crises repetidas de depressão e «mania». Qualquer dos dois tipos de crise pode predominar numa mesma pessoa sendo a sua frequência bastante variável. As crises podem ser graves, moderadas ou leves.
As viragens do humor, num sentido ou noutro têm importante repercussão nas sensações, nas emoções, nas ideias e no comportamento da pessoa, com uma perda importante da saúde e da autonomia da personalidade.

Sintomas

Os sintomas podem variar rapidamente entre uma crise de mania (euforia) e uma crise de depressão.

Crise de mania

O principal sintoma de «MANIA» é um estado de humor elevado e expansivo, eufórico ou irritável. Nas fases iniciais da crise a pessoa pode sentir-se mais alegre, sociável, ativa, faladora, autoconfiante, inteligente e criativa. Com a elevação progressiva do humor e a aceleração psíquica podem surgir alguns ou todos os seguintes sintomas:

    • Irritabilidade extrema; a pessoa torna-se exigente e zanga-se quando os outros não acatam os seus desejos e vontades;
    • Alterações emocionais súbitas e imprevisíveis, os pensamentos aceleram-se, a fala é muito rápida, com mudanças frequentes de assunto;
    • Reação excessiva a estímulos, interpretação errada de acontecimentos, irritação com pequenas coisas, levando a mal comentários banais;
    • Aumento de interesse em diversas atividades, despesas excessivas, dívidas e ofertas exageradas;
    • Grandiosidade, aumento do amor próprio. A pessoa, pode sentir-se melhor e mais poderosa do que toda gente;
    • Energia excessiva, possibilitando uma hiperatividade ininterrupta;
    • Diminuição da necessidade de dormir;
    • Aumento da vontade sexual, comportamento desinibido com escolhas inadequadas;
    • Incapacidade em reconhecer a doença, tendência a recusar o tratamento e a culpar os outros pelo que corre mal;
    • Perda da noção da realidade, ideias estranhas (delírios) e «vozes»;
    • Abuso de álcool e de substâncias.

Crise de depressão

O principal sintoma é um estado de humor de tristeza e desespero. Em função da gravidade da depressão, podem sentir-se alguns ou muitos dos seguintes sintomas:

    • Preocupação com fracassos ou incapacidades e perda da autoestima. Pode ficar-se obcecado com pensamentos negativos, sem conseguir afastá-los;
    • Sentimentos de inutilidade, desespero e culpa excessiva;
    • Pensamento lento, esquecimentos, dificuldade de concentração e em tomar decisões;
    • Perda de interesse pelo trabalho, pelos hobbies e pelas pessoas, incluindo os familiares e amigos;
    • Preocupação excessiva com queixas físicas, como por exemplo a obstipação;
    • Agitação, inquietação, sem conseguir estar sossegado ou perda de energia, cansaço, inação total;
    • Alterações do apetite e do peso;
    • Alterações do sono: insónia ou sono a mais;
    • Diminuição do desejo sexual;
    • Choro fácil ou vontade de chorar sem ser capaz;
    • Ideias de morte e de suicídio; tentativas de suicídio;
    • Uso excessivo de bebidas alcoólicas ou de outras substancias;
    • Perda da noção de realidade, ideias estranhas (delírios) e «vozes» com conteúdo negativo e depreciativo;

Por vezes o/a doente tem, durante a mesma crise, sintomas de depressão e de «mania», o que corresponde às crises mistas.

Quanto tempo dura uma crise?

Varia muito. A pessoa pode estar em fase maníaca ou depressiva durante alguns dias, ou durante vários meses. Os períodos de estabilidade entre as crises podem durar dias, meses ou anos. O tratamento adequado encurta a duração das crises e pode preveni-las.

Prever as crises

Para algumas pessoas, sim. Umas terão uma ou duas crises durante toda a vida, outras pessoas recaem repetidas vezes em certas alturas do ano (caso não estejam tratadas!). Há doentes que têm mais do que 4 crises por ano (ciclos rápidos).

Idade

Pode começar em qualquer altura, durante ou depois da adolescência.

Quantas pessoas sofrem de doença bipolar?

Aproximadamente 1% da população sofrem da doença, numa percentagem idêntica em ambos os sexos ou seja em Portugal cerca de 100.000 pessoas.

Causas da doença

Há vários fatores que predispõem para a doença, mas o seu conhecimento ainda é incompleto.
Os fatores genéticos e biológicos (na química do cérebro) têm um papel essencial entre as causas da doença, mas o tipo de personalidade e os stresses que a pessoa enfrenta desempenham também um papel relevante no desencadeamento das crises.

Depois de uma crise volta-se ao normal?

Em geral, sim. No entanto, devido às consequências dramáticas que as crises podem ter, no plano social, familiar e individual, a vida da pessoa complica-se e perturba-se muito, restringindo de forma marcante a sua capacidade de adaptação e autonomia.
O tratamento adequado para a prevenção das crises se forem graves e/ou frequentes é essencial para evitar os muitos riscos inerentes à doença.

Tratamento para as crises

Não há nenhum tratamento que cure a doença por completo. No entanto, há grandes possibilidades de controlar a doença, através de medicamentos estabilizadores do humor, cuja ação terapêutica diminui muito a probabilidade de recaídas, tanto das crises de depressão como de «mania».

Medicamentos mais utilizados

Os medicamentos mais utilizados para controlar a doença bipolar, principalmente nas crises de mania, são os estabilizadores do humor. As crises depressivas tratam-se com antidepressivos.

Estabilizadores do humor

Os mais utilizados estabilizadores do humor para controlar as crises de mania pertencem a 3 grupos distintos de medicamentos, a saber:

  • Antipsicóticos
  • Anticonvulsivantes
  • Lítio

Antipsicóticos ou neurolépticos

São primariamente usados na psicose, esquizofrenia por exemplo, mas provaram ter um efeito estabilizador de humor na Perturbação Bipolar. Exemplos mais usados:

    • Olanzapina ( Zyprexa®),
    • Risperidona (Risperdal®),
    • Quetiapina (Seroquel®),

Anticonvulsivantes

São primariamente usados na epilepsia mas provaram ter um efeito estabilizador de humor na Perturbação Bipolar. Exemplos mais usados:

    • Lamotrigina (Lamictal®),
    • Valproato (Diplexil®, Depakine®),
    • Carbamazepina (Tegretol®),
    • Ziprasidona (Zeldox®).

Lítio

Estabilizador de Humor. Exemplo:

  • Carbonato de Lítio (Priadel®)

Antidepressivos

As crises depressivas tratam-se com antidepressivos, tais como:

    • Fluoxetina,
    • Sertralina,
    • Venlafaxina,
    • Paroxetina,

As crises de mania tratam-se com os estabilizadores do humor atrás referidos e com os medicamentos neurolépticos ou antipsicóticos típicos e atípicos em função do doente e gravidade das crises. Naturalmente, o apoio psicológico individual e familiar é um complemento indispensável para o tratamento.
As crises graves obrigam a tratamento hospitalar em muitos casos.

Familiares e amigos

A noção de doença mental na opinião pública é, em geral, muito confusa e pouco correta. Verifica-se uma tendência para considerar negativamente as pessoas que sofrem de doenças psiquiátricas e é frequente a ideia de que as doenças mentais são qualitativamente diferentes das outras doenças. É muito comum imaginar que há uma «doença mental» única («a doença mental»), atribuindo às pessoas que tenham sofrido crises, um prognóstico negativo de incurabilidade, aferido erradamente pelos casos de doentes mentais mais graves e crónicos. Por vezes o diagnóstico médico das diferentes doenças psiquiátricas não se faz na altura própria, por variadas razões, e isso acontece, com alguma frequência, na Doença Bipolar.

O conhecimento, mesmo que simplificado, das características da Doença Bipolar facilita a seu reconhecimento aos próprios (que a sofrem) e aos outros, possibilitando uma maior ajuda a muitas pessoas que carecem de um tratamento médico adequado e de uma solidária compreensão humana.
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Crise de elevação de humor

Fatores mais importantes

Os fatores mais importantes a ter em conta numa crise de elevação de humor são:

    • O reconhecimento precoce dos sinais de crise;
    • Saber o que fazer quando a pessoa começa a sentir-se em crise.

Um “alto” ou um episódio de elevação do humor (mania/hipomania) afeta cada pessoa em velocidades variadas. Se excetuarmos os casos de início muito rápido, é possível para as pessoas com Doença Bipolar (maníaco-depressiva) aprender a reconhecer os sinais de crise para agir de forma a reduzir a gravidade e impacto da crise. Se passar pela hipomania antes de entrar na verdadeira mania, tem uma grande vantagem pois este período de leve elevação do humor possibilita-lhe a adoção de estratégias de prevenção adequadas.

Reduzir os efeitos de um ponto alto

De uma forma geral aplicam-se os mesmos conselhos a situações de hipomania e de mania.

Estratégia de antecipação

Mantenha-se em contacto com o seu médico. Se aprendeu a reconhecer os sinais de crise pode discutir com ele os benefícios de uma automedicação de prevenção de crise e guardar uma reserva de medicamentos para este propósito (seguindo a indicação médica!).
Considere a hipótese de estabelecer um contrato com os seus amigos e familiares mais próximos acerca do que poderão fazer se acharem que está a entrar em crise.
Combine, para essa fase, entregar a algum deles o seu cartão de crédito e o livro de cheques.
Se tem a tendência de fazer grandes despesas em telefonemas, este problema deve ser discutido quando se encontra estável.

Euforia o que fazer?

Consulte o seu médico o mais depressa possível para um ajustamento na medicação. Veja se deve parar algum medicamento antidepressivo que pode estar a precipitar ou a agravar a crise. Se já está a tomar um neuroléptico (antipsicótico), pode haver a necessidade de aumentar a respetiva dose. Se não estiver a tomar, poderá carecer dessa medicação, acrescentada à sua medicação de estabilização habitual com o Lítio, o Divalproato, a Carbamazepina, a Lamotrigina e a Olanzapina.
Evite situações que o possam excitar e criar-lhe problemas ou complicações, como saídas, festas, reuniões, contactos com muitas pessoas, trabalho. Canalize a sua energia para atividades mais tranquilas, que não estimulem e excitem, como escrever, pintar ou praticar exercício físico (com moderação).
Apesar de não ter vontade de descansar, necessita de o fazer. Pequenos períodos de repouso são muito positivos.

    • Escute os que lhe estão próximos – pergunte-lhes como o acham;
    • Não se esqueça de comer;
    • Obtenha ajuda quando necessita, para ir às compras, por exemplo;
    • Planeie o seu dia com o mínimo de atividades, e não ceda à tentação de acrescentar demasiadas tarefas;
    • Evite o café, o chá ou a coca-cola, pois são estimulantes;
    • Evite o álcool;
    • Não conduza.

Se a sua hiperatividade mental lhe produz dificuldades de concentração, faça uma lista das questões essenciais a não esquecer.
Certifique-se que as pessoas da sua lista de apoio sabem que está “acelerado” e que pode precisar de ajuda. Recorde-se de que falar durante longos períodos vai desgastá-lo a si, aos seus amigos, familiares e contactos profissionais. Uma nota escrita permite-lhe concentrar-se no essencial a dizer à pessoas. Decidir limitar previamente o tempo de uma conversa pode ser também útil.
Se está cheio de ideias brilhantes, passe-as a escrito. Verifique a lista depois de estar estabilizado e decida quais as que fazem ainda sentido.

Sinais de alerta, quando se está em subida

    • Aumento de atividade física como, por exemplo, as suas tarefas estarem todas feitas às 7h da manhã.
    • Mente hiperativa, com aumento de intensidade de pensamentos ou emoções e uma maior rapidez verbal.
    • Dormir menos, acordando muito cedo, cheio de energia ou deitando-se muito tarde, sem saber quando parar.
    • Sentimentos de alegria, felicidade e excitação. Em algumas pessoas podem acompanhar-se de irritabilidade, medo, desconfiança ou paranoia (sentir que os outros estão contra si, o perseguem).
    • Sensações de vivência em uníssono com todas as pessoas, o mundo, e o universo.
    • Constante pressa com múltiplas tarefas ao mesmo tempo, sem conseguir terminar nenhuma.
    • Falar tão depressa que os outros não o conseguem acompanhar. Interrupção total ou quase total do discurso dos outros.
    • Manutenção de longas conversas, frequentemente divertidas e profundas, mesmo com estranhos. Passar horas ao telefone.
    • Esquecer-se de comer, por estar muito ocupado.
    • Subitamente tem muitas coisas para fazer, muitas pessoas para ver, muitos sítios onde ir, muitas ideias e planos, possivelmente acompanhados de esquemas ambiciosos para “fazer milhões” ou “salvar o mundo”.
    • Fazer coisas estranhas ao seu carácter, por exemplo, gastar muito dinheiro e agir de modo destravado no plano sexual.

Mania e hipomania o que não pode esquecer

O estado psíquico é muitas vezes agradável, tão intensamente, que há grande relutância em reconhecer que se possa estar doente. Na fase de hipomania a pessoa sente-se muito bem, ativa, produtiva, de tal modo que é difícil aceitar que está em evolução uma crise e que são necessárias medidas terapêuticas.
Pode reconhecer que está hipomaníaco, mas subestimar a gravidade da situação. Pode sentir-se confiante em que “desta” vez não vai cair numa crise grave de Mania. Devido ao seu estado psíquico pode não se importar em entrar em Mania.

Hipomania porquê tomar medidas?

As consequências para a sua vida e para as relações com as outras pessoas, como resultado dos seus atos na fase mais alta, ou mesmo, apenas em hipomania, podem ser dramáticas e muito prejudiciais. A euforia de uma fase de hipomania pode impedir uma consciencialização desses riscos.
A não ser que se tomem medidas adequadas, a crise pode evoluir para uma fase de Mania grave.
A viragem para a depressão segue-se muitas vezes à fase de Mania e é muitas vezes pior após uma fase grave de elevação.

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ESTABILIZAÇÃO DA DOENÇA BIPOLAR

Evolução da doença bipolar?

    • De que tipos de crises (acessos ou fases) sofrem as pessoas com Doença Bipolar?
    • Com que frequência voltam a ter recorrências, a sofrer novas crises?

Algumas pessoas têm um número igual de crises de euforia ou excitação irritável (mania) e de depressão. Outras têm principalmente crises de um tipo, de depressão ou de euforia. Em média, uma pessoa que sofre de Doença Bipolar tem quatro crises durante os primeiros 10 anos da doença. Embora possa haver um intervalo de anos entre duas ou três primeiras crises, a sua frequência é maior se não se fizer o tratamento estabilizador apropriado.

As crises podem corresponder às mudanças de estação em padrões variáveis, no “rebentar” e no “cair” da folha, no Inverno e no Verão. Algumas pessoas têm crises frequentes ao longo do ano, por vezes, mesmo, ciclos ininterruptos de euforia e depressão. As primeiras crises podem ser desencadeadas por fatores emocionais ou stress, mas à medida que a doença evolui, se a pessoa não fizer o tratamento estabilizador (preventivo), as crises podem surgir com maior frequência e sem fatores precipitantes dignos de relevo.

As crises podem durar dias, meses ou mesmo anos. Em média, sem tratamento, as fases de mania e hipomania (euforia leve) duraram poucos meses, enquanto as depressões arrastam-se muitas vezes por mais de seis meses.

Há designações especiais para cada forma de evolução da Doença Bipolar, a saber:

Bipolar I

A pessoa sofre crises de mania ou crises mistas(sintomas de depressão e mania misturados) e, quase sempre, também tem fases depressivas. As crises voltam a repetir-se exceto se fizer o tratamento preventivo.

Bipolar II

A pessoa tem crises depressivas graves e fases leves de elevação do humor (hipomania). As crises de elevação do humor podem não ser identificadas ou referidas porque o doente se sente “acima do normal” com muita energia e alegria, sem perturbações óbvias. Se o tratamento for só para a depressão, com uma medicação exclusivamente com antidepressivos, não se verifica uma estabilização, podendo surgir crises frequentes e uma viragem do humor.

Ciclos Rápidos

A pessoa tem pelo menos quatro crises por ano, em qualquer combinação de fases de mania, hipomania, mistas e depressivas. Corresponde a uma evolução que atinge entre 5 e 15% dos doentes com Doença Bipolar. Pode, em alguns casos, resultar de uma terapêutica demasiado intensiva e prolongada com antidepressivos, em vez da adequada terapêutica de estabilização do humor.

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TRATAMENTO DA DOENÇA BIPOLAR

Naturalmente, as indicações que aqui ficam são as essenciais para o reconhecimento da doença pelo doente e os familiares, mas não devem levar a minimizar o papel do médico psiquiatra, elemento chave no tratamento. Pelo contrário, o melhor conhecimento e reconhecimento da doença e dos aspetos gerais do tratamento visa permitir uma colaboração mais ativa entre todos, doente, família, médico psiquiatra, médico de família e outros técnicos de saúde (enfermeiro, psicólogo, técnico de serviço social).

No tratamento da Doença Bipolar há que ter em conta, por um lado, as fases agudas e, por outro, a estratégia de prevenção das crises. Quando o doente sofre uma crise de depressão, de mania, hipomania, ou mista, precisa de ser tratado na fase aguda com a terapêutica apropriada antidepressiva, anti-maníaca ou antipsicótica, sendo necessária, em muitos casos, a hospitalização no período crítico. Depois de tratada a fase aguda e na continuidade do seu tratamento, inicia-se a terapêutica preventiva das crises para evitar que voltem a ocorrer. Para que o tratamento seja eficaz é necessária uma medicação (tanto para a fase aguda como para a estabilização da doença), acompanhada de uma educação do doente e dos familiares (sobre a doença, os medicamentos, a necessidade de aderir ao tratamento, modificação de hábitos nocivos). Pode ser benéfico um apoio psicológico para o doente e seus familiares (como lidar com os problemas e o stress, etc).

Medicamentos mais importantes

Os medicamentos mais importantes no tratamento dos sintomas da Doença Bipolar são os estabilizadores do humor e os antidepressivos. Mas o médico pode ter necessidade de receitar outros medicamentos, como:

    • Antipsicóticos,
    • Ansiolíticos,
    • Hipnóticos.

Para a prevenção das crises e a estabilização da doença são essenciais os medicamentos designados, com toda a propriedade, estabilizadores do humor. É importante agora dar algumas informações sobre estes últimos medicamentos.

Estabilizadores do humor

Os medicamentos estabilizadores do humor são a base essencial da terapêutica preventiva das fases depressivas e eufóricas da Doença Bipolar. A sua descoberta e utilização revolucionou o tratamento da doença, permitindo a muitas pessoas o controle da Perturbação Bipolar através de uma prevenção das crises. A par desta acção terapêutica essencial, os estabilizadores do humor também são utilizados para o tratamento das crises de mania, hipomania e estados mistos e podem atenuar os sintomas de depressão.

Quais os mais usados atualmente?

Os estabilizadores do humor mais usados atualmente são principalmente os seguintes:

    • Valproato, (Diplexil R® e Depakine®);
    • Carbamazepina (Tegretol®).
    • Olanzapina (Zyprexa®)
    • Quetiapina (Seroquel®)

Cada um destes três estabilizadores do humor tem diferentes acções químicas no organismo. Se um não for eficaz no tratamento ou tiver efeitos adversos persistentes o médico tem a possibilidade de escolher outro, ou de combinar dois em doses que permitam uma melhor tolerância e eficácia. Há análises para determinar o nível sanguíneo dos três estabilizadores do humor, permitindo o controle correto da dose em cada doente.

Prevenção é a palavra-chave. Os estabilizadores do humor (lítio, Valproato, carbamazepina) são a base de prevenção. Cerca de um terço das pessoas com Doença Bipolar ficam completamente livres de sintomas com a manutenção estabilizadora apropriada. A maioria das pessoas beneficia de uma grande redução no número e na gravidade das crises. O médico poderá ter de fazer um acerto da medicação ou uma outra combinação terapêutica caso se continuem a verificar crises de mania ou depressão.

Consultar novamente o médico, quando?

Caso a medicação não seja 100% eficaz, não fique desencorajado: a informação rápida do médico sobre sintomas de instabilidade é essencial para um ajustamento terapêutico que previna a eclosão de uma crise. O doente nunca deve recear informar o médico sobre quaisquer mudanças de sintomas, pois dessa informação precoce depende o controle da doença. Contacte o médico sem demora se:

    • Sentir mudanças no sono,
    • Sentir aumento ou diminuição de energia,
    • Se sentir mudança no humor (alegria excessiva, irritabilidade ou tristeza),
    • Se sentir mudança no seu comportamento e relações com pessoas.

Quando se pode parar a medicação?

A manutenção da medicação é outro aspeto essencial. Os medicamentos controlam, mas não curam a Doença Bipolar. Ao parar a medicação estabilizadora, mesmo depois de muitos anos sem crises, há um sério risco de uma recaída passadas algumas semanas ou meses. E, em alguns doentes, a retoma da medicação pode não se acompanhar dos mesmos bons resultados anteriores. A decisão de interromper a medicação caberá ao médico, em função de circunstância que a tal aconselham, como é o caso de uma gravidez.

Esquizofrenia e doença bipolar

Muitas vezes, por desconhecimento, estas duas doenças são colocadas, pela população em geral, no mesmo saco, no entanto elas têm traços diferenciadores bem marcados, apesar de alguma medicação ser comum a ambas as doenças, nomeadamente alguns estabilizadores do humor de 2ª geração porque em ambas as doenças existem episódios de agressividade que necessitam de ser estabilizados.

Na doença bipolar existe uma alternância abrupta de estados de humor e frequentemente uma resposta exagerada a situações reais ou seja, por exemplo, uma reação de euforia desmedida a uma situação positiva mas que rapidamente pode dar lugar a uma depressão profunda em reação a um qualquer detalhe negativo que num contexto normal não teria qualquer relevância.

Na esquizofrenia existe com frequência um estado de depressão, agressividade ou medo a uma situação imaginária que não tem sustentação real, por exemplo, o doente suspeitar que está a ser perseguido e escutado por uma entidade ou pessoas que o querem prejudicar por ser uma ameaça para a sociedade! Muitas vezes o doente julga que a própria família o persegue! Existem também na esquizofrenia episódios de alucinações e delírios.

Concluindo

A doença mental inclui patologias estigmatizantes de muito difícil gestão pessoal, familiar, social e do ponto de vista médico. Continua a haver uma grande falta de informação da população sobre estas doenças e a melhor forma de as tratar. Os próprios doentes muitas vezes não as admitem e recusam-se a procurar ajuda médica. Os mais próximos ficam impotentes perante as crises graves e assistem com tristeza à destruição das amizades e das relações familiares. Este quadro já de si grave leva muitos doentes a ficarem ainda mais isolados piorando a sua condição de saúde. É urgente a informação clara, simples mas rigorosa da população em geral sobre as doenças mentais mais frequentes por forma a que os doentes procurem, de forma natural, ajuda e as suas famílias possam apoia-los corretamente.

A população tem de começar a aceitar a doença mental não de uma forma estigmatizante e receosa  mas sim como uma patologia que, como todas as outras, necessita apenas do tratamento adequado e quase sempre crónico à semelhança de inúmeras doenças do nosso tempo.

Fique bem!

Franklim Fernandes

Referências:

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Iodeto de potássio radiação e profilaxia para acidentes nucleares

A invasão da Rússia à Ucrânia é um choque emocional absolutamente avassalador que não deixa espaço a indiferença e trás à nossa mente o fantasma da última grande guerra mundial e em particular as explosões atómicas de Hiroshima em 6 de agosto de 1945 e Nagasaki em 9 de agosto de 1945 que levaram, em 2 de setembro de 1945, à rendição do Japão. Setenta e seis anos depois vêm a público notícias relacionadas com a corrida desenfreada a medicamentos e suplementos contendo iodeto de potássio (KI) para eventual profilaxia em caso de acidentes nucleares!

Farmacêuticos relatam pedidos nas farmácias

Vários Farmacêuticos têm relatado o aumento de pedidos de comprimidos de iodeto de potássio nos balcões das farmácias para proteção da radiação. A Secção Regional Norte da Ordem dos Farmacêuticos (SRN-OF) considera pertinente uma reflexão sobre a profilaxia com iodeto de potássio para acidentes nucleares com libertação de isótopos de iodo radioativo, chamando a atenção para a probabilidade praticamente inexistente desta profilaxia vir a ser necessária, e para o facto dos medicamentos com iodeto de potássio que se encontram à venda nas farmácias serem ineficazes para o efeito pretendido.

Iodeto de potássio e acidente nuclear

Em caso de acidente nuclear, a fissão do urânio produz grandes quantidades de iodo-131 [131I] que podem ser libertadas para a atmosfera; a nuvem de radioatividade resultante pode percorrer até 500 km (como curiosidade, o comprimento de Portugal é de cerca de 561 km). Deste modo, a não ser que o desastre nuclear ocorra em Espanha ou em Portugal, não existe necessidade de profilaxia no nosso país, não havendo assim razão para alarme.

iodo-131 [131I] como entra no organismo?

131I pode entrar no organismo por inalação ou por ingestão de alimentos contaminados. Este isótopo, com uma meia-vida de cerca de 8 dias, é de facto um dos mais perigosos que são libertados num acidente nuclear, porque se concentra na tiroide e emite raios beta e gama durante o seu decaimento, que provocam danos celulares e cancro nesta glândula.

Como funciona o iodeto de potássio(KI)?

A glândula tiroide não consegue diferenciar entre as formas estável e radioativa de iodo, por isso, absorve ambos. O iodeto de potássio funciona de forma a evitar que o iodo radioativo penetre a glândula tiroide, onde pode causar danos. Quando uma pessoa ingere KI, a tiroide absorve o iodo estável presente no medicamento. O iodeto de potássio contém muito iodo em forma estável, fazendo com que a tiroide fique “cheia” e não consiga absorver mais iodo (estável ou radioativo) durante as próximas 24 horas.

Profilaxia com iodeto de potássio

A profilaxia com iodeto de potássio, no caso de acidentes nucleares, pode reduzir significativamente a dose de radiação para a tiroide devido à exposição a 131I. Normalmente, há pouco iodo estável no organismo. Em condições fisiológicas normais, quando ocorre uma  exposição a pequena quantidade de 131I, cerca de 30% será concentrado na tiroide. Após a profilaxia com iodeto de potássio, este compete com o 131I e a sua captação pela tiroide ficará praticamente bloqueada. Na altura do acidente do reator de Chernobyl, o governo polaco distribuiu iodeto de potássio a 95% das crianças polacas e a 23% da população total.

Estimou-se que a concentração de 131I na tiroide dos indivíduos a quem foi administrado iodeto de potássio foi reduzida em quase 40%. No entanto, é fundamental que o iodeto de potássio seja tomado poucas horas após a exposição. Estimando-se que, passadas 3-4 horas, a eficácia é reduzida em 50% (Tabela 1).

Tempo de profilaxia pelo iodeto de potássioEficácia
96 h antes da exposição5%
72 h antes da exposição32%
48 h antes da exposição75%
24 h antes da exposição93%
Durante a exposição99%
1-2 h após exposição85%-90%
3-4 h após exposição50%
8 h após exposição40%
24 h após exposição7%
Tabela 1. Percentagem de eficácia da profilaxia com iodeto de potássio (100 mg) em relação ao tempo de administração e exposição ao 131I (de Int. J. Environ. Res. Public Health 2014, 11, 4158-4200).

Medicamentos aprovados

Em Portugal, existe apenas um medicamento aprovado pelo INFARMED para utilização após acidentes nucleares com libertação de isótopos de iodo radioativo – Iodeto de potássio GL Pharma 65 mg comprimidos.

De acordo com o resumo das características deste medicamento (consultado em https://extranet.infarmed.pt/INFOMED-fo/), a posologia deverá ser a seguinte:

  • Adultos e crianças com mais de 12 anos: 2 comprimidos
  • Crianças dos 3 aos 12 anos: 1 comprimido
  • Crianças de 1 mês de idade aos 3 anos: meio comprimido
  • Recém-nascidos e bebés com menos de 1 mês de idade: um quarto de comprimido
  • Mulheres grávidas e a amamentar (de qualquer idade): 2 comprimidos

No entanto, este medicamento não se encontra comercializado. Assim, em caso de eminência de desastre nuclear deverá competir à administração central colocar em prática um plano geral que envolva a pré-distribuição de iodeto de potássio a populações em risco (até 500 km do epicentro de um potencial incidente nuclear) e a administração imediata, até 2 horas após o incidente.

Os doentes que tiveram a sua tiroide removida, ou que têm hipotiroidismo de diferentes etiologias e estão a tomar hormonas da tiroide, não necessitarão de fazer a profilaxia iodeto de potássio, uma vez que a tiroide não concentrará uma quantidade significativa de 131I. Além disso, os indivíduos com mais de 40 anos de idade têm menos probabilidade de desenvolver cancro da tiroide após exposição a 131I.

Efeitos secundários

Os possíveis efeitos secundários do iodeto de potássio podem ser reduzidos utilizando a dose profilática eficaz mais baixa. Quando utilizado pelas autoridades de saúde pública para exposição a 131I, os benefícios do bloqueio da tiroide pelo iodeto de potássio excedem, de longe, os riscos para a saúde de todos os grupos etários. Os efeitos adversos da profilaxia por iodeto de potássio na saúde podem incluir reações alérgicas leves, tais como erupções cutâneas ou desconforto gastrointestinal.

Advertências e precauções especiais de utilização

As advertências e precauções especiais de utilização podem ser consultadas no resumo das características do medicamento Iodeto de potássio GL Pharma 65 mg comprimidos. Entre os efeitos mais relevantes são referidos os seguintes relativamente às mulheres grávidas e recém-nascidos, doentes com tirotoxicose e hipertiroidismo:

As mulheres grávidas e a amamentar devem tomar, no máximo, duas doses. Aos recém-nascidos não deve ser administrada mais do que uma única dose. As crianças que tenham reações cutâneas após a primeira toma também não devem tomar mais doses.

Nos primeiros dias de vida, os recém-nascidos estão em especial risco de exposição a iodo radioativo e bloqueio da função tireóidea por sobrecarga de iodeto de potássio. A fração de absorção radioativa é quatro vezes superior à de todos os outros grupos etários. A tiroide neonatal é especialmente sensível ao bloqueio funcional causado por sobrecarga de iodeto de potássio. O hipotiroidismo transitório nesta fase inicial de desenvolvimento cerebral pode resultar na perda de capacidade intelectual. Se for administrado iodo estável a recém-nascidos, é essencial que se faça uma monitorização da função tiroidea. No caso dos recém-nascidos, a quem foi administrado iodeto de potássio nas primeiras semanas de vida, devem ser monitorizados os níveis da TSH e, se necessário, da T4 e deve ser administrada uma terapêutica de substituição adequada.

Os doentes com tirotoxicose tratados clinicamente, ou doentes com antecedentes de tirotoxicose tratada clinicamente que já não estejam em tratamento e aparentemente em remissão, podem estar em risco.

O hipertiroidismo induzido por iodo pode surgir em doentes com bócio nodular assintomático ou doença de Graves latente que não estejam em tratamento médico.

Referências

Super bactérias resistentes são forte causa de morte

As super bactérias e a resistência antimicrobiana (RAM) representam uma grande ameaça à saúde humana em todo o mundo. Diversas publicações estimaram o efeito da resistência antimicrobiana na incidência, mortes, tempo de internamento hospitalar e custos de saúde para combinações específicas de patogénios-drogas em locais selecionados. Um estudo publicado na revista The Lancet apresenta, até ao momento, as estimativas mais abrangentes da carga de resistência antimicrobiana a nível global (204 países)!

Resistência aos antibióticos como aparece?

Os antibióticos são medicamentos capazes de matar ou inibir o crescimento de bactérias, sendo que neste caso (inibir não matar) se denominam bacteriostáticos. A sua eficácia está associada diretamente à bactéria causadora da infeção, por isso nem todos os antibióticos são adequados para o tratamento de uma mesma infeção, devendo ser utilizados apenas no combate a infeções bacterianas e com a respetiva prescrição médica.

A resistência aos antibióticos aparece quando a bactéria a eliminar se modifica como resposta ao uso continuado do mesmo medicamento.

Como exemplo posso descrever uma pessoa que tenha sido infetada com sífilis, uma infeção sexualmente transmissível (IST) causada pela bactéria Treponema pallidum e tratada com um antibiótico denominado penicilina benzatina.

Suponhamos que com este tratamento 90% das bactérias são eliminadas e que 10% sobrevivam. Entre as sobreviventes, é possível que parte delas tenha desenvolvido mecanismos de resistência à penicilina benzatina. Estas bactérias sobreviventes vão voltar a multiplicar-se e quando forem expostas de novo ao medicamento, este pode não ter a mesma eficácia, tornando mais difícil o combate à infeção.

O uso indiscriminado de antibióticos nos hospitais e outras instituições de saúde, assim como em práticas agropecuárias contribui imenso para o aumento da resistência antimicrobiana. A compra de antibióticos sem receita médica deve ser completamente abolida para evitar a automedicação inadequada e perigosa para o próprio doente e para a sociedade em geral.

Na rotina hospitalar, por exemplo, diversos procedimentos invasivos tais como a utilização de ventilação mecânica e de cateteres venosos, são portas de entrada para as bactérias, levando ao aumento das infeções hospitalares associadas a estes instrumentos, sendo por consequência intensificado o uso de antibióticos, o que promove a seleção de bactérias resistentes nos hospitais.

A ausência de sistemas de saneamento eficazes, com o lançamento de esgoto de hospitais e domicílios no meio ambiente sem o tratamento adequado, obviamente, favorece o aumento da resistência antimicrobiana. Na natureza, as bactérias entram em contato com outros microrganismos e resíduos de antibióticos, o que gera novos processos de seleção e resistência, assim como grandes alterações da nossa microbiota quando usamos antibióticos de forma errada.

Custos para a sociedade

A resistência bacteriana aumenta os custos de tratamentos, prolonga os dias de internamento dos pacientes nos hospitais e aumenta a taxa de mortalidade. À medida que os antibióticos se tornam ineficazes, o número de infeções que se tornam mais difíceis de tratar também vai aumentar.

Com a limitação e ineficácia dos tratamentos, as infeções que hoje têm um tratamento simples, podem, no futuro, causar sérios danos ao nosso organismo, pois teremos menos recursos para combatê-las.

Um dos acontecimentos mais preocupantes é que existe o uso excessivo de colistina para promoção de crescimento em animais, que demonstrou originar resistência em animais e humanos. A colistina é um dos últimos e mais importantes antibióticos de amplo espectro para a humanidade.

Estudo publicado no The Lancet

Neste estudo foram estimadas mortes e anos de vida ajustados por incapacidade (DALYs) atribuíveis e associados à resistência antimicrobiana bacteriana para 23 patogénios e 88 combinações patogénio-droga em 204 países e territórios em 2019. Foram obtidos e estudados dados de revisões sistemáticas da literatura, sistemas hospitalares, sistemas de vigilância e outras fontes, abrangendo 471 milhões de registros individuais ou isolados e 7.585 anos locais de estudo.

Usaram modelagem estatística preditiva para produzir estimativas de carga de resistência antimicrobiana para todos os locais, inclusive para locais sem dados. A abordagem pode ser dividida em cinco componentes amplos:

  • Número de mortes em que a infeção desempenhou um papel;
  • Proporção de mortes infeciosas atribuíveis a uma determinada síndrome infeciosa;
  • Proporção de mortes por síndrome infeciosa atribuíveis a um determinado patogénio;
  • Percentagem de um determinado patogénio resistente a um antibiótico de interesse;
  • Risco excessivo de morte ou duração de uma infeção associada a essa resistência.

Usando esses componentes, foi estimada a carga de doenças com base em dois contrafactuais:

  • Mortes atribuíveis à RAM (com base num cenário alternativo em que todas as infeções resistentes a medicamentos foram substituídas por infeções sensíveis a medicamentos) e
  • Mortes associadas à RAM (com base em um cenário alternativo em que todas as infeções resistentes aos medicamentos foram substituídas por nenhuma infeção).

Os intervalos de incerteza são de 95% para estimativas finais como os 25º e 975º valores ordenados em 1.000 sorteios posteriores, e os modelos foram validados de forma cruzada para validade preditiva fora da amostra. Apresentam-se estimativas finais agregadas ao nível global e regional.

Quais as bactérias mais resistentes?

Com base nos modelos estatísticos preditivos, houve uma estimativa de 4,95 milhões de mortes associadas à resistência antimicrobiana bacteriana em 2019, incluindo 1,27 milhões de mortes atribuíveis à RAM bacteriana. A nível regional, estimamos que a taxa de mortalidade em todas as idades atribuível à resistência seja mais alta na África subsaariana ocidental, com 27,3 mortes por 100.000, e mais baixa na Australásia, com 6,5 mortes por 100 000.

As infeções respiratórias inferiores foram responsáveis ​​por mais de 1,5 milhões de mortes associadas à resistência em 2019, tornando-se a síndrome infeciosa mais onerosa. Os seis principais patogénios de mortes associadas à resistência antimicrobiana são as seguintes bactérias:

  • Escherichia coli,
  • Staphylococcus aureus,
  • Klebsiella pneumoniae,
  • Streptococcus pneumoniae,
  • Acinetobacter baumannii.
  • Pseudomonas aeruginosa.

Estas seis bactérias foram responsáveis ​​por 929.000 mortes atribuíveis à RAM e 3,57 milhões de mortes associadas à RAM em 2019.

Antibióticos com mais resistências

A combinação de patogénio-droga, Staphylococcus aureus resistente à meticilina, causou mais de 100.000 mortes atribuíveis à resistência antimicrobiana em 2019, enquanto mais seis bactérias causaram, cada uma, 50.000 a 100 000 mortes. Essas seis bactérias extremamente perigosas são as seguintes:

  • Bacilo da tubercolose, Mycobacterium tuberculosis, ou bacilo de Koch multiresistente a diversos medicamentos,
  • Escherichia coli de terceira geração resistente a cefalosporinas,
  • Acinetobacter baumannii resistente a carbapenem,
  • Escherichia coli resistente a fluoroquinolonas,
  • Klebsiella pneumoniae resistente a carbapenem,
  • Klebsiella pneumoniae resistente a cefalosporina de terceira geração.

Resistência bacteriana

A resistência bacteriana a antimicrobianos que ocorre quando mudanças nas bactérias fazem com que os medicamentos usados para tratar infeções se tornem menos eficazes – emergiu como uma das principais ameaças à saúde pública do século XXI. A Revisão sobre Resistência Antimicrobiana, encomendada pelo governo do Reino Unido, argumentou que a RAM poderia matar 10 milhões de pessoas por ano até 2050.

Embora essas previsões tenham sido criticadas por alguns a OMS e vários outros grupos e pesquisadores concordam que a disseminação da RAM é uma questão urgente que requer um plano de ação global e coordenado para abordar este assunto, Informações sobre a magnitude atual da carga da RAM bacteriana, tendências em diferentes partes do mundo e as principais combinações de patógénios-drogas que contribuem para a carga de RAM bacteriana é crucial. Se não for controlada, a disseminação da RAM pode tornar muitos patogénios bacterianos muito mais letais no futuro do que são hoje.

Antibióticos usados pecuária

O uso de antibióticos na criação de animais é um dos temas mais relevantes para combater a resistência bacteriana e proteger a nossa saúde. A tentação para os criadores é imensa pois os animais crescem mais e mais rápido o que melhora muito o lucro das explorações.

No entanto os antibióticos usados na pecuária acabam por deixar vestígios na carne dos animais que depois passam para os humanos quando os consumimos com consequências devastadoras na nossa saúde, muita vezes sem nos apercebermos!

Uma delas é a alteração dramática da nossa microbiota ou flora intestinal com efeitos severos na nossa saúde que só há poucos anos começamos a descobrir mas que se pensa poderem agravar ainda mais os números assustadores de doenças autoimunes e até depressão!

Assim é de vital importância que sejam monitorizados de forma séria o uso de antibióticos dados aos animais, sendo que devem são geralmente proibidos o uso dos seguintes antibióticos:

  • Avoparcina,
  • Anfenicóis,
  • Tetraciclinas, 
  • Penicilinas,
  • Cefalosporinas,
  • Quinolonas,
  • Sulfonamidas,
  • Eritromicina,
  • Espiramicina,
  • Colistina,
  • Tilosina,
  • Lincomicina,
  • Tiamulina.

Covid-19 faz aumentar resistência bacteriana

A covid-19 é uma doença causada pelo vírus SARS-CoV-2 e portanto, sendo um vírus, os antibióticos não têm qualquer efeito terapêutico sobre ele. No entanto, o aumento no número de doentes internados com Covid-19 aumentou o uso de antibióticos em larga escala por todo o mundo.

Por exemplo a azitromicina 500mg e amoxicilina com ácido clavulânico 875mg/125mg,  foram usados de forma alargada em diversos protocolos iniciais de combate à covid-19.

O aumento do uso de antibióticos deve-se principalmente ao tratamento de infeções hospitalares, comuns em doentes internados por períodos de tempo mais prolongados, como em casos graves de Covid-19.

Esta pandemia de SARS-CoV-2 sublinhou a importância de duas estratégias de combate simples mas muito eficazes:

  • Lavagem das mãos para conter a disseminação de doenças;
  • Vacinas muito úteis, em termos da resistência, porque reduzem a necessidade de antibióticos e previnem a doença grave.

Assim é urgente estimular o desenvolvimento de novas drogas, pois atualmente temos um número muito limitado de antibióticos que apresentam eficácia no combate às bactérias multirresistentes.

Farmacêuticas pouco interessadas

A formulação de um novo antibiótico pode levar de 10 a 15 anos e as bactérias vão continuar a desenvolver mecanismos de resistência, o que torna o desenvolvimento de novos antibióticos um mercado pouco lucrativo para as farmacêuticas.

No meu artigo Top 20 farmacêuticas mais poderosas, pode constatar que apesar de tantos novos medicamentos serem lançados, não está descrito um único antibiótico novo.

As grandes empresas farmacêuticas tomam uma decisão calculada de risco e retorno, a menos que os governos ofereçam financiamento ou forte suporte, elas não investem em soluções terapêuticas pouco rentáveis.

A limitação das drogas disponíveis para o tratamento de infeções bacterianas chama a atenção para o investimento urgente em pesquisa de forma a alargar o estudo de novas formas de eliminação das bactérias.

Para pensar em novas formas de combate, é importante estudar a estrutura da bactéria, conhecer os mecanismos de resistência e investigar novos alvos de antibióticos.

10 medidas contra a resistência bacteriana

Num cenário alarmante de resistência bacteriana no mundo, os seguintes dez pontos de ação podem ajudar nas decisões de governos e autoridades sanitárias:

Fonte: Tackling drug-resistant infections globally: Final report and recommendation

Referências

Resfriado ou constipação produz células T contra SARS-CoV-2

Resfriado ou constipação afinal podem produzir benefícios no combate ao SARS-CoV-2! Pessoas com níveis mais altos de células T ou Linfócitos T, produzidas pelo resfriado comum causado por vírus da família dos coronavírus, têm menos probabilidade de serem infetadas com SARS-CoV-2.

Um novo estudo, publicado na Nature Communications e liderado por pesquisadores do Imperial College London, fornece a primeira evidência de um papel protetor para essas células T. Embora estudos anteriores tenham mostrado que as células T induzidas por outros coronavírus podem reconhecer o SARS-CoV-2, o novo estudo examina pela primeira vez como a presença dessas células T no momento da exposição ao SARS-CoV-2 influencia se alguém é infetado .

Os pesquisadores também dizem que s suas descobertas fornecem um plano para uma vacina universal de segunda geração que poderia prevenir a infecção de variantes atuais e futuras do SARS-CoV-2, incluindo o Omicron.

Células T pré-existentes

Rhia Kundu, primeiro autor do estudo, do Imperial’s National Heart & Lung Institute, diz: “Ser exposto ao vírus SARS-CoV-2 nem sempre resulta em infeção, e estamos ansiosos para entender o porquê. Descobrimos que altos níveis de células T pré-existentes, criadas pelo corpo quando infetado com outros coronavírus humanos, como o resfriado comum, podem proteger contra a infeção por COVID-19.

“Embora esta seja uma descoberta importante, é apenas uma forma de proteção, e eu enfatizo que ninguém deve confiar apenas nisso. Em vez disso, a melhor maneira de se proteger contra o COVID-19 é ser totalmente vacinado, incluindo obter a sua dose de reforço.”

O estudo começou em setembro de 2020, quando a maioria das pessoas no Reino Unido não havia sido infetada nem vacinada contra o SARS-CoV-2. Incluiu 52 pessoas que viviam com alguém com infeção por SARS-CoV-2 confirmada por PCR e que, portanto, foram expostas ao vírus. Os participantes fizeram testes de PCR no início e 4 e 7 dias depois, para determinar se desenvolveram uma infeção.

Amostras de sangue dos 52 participantes foram recolhidas dentro de 1 a 6 dias após a exposição ao vírus. Isso permitiu que os pesquisadores analisassem os níveis de células T pré-existentes induzidas por infeções anteriores por coronavírus do resfriado comum que também reconhecem proteínas do vírus SARS-CoV-2.

Nova vacina para todas as variantes

Proteínas internas do SARS-CoV-2 são atacadas

Os pesquisadores descobriram que havia níveis significativamente mais altos dessas células T de reação cruzada nas 26 pessoas que não foram infetadas, em comparação com as 26 pessoas que foram infetadas. Essas células T visavam proteínas internas dentro do vírus SARS-CoV-2, em vez da proteína spike na superfície do vírus, para proteger contra infeções.

As vacinas atuais não induzem uma resposta imune a essas proteínas internas. Os pesquisadores dizem que paralelamente às vacinas já existentes eficazes e direcionadas às proteínas da espícula (spike), as proteínas internas oferecem um novo alvo para as vacinas que pode fornecer proteção duradoura porque as respostas das células T persistem por mais tempo do que as respostas de anticorpos que diminuem alguns meses após a vacinação.

O professor Ajit Lalvani, autor sénior do estudo e diretor da Unidade de Pesquisa de Proteção à Saúde de Infeções Respiratórias do NIHR no Imperial, diz: “O nosso estudo fornece a evidência mais clara até ao momento de que as células T induzidas por coronavírus do resfriado comum desempenham um papel protetor contra a infeção pelo SARS-CoV -2 ou seja contra a Covid-19. Essas células T fornecem proteção atacando proteínas dentro do vírus, em vez da proteína spike existente na sua superfície.

Proteínas internas versus proteína “spike” (espícula)

A proteína spike está sob intensa pressão imunológica dos anticorpos induzidos pela vacina que impulsiona a evolução dos mutantes de escape da vacina. Em contraste, as proteínas internas direcionadas pelas células T protetoras que identificamos sofrem muito menos mutações. Consequentemente, elas são altamente conservadas entre as diversas variantes do SARS-CoV-2, incluindo a omicron.

Novas vacinas que incluem essas proteínas internas conservadas induziriam, portanto, respostas de células T amplamente protetoras que deveriam proteger contra variantes atuais e futuras do SARS-CoV-2.

Limitações do estudo

Os pesquisadores observam algumas limitações do seu estudo, incluindo que, por ser pequeno e 88% dos participantes serem de etnia branca europeia, não é possível modelar fatores demográficos.

O estudo foi financiado pelo NIHR Health Protection Research Unit in Respiratory Infections e pelo Medical Research Council.

Células T ou Linfócitos T

Os linfócitos T são células imunitárias que completam a maturação no timo (daí a letra T). Estas células, linfócitos T, diferenciam-se em duas classes:

  • Linfócitos T auxiliares (CD4+) – através de informações recebidas pelos macrófagos, estimulam a ativação dos linfócitos T matadores (CD8+) e os linfócitos B. São os linfócitos auxiliares que comandam a defesa do organismo.
  • Linfócitos T assassinos ou citotóxicos (CD8+) – recebem este nome por serem responsáveis pela destruição de células anormais, infetadas ou estranhas ao organismo.

A Célula T é um tipo de leucócito ou glóbulo branco com um papel essencial no sistema imunitário. Nas primeiras oito semanas da vida fetal nos humanos, as futuras células T formam-se no tecido embrionário do timo. No interior desta glândula, estas células experimentam um processo complexo de diferenciação, seleção e maturação.

A diferenciação das células T implica a síntese de diferentes tipos de glicoproteínas (combinações de proteínas e hidratos de carbono). Estas moléculas são espalhadas na superfície das células T maduras e determinam a sua função e os antigénios com que interatuam.

As glicoproteínas CD4 e CD8 dão origem a células T diferentes: os linfócitos T CD4+ (T4 ou helper, auxiliares, com especial função na ativação específica das defesas do organismo) e os linfócitos T CD8+ (T8 ou citotóxicos, altamente especializados na destruição de células reconhecidas como anormais ou estranhas ao organismo), respetivamente.

É também de natureza glicoproteica o recetor – TCR (T Cell Recetor) – pelo qual as células reconhecem as células do seu próprio organismo e os antigénios estranhos que invadem as células. Contudo o recetor da célula T não é um anticorpo. O recetor é constituído por duas cadeias diferentes de polipeptídeos. Durante a diferenciação de cada célula T, os genes codificadores destas duas cadeias estão associados pela seleção e união dos dois segmentos diferentes dos genes. O conjunto de genes aos quais as células T recetoras estão associadas, é, contudo, diferente daqueles em que os genes para anticorpos estão associados.

Existem ainda outros tipos de células T, como, por exemplo, os reguladores, que ajudam a moderar ou, em alguns casos, a suprimir uma resposta imunitária, e os de memória, que, por resultarem da multiplicação de uma célula T que foi, a determinada altura, chamada a atuar, em circunstâncias análogas posteriores fazem com que a resposta imunitária seja mais rápida por não necessitarem de fazer o reconhecimento da situação (uma vez que a mesma foi memorizada). Esta capacidade de memorização também existe nas células B.

Referências

PAXLOVID PF-07321332 da PFIZER 89% eficaz cura Covid-19?

Paxlovid é o nome comercial de um novo medicamento da Pfizer que combina PF-07321332 e Ritonavir num único comprimido para tratar doentes com Covid-19. Perante os extraordinários resultados dos estudos clínicos de fase 2/3, que descrevo neste artigo, o entusiasmo dos investigadores é indisfarçável! Será o primeiro medicamento oral que consegue curar a doença?

Ao longo desta pandemia, progressos significativos foram feitos no tratamento da COVID-19 e no apoio para salvar vidas. Este progresso inclui o desenvolvimento de infusões de anticorpos monoclonais que preservam a vida e o reaproveitamento dos medicamentos existentes, para os quais as parcerias público-privada de Aceleração das Intervenções e Vacinas Terapêuticas COVID-19 (ACTIV), por exemplo do NIH (National Institutes of Health) deu uma contribuição importante.

Molnupiravir da Merck

Durante muitos meses, tivemos esperanças de que um medicamento oral seguro e eficaz pudesse ser desenvolvido para reduzir o risco de doença grave para indivíduos recém-diagnosticados com COVID-19. A primeira indicação de que essas esperanças podem ser realizadas veio do anúncio, em Outubro de 2021, de uma redução de 50% nas hospitalizações dos doentes que tomaram o medicamento molnupiravir da Merck e Ridgeback (originalmente desenvolvido com uma bolsa do NIH para a Emory University, Atlanta).

Agora vem a notícia de um segundo medicamento por via oral com eficácia potencialmente maior ou seja um comprimido antiviral da Pfizer Inc. que visa uma etapa diferente no ciclo de vida do SARS-CoV-2, o novo coronavírus que causa a doença COVID-19.

Paxlovid e PF-07321332 da Pfizer

As notícias mais empolgantes começaram a surgir no início de Novembro de 2021, quando uma equipa de pesquisa da Pfizer publicou na revista Science alguns dados iniciais promissores envolvendo o comprimido antiviral e os seus compostos ativos [1].

Artigo da Science: An oral SARS-CoV-2 Mpro inhibitor clinical candidate for the treatment of COVID-19

Então, vieram notícias ainda maiores alguns dias depois, quando a Pfizer anunciou os resultados provisórios de um grande ensaio clínico de fase 2/3. Ele descobriu que, quando tomado dentro de três dias após o desenvolvimento dos sintomas de COVID-19, o comprimido reduziu em 89% o risco de hospitalização ou morte em adultos com alto risco de progredir para doença grave [2].

Anúncio da Pfizer: Pfizer’s Novel COVID-19 Oral Antiviral Treatment Candidate Reduced Risk of Hospitalization or Death by 89% in Interim Analysis of Phase 2/3 EPIC-HR Study

Por recomendação do comité independente de monitorização de dados do ensaio clínico e em consulta com a Food and Drug Administration (FDA) dos EUA, a Pfizer suspendeu o estudo com base na força dos resultados provisórios. A Pfizer planeia enviar os dados à FDA para Autorização de Uso de Emergência muito em breve.

PF-07321332 inibidor de protease

O comprimido antiviral da Pfizer é um inibidor de protease, originalmente chamado de PF-07321332, ou apenas 332 se abreviado. Uma protease é uma enzima que cliva (quebra) uma proteína numa série específica de aminoácidos. O vírus SARS-CoV-2 codifica a sua própria protease para ajudar a processar uma grande poliproteína codificada por vírus em segmentos menores que necessita para o seu ciclo de vida.

Um inibidor da protease pode impedir que isso aconteça. Se o termo inibidor de protease soa como uma campainha, é porque drogas que funcionam dessa forma já são usadas para tratar outros vírus, incluindo o vírus da imunodeficiência humana (HIV) e o vírus da hepatite C.

Protease 3CL ou protease Mpro

Mecanismo e ação

No caso do 332, ele tem como alvo uma protease chamada Mpro, também chamada de protease 3CL, codificada pelo SARS-CoV-2. O vírus usa essa enzima para cortar algumas proteínas virais mais longas em segmentos mais curtos para uso na replicação. Com o Mpro fora de ação, o coronavírus não consegue fazer mais réplicas de si mesmo para infetar outras células.

Inibidor de protease tem vantagem

Uma grande vantagem desta abordagem terapêutica que usa inibidores de proteases é que as mutações nas estruturas de superfície do SARS-CoV-2, como a proteína spike (espicula), não devem afetar a eficácia de um inibidor de protease. O PF-07321332 tem como alvo uma enzima viral altamente conservada, mas essencial. Na verdade, a Pfizer sintetizou originalmente e avaliou pré-clinicamente os inibidores da protease anos atrás como um tratamento potencial para a síndrome respiratória aguda grave (SARS), que é causada por um coronavírus intimamente relacionado ao SARS-CoV-2. O medicamento PF-07321332 pode até ter eficácia contra outros coronavírus que causam o resfriado comum.

Potente antiviral contra diversos coronavírus

No estudo publicado em novembro de 2021 na prestigiada revista Science [1], a equipe da Pfizer liderada por Dafydd Owen, da Pfizer Worldwide Research, Cambridge, MA, relatou que a versão mais recente de seu inibidor Mpro mostrou potente atividade antiviral em testes de laboratório não apenas contra SARS- CoV-2, mas também contra todos os coronavírus que eles testaram e que infetam pessoas. Um estudo mais aprofundado em células humanas e modelos com ratos de infeção por SARS-CoV-2 sugeriu que o tratamento pode funcionar para limitar a infeção e reduzir os danos no tecido pulmonar.

No artigo publicado na Science, Owen e colegas também relataram os resultados de um ensaio clínico de fase 1 com seis pessoas saudáveis. Eles descobriram que o inibidor da protease, quando tomado por via oral, era seguro e poderia atingir concentrações na corrente sanguínea que deveriam ser suficientes para ajudar a combater o vírus.

PAXLOVID composição

Mas será que funcionaria tratar COVID-19 numa pessoa infetada? Até agora, os resultados preliminares do ensaio clínico maior do candidato a medicamento, agora conhecido como PAXLOVID ™, certamente parecem encorajadores. PAXLOVID ™ é uma formulação que combina o novo inibidor da protease PF-07321332, com uma dose baixa de um medicamento antiviral já existente, chamado ritonavir, que retarda o metabolismo de alguns inibidores da protease e, portanto, os mantém ativos no corpo por períodos de tempo mais longos.

Ensaio clínico com 1200 adultos

O ensaio clínico de fase 2/3 incluiu cerca de 1.200 adultos dos Estados Unidos e de todo o mundo que se inscreveram no ensaio clínico. Para serem elegíveis, os participantes do estudo precisavam de ter um diagnóstico confirmado de COVID-19 em um período de cinco dias, juntamente com sintomas leves a moderados da doença. Eles também exigiam pelo menos uma característica ou condição associada a um risco aumentado de desenvolvimento de doença grave de COVID-19. Cada indivíduo no estudo foi selecionado aleatoriamente para receber o antiviral experimental ou um placebo a cada 12 horas durante cinco dias.

Resultados do ensaio clínico

Em pessoas tratadas no espaço de três dias de desenvolver sintomas de COVID-19, o anúncio da Pfizer relata que 0,8 por cento (3 de 389) daqueles que receberam PAXLOVID ™ foram hospitalizados em 28 dias em comparação com 7 por cento (27 de 385) daqueles que receberam o placebo. Resultados encorajadores semelhantes foram observados naqueles que receberam o tratamento dentro de cinco dias após o desenvolvimento dos sintomas. Um por cento (6 de 607) no antiviral foi hospitalizado contra 6,7 ​​por cento (41 de 612) no grupo do placebo. No geral, não houve mortes entre as pessoas que tomaram PAXLOVID ™ mas 10 pessoas no grupo do placebo (1,6 por cento) morreram posteriormente.

Se tudo correr bem com a revisão da FDA, a esperança é que PAXLOVID ™ possa ser prescrito como um tratamento caseiro para prevenir doenças graves, hospitalização e mortes. A Pfizer também lançou dois ensaios adicionais do mesmo medicamento candidato, sendo um ensaio em pessoas com COVID-19 que estão sob risco padrão de desenvolver doenças graves e outro ensaio para avaliar a sua capacidade de prevenir a infeção em adultos expostos ao coronavírus por um membro da família.

Molnupiravir aprovado

Enquanto isso, a Grã-Bretanha aprovou recentemente outro antiviral chamado molnupiravir desenvolvido recentemente, que retarda a replicação viral de uma maneira diferente, ou seja bloqueando a sua capacidade de copiar o seu genoma de RNA com precisão.

A FDA reunirá para discutir o pedido da Merck e Ridgeback para uma Autorização de Uso de Emergência do antiviral molnupiravir para tratar COVID-19 leve a moderado em adultos infetados com alto risco de doença grave [3].

Pfizer reforça poder

Depois da vacina da Pfizer ser um estrondoso sucesso comercial e, para já, também terapêutico, se conseguir provar a segurança e eficácia deste novo tratamento antiviral oral Paxlovid contra a Covid-19, a Pfizer vai certamente subir imenso no ranking das Farmacêuticas mais poderosas do Mundo que todos os anos acompanho.

Em 2020 a Pfizer ocupou o 8º lugar no top das 20 Farmacêuticas mais poderosas do mundo, lideradas pela Johnson & johnson . Em 2021 com o sucesso da campanha de vacinação global contra a Covid-19 com a vacina da Pfizer, não é difícil prever que possa alcançar o top 3 das Farmacêuticas mais poderosas do mundo.

Como farmacêutico a minha primeira preocupação não é o sucesso comercial mas sim a segurança do medicamento e só depois a sua eficácia e sucesso mediático! A história da farmácia mostra-nos que infelizmente são muitos os casos historicamente descritos de sucessos mediáticos fantásticos que mais tarde demonstraram ser mortais para muitos doentes!

Referências:

[1] An oral SARS-CoV-2 M(pro) inhibitor clinical candidate for the treatment of COVID-19. Owen DR, Allerton CMN, Anderson AS, Wei L, Yang Q, Zhu Y, et al. Science. 2021 Nov 2: eabl4784.

[2] Pfizer’s novel COVID-19 oral antiviral treatment candidate reduced risk of hospitalization or death by 89% in interim analysis of phase 2/3 EPIC-HR Study . Pfizer. November 5, 2021.

[3] FDA to hold advisory committee meeting to Discuss Merck and Ridgeback’s EUA Application for COVID-19 oral treatment. Food and Drug Administration. October 14, 2021.

https://directorsblog.nih.gov/tag/pf-07321332/

Desenho racional de inibidores da Mpro, 3CLpro, protease principal do SARS-CoV-2