Suplementos de glutationa e fascinante relação com a melatonina

A glutationa é um dos antioxidantes mais importantes do nosso organismo, talvez até o mais poderoso, desempenhando um papel crucial na manutenção da saúde, combate aos sinais de envelhecimento e na prevenção de doenças. Neste artigo, explora-se detalhadamente o que é a glutationa, as suas funções e como contribui para a nossa saúde. Além disso, descrevo maneiras de aumentar os níveis de glutationa através da alimentação, suplementação, hábitos de vida saudáveis e qual a sua intrigante relação com a melatonina que regula o nosso sono.

O que é a glutationa?

Glutationa, glutationo ou glutatião é um tripeptídeo linear, com uma ligação ‘Y-amida incomum, constituído por três aminoácidos: 

  • Ácido glutâmico (glutamato), 
  • Cisteína,
  • Glicina.

O grupo tiol da cisteína o local ativo responsável pelas suas propriedades bioquímicas.

A glutationa (gama-glutamil-cisteinil-glicina; GSH) é o tiol de baixo peso molecular mais abundante, e o dissulfeto de GSH/glutationa é o principal par redox nas células animais. A síntese de GSH a partir de glutamato, cisteína e glicina é catalisada sequencialmente por duas enzimas citosólicas, a gama-glutamilcisteína sintetase e a GSH sintetase. 

Evidências convincentes mostram que a síntese de GSH é regulada principalmente pela atividade da gama-glutamilcisteína sintetase, pela disponibilidade de cisteína e pela inibição por feedback da GSH. Estudos em animais e humanos demonstram que a nutrição proteica adequada é crucial para a manutenção da homeostasia do GSH. Além disso, a cistina entérica ou parentérica, a metionina, a N-acetilcisteína e a L-2-oxotiazolidina-4-carboxilato são precursores eficazes da cisteína para a síntese de GSH tecidual.

A glutationa é encontrada em todas as células do corpo e é conhecido por ser um potente antioxidante. Além disso, a glutationa é essencial para várias funções celulares e metabólicas, incluindo a desintoxicação de compostos nocivos, síntese de proteínas e regulação do sistema imunitário.

Funções essenciais

A glutationa desempenha papéis importantes na defesa antioxidante, no metabolismo dos nutrientes e na regulação de eventos celulares, incluindo:

  • Expressão genética, 
  • Síntese de ADN e proteínas, 
  • Proliferação celular e apoptose, 
  • Transdução de sinal, 
  • Produção de citocinas e resposta imunitária, 
  • Glutationilação proteica. 

A deficiência de glutationa contribui para o stress oxidativo, que desempenha um papel fundamental no envelhecimento e na patogénese de muitas doenças, tais como:

  • Diabetes,
  • Cancro, 
  • Doença de Alzheimer
  • Doença de Parkinson, 
  • Doença hepática, 
  • Fibrose quística, 
  • Anemia falciforme, 
  • VIH, 
  • SIDA, 
  • Ataque cardíaco, 
  • Acidente vascular cerebral,
  • Kwashiorkor (desnutrição intermediária),
  • Convulsão.

Novos conhecimentos sobre a regulação nutricional do metabolismo da GSH são críticos para o desenvolvimento de estratégias eficazes para melhorar a saúde e tratar estas doenças.

A glutationa tem múltiplas funções, destacando-se principalmente como um antioxidante que protege as células contra os danos causados pelos radicais livres. Este composto também desempenha um papel importante na desintoxicação, ajudando a neutralizar e eliminar toxinas do organismo. Além disso, a glutationa é fundamental no transporte de aminoácidos, síntese de proteínas, proteção contra a radiação solar e na manutenção da saúde geral.

Ação antioxidante

Como antioxidante, a glutationa protege as células dos danos oxidativos, neutralizando os radicais livres e outras espécies reativas de oxigênio. Estes radicais livres podem causar danos às células, proteínas e DNA, contribuindo para o envelhecimento precoce e o desenvolvimento de várias doenças. A glutationa ajuda a manter o equilíbrio redox celular, promovendo a saúde celular e prevenindo danos oxidativos.

Eliminação de toxinas

Uma das funções mais importantes da glutationa é a desintoxicação. Ele ajuda a converter toxinas lipossolúveis em compostos hidrossolúveis, facilitando a sua excreção do organismo através da urina ou bílis. Este processo é crucial para a remoção de substâncias nocivas, como metais pesados, poluentes ambientais, radiação e produtos químicos presentes em medicamentos. 

Os átomos de  enxofre presentes na sua estrutura atuam como um íman na atração de radicais livres e toxinas, mercúrio e metais pesados, que são excretados pelas fezes e urina. 

Transporte de aminoácidos

A glutationa também desempenha um papel essencial no transporte de aminoácidos através das membranas celulares. Este processo é fundamental para a síntese de proteínas e para a manutenção do equilíbrio de aminoácidos no nosso corpo, contribuindo para a saúde muscular, regeneração celular e diversas funções metabólicas.

Síntese de proteínas

No caso de situações de extremo stress oxidativo, ocorre depleção ou diminuição da síntese proteica e, como sabemos, as proteínas são parte fundamental na composição de células e tecidos no organismo, inclusive do nosso sistema imunológico. 

Portanto, a síntese proteica tem um papel fundamental para a recuperação e o fortalecimento do organismo, bem como para atenuar casos de sarcopenia (perda de massa muscular em decorrência do envelhecimento) e também atua na produção dos anticorpos, fortalecendo ainda mais o sistema imunitário. 

A síntese de proteínas é um processo vital para a reparação e crescimento celular, a glutationa participa na formação de novas proteínas, atuando como um substrato e regulador da atividade enzimática. A presença adequada de glutationa no organismo assegura que as proteínas sejam sintetizadas corretamente, o que é crucial para a manutenção da saúde e do funcionamento adequado do nosso organismo..

Proteção contra a radiação solar

A glutationa também oferece proteção contra os efeitos nocivos da radiação ultravioleta (UV) do sol. A exposição prolongada ao sol pode causar danos à pele, envelhecimento prematuro e aumentar o risco de cancro de pele. A glutationa ajuda a neutralizar os radicais livres gerados pela radiação UV, protegendo a pele e promovendo a saúde cutânea.

Combate envelhecimento e pele mais saudável

Os níveis de glutationa no corpo tendem a diminuir com a idade, o que pode contribuir para o aparecimento de sinais de envelhecimento. Manter níveis adequados de glutationa é essencial para combater os efeitos do envelhecimento, como rugas, perda de elasticidade da pele e diminuição da função celular. A glutationa ajuda a preservar a juventude celular e a manter uma aparência saudável e jovem.

A glutationa é um dos antioxidantes que ajudam na desintoxicação, prevenção de doenças e resistência ao declínio cognitivo, protegendo as células e as mitocôndrias contra os danos oxidativos e peroxidativos. Também está relacionada com o fornecimento de energia, uma vez que a sua síntese depende do trifosfato de adenosina (ATP), molécula que fornece energia celular. 

Quando o corpo envelhece a capacidade de produzir glutationa diminui, no entanto existem maneiras de otimizar a molécula no organismo por meio de uma alimentação saudável e suplementação adequada, como veremos mais adiante.

Declínio cognitivo e dano mitocondrial

O stress oxidativo e o dano mitocondrial estão implicados na evolução de doenças neurodegenerativas. O aumento do dano oxidativo em regiões específicas do cérebro durante o envelhecimento pode tornar o cérebro suscetível à degeneração. Existem evidências de  um aumento do dano oxidativo e uma diminuição da função antioxidante na substância negra durante o envelhecimento, tornando-a vulnerável à degeneração associada à doença de Parkinson. Para compreender se o envelhecimento contribui para a vulnerabilidade das regiões cerebrais na doença de Alzheimer, foram avaliados os marcadores oxidantes e antioxidantes, as enzimas metabólicas da glutationa, a expressão da proteína glial fibrilar ácida e a atividade do complexo mitocondrial I no hipocampo e córtex frontal em comparação com o cerebelo  em cérebros humanos com o aumento da idade.

As regiões do hipocampo e do córtex frontal estão sujeitas a stress oxidativo generalizado, perda de função antioxidante e expressão aumentada de proteína ácida fibrilar glial durante o envelhecimento, o que pode torná-las mais suscetíveis à fisiologia perturbada e à degeneração neuronal seletiva.

O declínio cognitivo está associado ao envelhecimento e a doenças neurodegenerativas, como a doença de Alzheimer e a doença de Parkinson. A glutationa desempenha um papel crucial na proteção do sistema nervoso central, ajudando a prevenir danos oxidativos nos neurónios e melhorando a função cognitiva. Manter níveis adequados de glutationa pode ser uma estratégia importante para prevenir ou retardar o declínio cognitivo.

Sistema imunitário

A glutationa é fundamental para o bom funcionamento do sistema imunitário. Ele ajuda a regular a resposta imunitária, promovendo a atividade das células imunes e protegendo-as contra o stress oxidativo. Níveis adequados de glutationa são essenciais para a manutenção de um sistema imunitário forte e eficaz, capaz de combater infeções e doenças.

Proteção e recuperação celular

A proteção e recuperação celular são processos vitais para a saúde do organismo. A glutationa ajuda a proteger as células contra danos e promove a reparação celular, assegurando que as células danificadas sejam restauradas de forma eficiente. Este processo é crucial para a manutenção da saúde e para a prevenção de doenças crónicas.

Cicatrização

A glutationa desempenha um papel importante na cicatrização de feridas, promovendo a regeneração celular e a síntese de colagénio. A presença adequada de glutationa no organismo acelera o processo de cicatrização e assegura que as feridas sejam curadas de forma eficiente e eficaz.

Efeitos do stress e do envelhecimento no metabolismo da glutationa

A glutationa desempenha um papel crítico em muitos processos biológicos, tanto diretamente como cofator em reações enzimáticas como indiretamente como o principal tampão redox tiol-dissulfeto em células de mamíferos. Também fornece um sistema de defesa crítico para a proteção das células contra muitas formas de stress. No entanto, o stress ligeiro aumenta geralmente os níveis de glutationa, muitas vezes, mas não exclusivamente, através de efeitos sobre a glutamato cisteína ligase, a enzima limitante da taxa de biossíntese da glutationa. 

Esta regulação positiva da glutationa proporciona uma proteção contra um stress mais severo e pode ser uma característica crítica do pré-condicionamento e da tolerância. Em contraste, durante o envelhecimento, os níveis de glutationa parecem diminuir em vários tecidos, colocando assim as células em maior risco de sucumbirem ao stress. A evidência de tal declínio é mais forte no cérebro, onde a perda de glutationa está implicada tanto na doença de Parkinson como na lesão neuronal após acidente vascular cerebral.

Níveis baixos de glutationa no sangue em adultos saudáveis

Uma investigação científica testou a hipótese de que os níveis de glutationa no sangue são mais baixos nos seres humanos idosos, como já foi encontrado anteriormente no sangue e nos tecidos dos modelos padrão de envelhecimento em roedores. Assim, foi realizado um estudo com 39 homens e 130 mulheres, dos 20 aos 94 anos, selecionados pelos critérios de serem ambulatórios, saudáveis ​​e livres de diabetes mellitus, doenças da tiroide, anemias e cancro. O grupo de referência foi constituído por indivíduos dos 20 aos 39 anos, cujos níveis de glutationa no sangue foram de 547 ± 53,5 μg/1010 eritrócitos, para 40 indivíduos e definiu o intervalo de referência (limites de confiança de 95 %) de 440 para 654. 

Com base no limite de 440 μg/1010 eritrócitos, a incidência de baixo teor de glutationa no sangue nos indivíduos mais velhos aumentou significativamente, particularmente no grupo dos 60 aos 79 anos de idade. Os seus níveis de glutationa foram 452 ± 86,8 μg/1010 eritrócitos, 17% inferiores ao grupo de referência). Estes resultados demonstram um aumento da incidência de níveis baixos de glutationa em idosos aparentemente saudáveis, que podem estar em risco devido a uma diminuição da capacidade de manter muitas reações metabólicas e de desintoxicação mediadas pela glutationa.

Como aumentar os níveis de glutationa

Manter níveis adequados de glutationa no organismo é crucial para a saúde geral. A produção de glutationa pode ser afetada por diversos fatores, incluindo a idade, dieta, stress e exposição a toxinas. Existem várias maneiras de aumentar os níveis de glutationa, incluindo a ingestão de alimentos ricos em precursores de glutationa e antioxidantes, uso de suplementos eficazes e adoção de hábitos de vida saudáveis.

Melhores alimentos para aumentar os níveis de glutationa

Os alimentos ricos em precursores de glutationa e antioxidantes são essenciais para manter e aumentar os níveis de glutationa no organismo. Alguns dos melhores alimentos incluem:

  • Vegetais crucíferos: brócolos, couve, couve-flor, couve-de-bruxelas e agrião.
  • Alho e cebola: ricos em compostos sulfurados que ajudam na síntese de glutationa.
  • Espinafre e outros vegetais de folhas verdes: contêm precursores de glutationa e antioxidantes.
  • Abacate: uma fonte rica de antioxidantes e precursores de glutationa.
  • Frutas cítricas: laranjas, limões e toranjas são ricas em vitamina C, que ajuda na regeneração de glutationa.
  • Curcumina.
  • Proteína do soro de leite de alta qualidade.
  • Leite não pasteurizado e que não contenha pesticidas, hormonas ou antibióticos.

Suplementos

Existem algumas dúvidas sobre a estabilidade das fórmulas orais de glutationa já disponíveis. Destas deve escolher-se a que utilizar a glutationa lipossomal que apresenta uma melhor absorção orgãnica. No entanto, alguns  suplementos podem ser uma maneira eficaz de aumentar os níveis de glutationa, especialmente para aqueles que têm  dificuldades em obter quantidades adequadas através da dieta. É importante escolher suplementos de alta qualidade e seguir as recomendações com a dosagem adequada.

Melhores suplementos para aumentar níveis de  glutationa

Alguns dos melhores suplementos para aumentar os níveis de glutationa incluem:

  • N-acetilcisteína (NAC): um precursor da glutationa que ajuda a aumentar os níveis deste antioxidante no corpo;
  • Glutationa lipossomal: uma forma de glutationa que é melhor absorvida pelo organismo;
  • Ácido alfa-lipóico: um antioxidante que ajuda a regenerar a glutationa no corpo.
  • Selénio: um mineral essencial que apoia a atividade da glutationa peroxidase, uma enzima dependente de glutationa;
  • Nutrientes de metilação: Ácido fólico (vitamina B9), vitamina B6 e vitamina B12;
  • Vitamina C;
  • Vitamina E;
  • Cardo-mariano, também conhecido como Cardo-leiteiro (usado há muito tempo em doenças do fígado).
  • Cistitone forte (marca comercial da Cantabria Labs): Junta 500 mg de L-Cistina, 10 mg de L-Glutationa, Cobre, Zinco, Vitaminas B5 e B6, sendo utilizada no combate à queda de cabelo.
  • Advancis capilar essencial (marca comercial da Farmodiética): Contém glutamato e glicina que são precursores da glutationa. Usado para fortalecer cabelo e unhas.

Suplementação de glicina e N-acetilcisteína (GlyNAC) em idosos

O stress oxidativo (OxS) e a disfunção mitocondrial estão implicados como fatores causais do envelhecimento. Os adultos mais velhos (OAs) têm uma prevalência aumentada de OxS elevada, oxidação de combustível mitocondrial (MFO) prejudicada, inflamação elevada, disfunção endotelial, resistência à insulina, declínio cognitivo, fraqueza muscular e sarcopenia, mas os mecanismos contribuintes são desconhecidos e as as intervenções são limitadas/falta. Relatamos anteriormente que a indução da deficiência do tripeptídeo antioxidante glutationa (GSH) em ratinhos jovens resulta em disfunção mitocondrial, e que a suplementação de GlyNAC (combinação de glicina e N-acetilcisteína [NAC]) em ratinhos idosos melhora a deficiência natural de GSH, o comprometimento mitocondrial , OxS e resistência à insulina. 

Estudo em humanos

A investigação sobre a causa do declínio funcional que pode ocorrer com o envelhecimento tem progredido rapidamente nos últimos anos. Os investigadores na área do envelhecimento e da longevidade estão a trabalhar para desenvolver tratamentos que não só atrasem o aparecimento de doenças relacionadas com a idade, mas que possam realmente reverter alguns dos seus aspectos. Um estudo avalia uma estratégia nutricional que pode aumentar as defesas celulares em indivíduos mais velhos para proteger contra o stress oxidativo, corrigir defeitos mitocondriais, aumentar a força muscular e a cognição e promover um envelhecimento saudável.

Um ensaio clínico piloto em humanos de março de 2021 publicado na Clinical and Translational Medicine sugere que os indivíduos mais velhos que tomam GlyNAC – uma combinação de glicina e N-acetilcisteína que são precursores do antioxidante glutationa – podem melhorar alguns fatores causais associados ao envelhecimento, incluindo deficiência de glutationa, oxidação stress, disfunção mitocondrial, inflamação, resistência à insulina, disfunção endotelial, gordura corporal, toxicidade genómica, força muscular, velocidade de marcha, capacidade de exercício e função cognitiva. Os autores do estudo indicam que a suplementação de GlyNAC pode ser uma solução simples, segura e eficaz estratégia nutricional para idosos.

Estudo: Glycine and N-acetylcysteine (GlyNAC) supplementation in older adults improves glutathione deficiency, oxidative stress, mitochondrial dysfunction, inflammation, insulin resistance, endothelial dysfunction, genotoxicity, muscle strength, and cognition: Results of a pilot clinical trial

Este ensaio clínico piloto exploratório aberto testou os efeitos da suplementação nutricional com GlyNAC durante um período de 24 semanas e da retirada do GlyNAC durante 12 semanas. Os investigadores trabalharam com adultos mais velhos, com idades compreendidas entre os 70 e os 80 anos, e compararam-nos com mais jovens do mesmo género adultos entre os 21 e os 30 anos. Observaram melhorias em muitos defeitos característicos do envelhecimento e, especificamente, após a toma de GlyNAC durante 24 semanas, todos os defeitos em adultos mais velhos melhoraram e alguns até reverteram para os níveis encontrados em adultos jovens. Os benefícios diminuíram após a interrupção da suplementação durante 12 semanas.

“Acredita-se que a correção destas características do envelhecimento poderia melhorar ou reverter muitos distúrbios relacionados com a idade e ajudar as pessoas a envelhecer de forma mais saudável”, disse o autor correspondente, o endocrinologista Dr. Rajagopal Sekhar, num comunicado de imprensa emitido pelo Baylor College of Medicine. “No entanto, não compreendemos completamente porque é que estes defeitos característicos acontecem, e atualmente não existem soluções para corrigir sequer um único defeito característico do envelhecimento.” Dr. Sekhar, que tem estudado o envelhecimento natural em humanos mais velhos nos últimos 20 anos, acredita que melhorar a saúde das mitocôndrias com mau funcionamento no envelhecimento é a chave para uma vida mais saudável. Alguns estudos sugerem que os níveis de glutationa nas pessoas mais velhas podem ser mais baixos do que nas pessoas mais jovens e os níveis de stress oxidativo podem ser muito mais elevados.

Os investigadores descobriram que a principal razão para a deficiência de glutationa em adultos mais velhos pode ser a diminuição da síntese causada pela diminuição da disponibilidade de glicina e cistina. É por isso que acreditam que o GlyNAC é uma melhoria em relação à suplementação apenas com NAC. A síntese de glutationa requer duas etapas bioquímicas: na primeira etapa, a cisteína é adicionada ao ácido glutâmico para formar a glutamilcisteína intermédia e, na segunda etapa, a glicina é adicionada à glutamilcisteína para formar a glutationa. 

Os autores do estudo especulam que o O GlyNAC representa três forças que poderiam estar a operar simultaneamente para resultar em melhorias generalizadas nos adultos mais velhos:

  • A correção da deficiência de glutationa resulta na correção do stress oxidativo e da disfunção mitocondrial.
  • GlyNAC contém glicina, um importante dador de grupo metilo que é importante para o funcionamento normal do cérebro.
  • O GlyNAC contém N-acetilcisteína, que funciona como dador de cisteína e é de importância crucial no metabolismo energético.

Os investigadores disseram que lhe chamam o “poder do 3” porque acreditam que são necessários os benefícios combinados da glicina, NAC e glutationa para alcançar esta melhoria generalizada em indivíduos mais velhos.

Hábitos de vida para melhorar os níveis de glutationa

Manter um estilo de vida saudável é fundamental para preservar os níveis de glutationa no organismo. Algumas práticas recomendadas incluem:

  • Exercício físico regular: ajuda a aumentar os níveis de glutationa, melhorar a desintoxicação e as defesas antioxidantes do nosso organismo.
  • Sono adequado: o descanso é essencial para a regeneração celular e a manutenção dos níveis de glutationa.
  • Gestão do stress: práticas como meditação, yoga e técnicas de respiração podem ajudar a reduzir o stress e a preservar os níveis de glutationa.
  • Evitar toxinas: reduzir a exposição a poluentes ambientais, produtos químicos e tabaco pode ajudar a manter os níveis de glutationa.

Relação entre glutationa e melatonina

A glutationa e a melatonina são duas moléculas de extrema importância orgânica, conhecidas principalmente pelas suas propriedades antioxidantes. Ambas desempenham papéis cruciais na proteção celular contra o stress oxidativo e têm sido estudadas extensivamente pelas suas interações e efeitos sinérgicos. De seguida explora-se a relação entre a glutationa e a melatonina, detalha-se a síntese de glutationa e apresentam-se fontes bibliográficas relevantes sobre a interação dessas moléculas.

Síntese da Glutationa

A glutationa é um tripeptídeo composto por glutamato, cisteína e glicina. A  síntese ocorre em duas etapas principais:

  1. Formação do γ-Glutamilcisteína: Catalisada pela enzima γ-glutamilcisteína sintetase, esta etapa envolve a combinação de glutamato e cisteína.
  2. Formação da Glutationa: Catalisada pela enzima glutationa sintetase, esta etapa combina γ-glutamilcisteína com glicina para formar a glutationa completa.

Melatonina a hormona do sono

Em humanos, a melatonina tem sua principal função em regular o sono, ou seja, em um ambiente escuro e calmo, os níveis de melatonina do organismo aumentam, causando o sono. Por isso é importante eliminar do ambiente quaisquer fontes de som, luz, aroma, ou calor que possam acelerar o metabolismo e impedir o sono, mesmo que não perceptíveis. Outra função atribuída à melatonina é a de antioxidante, agindo na recuperação de células epiteliais expostas à radiação ultravioleta e, através da administração suplementar, ajudando na recuperação de neurónios afectados pela doença de Alzheimer e por episódios de isquémia (como os resultantes de acidentes vasculares cerebrais).

A melatonina é também considerada segura e eficaz na prevenção ou diminuição dos sintomas de jet lag. É especialmente eficaz para quem viaja por mais de 5 zonas horárias, mas pode ser usado para qualquer viagem que ultrapasse mais do que uma zona horária para quem é mais susceptível a sintomas. Estudo clínicos constataram que a melatonina ajuda a regular o horário orgânico com mais rapidez, criando as condições necessárias para atingir mais rápido relaxamento e descanso cerebral em viajantes, trazendo rápida adaptação ao novo fuso horário.

Existem também estudos que demonstram que a melatonina age como regulador de cada uma das etapas do balanço energético: a ingestão alimentar, o fluxo de energia para e dos stocks ou reservas, e o dispêndio energético.

Melatonina potente antioxidante mitocondrial

A melatonina foi relatada pela primeira vez como um potente antioxidante e eliminador de radicais livres em 1993. In vitro, a melatonina atua como um eliminador direto de radicais de oxigênio e espécies reativas de nitrogênio, incluindo OH−, O2− e NO. Nas plantas a melatonina atua com outros antioxidantes para melhorar a eficácia geral de cada antioxidante.

Foi comprovado que a melatonina é duas vezes mais ativa que a vitamina E, considerada o antioxidante lipofílico mais eficaz. Por meio da transdução de sinal por meio de receptores de melatonina, a melatonina promove a regulação positiva de enzimas antioxidantes, como superóxido dismutase, glutationa peroxidase, glutationa redutase e catalase.

A melatonina ocorre em altas concentrações no líquido mitocondrial, que excedem em muito a concentração plasmática de melatonina. Devido à sua capacidade de eliminação de radicais livres, efeitos indiretos na expressão de enzimas antioxidantes e concentrações significativas nas mitocôndrias, vários autores consideram que a melatonina tem uma função fisiológica importante como um antioxidante mitocondrial.

Melatonina e glutationa

A melatonina é conhecida pelas suas propriedades antioxidantes, onde atua como um agente direto de remoção de radicais livres e também regula a atividade de várias enzimas antioxidantes, incluindo aquelas envolvidas na síntese e regeneração da glutationa. Estudos indicam que a melatonina pode aumentar os níveis de glutationa em diversas condições de stress oxidativo, melhorando a capacidade antioxidante do organismo.

Efeitos Sinérgicos

A interação entre melatonina e glutationa é complexa e bidirecional. A melatonina não apenas aumenta a síntese de glutationa, mas também protege a glutationa existente da oxidação. Além disso, a glutationa pode regenerar a melatonina oxidada, formando um ciclo de proteção antioxidante eficiente.

A relação entre glutationa e melatonina é um campo de estudo fascinante e 

promissor, com ambas as moléculas a desempenharem papéis complementares na defesa antioxidante do organismo. A melatonina, além de suas funções reguladoras do ciclo circadiano, mostra-se uma poderosa aliada na manutenção dos níveis de glutationa e na proteção celular contra o stress oxidativo. Estudos contínuos são essenciais para aprofundar a compreensão dessas interações e das suas aplicações clínicas potenciais.

Revisão Bibliográfica

Vários estudos publicados em plataformas científicas, como PubMed, têm explorado a interação entre melatonina e glutationa:

  • Manchester et al. (2015) destacam que a melatonina pode ser induzida sob condições de stress oxidativo moderado, aumentando a capacidade antioxidante do organismo e protegendo contra o stress oxidativo​ (MDPI)​.
  • Karolczak e Watala (2021) revisaram os efeitos da melatonina na redução do stress oxidativo induzido por homocisteína, demonstrando a capacidade da melatonina em proteger células endoteliais e neurónios​ (MDPI)​.
  • Estudos adicionais apontam que a melatonina pode influenciar diretamente os níveis de glutationa em diversas condições patológicas, incluindo doenças neurodegenerativas e cardiovasculares​ (BioMed Central)​​ (Oxford Academic)​​ (SpringerLink)​.

Conclusão

A glutationa é um antioxidante essencial para a saúde, desempenhando um papel crucial na proteção celular, desintoxicação e regulação do sistema imunitário. Manter níveis adequados de glutationa é fundamental para a prevenção de doenças e para a promoção de uma vida saudável. Através de uma alimentação equilibrada, suplementação adequada e hábitos de vida saudáveis, é possível aumentar e manter os níveis de glutationa no organismo, garantindo assim uma melhor qualidade de vida.

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