Fibromialgia qual o melhor tratamento, pontos de dor, sintomas e estigmas sociais. Quais os sinais? Quais as causas e fatores de risco? Quais os tratamentos mais eficazes? Que hábitos diários podem ajudar a melhorar? O que nunca deve comer? Porque são muitas vezes mal interpretados os doentes pela sociedade? Por desconhecimento da realidade clínica, muitas vezes as doentes são “rotuladas” de preguiçosas pelos colegas de trabalho e até por algumas pessoas de família… o que é psicologicamente muito duro de aceitar!
Com a informação reunida pelo American College of Rheumatology e pela Associação Portuguesa de doentes com Fibromialgia este artigo pretende ser um contributo importante para doentes, famílias e sociedade interpretarem e apoiarem de forma correta quem padece de fibromialgia.
Leia também: Dores musculares estas são as informações essenciais, toda a verdade!
Neste artigo vou tratar as seguintes questões:
- Fibromialgia o que é?
- Qual a prevalência da fibromialgia na população?
- Fibromialgia qual a história desta doença?
- Causas e origem fisiopatológica
- Fatores de risco
- Quais os sinais que não deve ignorar?
- Diagnóstico: Quais os critérios ?
- Dores: Quais os “pontos-gatilho” sensíveis à dor?
- Quais as manifestações nucleares?
- Quais as manifestações características?
- Diagnósticos diferenciais (com outras doenças): Quais os mais importantes?
- Doenças que podem coexistir com a fibromialgia: Quais são?
- Tratamento: Como pode tratar a fibromialgia?
- Qual o tratamento mais eficaz?
- Exercício físico: Qual o mais adequado?
- O que acontece se não fizer exercício físico?
- Hábitos diários: Quais os que podem melhorar os sintomas?
- Psicologia: Como se sentem psicologicamente os doentes?
- Família do doente: Qual a reação habitual?
- Local de trabalho: O que acontece no local de trabalho?
- Qual a reação da sociedade em geral?
Estudos recentes sobre fibromialgia
Neste segmento descrevo alguns dos mais recentes estudos publicados pela comunidade científica:
- Effects of Vitamin D Therapy on Quality of Life in Patients with Fibromyalgia
- What Is the Effect of Strength Training on Pain and Sleep in Patients With Fibromyalgia?
- Fibromyalgia has a high prevalence and impact in cardiac failure patients
- Evidence of peripheral large nerve involvement in fibromyalgia: a retrospective review of EMG and nerve conduction findings in 55 FM subjects
- Aerobic exercise training for adults with fibromyalgia.
Fibromialgia o que é?
A fibromialgia é um síndrome crónico caracterizado por queixas dolorosas neuromusculares difusas e pela presença de pontos dolorosos em regiões anatomicamente determinadas. A fibromialgia é uma das doenças reumáticas com maior incidência na atualidade. É uma doença crónica invisível, sobre a qual ainda há muito por saber. A fibromialgia não tem tratamento específico e é capaz de provocar dores intensas, no entanto mantém-se até hoje num relativo anonimato, ao qual não será alheio o facto de apenas ter sido reconhecida como doença pela Organização Mundial de Saúde no final da década de 1970.
Prevalência
Estima-se que atinja entre 2 e 8% da população adulta global e ainda que esteja em clara expansão.
Fibromialgia qual a história desta doença?
Já Hipócrates descreve a dor músculo-esquelética difusa. Os principais pontos históricos da doença, por ordem cronológica, são os seguintes:
- 1824, Balfour faz a associação entre reumatismo e pontos dolorosos;
- 1880, Beard classifica como Mielastenia uma síndroma com as características da Fibromialgia;
- No início do séc xx, Growers introduz o termo “Fibrosite”por supor (algo nunca comprovado), que se trataria de alterações fibromusculares;
- 1972, Moldofsky identifica as perturbações do sono Nrem;
- 1977, Smythe e Moldofsky associam a presença de dor crónica e generalizada com pontos dolorosos em locais previsíveis e sono não reparador;
- 1990, o Colégio Americano de Reumatologia define os critérios de diagnóstico ainda agora utilizados.
Causas fisiopatológicas
Especula-se, ainda, acerca da origem da doença. Sabe-se que os doentes de fibromialgia apresentam:
- Diminuição de serotonina e ácido 5 – Hidroxindolacético no LCR (líquido cefalorraquidiano) e no plasma;
- Elevação da substância P no LCR (líquido cefalorraquidiano);
- Hipovascularização de algumas regiões cerebrais;
- Alterações no EEG (eletroencefalograma) de sono noturno, na fase NREM (fase de sono profundo onde ocorrem os sonhos);
- Hipertonia simpática,
- Alterações da memória recente.
Existem ainda outras alterações, mas todas elas são comuns a outras patologias. O mais provável é que seja uma causa multifatorial.
Fatores de risco
Embora não sejam conhecidas, com rigor, as causas da fibromialgia, sabe-se que as mulheres são quase 10 vezes mais afetadas que os homens. Na verdade, 80 a 90% dos casos diagnosticados são de mulheres com idades compreendidas entre os 30 e os 50 anos. Supõe-se, por outro lado, que o desenvolvimento da doença também possa ser influenciado por fatores como:
- Stress;
- Doenças imunológicas e endocrinológicas;
- Traumas físicos ou psicológicos.
Sintomas dores musculares e fadiga
O sintoma predominante da fibromialgia é a dor muscular. Surgindo, na maior parte dos casos, de forma generalizada mas centrando-se posteriormente em regiões específicas, como o pescoço ou a região lombar, esta assemelha-se a um ardor intenso e muitas vezes debilitante. Pode, no entanto, fazer-se acompanhar por outros sintomas, como:
- Perturbações de sono, presentes em cerca de 70% dos doentes, piorando as dores nos dias que dormem pior. Os registos eletroencefalográficos podem apresentar alterações relacionadas com as perturbações do sono.
- Fadiga constante, que se mantém durante quase todo o dia com pouca tolerância ao esforço físico. Quando o sintoma dominante é a fadiga a doença tem sido designada por Síndroma da Fadiga Crónica;
- Dificuldades de concentração;
- Falta de memória;
- Dores de cabeça;
- Espasmos musculares;
- Rigidez muscular;
- Formigueiros e inchaços nos dedos das mãos e dos pés, principalmente ao levantar;
- Distúrbios emocionais, com frequência de ansiedade e às vezes há depressão;
- Perturbações gastrointestinais em alguns doentes que apresentam queixas gástricas e cólon irritável.
Os sintomas podem, no entanto, variar em intensidade e até mesmo desaparecer e reaparecer de forma esporádica, consoante a hora e o dia, os níveis de stresse e ansiedade ou as mudanças de temperatura. Também podem ser agravados com a atividade física exagerada ou desequilibrada.
Há relatos de casos de fibromialgia que começam depois de uma infeção bacteriana ou viral, um traumatismo físico ou psicológico.
Existem estudos que mostram que pessoas com esta doença, apresentam alterações nos níveis de algumas substâncias importantes, particularmente:
- Níveis baixos de serotonina;
- Níveis elevadas de proteína P.
Diagnóstico quais os critérios?
Descrevo de seguida os critérios de diagnóstico do American College of Rheumatology:
Manifestações nucleares
Dor crónica generalizada, com evolução de, pelo menos, 3 meses, abrangendo a parte superior e inferior do corpo, lado direito e esquerdo, assim como o esquerdo axial.
Dor à pressão, em, pelo menos, 11 de 18 pontos predefinidos, a saber:
- Ponto occipital – Bilateral, nas inserções do músculo sub-occipital.
- Ponto cervical inferior – Bilateral, na face anterior dos espaços intertransversários de C5 e C7
- Ponto trapézio – Bilateral, no ponto médio do bordo superior do músculo.
- Ponto supra espinhoso – Bilateral, na origem do músculo acima da espinha da omoplata, junto do bordo interno.
- Ponto 2ª costela – Bilateral, na junção costo-condral da 2ª costela, imediatamente para fora da junção e na face superior.
- Ponto epicôndilo – Bilateral, 2 cm externamente ao epicôndilo.
- Ponto glúteo – Bilateral, no quadrante superior externo da nádega, no folheto anterior do músculo.
- Ponto grande trocanter – Bilateral, posterior à proeminência trocantérica.
- Ponto Joelho – Bilateral, na almofada adiposa interna, acima da interlinha articular.
Pontos dolorosos
Os pontos dolorosos não são de dor espontânea.
A sua pesquisa deve ser efetuada com uma pressão digital de 4kg.
A dor não deve irradiar.
Manifestações Características
- Fadiga crónica,
- Sono não reparador,
- Parestesias,
- Rigidez (sobretudo matinal),
- Edema subjetivo,
- Cefaleias,
- Síndroma de colon irritável,
- Fenómeno de Raynaud,
- Depressão/ansiedade,
- Hipersensibilidade generalizada à pressão e mudanças de temperatura ( tipo síndroma gripal).
O diagnóstico é exclusivamente clínico, não existindo exames subsidiários caracteristicamente positivos na fibromialgia.
Doenças e diagnósticos diferenciais
Tendo em consideração que os sintomas de fibromialgia são comuns a outras doenças que têm tratamento diferente, sendo que algumas são potencialmente graves em termos de sobrevida, é necessário descartar ou confirmar, previamente, de forma clara a presença, simultânea ou não, das seguintes doenças:
- Artrite reumatoide;
- Lupus eritematoso sistémico;
- Espondilite anquilosante;
- Polimiosite;
- Síndroma de Sjörgen;
- Polimialgia reumática;
- Osteomalacia ;
- Osteoporose;
- Doença vertebral degenerativa;
- Síndroma de dor miofascial;
- Hipotiroidismo;
- Hipertiroidismo;
- Hiperparatiroidismo;
- Síndrome paraneoplásico;
- Miopatia metabólica;
- Metastização tumoral;
- Mieloma múltiplo,
- Polineuropatias;
- Doença de Parkinson;
- Sarcoidose;
- Infeções víricas;
- Neuroses;
- Psicoses;
- Ansiedade;
- Depressão.
Qualquer destas patologias pode coexistir com a Fibromialgia.
Tratar a fibromialgia
Ainda não é conhecida cura para a fibromialgia e também ainda não existe nenhum fármaco específico para a doença. Existem, no entanto, medicamentos e técnicas que podem ajudar a aliviar os sintomas, principalmente as dores, a saber:
- Analgésicos;
- Relaxantes musculares;
- Antidepressivos;
- Massagens;
- Técnicas de relaxamento.
Tratamento qual o melhor?
O primeiro passo é acreditarmos no sofrimento do doente! Seguidamente, envolver o doente no seu tratamento. Cada sujeito ativo compreendendo e colaborando na responsabilidade do Sucesso / Insucesso.
Deve frisar-se que se trata de uma doença crónica e que o tratamento visa, não a ausência de sintomas, mas o seu controlo. Também teremos que estar preparados para Adaptar os esquemas terapêuticos à evolução das queixas. O tratamento é sempre individual.
Tratamento Farmacológico
O tratamento farmacológico inclui os seguintes medicamentos:
- Amitriptilina, em doses baixas ( 10mg – 25mg/ dia),
- Fluoxetina (antidepressivo),
- Diazepam e outros mio relaxantes (relaxantes musculares),
- Ansiolíticos,
- Indutores do sono,
- Antiepiléticos, (topiramato em doses até 75mg/dia tem-se mostrado útil),
- Analgésicos como o paracetamol, com e sem codeína, os salicilatos, o tramadol, revelam alguma eficácia.
Os corticosteroides, devido aos efeitos secundários e à quase ineficácia, são de evitar!
Tratamento Psiquiátrico
O apoio psiquiátrico nunca deve ser de descurar, sempre que se revele necessário, sob a orientação de médico psiquiatra com experiência em dor.
Psicoterapia Coadjuvante
Particularmente útil nas áreas Cognitiva / Comportamental:
- Aprender a viver com a doença e aceitar as suas limitações, assim como aprender a lidar com o stress.
- Técnicas de Bio Feedback têm-se mostrado úteis.
Fisioterapia é possível
Sim mas apenas quando individualizada e efetivada por técnicos com experiência nestes doentes.
Exercício Físico adequado
Fundamental, o exercício físico mais indicado é adaptado às condições do doente. Aconselha-se, essencialmente:
- Caminhada,
- Natação (sem grande esforço), em ambientes agradáveis e tépidos.
É importante não descurar o Exercício Físico, porque a inação para que tendem os doentes de Dor Crónica, acarreta consequências psíquicas e físicas como:
- Depressão,
- Obesidade,
- Atrofia Muscular,
- Osteoporose,
- Artralgias,
Estas são situações que acabam também e por si só, gerar doença.
Alimentação faz toda a diferença
Não existem dúvidas que a alimentação pode ter uma influência extraordinária na evolução e sintomatologia da doença. Cada doente deve tentar identificar principalmente os alimentos que fazem piorar a sua condição de saúde.
No geral deve evitar todos os alimentos fabricados e embalados pois quase sempre tem aditivos alimentares artificiais e teores de açúcar demasiado elevados.
Entre os mais importantes vale a pena estar atento e se necessário eliminar da alimentação diária os seguintes:
- Aditivos alimentares artificiais como o Glutamato monossódico (MSG) e o Aspartame
- Glúten
- Açúcares
- Enchidos
- Alimentos fritos que contêm gorduras saturadas de má qualidade
- Álcool
Também o excesso de peso parece piorar sempre os sintomas dolorosos associados à fibromialgia.
Nutrição e estudos sobre fibromialgia
Os seguintes estudos alertam para a importância do cuidado alimentar para mitigar os sintomas da fibromialgia, a saber:
- Fibromyalgia and nutrition: what news?
-
Direct and indirect cellular effects of aspartame on the brain
- Relief of fibromyalgia symptoms following discontinuation of dietary excitotoxins.
- The effect of dietary glutamate on fibromyalgia and irritable bowel symptoms.
- Fibromyalgia and non-celiac gluten sensitivity: a description with remission of fibromyalgia.
- Vitamin and mineral status in chronic fatigue syndrome and fibromyalgia syndrome: A systematic review and meta-analysis.
Stress e hábitos diários
Quais os que melhoram os sintomas?
Adaptar o seu estilo de vida aos sintomas da doença é essencial para uma melhor qualidade de vida. Assim deve tentar aplicar os seguintes hábitos diários:
- Evite o stresse;
- Pratique exercício físico (com um programa adaptado às suas capacidades);
- Repouse o tempo necessário (saiba como dormir melhor aqui)
- Mantenha uma alimentação saudável e equilibrada (saiba mais aqui)
Psicologia do doente como se sente?
Como em qualquer outra doença dolorosa crónica e tendencionalmente incapacitante, estes doentes apresentam-se muito queixosos, com níveis de autoestima baixos, angustiados, revoltados, não compreendidos e uma história de grande dificuldade em gerir a sua vida familiar, laboral e social.
Família do doente como reage?
A família é um fator primordial, para o melhor e para o pior, na evolução destes doentes. Muitas vezes não colabora, acusando o doente de “preguiçoso”, “piegas” ou “desequilibrado” emocionalmente. Normalmente, após elucidado, o agregado familiar passa a colaborar, sendo de grande importância, pelo suporte que pode dar ao doente. Por vezes, a própria família precisa de Apoio.
Local de trabalho o que acontece?
Devido às características da doença, a produtividade diminui, o que, muitas vezes, acarreta acusações dos colegas e superiores hierárquicos, criando um meio hostil. Devem-se diminuir os níveis de Stress do doente, respeitando os seus Ritmos de trabalho e/ou mudando de Actividade profissional.
Sociedade como são tratados os doentes?
Normalmente, a incapacidade inerente à doença implica uma marcada diminuição da quantidade e qualidade da Vida Social destes doentes, assim como um aumento de gastos com o consumo de Serviços de Saúde e da Segurança Social, com faltas ao trabalho e Reformas precoces.
O Estado português ainda não facilita a estes doentes os direitos que lhes deveriam ser atribuídos, de acordo com o reconhecimento da patologia já existente, revelando-se duplamente penalizante para o doente e agregado familiar.
Concluindo
Se suspeita que pode sofrer de fibromialgia, consulte o seu médico assistente ou o seu reumatologista. O diagnóstico faz-se quando a dor existe por mais de três meses em pelo menos 11 de 18 pontos específicos do corpo. Entretanto, realizam-se exames para excluir outras doenças que possam causar as queixas.
Se, infelizmente, já é um doente fibromialgico então não se acomode, adote um estilo de vida saudável com exercício físico e alimentação adequados. Vá ao médico acompanhado por alguém da sua família para que esta fique bem informada sobre a doença e possa dispensar-lhe o apoio positivo que é essencial para evitar outras perturbações psicológicas muitas vezes associadas à doença.
Fique bem!
Franklim Fernandes
Bibliografia:
POR FAVOR PARTILHE COM A FAMÍLIA E AMIGOS
You must be logged in to post a comment.