Sarampo (Measles em Inglês) pode ser mortal… sabia? Mais de 41 mil pessoas na Europa foram infectadas pelo sarampo nos primeiros seis meses de 2018, segundo alerta emitido pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
O número ultrapassa o total registrado ao longo de 12 meses em todos os últimos anos desta década. Até então, o maior número de casos entre 2010 e 2017 havia sido identificado em 2017, quando foram contabilizadas 23.927 infecções. Os dados mostram ainda que em 2018 pelo menos 37 pessoas morreram por causa da doença.
- Habitualmente a doença é benigna mas, em alguns casos, pode ser grave ou levar à morte.
A ocorrência de surtos de sarampo em alguns países europeus, devido à existência de comunidades não vacinadas, colocou Portugal em elevado risco.
Analizando o gráfico relativo a Portugal devo realçar os seguintes pontos:
- 135 casos confirmados em 2018, o maior nº de casos, pelo menos, dos últimos 12 anos.
- 80 casos na faixa etária dos 25 aos 39 anos.
- 20 casos na faixa etária dos 15 aos 24 anos.
- Na maioria dos casos os doentes infectados tinham sido vacinados com 2 doses. Mais à frente neste artigo saiba porque é possivel ficar infectado mesmo sendo vacinado.
Não há razões para temer uma epidemia de grande magnitude, uma vez que a larga maioria das pessoas está protegida porque foi vacinada ou teve anteriormente a doença. No entanto crises pontuais com aumento rápido de casos têm acontecido e podem continuar se a vacinação for negligenciada pelas novas gerações que nunca contactaram directamente com o vírus do sarampo.
Neste artigo vou responder ás seguintes questões:
- Mapa mundial da OMS: Onde está o sarampo?
- Sarampo: O que é?
- Quais as causas?
- Como se transmite?
- Qual o periodo de incubação?
- Quais os sintomas do sarampo?
- Diagnóstico: Como se faz?
- Tratamento: Qual o melhor?
- Vacina do sarampo (Vaspr): Como prevenir?
- Qual o risco de não ser vacinado?
- Porque deve vacinar-se?
- Imunidade de grupo: O que é?
- Quais os efeitos secundários da vacina?
- Vacina: Quando não é recomendada?
- Será segura a vacinação?
- Autismo, qual a relação com a vacinação?
- Qual o grau de mortalidade causada pelo sarampo?
Mapa mundial da OMS: Onde está o sarampo?
Os dados até Novembro de 2018 foram descritos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) no seguinte mapa:
As zonas mais escuras do mapa indicam uma maior incidência de sarampo.
O sarampo é uma das doenças infeciosas mais contagiosas, podendo evoluir gravemente. A vacinação é a principal medida de prevenção contra esta doença e é gratuita.
O Programa Nacional de Vacinação recomenda a vacinação com duas doses:
- 1ª dose aos 12 meses,
- 2ª dose aos 5 anos.
Sarampo o que é?
Sarampo é uma doença , altamente contagiosa, causada por um vírus o Morbillivirus conhecido como vírus do sarampo.
O vírus do sarampo é um vírus com invólucro de ARN de cadeia simples e polaridade negativa. Este vírus pertence à família Paramyxoviridae e ao género Morbillivirus. O vírus do sarampo é agente patogénico humano altamente contagioso responsável por mais 130,000 mortes por ano.
Causas do sarampo
O Homem é o único hospedeiro deste vírus, que é transmitido pela propagação de gotículas ou por contacto direto com as secreções do nariz e garganta de pessoas infetadas (tosse e espirros).
A transmissão por via indireta (objetos tocados pelas pessoas infetadas) é rara devido à fraca sobrevivência do vírus fora do hospedeiro.
Transmissão
O sarampo é uma doença altamente contagiosa transmitindo-se de pessoa para pessoa por via aérea. Isto significa que o vírus infeta um indivíduo saudável quando este inala (respira) gotículas expelidas por uma pessoa infetada, através de :
- Tosse
- Espirro
- Aerossóis
Período de incubação
O tempo de incubação do sarampo é de 8 a 13 dias. É possível ser-se portador do vírus sem saber. O contágio ocorre aproximadamente entre seis dias antes e quatro dias depois do surgimento das primeiras placas avermelhadas na pele.
Sintomas
O primeiro sintoma do sarampo é a febre alta, 7 a 14 dias depois da exposição ao vírus. Assim os primeiros sintomas após a infecção são:
- Febre,
- Congestão do nariz,
- Tosse seca,
- Olhos vermelhos e lacrimejantes,
- Pequenos pontos brancos na mucosa oral.
Depois, sequencialmente aparecem os seguintes sintomas:
- Manchas de Koplik (2 a 4 dias depois) que são minuscuslas manchas brancas na boca nem sempre visiveis.
- Erupções cutâneas na cara e no pescoço, ao fim de 3 a 5 dias após o aparecimento dos primeiros sintomas, (manchas avermelhadas) associadas a comichão ligeira, sobretudo à frente e por trás das orelhas e nos lados do pescoço.
- Erupções estendem-se para as mãos e os pés. Esta erupção apresenta um aspeto de placas irregulares, planas e vermelhas que rapidamente vão aumentando de tamanho. Após um ou dois dias, a erupção espalha-se para o tronco, braços e pernas, e começa a desaparecer do rosto.
O pico da doença caracteriza-se pelos seguintes sintomas:
- Doente está muito enfraquecido,
- Erupção cutânea é extensa,
- Febre alta que pode ultrapassar os 40°C.
Ao fim de 3 a 5 dias, a temperatura começa a diminuir e ocorre um alívio dos sintomas, nomeadamente, o desaparecimento das manchas.
O sarampo pode causar os seguintes problemas de saúde:
- Diarreias,
- Desidratação,
- Infecção nos ouvidos,
- Pneumonia,
- Encefalite, que pode provocar lesões permanentes no cérebro ou mesmo a morte,
- Durante a gravidez, aumenta o risco de aborto ou parto prematuro.
Diagnóstico de Sarampo
O diagnóstico é basicamente clínico, ou seja, confirmado pelo próprio médico. Porém, o sarampo pode ser diagnosticado com exames laboratoriais específicos como IgM para Sarampo ou PCR (reação da cadeia de polimerase) para identificar o vírus.
Tratamento
O tratamento do sarampo tem como objetivo proporcionar conforto e alívio até que os sintomas desapareçam, o que pode demorar cerca de 2 a 3 semanas. São aconselhados alguns cuidados, tais como:
- Repouso;
- Banhos de água morna (para diminuir a febre);
- Aplicação de uma loção à base de calamina (para alívio da comichão);
- Ingestão de maior quantidade de líquidos;
- Uso de humidificadores para alívio da tosse;
- Suplementos de vitamina A.
Podem ser administrados medicamentos para diminuir a febre, sempre com o aconselhamento do médico, quando em crianças com menos de 3 anos e febre superior a 39ºC.
Medicamentos usados no tratamento
Os medicamentos mais utilizados para combate à febre e inflamação, são:
- Paracetamol (Ex: Ben-u-ron® ou genérico)
- Ibuprofeno (Ex: Brufen® ou genérico)
Se surgir uma infeção bacteriana secundária, deverá ser prescrito um antibiótico.
Vitamina A previne cegueira em crianças
A cada ano, 500.000 crianças tornam-se cegas no mundo; 75% delas vivem em países de baixa renda. As principais causas de cegueira nas crianças variam de acordo com a região e estão relacionadas às condições de vida nas comunidades.
Nos países de baixa renda, as principais causas de cegueira são cicatrizes oculares devido ao sarampo, deficiência de vitamina A, uso de remédios oculares tradicionais e nocivos e infecção ocular nos recém-nascidos.
A vitamina A é um importante nutriente que é essencial para o funcionamento normal dos olhos. A deficiência dessa vitamina leva a prejuízos para a visão.
O sarampo em crianças foi associado com deficiência de vitamina A e cegueira. A prevenção da cegueira em crianças é considerada um assunto de alta prioridade pela Organização Mundial da Saúde dentro do seu programa VISÃO 2020: O Direito à Visão.
Alguns estudos mostraram o efeito benéfico da vitamina A na redução da carga de doença e no risco de morte em crianças com sarampo. Esta revisão avaliou o uso de vitamina A para prevenir a cegueira em crianças com sarampo, que não tinham sinais clínicos anteriores de deficiência de vitamina A.
Prevenir
A vacina contra o sarampo é uma das imunizações que se fazem na infância, fazendo parte do Programa Nacional de Vacinação (PNV). Prevenir é efetivamente o melhor remédio.
- 1ª dose desta vacina é recomendada aos 12 meses
- 2ª dose aos 5-6 anos, antes do inicio da escolaridade obrigatória.
Vacina do sarampo (Vaspr)
Chama-se Vaspr, o acrónimo de vacina do sarampo, papeira e rubéola (portanto tríplice). É feita com versões enfraquecidas (ou atenuadas) dos vírus vivos destas doenças, obtidas através de culturas sucessivas em laboratório dos seus agentes patogénicos.
Vacina é 100% eficaz?
É administrada no músculo do braço ou da coxa. As crianças têm de tomar uma dose por volta do primeiro ano (é neste período que a imunidade que herdam das mães começa a desaparecer) e outra dose por volta dos cinco. A vacinação deve ser feita logo desde muito cedo, porque de outra maneira os bebés não teriam forma de se proteger de vírus e bactérias.
As crianças não vacinadas beneficiam da imunidade de grupo criada pelos outros estarem vacinados, mas não contribuem para essa imunidade de grupo. Caso a pessoa tenha mais de 18 anos, só tem de tomar uma dose da vacina tríplice. Está protegido quem já tenha tido a doença ou tenha tomado duas doses da vacina. Mesmo para quem já teve sarampo, a Direcção Geral da Saúde (DGS) tem continuado a recomendar a vacinação.
Imunidade de grupo
A imunidade de grupo contra o sarampo, que protege vacinados e não vacinados, já não existe em Portugal devido à diminuição do número de pessoas imunes à doença nos últimos 14 anos.
No último inquérito, a seroprevalência para o vírus do sarampo foi de 95,2%, mas o atual aponta para 94,2% de indivíduos imunes à doença.
“Este valor é inferior a 95%, proporção de indivíduos seropositivos [com contacto com o agente infecioso] necessária para que ocorra imunidade de grupo”, a qual é um efeito indireto da vacinação que protege os vacinados, mas também os que não receberam a vacina, uma vez que reduz a circulação do agente e da transmissão da infeção.
A percentagem de imunes não é igual em todas as faixas etárias. O documento indica que “a imunidade de grupo verificou-se globalmente para ambos os sexos nas crianças com idades compreendidas entre os dois e os nove anos e nos adultos com idade superior a 44 anos, correspondendo aos indivíduos vacinados com VASPR [vacina combinada contra o sarampo, a parotidite epidémica e a rubéola] e aos que desenvolveram imunidade natural”.
Nos grupos etários entre os dois e os quatro anos e os cinco e os nove anos, a imunidade de grupo não é uniforme por região e sexo, “sendo inferior a 95% em alguns grupos do sexo feminino ou masculino do Centro e Região Autónoma dos Açores”.
A proteção baixa nos indivíduos com 15 a 29 anos (90%), atingindo os 88,2% entre os 15 e os 19 anos e os 77,9% para a faixa entre os 20 e os 29 anos.
Segundo os autores, “a proporção de indivíduos suscetíveis nestes grupos etários pode ser atribuída ao facto de terem sido vacinados com diferentes estirpes vacinais ou por um declínio dos anticorpos ao longo do tempo, que pode ocorrer após vacinação”.
A proporção de indivíduos seropositivos foi próxima dos 100% (99,6%) no grupo dos nascidos antes de 1970, tratando-se de “indivíduos que desenvolveram imunidade natural após infeção com o agente viral”.
“A proporção de indivíduos seropositivos foi superior a 90%, mas inferior a 95% na coorte dos nascidos depois de 1996 e na dos nascidos entre 1970 e 1977”, prossegue o relatório do inquérito.
A investigação aponta para uma prevalência de anticorpos para o sarampo – a nível nacional, por sexo e região – com percentagens inferiores aos obtidos no inquérito de 2001-2002.
Esta diferença foi mais marcante no grupo etário entre os 15 e os 44 anos, na qual se verificou “um aumento do número de suscetíveis, não existindo imunidade de grupo”.
Vacinação para quê ?
Esta é a principal forma de prevenir doenças, neste caso o sarampo. Esta vacina é gratuita e está incluída no Programa Nacional de Vacinação. As vacinas estimulam o sistema imunitário a produzir anticorpos contra os agentes patogénicos, como o do sarampo. Caso contacte com o vírus, o sistema imunitário reconhece-o e vai combate-lo.
Efeitos secundários
Alguns dos efeitos secundários já descritos na literatura são os seguintes:
- Febre: Cerca de seis a dez dias após a vacinação, a criança pode ter uma leve subida de temperatura;
- Perda de apetite em algumas crianças;
- Erupção cutânea parecida com a do sarampo;
- Convulsões febris: 1 em cada 100 crianças pode ter convulsões febris, refere um relatório do Sistema Nacional de Saúde da Grã-Bretanha (NHS, na sigla em inglês).
- Pequenas pintas na pele nas seis semanas seguintes à vacinação (raro);
- Encefalite: Ainda de acordo com o NHS, menos de uma em cada milhão de crianças tem encefalite (infecção cerebral). Mesmo assim, o NHS avisa que há poucas provas científicas que indiquem que a encefalite é causada pela vacina. Mas se a criança tiver sarampo, a probabilidade de ter uma encefalite sobe.
Quando não se recomenda a vacina?
Segundo Teresa Fernandes, não é recomendada a pessoas com imunodepressões e um sistema imunitário deficitário grave. “Pode provocar a doença”, afirma. Também não é recomendada a grávidas, embora não existam registos de contágio em fetos.
A vacina é segura?
“Após tantos anos de experiência e muitos milhões de vacinas administradas em todo o mundo, pode afirmar-se que as vacinas têm um elevado grau de segurança, eficácia e qualidade”, diz a DGS num relatório de 2015.
E a introdução de uma vacina no mercado não é autorizada de qualquer forma. Tem de passar por várias fases:
- Investigação em laboratório;
- Ensaios em seres humanos;
- Verificação da sua eficácia e efeitos a longo prazo.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) dá sete razões para se cumprir o dever da vacinação, como as “vacinas salvam vidas”, a “vacinação é um direito básico” e os “surtos de doenças ainda são uma ameaça para o mundo”.
Autismo e vacina tríplice existe relação?
Não. Esta suposta relação começou com uma fraude científica há quase 20 anos, que dizia que havia uma ligação da vacina tríplice ao autismo. Lançou assim o movimento antivacinas, que perdura até agora. Esta fraude foi cometida pelo médico inglês Andrew Wakefield, que falsificou dados hospitalares e os apresentou num artigo publicado em 1998 na revista médica The Lancet.
Wakefield recebeu dinheiro de uma empresa de advogados, que queria processar os fabricantes de vacinas. Entretanto, o erro foi detectado pela comunidade científica e o artigo foi retirado de publicação. E Wakefield foi expulso da Ordem dos Médicos inglesa.
Mesmo assim, continua a ser um ícone para os defensores da antivacinação, que se apoiam nesse artigo fraudulento para fundamentar as suas posições. Se o autismo e a vacina tríplice estivessem mesmo relacionados, existiriam ainda mais casos de autismo nas crianças vacinadas, refere a NHS.
Mortalidade do sarampo
De acordo com um relatório da OMS, entre 2000 e 2015, a vacinação contra o sarampo evitou cerca de 20 milhões de mortes. Neste período, houve ainda uma diminuição de mortes em cerca de 80% (passando de 651.600 para 134.200). Em 2015, 85% das crianças de todo o mundo receberam uma dose da vacina do sarampo no primeiro ano de vida. Também em 2015, houve 134.200 mortes provocadas pelo sarampo – ou seja, 367 mortes por dia.
Casos em Portugal nas últimas décadas
Entre 2006 e 2014, vários relatórios indicavam que Portugal registou 19 casos de sarampo, quase todos importados. Hoje em dia, segundo Teresa Fernandes, cerca de 95% dos portugueses estão protegidos desta doença, seja por já terem sido vacinados ou por já a terem tido. Entre 1987 e 1989, foram identificados cerca de 12 mil casos e 30 mortes.
Desde o início deste ano 2018, já houve cerca de 21 casos confirmados. A vacinação contra o sarampo iniciou-se em Portugal em 1973 e a vacinação gratuita em 1974. Uma segunda dose da vacina começou a ser aplicada em 1990. E esta doença começou assim a ficar praticamente esquecida.
Concluindo
Por vezes uma alegada “modernidade de pensamento” deixa no esquecimento detalhes importantes da nossa história como seres humanos.
As vacinas e por conseguinte a conquista da guerra contra muitas doenças infecciosas mortais no passado, tais como o sarampo a poliomielite e a rubéola parece por vezes esquecida!
Parece que alguns de nós dão como um dado adquirido que jamais tais doenças nos possam afectar em larga escala como especie, deixando de dar importância à vacinação! Essa é no entanto uma linha de pensamento ingénua e abre a porta à perda da imunidade de grupo que nos protege como população humana.
O sarampo, tratado neste artigo, é apenas uma das doenças infeciosas que tem aumentado o número de casos em regiões geográficas “modernas” e desenvolvidas como na Europa.
Só a vacinação sem falhas das populações nos pode proteger de forma segura independentemente de alguns efeitos secundários que sempre podem, acontecer e sempre aconteceram tratando-se de medicamentos (sim claro…as vacinas são medicamentos).
Os meus pais vacinaram-me contra todas as doenças do plano nacional de vacinação e, que me lembre, nunca me foi relatada nenhuma reação ou efeito secundário grave, tal como a maioria esmagadora da população vacinada.
Respeitando a vontade de livre escolha de cada um, julgo que devemos ponderar muito bem antes de colocar efeitos secundários graves raros ou pouco frequentes à frente da importante protecção que inequivocamente as vacinas continuam a oferecer ás nossas famílias!
Mais do que tudo não será certamente justo que a imunidade de grupo seja posta em causa por decisões individuais baseadas em probabilidades cientificamente minúsculas!
Fique bem
Franklim Fernandes
Fontes
- Manual Merck online, 2013
- Programa Nacional de Eliminação do Sarampo, Norma da Direcção Geral da Saúde, Abril de 2013.
- World Health Organization, 2013
- Healthline Networks, 2014
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