Coronavírus SARS-CoV-2 , Covid-19 e os estudos conhecidos sobre as características dos doentes mais graves que necessitaram de cuidados intensivos para sobreviver… nem sempre, como se sabe, com sucesso.
Também falarei sobre um estudo que levanta a hipótese de alguns farmacos para a hipertensão como os IECAs mas também o anti-inflamatório não esteroides (AINES) Ibuprofeno poderem aumentar os riscos da Covid-19 poder ser fatal!
Este artigo pretende assim dar a conhecer estudos observacionais recentes sobre as condições de saúde dos doentes mais graves que parecem aumentar os riscos de morte após infecção com SARS-CoV-2 .
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Estudo com 52 pacientes graves
Pacientes: 52 / Mortos: 32
Os dados deste estudo, abaixo descritos em diferentes quadros de resultados, são divididos nas seguintes 3 colunas:
- Sobreviventes (20) na 1ª coluna
- Não sobreviventes (32) na 2ª coluna
- Todos os pacientes (52) na 3ª coluna
Idade dos doentes graves
Sexo e exposição ao mercado
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Doenças crónicas
As doenças crónicas mais relevantes de 32 não sobreviventes de um grupo de 52 pacientes de unidade de terapia intensiva com a nova doença de coronavírus 2019 (COVID-19) no estudo de Xiaobo Yang e colegas foram:
- Doenças cerebrovasculares (22%)
- Diabetes (22%).
Comorbilidades
Sintomas
Análises clínicas
Tratamento
Estudo com 173 pacientes graves
Outro estudo incluiu 1099 pacientes com COVID-19 confirmado, dos quais 173 apresentavam doença grave com as seguintes comorbidades:
- Hipertensão (23,7%),
- Diabetes mellitus (16,2%),
- Doenças coronárias (5,8%),
- Doença cerebrovascular (2,3%).
Estudo com 140 pacientes graves
Estudo: Clinical characteristics of 140 patients infected with SARS‐CoV‐2 in Wuhan, China
Em um terceiro estudo, de 140 pacientes que foram admitidos no hospital com COVID-19, tinham as seguintes comorbilidade mais relevantes:
- Hipertensão 30%,
- Diabetes 12%.
Enzima de conversão da angiotensina (ECA)
Notavelmente, as comorbidades mais frequentes relatadas nesses três estudos de pacientes com COVID-19 são frequentemente tratadas com inibidores da enzima de conversão da angiotensina (ECA); no entanto, o tratamento não foi avaliado em nenhum dos estudos.
SARS-CoV-2 onde se liga nas células?
Os coronavírus patogénicos humanos nomeadamente o coronavírus da síndrome respiratória aguda grave [SARS-CoV] e o novo SARS-CoV-2) provocam a infeção nos humanos ligando-se às células-alvo através da enzima conversora de angiotensina 2 (ECA2), que é expressa pelas células epiteliais do pulmão, intestino, rim, e vasos sanguíneos.
ACE2 tem maior expressão em alguns tecidos e orgãos conforme gráficos seguintes retirados de bases de dados públicas:
Diabetes e hipertensão são factores de risco
A expressão da ECA2 é substancialmente aumentada (regulação positiva) em pacientes com diabetes tipo 1 ou tipo 2, que são tratados com inibidores da enzima de conversão da angiotensina (IECA) e antagonistas dos receptores da angiotensina II tipo I (ARA). A hipertensão também é tratada com inibidores da ECA e ARA, o que resulta em uma regulação positiva da ECA2.
Hipertensão e IECAs
Os IECAs ou Inibidores da Enzima de Conversão da Angiotensina, são compostos que inibem a enzima conversora da angiotensina que converte a angiotensina I em angiotensina II. A angiotensina II é um potente vasoconstritor e estimula a produção de aldosterona, a qual promove retenção de sódio e água nos túbulos renais, aumentado a volémia.
A enzima conversora da angiotensina (ACE) é estimulada pela renina secretada pelos rins, em resposta à diminuição da sua perfusão sanguínea. Ao inibir essa enzima, os IECAs produzem vasodilatação periférica, diminuindo a pressão arterial.
A enzima de conversão de angiotensina é uma Cininase, isto é, igualmente responsável pela degradação das cininas, como a bradicinina, que são vasodilatadoras.
Alguns dos efeitos não desejados dos IECAs, como a tosse, são devidos à acumulação destas cininas. Entretanto, o efeito vasodilatador da bradicinina é atualmente investigado como coadjuvante na efetividade dos inibidores da enzima de conversão.
Alguns exemplos de IECAS mais utilizados são os seguintes:
- Lisinopril,
- Perindopril,
- Ramipril,
- Enalapril,
- Captopril
- Fosinopril,
- Zofenopril.
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Losartan é mais seguro?
Parecem começar a surgir indicações que num quadro de Covid-19 o Losartan será um farmaco mais seguro para os hipertensos. O losartan é um bloqueador ou antagonista do receptor 1 da angiotensina (AT1R), que os pesquisadores dizem que poderia desempenhar um papel no bloqueio de uma enzima usada pelo vírus para se ligar às células.
Estudo a decorrer: Randomized Controlled Trial of Losartan for Patients With COVID-19 Requiring Hospitalization
Os antagonistas dos receptores da angiotensina (ARAs) mais utilizados são os seguintes:
- Losartan
- Candesartan
- Irbesartan
- Olmesartan
- Telmisartan
- Valsartan
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Bloqueadores do canais de cálcio
Com base numa pesquisa do PubMed em fevereiro de 2020, não foi encontrada nenhuma evidência que sugira que os anti-hipertensivos bloqueadores dos canais de cálcio (BCC) aumentem a expressão ou atividade da ECA2, portanto, esses podem ser um tratamento alternativo adequado nesses pacientes.
Os bloqueadores dos canais de cálcio mais usados são os seguintes:
- Amlodipina
- Lercanidipina
- Nifedipina
- Felodipina.
Diabetes e Tiazolidinedionas (glitazonas)
A ECA2 pode ser aumentada por tiazolidinedionas ou glicazonas. Os dados sugerem que a expressão da ECA2 é aumentada na diabetes e o tratamento com inibidores da ECA e ARA aumenta a expressão da ECA2.
Alguns exemplos de glitazonas são os seguintes:
- Pioglitazona,
- Rosiglitazona,
- Troglitazona,
- Ciglitazona
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Ibuprofeno
A ECA2 pode também ser aumentada pelo anti-inflamatório ibuprofeno (Ex: Brufen, Trifene, Nurofen).
Estas alegações do ibuprofeno aumentar a expressão da ECA2 é bastante polémica e as autoridades Europeias de saúde e do medicamento, assim como os laboratórios farmacêuticos produtores de ibuprofeno apressaram-se a desmentir o suporte científico apresentado e publicado na revista científica The Lancet.
No entanto um dos porta-vozes da Organização Mundial de Saúde (OMS), Christian Lindmeier, durante comunicação em Genebra, recomendou usar preferencialmente o paracetamol e não o ibuprofeno.
Ibruprofeno o que dizem os especialistas
A opinião dos especialistas sobre este assunto não é unânime. De seguida deixo link para artigo que cruza opiniões de diferentes especialistas sobre o ibuprofeno e a Covid-19.
É sabido há muitos anos que os anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) têm um efeito negativo em doentes com historial clínico de asma, por exemplo, sendo por conseguinte vasta a literatura científica que alerta para a não utilização de AINEs em doentes asmáticos.
Este é apenas o exemplo mais conhecido e comprovado de uma influência negativa do ibuprofeno e outros AINEs no sistema respiratório de muitos doentes com a “árvore respiratória” mais frágil.
Ibuprofeno na minha opinião
Tendo em conta os efeitos negativos no sistema respiratório já comprovados nos doentes com asma, na minha opinião a evidência científica de relação entre o ibuprofeno e a Covid-19 não é forte mas merece ser investigada pois o pressuposto teórico de aumento da ECA quando se toma ibuprofeno parece ter algum suporte científico que não deve ser totalmente descartado… apesar da polémica
De tal forma é pertinente a recolha de mais dados científicos sobre esta relação que a Organização Mundial de Saúde (OMS) e quase todas as principais autoridades de saúde internacionais sublinharam a necessidade de o ibuprofeno nunca ser usado como escolha de primeira linha, mas sim o paracetamol no combate à febre quando existe um quadro de sintomatologia respiratória, como no caso da Covid-19.
Quanto aos desmentidos categóricos das industrias farmacêuticas que comercializam ibuprofeno, como em qualquer situação na vida, não devem ser demasiado valorizadas quando falam em causa própria… mas sim ler primeiro o que dizem as autoridades de saúde independentes como a EMA (Agência Europeia do Medicamento).
Covid-19 risco grave e fatal
Consequentemente, o aumento da expressão de ECA2 facilitaria a infecção por COVID-19. Portanto, os investigadores consideram que o tratamento da diabetes e da hipertensão com medicamentos estimulantes da ECA2 aumente o risco de desenvolver COVID-19 grave e fatal.
Se essa hipótese fosse confirmada, poderia levar a um conflito em relação ao tratamento, pois a ECA2 reduz a inflamação e tem sido sugerida como uma nova terapia potencial para doenças inflamatórias pulmonares, cancro, diabetes e hipertensão.
Predisposição genética
Outro aspecto que deve ser investigado é a predisposição genética para um risco aumentado de infecção por SARS-CoV-2, que pode ser devido a polimorfismos da ECA2 que foram associados a diabetes mellitus, acidente vascular cerebral e hipertensão, especificamente em populações asiáticas.
Concluindo
Resumindo estas informações, a sensibilidade de um indivíduo pode resultar de uma combinação de terapia e polimorfismo da ECA2. Sugere-se que pacientes com doenças cardíacas, hipertensão ou diabetes, que são tratados com medicamentos que aumentam a ECA2, têm maior risco de infecção grave por COVID-19 e, portanto, devem ser monitorados quanto a medicamentos moduladores da ECA2, como inibidores da ECA (Enzima de Conversão da Angiotensina) ou ARAs (Antagonistas dos Receptores da Angiotensina).
Referências
- Clinical course and outcomes of critically ill patients with SARS-CoV-2 pneumonia in Wuhan, China: a single-centered, retrospective, observational study
- Are patients with hypertension and diabetes mellitus at increased risk for COVID-19 infection?
- Clinical features of patients infected with 2019 novel coronavirus in Wuhan, China
- Epidemiological and clinical characteristics of 99 cases of 2019 novel coronavirus pneumonia in Wuhan, China: a descriptive study
- Clinical Characteristics of 138 Hospitalized Patients With 2019 Novel Coronavirus–Infected Pneumonia in Wuhan, China
- Critically Ill Patients With Severe Acute Respiratory Syndrome
- Epidemiology, Patterns of Care, and Mortality for Patients With Acute Respiratory Distress Syndrome in Intensive Care Units in 50 Countries
- The vasoprotective axes of the renin-angiotensin system: Physiological relevance and therapeutic implications in cardiovascular, hypertensive and kidney diseases.
- Receptor recognition by novel coronavirus from Wuhan: An analysis based on decade-long structural studies of SARS.
- Clinical Characteristics of Coronavirus Disease 2019 in China
- Clinical characteristics of 140 patients infected with SARS-CoV-2 in Wuhan, China.
- Interim Clinical Guidance for Management of Patients with Confirmed Coronavirus Disease (COVID-19)
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