Medicamentos, medicina e descobertas na saúde, ciência e tecnologia. Conheça algumas das descobertas interessantes dos últimos anos da medicina, farmacologia e ciência que salvam muitas vidas! Novas vacinas, fármacos mais eficazes e menos efeitos secundários, tecnologias inovadoras aplicadas à medicina, grandes esperanças para doentes até agora sem tratamento, técnicas cirúrgicas que vão ficar na história…!
Nos últimos anos, em Portugal e no resto do mundo, ocorreram grandes progressos na medicina que permitem a médicos e pacientes sonhar com uma melhor saúde, mais eficaz e eficiente. «A história mostra-nos que o conhecimento nada tem de imutável e acredito, inabalavelmente, que a ciência tem ainda muito para nos proporcionar», afirma João Caramês, professor catedrático da Faculdade de Medicina Dentária da universidade de Lisboa.
Neste artigo vou falar dos seguintes medicamentos, técnicas e tecnologias:
- Envelhecimento e como reverter o processo?
- Cancro da próstata e novas tecnologias;
- Antipsicótico de última geração;
- Perda de visão regredir é possível?
- Primeiro bebé de útero transplantado;
- Hepatite C qual o grande avanço no tratamento?
- Diabetes quais os novos fármacos?
- Doenças autoimunes qual a nova esperança?
- Melanoma quais os inovadores tratamentos?
- Insuficiência cardíaca qual o novo medicamento?
- Doente reumático como melhorar o tratamento?
- Teste pré-natal novo e mais completo?
- Parkinson e Alzheimer qual a melhor estratégia de tratamentos e prevenção nas doenças neurodegenerativas?
- Dentes mais fortes quais as novas Estruturas orais 3D?
- Lentes de contacto inteligentes o que trazem de novo?
- Artrite psoriática qual o primeiro tratamento oral?
- Pâncreas artificial como foi criado?
- Zona qual a primeira vacina?
- Primeiro tratamento específico para a rosácea;
- Primeiro tratamento para disfunções da marcha;
- Portugueses descobrem mecanismo tumoral.
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Envelhecimento como reverter?
Uma equipa de investigadores do Instituto de Medicina Molecular (iMM) João Lobo Antunes descobriu que a manipulação de uma molécula de RNA é suficiente para reverter o envelhecimento celular.
Todas as células do organismo sofrem um processo gradual de envelhecimento que pode contribuir para o aparecimento de várias doenças. Uma forma de combater as doenças associadas ao envelhecimento consiste em induzir a regeneração celular. No entanto, células envelhecidas tendem a ser muito resistentes a manipulações que visam a sua regeneração.
No iMM, a equipa liderada por Bruno de Jesus e Maria do Carmo-Fonseca descobriu que células retiradas da pele de ratinhos envelhecidos produziam muito maior quantidade de uma molécula de RNA (ácido ribonucleico) do que células de ratinhos jovens. Ao reduzir a quantidade deste RNA, tornou-se muito mais fácil regenerar as células velhas.
“Estes resultados são um importante avanço no sentido de virmos a ser capazes de regenerar tecidos doentes em pessoas idosas”, disse Bruno de Jesus.
Cancro da próstata
Nuno Monteiro Pereira, médico urologista, destaca três avanços, particularmente úteis no diagnóstico e tratamento do cancro da próstata, a saber:
- A popularização do uso de cirurgia robótica ganhou mais força a nível mundial e permite uma grande precisão de movimentos e uma visão muito próxima das estruturas a operar.
- Estão também a ser avaliadas novas tecnologias minimamente invasivas para o cancro da próstata, sobretudo a eletroporação irreversível, que já mostra resultados promissores, embora ainda não conclusivos.
- Na área do diagnóstico, estão, ainda, a surgir novas técnicas tridimensionais e de fusão de imagem que permitem a realização de biópsias com elevadíssima precisão.
Em Portugal, já existem dois equipamentos para a realização de cirurgia robótica, prevendo-se a chegada em breve de um terceiro. Os mais frequentes órgãos operados são a próstata e o rim, quase sempre em situações oncológicas, mas a tecnologia está a avançar para outros órgãos e cirurgias.
As novidades não se ficam, contudo, por aqui. Também a eletroporação irreversível já está a ser experimentalmente realizada em dois centros portugueses, prevendo-se um alargamento do número de investigadores. Para um futuro próximo, o médico prefere uma postura cautelosa esperando que o novo ano concretize o uso ponderado, cauteloso e seguro das novas armas diagnósticas e terapêuticas no campo do cancro da próstata.
Antipsicótico
Vítor Viegas Cotovio, médico psiquiatra e psicoterapeuta, membro do Conselho Nacional de Saúde Mental defende que, no que à psiquiatria diz respeito, o lançamento do já existente antipsicótico Paliperidona, agora sob a forma de injetável foi um grande passo, uma vez que tem uma libertação prolongada, podendo ser dado mensalmente, o que facilita a adesão à terapêutica e previne as recaídas que ocorrem, quer por esquecimento quer porque o doente psicótico decide não fazer a medicação.
Paliperidona o que tem de diferente?
Por ser um antipsicótico de última geração, é um medicamento atípico, o que significa que os efeitos secundários, como os tremores, que são uma das grandes lutas no que diz respeito aos medicamentos antipsicóticos, não acontecem com tanta frequência ou com tanta intensidade, neste caso. Para além disso é de relevar o facto deste medicamento não deixar a pessoa tão quebrada e tão sedada. O grande presente do futuro seria a criação de um medicamento com menos efeitos secundários, menos sedativo, que não interferisse tanto no quotidiano dos doentes psicóticos.
Perda de visão nova descoberta
Luís Gouveia Andrade, médico oftalmologista no Hospital Cuf Infante Santo, sublinha a importância da identificação da causa da perda de visão nas doenças da retina, em particular, a degenerescência macular relacionada com a idade e a retinopatia diabética que, no seu conjunto, são duas das mais importantes causas de perda de visão e cegueira e o desenvolvimento de uma substância capaz de travar e/ ou regredir esse processo terem aberto uma enorme janela de esperança para milhões de doentes em todo o mundo. Até recentemente, as opções terapêuticas para as doenças da retina eram muito reduzidas e nem sempre bem sucedidas.
Em muitos casos, o papel do médico era sobretudo acompanhar e apoiar os doentes e não tanto tratá-los de um modo eficaz. A descoberta desta nova opção torna o tratamento mais simples, menos invasivo, passível de ser repetido sempre que necessário e permite, em muitos casos, uma recuperação significativa da visão perdida. Para o futuro, o transplante da retina é solução que permitiria restituir a visão a incontáveis pacientes.
Primeiro bebé de útero transplantado
Em 2014, um grupo sueco obteve o primeiro nascimento de uma gestação conseguida num útero transplantado, constituindo um dos maiores avanços da medicina, podendo ser comparado ao do primeiro transplante cardíaco. Alexandre Lourenço, consultor em ginecologia e obstetrícia no Hospital de Santa Maria, assistente da Faculdade de Medicina de Lisboa, explica que até à data, nenhuma mulher que não tivesse útero poderia ter um filho sem recorrer a outra mulher (denominado útero de aluguer). O grupo já tinha realizado oito transplantes uterinos e isso, só por si, seria um grande avanço da ginecologia.
No entanto, como órgão que só cumpre a sua função integral com a gravidez, esse facto devia ser complementado com um parto de recém-nascido vivo e viável, o que foi conseguido recentemente. De futuro, espera-se que surjam avanços na avaliação de defeitos genéticos/ cromossómicos fetais em células fetais circulantes no sangue materno, que permitissem diminuir os custos desses testes e, a prazo, fazer com que os testes realizados por rastreios indiretos ou através da amniocentese se tornem desnecessários e obsoletos.
Hepatite C novos medicamentos
Jorge Canena, médico gastrenterologista do Hospital Cuf Infante Santo, professor de gastrenterologia na Nova Medical School, afirma que um dos grandes avanços no âmbito da gastrenterologia foi a introdução de novos fármacos para o tratamento da hepatite C, a saber:
- Sofosbuvir
- Simepravir.
São ambos medicamentos caros e, em Portugal, ainda estão pouco disponíveis. As vantagens são preciosas já que reduzem o tempo de tratamento, apresentam um número muito reduzido de efeitos secundários e estão associadas a elevadas taxas de sucesso terapêutico.
Tal implica uma eliminação do vírus, impedindo a progressão da doença, em última análise. Estes três aspetos são um grande passo no tratamento da hepatite C. Para o futuro, espera-se a melhoria de testes genéticos para o cancro, associado a programas de rastreio para diversos tipos de tumor, programas não só mais eficazes como abrangendo maior número de pessoas.
Diabetes novos medicamentos
João Jácome de Castro, médico endocrinologista, diretor do Serviço de Endrocrinologia, Diabetes e Metabolismo do Hospital das Forças Armadas afirma que a chegada a Portugal, de novas classes de fármacos para tratar a diabetes, foi um avanço importante, a saber:
- Análogos GLP1
- Inibidores SGLT2 ( em aprovação final ) outra classe ainda mais moderna que diminuem a reabsorção de açúcar.
Quais as vantagens destes novos fármacos?
A grande vantagem destes novos fármacos é de que, para além de controlarem a glicemia nas pessoas com diabetes, permitirem, simultaneamente, reduzir-lhes o peso.
No caso particular dos doentes com diabetes tipo 2, este efeito é especialmente importante já que a esmagadora maioria destes doentes tem excesso de peso e obesidade, um fator de predisposição e agravamento no controlo da própria doença. De futuro espera-se que haja um maior investimento na prevenção da diabetes e no rastreio precoce das pessoas com diabetes.
Doenças autoimunes
O grande avanço médico iniciado em 2014, para Luís Romariz, médico especialista em medicina antienvelhecimento no Instituto Médico Newage foi a consolidação de uma terapia para as doenças autoimunes e coadjuvante no tratamento do cancro, que foi iniciada em 2009, e que é a LDN (Baixas Doses de Naltrexona). Descobriu-se que doses mínimas de um fármaco usado no tratamento das pessoas com problemas de consumo de narcóticos eram capazes de aumentar a imunidade.
As coisas evoluíram ao ponto de curar algumas dessas doenças, tais como a artrite reumatoide, o lúpus, a psoríase, a esclerose múltipla ou cancro do pâncreas! No que ao futuro diz respeito , era bom que se descobrisse um fármaco com verdadeira acção no alongamento dos telómeros. Aí sim poderíamos aspirar à vida eterna!
Melanoma
Fátima Cardoso, médica oncologista, diretora da Unidade de Mama do Centro Clínico Champalimaud e secretária-geral da European Organisation for Research and Treatment of Cancer, destaca os avanços iniciados em 2014 para o tratamento do melanoma. Para este cancro, frequentemente fatal, as possibilidades terapêuticas eram muito reduzidas, existindo neste momento tratamentos capazes de prolongar a vida dos doentes com melanoma avançado, cujo princípio ativo é o anti-PDL1. Um desses tratamentos representa uma das primeiras aplicações clínicas eficazes de imunoterapia na área da oncologia.
Apesar disso, a melhor arma para combater este tipo de cancro continua a ser a prevenção. Esta doença é curável, mas apenas quando diagnosticada precocemente. Quanto ao futuro, se os conhecimentos atuais fossem bem utilizados para tratar todos os doentes com cancro, a mortalidade seria substancialmente reduzida. Assim, desejo que todos os doentes possam ser tratados segundo as recomendações internacionais publicadas, por médicos experientes e humanos e que tenham acesso aos melhores tratamentos.
Insuficiência cardíaca
Para Manuel Carrageta, médico cardiologista, presidente da Fundação Portuguesa de Cardiologia, o maior avanço na área da cardiologia para o tratamento de uma doença com uma mortalidade muito elevada e que causa grande sofrimento aos doentes (cansaço, falta de ar, edemas) é um novo medicamento que tem uma molécula mista composta por dois fármacos, a saber:
- Valsartan,
- Sacubitril
Esta associação tem mostrado efeitos muito benéficos, com grande redução da mortalidade, quando comparado com as terapêuticas atuais. Para o futuro, o cardiologista deseja que o novo tratamento para a insuficiência cardíaca seja rapidamente aprovado em todo o mundo e que também os doentes portugueses possam, em breve, beneficiar dele.
Doente reumático melhor tratamento
Augusto Faustino, médico reumatologista da Clínica de reumatologia de Lisboa e do instituto Português de reumatologia, afirma que na área da reumatologia, assistiu-se à sedimentação e implementação de tendências que se vinham a delinear nos anos anteriores, a amplificação da rede de prestação de cuidados reumatológicos em meio hospitalar a nível nacional e o fortalecimento daquela que foi a maior revolução no tratamento das doenças inflamatórias reumáticas nos últimos anos, a utilização de terapêuticas biotecnológicas, regida por normas de boa prática clínica e com registo informático num processo clínico eletrónico da reumatologia, o Reuma.pt.
O corolário destes dois factos foi permitir que os doentes reumáticos possam mais facilmente ser consultados pelos médicos especialistas mais habilitados, e que as situações reumatológicas mais graves, e potencialmente mais agressivas e destrutivas, possam ser tratadas com propriedade clínica e em segurança, com os fármacos mais adequados e mais efetivos para a sua abordagem. No futuro era bom que se verificasse uma mudança de paradigma na área da reumatologia, deixando os médicos e os doentes reumáticos de procurar um diagnóstico definitivo, centrando-se na deteção de sinais e sintomas precoces de doença reumática, habitualmente associados à existência de inflamação.
Teste pré-natal mais completo
De entre os vários avanços na área da genética, a especialista Purificação Tavares geneticista e directora do CGC Genetics salienta destaca o facto de o teste não invasivo pré-natal, agora mais completo, dar resultado para outras anomalias, a saber:
- Trissomia 21
- Trissomia 13
- Trissomia 18,
- Síndrome de Turner
- Sindrome de Klinefelter e de
- Sindrome de Microdeleção,
Este teste mais completo confere ao médico e ao casal muito maior segurança durante a gravidez. Mas as inovações neste campo não ficaram por aqui. Desde 2014 ocorreu, também, a possibilidade de realizar-se múltiplas análises de pesquisa de mutações de uma só vez com a sequenciação de nova geração (NGS).
É uma metodologia que está a ser aplicada em várias especialidades médicas e que permite menos custos, um menor tempo de resposta, bem como diagnósticos antes impossíveis de doenças causadas por múltiplos genes, tais como:
- Atrasos de desenvolvimento,
- Retinopatias pigmentares,
- Surdez
- Doenças neurodegenerativas
No futuro, a geneticista Purificação Tavares, deseja que surjam mais consultas de genética médica, de modo a que a população tenha um acesso mais facilitado a esta especialidade e às novas análises.
Doenças neurodegenerativas
De entre os enormes avanços das neurociências nas últimas décadas, Belina Nunes, médica neurologista, diretora da Clínica da Memória realça o progresso no conhecimento dos mecanismos da neurodegeneração, sobretudo relativamente às doenças de Parkinson e de Alzheimer, o que tem permitido melhores estratégias de prevenção e tratamento, nomeadamente «a Estimulação Cerebral Profunda (DBS) na doença de Parkinson, uma técnica já utilizada em vários centros neurológicos e com benefícios significativos num elevado número de doentes.
No campo da imagiologia cerebral, as técnicas de tratografia dão imagens maravilhosas dos feixes nervosos e começam cada vez mais a ser usadas na investigação e na prática clínica. Esta é uma das técnicas mais promissoras para o melhor conhecimento do funcionamento do cérebro humano.
Dentes mais fortes estruturas orais 3D
Na medicina dentária, o destaque de João Caramês, professor catedrático da Faculdade de Medicina Dentária da Universidade de Lisboa, professor adjunto da NYU e diretor clínico do Instituto de Implantologia, vai para o início da utilização de impressoras 3D na produção de réplicas de estruturas orais, sejam elas dentárias, gengivais ou ósseas. Este é um marco importante numa área em que pontos de contacto entre engenharia mecânica e robótica, engenharia informática (hardware e software) e prestação de cuidados de saúde são cada vez mais generalizados e indissociáveis.
A produção de estruturas 3D implica a utilização de scanners e de software com graus de detalhe espantosos e que permitem a recolha de informação da cavidade oral do doente por via digital, diminuindo assim o tempo de tratamento e o seu grau de desconforto. A tecnologia utilizada aumenta a precisão dos trabalhos, diminuindo as margens de erro e permitindo a execução de próteses em poucas horas. Dado que trabalhamos com informação digital, os obstáculos físicos perdem importância encurtando distâncias entre cidades, países e continentes, aproximando doentes e equipas médicas que não partilham a mesma localização geográfica.
Quando se pensa no futuro, embora com aplicações longe do imediato, anseio por mais investigação em células pluripotenciais, a partir das quais se possam criar tecidos biológicos perdidos, nomeadamente dentes, de forma a podemos aspirar a uma verdadeira terceira dentição.
OUTRAS DESCOBERTAS IMPORTANTES:
Lente de contacto inteligente
Foi apresentada pela Google e é capaz de medir os níveis de glicose e de enviar a informação para o smartphone.
Artrite psoriática primeiro tratamento oral
Foi aprovado pela Food and Drugs Administration (FDA) e surge como uma alternativa aos fármacos injetáveis até então existentes, sendo um tratamento mais seguro e eficaz.
Pâncreas artificial
Foi desenvolvido no reino unido com o objetivo de revolucionar a vida dos doentes com diabetes que precisam de fazer injeções diárias de insulina. Os ensaios clínicos começaram em 2016.
Zona primeira vacina
Atua no gânglio nervoso onde está adormecido o vírus da varicela (herpes zoster) ajudando a prevenir a sua reativação, que leva ao aparecimento da zona.
Rosácea primeiro tratamento específico
Em formato de gel tópico permite uma redução do eritema facial 30 minutos após a aplicação, com resultados até 12 horas. É vendido mediante receita médica e o seu princípio ativo é a brimonidina.
Mecanismo tumoral descoberta Portuguesa
A descoberta do mecanismo que promove o crescimento do cancro do ovário foi realizada por uma equipa de cientistas do Instituto de Medicina Molecular em Lisboa e vem abrir portas ao desenvolvimento de terapias, ao nível da imuno‑oncologia.
Disfunções da marcha primeiro tratamento
É uma nova esperança para quem sofre de esclerose múltipla. Permite a libertação prolongada da substância ativa fampridina. A sua utilização, em meio hospitalar, foi recentemente autorizada.
CANCRO, NOVA DESCOBERTA CONTRA AS METÁSTASES
Como se forma um cancro?
Cancro qual a nova descoberta?
Pela primeira vez, foi possível detectar e isolar, no fluxo sanguíneo, células susceptíveis de criar metástases e espalhar um cancro. Isto poderá permitir avaliar a agressividade dos cancros de forma precoce.
Qual a importância desta técnica?
Uma equipa de cientistas nos Estados Unidos demonstrou que é possível, graças a pequenos bocados específicos de ADN espetados à superfície de diminutas bolinhas de ouro, detectar no sangue humano células cancerosas que estão à deslocar-se à procura de novos sítios do corpo para invadir.
A inédita técnica, que poderá permitir destruir estas células antes de elas se instalarem noutros órgãos e formarem metástases, foi descrita recentemente na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).
Metástases do cancro
Quando um cancro forma metástases, o prognóstico para o doente não é bom; já pode ser tarde demais. Ora, até aqui, não era possível apanhar as células cancerosas circulantes directamente no sangue, antes de elas colonizarem novos tecidos.
NanoFlares o que são afinal?
Agora, Chad Mirkin, da Universidade Northwestern (EUA), e colegas, conseguiram literalmente fazer brilhar essas células iluminando-as do interior por uma salva de microscópicos very-light.
Os cientistas deram à sua invenção o nome de NanoFlares (nano-clarões) e mostraram, em várias condições experimentais, que eles permitem não só detectar individualmente as células cancerosas na circulação sanguínea, como também isolá-las.
Leia aqui o resumo do artigo original
É possivel capturar e cultivar estas células?
Como não matam estas células, permitem ainda cultivá-las no laboratório para testar a eficácia de diversos fármacos anti-cancro.
“Tanto quanto sabemos, esta é a primeira abordagem baseada na genética que permite ao mesmo tempo o isolamento e a análise genética intracelular de células tumorais vivas em circulação”, escrevem os autores na PNAS.
NanoFlares qual a composição?
A bolinha de ouro que forma o núcleo dos NanoFlares, com apenas 13 nanómetros (milionésimo de milímetro) de diâmetro, está coberta por uma camada de pequenas sequências de ADN (em hélice simples) capazes de reconhecer e de se ligar a genes específicos das células cancerosas. Por sua vez, essas sequências de ADN estão “acopladas” a bocadinhos de ADN que contêm o clarão propriamente dito (uma molécula fluorescente).
Inicialmente, a fluorescência do clarão é abafada pela proximidade do ouro, explicam ainda os cientistas no seu artigo. Mas o que acontece é que os NanoFlares penetram, não se sabe bem como, no interior das células. E se vierem a dar com o material genético específico do cancro que são capazes de reconhecer, ligam-se a ele, libertando o bocadinho que contém o clarão.
Ao afastar-se da bolinha de ouro central, o clarão vai assim iluminar o interior da célula em causa, marcando-a como cancerosa.
Conseguir encontrar uma “agulha num palheiro”!
“O NanoFlare acende uma luz dentro das células cancerosas que procuramos”, diz o co-autor Shad Thaxton em comunicado de Universidade Northwestern. “E o facto de os NanoFlares serem eficazes na complexa matriz do sangue humano constitui um enorme avanço técnico. Conseguimos encontrar pequenos números de células cancerosas no sangue, o que é mesmo como procurar uma agulha num palheiro.”
Tratamentos à medida serão possíveis?
Os cientistas construíram quatro tipos de NanoFlares, cada um dirigido contra um alvo genético conhecido por estar associado a cancros da mama agressivos (isto é, que formam facilmente metástases).
Mais precisamente, os NanoFlares são dirigidos contra o “ARN mensageiro” (uma outra forma de material genético) que codifica certas proteínas que se sabe estarem associadas às células dos cancros agressivos da mama.
A seguir mostraram, em particular, que esses NanoFlares eram capazes de detectar as células cancerosas, com uma taxa de erro inferior a 1%, quando estas eram misturadas com sangue de dadores humanos saudáveis.
Células detectadas sobrevivem e são cultivadas
Uma vez identificadas as células, os cientistas conseguiram separá-las das células normais e estudá-las em cultura. “Ao contrário de outras técnicas de isolamento de células cancerosas, baseadas em anticorpos, a exposição das células aos NanoFlares não resulta na morte celular”, escrevem ainda.
Ausência de toxicidade é essencial
Ora, esta ausência de toxicidade poderá permitir estudar células cancerosas vivas, avaliar o seu potencial metastático e determinar qual a melhor combinação de fármacos para as eliminar.
“Isto poderia conduzir a terapias personalizadas, nas quais olhamos para a forma como as células de um dado doente respondem a diversos cocktails terapêuticos”, diz por seu lado Chad Mirkin.
Os autores testaram os nano-clarões, com resultados igualmente promissores (embora com maiores taxas de falsos positivos), em ratinhos que são utilizados como modelo experimental de cancro da mama humano.
Neste momento, explica ainda o comunicado, estão a tentar ver se a sua nova técnica consegue detectar células cancerosas diretamente no sangue de doentes com cancro da mama.
Concluindo
Vivemos tempos de avanços tecnológicos extraordinários ao qual a medicina não é alheia! Alguns avanços agora descritos e reais eram, há bem poucos anos, argumentos para filmes de ficção científica! Doentes com doenças graves têm razões para ter mais esperança nomedamente nas doenças graves que afectam grandes faixas da população dos países desenvolvidos (ex: cancro, hepatite, diabetes, alzheimer, etc) porque são nessas que se concentram o maior esforço de investigação da industria Farmacêutica ao qual, claro, não é alheio uma expectativa de lucros maiores! No entanto essa será uma polémica secundária porque, para os doentes e suas famílias, o importante é salvar vidas…a tempo! Fica o apelo justo para a alocação de mais recursos à investigação de doenças que afectam milhões de doentes nos paises pobres e subdesenvolvidos, como, por exemplo, a malária.
Fique bem!
Franklim Moura Fernandes
Fontes:
- João Caramês, professor catedrático da Faculdade de Medicina Dentária da universidade de Lisboa;
- Nuno Monteiro Pereira, médico urologista;
- Vítor Viegas Cotovio, médico psiquiatra e psicoterapeuta;
- Luís Gouveia Andrade, médico oftalmologista;
- Alexandre Lourenço assistente da Faculdade de Medicina de Lisboa;
- Jorge Canena, médico gastrenterologista, professor de gastrenterologia na Nova Medical School;
- João Jácome de Castro, médico endocrinologista;
- Luís Romariz, médico especialista em medicina antienvelhecimento no Instituto Médico Newage;
- Fátima Cardoso, médica oncologista, diretora da Unidade de Mama do Centro Clínico Champalimaud;
- Manuel Carrageta, médico cardiologista, presidente da Fundação Portuguesa de Cardiologia;
- Augusto Faustino, médico reumatologista do instituto Português de reumatologia;
- Purificação Tavares geneticista e directora do CGC Genetics;
- Belina Nunes, médica neurologista;
- Instituto de Medicina Molecular de Lisboa
- Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS);
- Chad Mirkin, da Universidade Northwestern;
- Chad Mirkin
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