Pessoas que não consomem álcool podem desenvolver fígado gordo ou esteatose hepática e cirrose não alcoólica que pode tornar-se grave. Descubra toda a verdade sobre este perigo oculto! O que significa, quais os sintomas, quais as causas, qual o melhor tratamento e qual a prevenção mais adequada.
Fígado gordo é um problema de saúde muito importante que pode causar uma grave doença denominada cirrose hepática não alcoólica, que se instala lentamente e afeta milhares de pessoas sem que a maioria se aperceba atempadamente do perigo que corre, pois os sintomas na fase inicial são discretos.
Este artigo pretende ser uma ferramenta importante para ajudar a detetar os sinais precoces desta perigosa condição de saúde, ajudar a corrigir os principais hábitos de vida e erros alimentares e, talvez, salvar muitas vidas!
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Neste artigo vou tratar os seguintes temas:
- Anatomia do fígado
- Figado o que é e qual a função?
- Figado gordo o que é?
- Sintomas
- Causas
- Perigos e complicações
- Cirrose hepática não alcoólica
- Tratamentos
- Prevenção
Fígado
O fígado é a maior glândula e o maior órgão maciço do corpo humano. Funciona como glândula exócrina, libertando secreções num sistema de canais que se abrem numa superfície externa, e também como glândula endócrina, pois também liberta substâncias no sangue ou nos vasos linfáticos.
Localiza-se no hipocôndrio direito, epigástrio e pequena porção do hipocôndrio esquerdo, sob o diafragma e tem um peso aproximado de 1,3-1,5 kg num homem adulto e ligeiramente menos numa mulher. Em crianças é proporcionalmente maior, pois constitui cerca de 5% do peso total de um recém nascido.
Anatomia e localização abdominal
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Funções do fígado
O fígado é o segundo maior órgão do corpo e desempenha inúmeras funções, tanto na digestão e utilização dos nutrientes, como na remoção de substâncias prejudiciais, além de uma boa regulação da coagulação. Em termos simples o figado tem três principais funções:
- Digerir alimentos;
- Armazenar energia;
- Remover substâncias tóxicas.
Em algumas espécies animais o metabolismo alcança a atividade máxima logo depois da alimentação o que diminui a capacidade de reação a estímulos externos. Em outras espécies, o controle metabólico é estável, sem diminuição desta reação. Esta diferença é determinada pela função reguladora do figado, órgão essencial da coordenação fisiológica.
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Em mais detalhe, as funções do fígado mais relevantes são as seguintes:
- Desintoxicação do organismo;
- Produção de bile, cerca de 1,5 litros por dia;
- Emulsificação de gorduras facilitando o processo digestivo destas, através da secreção da bile;
- Síntese do colesterol;
- Reciclagem de hormonas;
- Armazenamento das vitaminas A, B12, D, E e K;
- Armazenamento de alguns minerais como o ferro;
- Conversão de amónia em ureia;
- Síntese de protrombina e fibrinogênio (fatores de coagulação do sangue);
- Destruição das hemácias (glóbulos vermelhos);
- Transformação de glicose em glicogénio;
- Síntese, armazenamento e quebra do glicogênio quando é necessária glicose para produção de energia;
- Lipogênese, a produção de triacilglicerol (formação de gorduras);
- Síntese de albumina (importante para a osmolaridade do sangue);
- Síntese de angiotensinógeno (hormona que aumenta a pressão sanguínea quando ativada pela renina);
- No primeiro trimestre de gravidez é o principal produtor de eritrócitos, no entanto perde essa função nas últimas semanas de gestação;
- Sintese de heparina e vitamina A;
- Ação antitóxica importante, processando e eliminando os elementos nocivos de bebidas alcoólicas, café, barbitúricos, gorduras, medicamentos e outras substâncias potencialmente tóxicas;
- Papel vital no processo de absorção de alimentos.
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Fígado gordo o que é?
Fígado gordo ou esteatose hepática (EH) é uma deposição difusa de gordura, principalmente triglicéridos, nos hepatócitos (células do fígado), excedendo habitualmente 5% do peso do fígado.
Numa tese de mestrado em Nutrição da Faculdade de Medicina de Lisboa, citam-se estudos realizados entre 2004 e 2013 que referem prevalência de EH como sendo de 26,0% na China, 21,8% no Japão e 31% nos Estados Unidos, sendo superior em certos grupos étnicos (45% nos hispânicos). Isto significa que em 2020, com o aumento da obesidade na população, os números serão certamente ainda piores!
Dados interessantes sobre a prevalência de figado gordo:
- Presente em cerca de 20% a 30% da população independentemente da idade, género ou etnia.
- Maior prevalência em homens, principalmente em idades mais avançadas, e também nas mulheres pós-menopáusicas.
- Pode atingir cerca de 3% das crianças (com idades próximas aos quatro anos) e 20% a 50% das crianças obesas.
Esteatose hepática classificação
A estetose hepática é habitualmente classificada de acordo com os consumos de álcool (com o cut-off de 20g/d) e após exclusão de hepatites B ou C em:
- Esteatose hepática alcoólica (EHA)
- Esteatose hepática não alcoólica (EHNA)
Sintomas
A maioria dos doentes não apresenta sintomas numa fase inicial o que torna esta doença ainda mais perigosa pois permite que avance de forma oculta e por vezes até atingir uma fase de difícil reversão. Por vezes, podem surgir as seguintes manifestações clínicas:
- Cansaço,
- Dor ou desconforto no quadrante superior direito do abdómen,
- Perda de apetite,
- Náuseas e vómitos,
- Dor de cabeça,
- Fezes esbranquiçadas,
Sintomas em fase avançada da doença
Numa fase avançada da doença, já com lesão e inflamação do fígado, aparecem os seguintes sintomas:
- Icterícia (cor amarelada nos olhos e na pele),
- Febre,
- Ascite ou barriga inchada (distensão do abdómen por acumulação de líquido).
Causas
Pensa-se que a patogénese destas doenças esteja relacionada com um processo de duas fases, onde numa primeira fase ocorre acumulação de ácidos gordos no fígado, levando à esteatose hepática.
Este desenvolvimento de esteatose está relacionado com o excesso de consumo de álcool no caso da esteatose hepática alcoólica.
A gordura que é ingerida é metabolizada no fígado e noutros tecidos. Se ela for excessiva, fica armazenada no tecido adiposo. Daí pode ser transferida para outros locais e também para o fígado. Noutros casos, a gordura acumula-se neste órgão que se revela incapaz de a transformar para ser eliminada.
Cerca de 80% dos consumidores de álcool desenvolvem esta patologia porque o álcool permite uma rápida acumulação de ácidos gordos no fígado.
Doença do fígado gordo não alcoólica
A esteatose hepática não alcoólica surge em pessoas que não consomem alcool e o seu desenvolvimento está intrinsecamente ligado aos seguintes factores principais:
- Obesidade, principalmente visceral;
- Dislipidémia (colesterol e triglicéridos elevados);
- Resistência à insulina (diabetes).
A acumulação de gordura hepática predispõe o fígado ao dano hepático na segunda fase do processo, onde ocorre necrose, inflamação, fibrose e por fim, cirrose hepática.
As causas secundárias de esteatose hepática não alcoólica ou doença do fígado gordo não alcoólica são diversas, sendo muito importantes as descritas na seguinte tabela.
Causas secundárias da esteatose hepática não alcoólica | Exemplos |
Nutricionais | Malnutrição Perda rápida de peso |
Metabólicas | Lipodistrofia |
Farmacológica/medicamentos | Amiodarona Estrogénios Corticosteroides Tamoxifeno Antiretrovirais Tetraciclinas |
Ingestão de toxinas | Produtos quimicos Cogumelos (algumas espécies) |
Outras | Sindrome do intestino irritável também denominado cólon irritável ou colite nervosa |
Evolução da doença
A EHNA é uma condição normalmente benigna e reversível, a sua progressão a fibrose e cirrose é denominada esteatohepatite não alcoólica (nonalcoholic steatohepatitis, NASH) e representa um estado mais grave da doença. Estima-se que nos Estados Unidos, a NASH afete cerca de 3-6% da população, com 30% de morbilidade em pacientes obesos.
Não são totalmente compreendidos os determinantes na progressão desta doença, que pode afetar tanto crianças como adultos. Entre 45% e 100% dos pacientes com EH não apresentam sintomas, revelando-se assim, como uma doença “silenciosa”.
A gravidade na EHNA depende não só das consequências tardias, como a cirrose e o carcinoma hepatocelular, mas também das elevadas taxas de eventos cardiovasculares associados, que fazem desta doença um
problema de saúde pública relevante
Diagnóstico
As técnicas de diagnóstico mais usadas são as descritas na tabela seguinte.
Técnica de diagnóstico | Objetivo |
Ecografia abdominal | Revelar o volume do fígado |
Análises ao sangue em doentes obesos, diabéticos e/ou dislipidémicos | Detetar aumento das enzimas hepáticas denominadas transaminases |
Biópsia | Confirmar o diagnóstico e avaliar o grau de inflamação |
As principais alterações laboratoriais na esteatose hepática (EH) são as elevações das seguintes enzimas hepáticas:
- Aspartato aminotransferase (AST);
- Alanina aminotransferase (ALT);
- Gamaglutamiltransferase (GGT), esta mais comum no diagnóstico de consumo crónico de álcool.
Biópsia e exames de imagem
As enzimas hepáticas poderão refletir um meio de rastreio,
porém não poderão ser meio de diagnóstico na EH, pois cerca de 70% dos indivíduos com EH não apresenta estas alterações enzimáticas.
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Atualmente, a biópsia hepática é o exame mais eficaz para o diagnóstico da EH, porém tornaram-se necessárias técnicas de rastreio menos invasivas e mais acessíveis, mas igualmente precisas.
Os exames complementares de imagem (ecografia abdominal,
tomografia computadorizada ou ressonância nuclear magnética) são capazes de identificar a presença de EH de forma rápida e não invasiva para o paciente.
Tratamento e prevenção
Não existem medicamentos eficazes para tratar o fígado gordo. Vale a pena sublinhar que, nas suas fases iniciais, o fígado gordo é reversível mas para que tal acontece é de facto obrigatório que faça alterações alimentares e de estilo de vida. Se não o fizer o “preço a pagar” pode ser a sua vida!
Descrevo de seguida, por experiência pessoal e profissional, as prioridades para reverter, ainda a tempo, o excesso de gordura hepática e visceral. Assim deve controlar os seguintes parâmetros e aplicar os seguintes hábitos:
- Evitar o consumo de bebidas alcoólicas;
- Glicémia (açúcar no sangue) em jejum e 2 horas após refeição, principalmente se já tem diabetes ou está próximo dos valores de referência máximos;
- Colesterol LDL;
- Triglicéridos;
- Eliminar totalmente os hidratos de carbono processados;
- Eliminar em geral os alimentos processados que têm excesso de açúcar e óleos vegetais de má qualidade;
- Fazer jejum mínimo de 12 horas por dia;
- Uma ou duas vezes por semana fazer jejum de 16 horas seguidas;
- Caminhar ao ar livre o mais possível;
- Fazer exercícios físicos de curta duração mas alta intensidade, bastam 15 minutos por dia destes exercícios.
- Dormir pelo menos 7:30 horas de qualidade para não desregular as hormonas que controlam o nosso apetite e nos causam, principalmente, vontade de comer os hidratos de carbono errados (processados) ou em quantidade exagerada.
- Controle o stress em excesso pois este quando descontrolado tende a alterar os nossos comportamentos favorecendo os hábitos viciantes incluindo a vontade de ingerir a comida errada em “doses” excessivas.
Complicações do fígado gordo
Embora a maioria dos casos tenha evolução benigna, é possivel a evolução para cirrose que é uma grave doença hepática e potencialmente fatal! Este risco aumenta nos doentes com mais idade, diabéticos e nos que já apresentam inflamação do fígado (chamada esteatohepatite não alcoólica).