Microplásticos na saúde humana

Microplásticos no sangue coração e pulmões estratégias de defesa

Os microplásticos  já foram encontrados nos  locais mais remotos do nosso planeta tais como na neve próxima ao pico do Everest, o ponto mais alto da terra, assim como em amostras de água da Fossa das Marianas, o local mais profundo do oceano. No corpo humano é encontrado em qualquer local que seja procurado, por exemplo,  na placenta, no leite materno, na corrente sanguínea, no coração e nos pulmões. 

Um estudo publicado no periódico JAMA Network Open mostrou que as micropartículas podem ser encontradas também no cérebro

A poluição por microplásticos emergiu como uma preocupação ambiental e de saúde pública global. Estas partículas minúsculas, resultantes da degradação de materiais plásticos, estão presentes em diversos ambientes e podem entrar no corpo humano através da ingestão de alimentos, inalação de ar contaminado e contacto com produtos que contêm microplásticos. Estudos recentes indicam que os microplásticos podem acumular-se em órgãos vitais, como o coração e o cérebro, levantando preocupações sobre os seus potenciais efeitos adversos na saúde humana. 

Neste artigo vou tratar os seguintes temas:

  • Microplástticos o que são?
  • Causas e fontes de exposição
  • Impactos na saúde humana
  • Microplásticos no sangue, coração, pulmões, cérebro, intestinos, placenta, leite materno, etc
  • Inflamação e stress oxidativo
  • Agentes patogénicos e infeções
  • Disfunção da microbiota intestinal
  • Transporte de substâncias tóxicas
  • Microplásticos mais comuns
  • Estratégias de segurança e mitigação
  • Água de beber, qual o melhor filtro?
  • Métodos de filtração mais eficazes

Microplásticos o que são?

Várias definições são encontradas para o termo microplástico, de acordo com a faixa de tamanho das partículas, sendo a mais utilizada a que se refere a esses materiais como partículas de polímeros orgánicos sintéticos com tamanho inferior a 5 mm. Essa definição foi proposta em 2009 pela National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA) e, desde então, a maioria das publicações tem a adotado como referência. 

Após um pouco mais de uma década, em 2020, foi publicada a norma intitulada “Plastics – Environmental Aspects – State of Knowledge and Methodologies” (ISO/TR 21960:2020), em que o termo microplástico é definido como qualquer partícula plástica sólida insolúvel em água com dimensões entre 1 µm e 1000 µm. A norma também define o termo “large microplastic” (microplástico grande, em tradução livre), para a faixa de tamanho de 1 a 5 mm.

De modo geral, os microplásticos são definidos como partículas de plástico com menos de 5 mm de diâmetro. Podem ser classificados em primários, quando produzidos intencionalmente para uso em produtos como cosméticos e produtos de higiene pessoal, ou secundários, resultantes da degradação de objetos plásticos maiores no ambiente. Devido ao seu tamanho diminuto, os microplásticos podem ser facilmente ingeridos ou inalados, levando à sua acumulação no organismo humano.

Journal of Hazardous Materials


Causas e fontes de exposição

A exposição humana aos microplásticos ocorre através de várias fontes como alimentos, água, ar contaminado e uso de produtos contendo microplásticos.

Ingestão de alimentos e água

Os microplásticos foram detectados em diversos alimentos, incluindo frutos do mar, sal e água potável. Estima-se que um adulto possa ingerir milhares de partículas de microplástico por ano através da dieta.

Inalação de ar contaminado

Partículas de microplástico presentes no ar podem ser inaladas, especialmente em ambientes urbanos e industriais. Um estudo estimou que um adulto pode inalar até 170 partículas de microplástico diariamente, embora os efeitos na saúde respiratória ainda não sejam totalmente compreendidos.
Scielo – Microplásticos: Ocorrência ambiental e desafios analíticos

Uso de produtos contendo microplásticos

Produtos de uso diário, como certos cosméticos, pastas de dentes e produtos de limpeza, podem conter microplásticos que entram em contacto direto com o corpo humano. Além disso, o uso de máscaras faciais descartáveis durante a pandemia de COVID-19 levantou preocupações sobre a inalação de microplásticos libertados por estas máscaras.
Cornell University – Disposable face masks: a direct source for inhalation of microplastics


Microplásticos e impactos na saúde humana

A presença de microplásticos no organismo humano pode ter vários efeitos adversos como inflamação, stress oxidativo, disfunção da microbiota intestinal e transporte de substâncias tóxicas.

Sangue e placenta

Em janeiro de 2021, cientistas italianos da Universidade Politécnica de Marche, em Ancona, relataram na Environment International a presença de microplásticos na placenta de mulheres grávidas. Apesar de reconhecerem que os efeitos eram desconhecidos, os cientistas alertaram para o risco de malformação dos fetos, que ainda precisavam ser mais bem estudados. 

Estudo: Plasticenta: First evidence of microplastics in human placenta

Em maio de 2022, pesquisadores da Universidade Vrije, em Amsterdão, nos Países Baixos, revelaram que 77% dos doadores de sangue do país carregavam grande número de partículas plásticas no sangue.

Estudo: Discovery and quantification of plastic particle pollution in human blood

Coração

Um estudo divulgado na revista científica Environmental Science & Technology, descreve que uma equipa médica do Hospital Anzhen, de Pequim, encontrou pela primeira vez microplásticos em corações humanos. Ao avaliar o músculo cardíaco de 15 pacientes que seriam submetidos a uma intervenção cirúrgica, os médicos encontraram nove diferentes tipos de plástico em cinco tecidos cardíacos distintos.

Estudo: Detection of Various Microplastics in Patients Undergoing Cardiac Surgery

Pulmões

Uma equipa do departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP), detectou microplasticos em pulmões humanos, como descrito em artigo publicado na Journal of Hazardous Materials em 2021. Os microplásticos estão no ar e é inevitável que sejam inalados. Sabemos que eles chegam aos pulmões, mas ainda precisamos de conhecer qual é o real impacto na saúde humana.

Estudo: Presence of airborne microplastics in human lung tissue

Intestino

Os microplásticos podem estar ligados à doença inflamatória intestinal (DII). Um estudo de pessoas com Doença Inflamatória Intestinal detetou que os doentes tinham mais 50% de microplásticos nas fezes.

Pesquisas anteriores mostraram que os microplásticos podem causar inflamação intestinal e outros problemas intestinais em animais de laboratório, mas a investigação é a primeira a investigar possíveis efeitos em humanos. Os cientistas encontraram 42 pedaços de microplástico por grama em amostras secas de pessoas com DII e 28 pedaços em pessoas saudáveis.

A concentração de microplásticos foi também maior para aqueles com doença inflamatória intestinal mais grave, sugerindo uma ligação entre ambos. No entanto, o estudo não prova uma ligação causal e os cientistas disseram que é necessário fazer mais investigação. Pode ser que a doença inflamatória intestinal faça com que as pessoas retenham mais micropláticos no intestino.

Estudo: Analysis of Microplastics in Human Feces Reveals a Correlation between Fecal Microplastics and Inflammatory Bowel Disease Status

Inflamação e stress oxidativo 

Estudos indicam que os microplásticos podem induzir respostas inflamatórias e aumentar o stress oxidativo nas células humanas, o que pode levar a danos celulares e contribuir para o desenvolvimento de doenças crónicas.

Microorganismos patogénicos e infeções

Os microplasticos comportam-se também como potenciais vetores de transporte de microrganismos, incluindo patogénicos, através da formação de um biofilme na superfície do microplástico. Espécies invasoras também são transportadas por microplésticos e os seus efeitos na biodiversidade do ecossistema ainda são desconhecidos, bem como os prejuízos relacionados com a migração de espécies exóticas para outros habitats.

Disfunção do microbioma intestinal 

A ingestão de microplásticos pode alterar a composição da microbiota intestinal, afetando a digestão e a função imunológica. Estas alterações podem estar associadas a várias condições de saúde, incluindo doenças metabólicas e imunológicas.

Transporte de substâncias tóxicas 

Os microplásticos podem adsorver poluentes orgânicos persistentes e metais pesados presentes no ambiente, atuando como vetores que introduzem estas substâncias tóxicas no organismo humano. Isto pode aumentar a exposição a compostos potencialmente carcinogénicos e disruptores endócrinos.


Microplásticos mais comuns

No meio marinho, os microplásticos são um grupo heterogéneo de partículas (< 5 mm), variando em tamanho, forma e composição química. Encontram-se nos sedimentos, na superfície do mar, na coluna de água e na vida selvagem. A próxima tabela descreve os tipos de polímeros plásticos mais comuns no meio marinho. Destes, os tipos de plástico mais comummente fabricados são o polietileno e o polipropileno.

A tabela seguinte descreve a aplicação comum do plástico encontrado no meio marinho e a frequência do tipo de polímero identificado em 42 estudos de detritos microplásticos recolhidos no mar ou em sedimentos marinhos.


Estratégias de Mitigação

Para reduzir a exposição aos microplásticos e mitigar os seus potenciais efeitos na saúde, podem ser adotadas várias estratégias:

  • Redução do uso de plásticos: Diminuir o consumo de produtos plásticos descartáveis e optar por alternativas reutilizáveis pode reduzir a quantidade de microplásticos no ambiente.
  • Filtragem de água: A utilização de sistemas de filtragem de água eficazes pode diminuir a ingestão de microplásticos presentes na água potável.
  • Escolha de produtos sem microplásticos: Optar por produtos de higiene pessoal e cosméticos que não contenham microplásticos pode reduzir a exposição direta a estas partículas.
  • Políticas públicas e regulamentação: A implementação de políticas que limitem a produção e uso de microplásticos, bem como a promoção de práticas de gestão de resíduos mais eficazes, são essenciais para reduzir a contaminação ambiental e a exposição humana.

Água para beber qual o melhor filtro?

Para minimizar a ingestão de microplásticos e outros contaminantes na água potável, é essencial adotar métodos de filtração eficazes, tanto para a água engarrafada quanto para a da rede pública. A escolha do filtro adequado depende da eficácia na remoção de partículas e da manutenção necessária.

Métodos de Filtração Eficazes:

  1. Filtros de Osmose Reversa: Estes sistemas utilizam uma membrana semipermeável capaz de filtrar partículas até 0,001 mícron, removendo praticamente todos os microplásticos e muitos outros contaminantes. Embora altamente eficazes, são mais onerosos e requerem manutenção regular.
  2. Filtros de Carvão Ativado em Bloco: Filtros de alta qualidade com blocos de carbono podem remover até 100% dos microplásticos conhecidos, além de outros contaminantes como cloro e compostos orgânicos. São uma opção mais acessível e de fácil instalação.
  3. Filtros de Destilação: Este método envolve a evaporação e condensação da água, resultando em H₂O pura e eliminando microplásticos e outros contaminantes. No entanto, é um processo mais lento e pode não ser prático para uso diário.

Recomendações de marcas e 0rodutos:

  • LifeStraw Home: Este filtro remove mais de 30 contaminantes, incluindo bactérias, microplásticos e PFAS, apresentando um design moderno e eficiente.
  • Franke Vital Capsule: Este sistema de filtragem remove microplásticos, pesticidas, hormonas, germes nocivos, cloro e ferrugem, garantindo água de alta qualidade diretamente da torneira.
  • Filtros de Torneira com Bloco de Carbono: Modelos como o EcoPro são eficazes na remoção de microplásticos e outros contaminantes, oferecendo uma solução prática para filtrar a água da torneira.

Considerações Adicionais:

  • Manutenção Regular: Independentemente do tipo de filtro escolhido, é crucial seguir as instruções do fabricante para a substituição dos elementos filtrantes, garantindo a eficácia contínua na remoção de contaminantes.
  • Análise da Qualidade da Água: Antes de selecionar um sistema de filtração, considere realizar uma análise da água da sua região para identificar os contaminantes específicos presentes e escolher o filtro mais adequado às suas necessidades.

Ao implementar um sistema de filtração apropriado e manter uma manutenção adequada, pode-se reduzir significativamente a presença de microplásticos e outros elementos nocivos na água potável, promovendo uma saúde melhor e maior segurança no consumo diário.


Conclusão

A presença de microplásticos no ambiente e a sua potencial acumulação no organismo humano representam uma preocupação emergente para a saúde pública. Embora a compreensão dos seus efeitos ainda esteja em desenvolvimento, as evidências atuais sugerem a necessidade de medidas preventivas para reduzir a exposição e mitigar os riscos associados. Investigações futuras são essenciais para aprofundar o conhecimento sobre os mecanismos de toxicidade dos microplásticos e desenvolver estratégias eficazes de proteção da saúde humana.


Referências Bibliográficas

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  6. Scielo – Microplásticos: Ocorrência ambiental e desafios analíticos
  7. Microplásticos na saúde: como lidar com a contaminação humana no meio da poluição desenfreada https://portugues.medscape.com/verartigo/6511887
  8. El Páis – Así se acumulan los microplásticos en el cuerpo: más en el cerebro y menos en el hígado https://elpais.com/salud-y-bienestar/2025-02-03/asi-se-acumulan-los-microplasticos-en-el-cuerpo-mas-en-el-cerebro-y-menos-en-el-higado.html?utm_source=chatgpt.com
  9. The Guardian – Microplastics may be linked to inflammatory bowel disease, study finds https://www.theguardian.com/society/2021/dec/22/microplastics-may-be-linked-to-inflammatory-bowel-disease-study-finds
  10. Cornell University – Disposable face masks: a direct source for inhalation of microplastics
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  15. Como filtrar e remover microplásticos da água da torneira?
  16. tappwater.co