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VESPA ABELHA PICADA DE INSECTOS A VERDADE

A picada de insectos como a vespa e abelha pode causar reacção e alergia grave, segundo a Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunulogia Clínica (SPAIC) sendo conhecida desde a antiguidade, Na Europa mais de 95% das reacções alérgicas provocadas por insectos são resultantes da picada de abelhas e vespídeos. Também os mosquitos, moscas, pulgas e percevejos podem provocar reacções, geralmente locais, resultantes da mordedura mas não da picada.

Neste artigo vou responder ás seguintes questões:

  • Quais os insetos que causam mais picadas?
  • Qual a prevalência das reacções alergicas à picada de insetos?
  • O que é uma alergia?
  • Reacção anafilática: Quais os factores de risco?
  • Qual a composição do veneno?
  • Como se desencadeia a reacção alergica?
  • Quais são os sintomas?
  • Como se faz o diagnóstico?
  • Como se tratam as reacções?
  • Quem deve fazer vacina?
  • Como prevenir?

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Insetos que causam mais picadas

Da ordem dos himenópteros, as espécies mais importantes são:

  • Vespulas,
  • Dolichovespulas,
  • Vespas,
  • Polistes,
  • Apis mellifera (abelha do mel).

Na Europa a prevalência de alergia ao veneno de himenópteros é cerca de 20%. Nos adultos a prevalência de reacções locais exuberantes varia de 2 a 19% e de reacções sistémicas graves de 0,6 a 7,5%. Nos apicultores a percentagem de reacções generalizadas é mais elevada, de 15 a 43%. Nas crianças as reacções graves são raras, cerca de 0,15 a 0,3%.

A incidência da mortalidade varia entre 1 a 5 mortes/10 milhões de habitantes/ano, extrapolando para o nosso país, poderão ocorrer entre 1 a 5 casos fatais por ano.

O que é uma alergia?

Uma alergia é uma reação de hipersensibilidade, a estímulos externos, mediada pelo sistema imunitário, nomeadamente um tipo de anticorpo com uma importância central em todas as doenças alergicas, designado imunoglobulina E (IgE).

Reacção alérgica melhorsaude.org

As reações anafiláticas caracterizam-se pela ocorrência de sintomas envolvendo simultaneamente:

  • A pele e mucosas
  • O aparelho respiratório
  • O aparelho cardiovascular
  • O aparelho gastrointestinal

Reação anafilática quais os fatores de risco?

  1. Depende da gravidade da reação inicial: se foi uma reação local exuberante o risco de reação sistémica em picadas subsequentes é < 15%, se foi uma reação sistémica ligeira o risco é 15-20%, se foi uma reação sistémica grave o risco é > 50%.

  2. Curto intervalo de tempo entre duas picadas com um inseto da mesma espécie.

  3. Menos do que 25 picadas por ano nos apicultores.

  4. Outros fatores:
    • Idade avançada,
    • Doença car­diovascular,
    • Asma,
    • Beta-bloqueantes ou
    • Inibidores da enzima conversora da angiotensina (IECA),
    • Mastocitose,
    • Triptase sérica elevada,
    • Alergia ao veneno de abelha.

Composição do veneno

O veneno é constituído por alergénios, proteínas com acções tóxicas e enzimáticas. Os mosquitos não produzem veneno, mas a saliva contem substâncias irritantes responsáveis pelas reacções locais.

Reação alérgica

Os indivíduos alérgicos desenvolvem an­ticorpos IgE contra o veneno e em picada de insectos posteriores podem surgir reacções alérgicas de gravi­dade variável.

Sintomas

As reacções alérgicas à picada de himenóptero podem ser de vá­rios tipos:

1- Reacções locais: Dor, comichão, vermelhidão e inchaço no local da picada (reacção inflamatória) com menos de 10 cm de diâmetro, que resolve em 24 horas sem deixar sequelas. O local da pi­cada raramente infecta, ao contrário do que acontece com os mosquitos, em que o acto de coçar pode levar facilmente à infecção da pele.

2- Reacções locais exuberantes: Edema no local da picada  com mais de 10 cm de diâmetro, que geralmente persiste mais de 24 horas. Nos casos mais graves esta reacção pode ser acom­panhada de fadiga, náuseas ou febre. A linfadenopatia que por vezes acompa­nha esta reacção não é sinal de infecção mas sim de inflamação alérgica. Quando a picada ocorre na cabeça, particularmente na região à volta dos olhos, pode ocor­rer edema palpebral provocando oclusão ocular. Se o local da picada for na face, particularmente na boca, existe a possibi­lidade de angioedema da laringe, com obs­trução das vias aéreas e risco de vida.

3- Reacções sistémicas: Surgem geralmente alguns minutos após a picada e têm vários graus de gravidade:

    • Grau I – Comichão generalizada, urticária, vermelhidão, mal-estar geral e ansiedade.
    • Grau II – Um dos anteriores e dois ou mais dos seguintes: Angioedema, opressão ou aperto torácico; náuseas, vómitos, diarreia, dor abdominal, vertigens.
    • Grau III – Um dos anteriores e dois ou mais dos seguintes: Falta de ar, pieira, estridor; dificuldade em engolir ou em falar, rouquidão; fraqueza, confusão, sensação de morte iminente.
    • Grau IV – Um dos anteriores e dois ou mais dos seguintes: Hipotensão arterial, choque, perda de consciência; incontinência de esfíncteres, cianose (cor arroxeada da pele).

4- Reacções tóxicas: Resultam de picadas múlti­plas e simultâneas, geralmente 50 ou mais, e pode colocar em perigo a vida da vítima.

5- Reacções raras: Podem surgir vários dias após a picada ou ser progressiva durante longo período de tempo e inclui: doença do soro, vasculite generalizada, neurite, glomerulonefrite, trombocitopénia, anemia hemolítica.

Diagnóstico

É importante a história clínica, caracte­rizando o tipo de reacção, os factores de risco individuais e tentando identificar o insecto em causa. É útil saber que o fer­rão das abelhas permanece habitualmen­te na pele, o que não acontece com os vespídeos.

Os testes cutâneos em picada e intradér­micos com leitura imediata, são muito sensíveis, e estão indicados quando há história de reacções sistémicas.

A determinação de anticorpos IgE es­pecíficos no soro é mais específica, mas pode ser negativa em 15% dos casos. Os anticorpos IgG4 específicos, aumentam transitoriamente algumas semanas após uma picada e baixam 3 a 6 meses depois.

Tratamento

Após uma picada de abelha deve-se tentar remover imediatamente o ferrão, com as unhas ou um cartão, evitando comprimir o saco do veneno que pode provocar uma injecção adicional de veneno.

Tratamento das reacções:

  • 1- Reacções locais: Aplicação de gelo ou compressas frias no local da picada.
  • 2- Reacções locais exuberantes: Aplicação de gelo ou compressas frias e corticosteróide creme no local da picada. Anti-histamínico oral durante 2-3 dias e nos casos mais graves corticosteróide oral durante 2 – 3 dias.
  • 3- Urticária e/ou angioedema: Anti-histamínico oral ou intramuscular (IM) e corticosteróide oral ou endovenoso (EV). Nos casos mais graves adrenalina IM.
  • 4- Angioedema laríngeo (da glote): Adrenalina (1mg/ml) IM (0,3 – 0,5 cc).
  • 5- Reacção sistémica grave (anafilaxia): Adrenalina IM, se necessário repetir 15 minutos depois. Nos casos refractários adrenalina EV, oxigénio e medidas de tratamento do choque anafiláctico.

Todos os doentes com história de reac­ções sistémicas graves devem ser porta­dores de um dispositivo (caneta/seringa) de emergência contendo adrenalina para auto-administração (0,3 mg no adulto e 0,15 mg na criança), de anti-histamínico e corticosteróide.

Em caso de picada deve tomar imediatamente o anti-histamínico e o corticosteróide. Caso sinta os primeiros sintomas de reacção alérgica sistémica deverá preparar a adrenalina para auto-injecção intra-muscular na face ante­ro-lateral da coxa e através da roupa se necessário.

Estes doentes devem ser referenciados a uma Consulta de Imunoalergologia, para avaliação e se necessário vacina com veneno.

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Vacina quem deve tomar?

Todos os indivíduos com re­acções sistémicas graves, testes cutâneos e IgE específicas positivos devem fazer tratamento de dessensibilização (vaci­na) com o veneno ao qual são alérgicos. A imunoterapia específica é o único trata­mento capaz de prevenir futuras reacções.

Os doentes com história de reacção local exclusiva, mesmo que exuberante, não têm indicação para esta terapêutica, mesmo que os testes cutâneos sejam positivos.

Existem vários protocolos para iniciar as vacinas com venenos: convencional, rá­pido ou ultra-rápido. Actualmente, pre­ferem-se os protocolos rápidos com a duração de 4 dias ou ultra-rápidos durante 3,5 horas, realizados sempre em ambiente hospitalar. Atingida a dose de 100μg de veneno, equivalente aproximadamente à picada de dois in­sectos, esta é repetida cada 4 semanas durante o primeiro ano de tratamento e cada 6 semanas nos anos seguintes, du­rante 3 a 5 anos.

Este tratamento é eficaz em 91 a 100% dos casos de alergia ao veneno de vespa e 77 a 80 % ao veneno de abelha. Nos restantes casos ocorrem apenas reacções de reduzida gravidade.

Como prevenir?

Na maioria dos casos os insetos picam quando se sentem em perigo, tornam-se mais agressivos durante o verão e quando há cheiros intensos ou perfumados.

  • Nunca andar descalço especialmente em relvados.
  • Evitar o uso de roupa larga com cores brilhantes ou padrões florais.
  • Evitar perfumes ou cosméticos com cheiros activos em meio rural ou no campo.
  • Evitar locais onde existem estes insectos: jardins com flores, árvo­res de fruto, troncos caídos (onde as vespas costumam construir os ninhos).
  • Evitar beber e comer ao ar livre. Evitar caixotes e contentores de lixo.
  • Usar capacete e luvas para andar de bicicleta ou motociclo.
  • Inspeccio­nar o carro antes de entrar e manter as janelas fechadas.
  • Evitar movimentos bruscos quando abelhas ou vespas se aproximam (não enxotar). Se for atacado, proteger a cara com os braços ou com uma peça de vestuário.
  • Ter cuidado ao praticar desportos ao ar livre, porque o suor atrai estes insectos.
  • Ter cuidado ao fazer jardinagem: manter os braços, cabeça e corpo o mais cobertos possível.
  • Andar SEMPRE com o dispositivo de ADRENALINA, nunca o deixar no carro ou em casa, principalmente se tiver um  historial clínico de reacção anafilática.

Fique bem!

Franklim Moura Fernandes

Fonte:

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