AZIA REFLUXO GASTRO-ESOFAGICO SINTOMAS CAUSAS E TRATAMENTO



Azia refluxo antiácidos e Inibidores da Bomba de Protões (IBPs) Omeprazol: Quais os perigos? Neste artigo escrevo sobre azia a acidez do estómago e o refluxo gastroesofágico e descrevo os perigos do excesso de IBPs tais como o omeprazol, em estudos recentes, como por exemplo: Stanford School of Medicine – Some heartburn drugs may boost risk of heart attack, study finds assim como Harvard Health Publications from Harvard Medical School – Do PPIs have long-term side effects?

Os inibidores da bomba de protões (IBPs) estão entre os medicamentos mais utilizados principalmente nos Estados Unidos e Europa. Esta classe de fármacos é utilizada para tratar a azia crónica. Embora a dor muitas vezes aconteça na região inferior e média do peito, não está relacionada com doença cardíaca ou com um ataque cardíaco.

Neste artigo vou responder ás seguintes questões:

  • Qual a anatomia do esófago e do estômago?
  • O que é o pH?
  • Qual a escala de pH que mede a acidez e a alcalinidade?
  • Qual o pH dos fluidos corporais? São ácidos ou alcalinos?
  • Azia: Porque causa dor?
  • Ácido gástrico: Quais as suas funções?
  • Refluxo gastroesofágico: Quais as causas?
  • Azia e refluxo: Qual o tratamento habitual?
  • Inibidores da Bomba de Protões (IBPs): Porque são suspeitos?
  • IBPs: Quais os problemas associados?
  • Será que favorecem o sobre crescimento bacteriano?
  • Absorção de nutrientes: Será afectada pela utilização dos IBPs?
  • Acidez demasiado baixa: Quais as consequências?
  • Densidade óssea: Será que se altera com os IBPs?
  • Antiácidos com aspirina: Qual o perigo?
  • Esófago de Barrett: O que é?
  • Demência e IBPs: Qual a verdade?
  • Doença renal e IBPs: Qual a ligação?
  • Ataque cardíacos e IBPs: Qual a verdade?
  • Azia: Como prevenir e tratar sem IBPs?

[rad_rapidology_locked optin_id=optin_2][/rad_rapidology_locked]

Qual a anatomia do esófago e estômago?

Azia Estomago e esófago melhorsaude.org

O que é o pH?

O pH é uma medida da acidez ou alcalinidade (base) de uma solução. Quando as substâncias se dissolvem na água elas produzem moléculas carregadas chamadas iões. A água ácida contém iões de hidrogénio extra (H +) e a água básica contém iões hidroxilo extra (OH-).

O conceito de acidez ou alcalinidade do corpo ou da água é baseada na escala de pH. Por isso, é necessário ter uma compreensão básica do que é o pH. PH é simplesmente uma medida da concentração de iões de hidrogénio. Na verdade, a sigla “pH” é a abreviação de potencial de hidrogénio.

Quanto maior o pH de um liquido, menos iões de hidrogénio (H+) livre tem; quanto menor o pH, mais iões de hidrogénio livre tem. Uma unidade de pH reflecte uma mudança de dez vezes na concentração de iões – por exemplo, há dez vezes mais iões de hidrogénio disponível a um pH de 7, que a um pH de 8.

Recurso útil aqui: pH, why is it important? Reasons for natural variation; Expected Impact of Pollution; The Case of Acid Rain.

Qual a escala de pH?

A escala de pH vai de 0 a 14, e um pH de 7 é neutro. Tudo o que tenha um pH inferior a 7 é considerado ácido, com o ácido da uma bateria a ser o exemplo mais extremo, com cerca de 1 na escala de pH. Qualquer coisa com um pH acima de 7 é alcalina (ou base), com o exemplo da lixívia na parte superior da escala, em torno de 13.

Azia e Escala de pH melhorsaude.org melhor blog de saude

Qual o pH do fluidos corporais?

Os fluidos corporais mais importantes têm os seguintes valores de pH:

  • Sangue – pH 7,35 a 7,45
  • Saliva – pH 6,8 a 7,2
  • Sangue venoso – pH 7,35
  • Sangue arterial – pH 7,40
  • Urina – pH 4,8 a 8,0
  • Suco gástrico – pH 1,2 a 3,0
  • Suco pancreático – pH 7,1 a 8,2
  • Bile – pH 7,6 a 8,6
  • Fluido vaginal – pH 3,5 a 4,5
  • Sémen – pH 7,2 a 7,6

Ácido gástrico: Quais as suas funções?

O fluido do nosso estômago é altamente ácido sendo necessário para as seguintes funções:

  • Digestão dos alimentos,
  • Protecção contra bactérias,
  • Absorção de muitos nutrientes.

Refluxo gastro-esofágico (RGE), o que é?

Segundo a Sociedade Portuguesa de Gastroenterologia o refluxo gastro-esófágico define-se como sendo a passagem do conteúdo gástrico para op esófago na ausência de vómito.

É um fenómeno fisiológico normal quando assintomático, de pequena duração e de ocorrência intermitente, principalmente após as refeições.

Sintomas da Doença de refluxo gastro-esofágico (DRGE)

Os sinais e sintomas da DRGE são muito diversos e alguns, como os pulmonares, até atípicos e dificeis de associar pelo doente a uma doença gástrica.

Assim os sintomas de DRGE podem dividir-se em 4 grupos, a saber:

  • Típicos
  • Alarme
  • Atípicos
  • Outros sintomas

A seguinte tabela apresentada pela Sociedade Portuguesa de Gastroenterologia descreve os sintomas e sinais característicos de cada grupo.

Refluxo gastro-esofágico melhorsaude.org

Típicos

  • Azia/Pirose
  • Regurgitação ácida

Alarme

  • Disfagia
  • Odinofagia (dor na deglutição)
  • Perda de peso inexplicada
  • Anemia
  • Hemorragia digestiva

Atípicos

  • Dor torácica não cardiaca
  • Manifestações ORL
  • Manifestções pulmonares
  • Sintomas orais

Outros sintomas

  • Globus – sensação da bola ao nível da hipofaringe/Esófago superior
  • Petialismo (excesso de salivação)
  • Nauseas

Porque causa a azia dor?

A dor causada pela azia acontece quando existe refluxo do ácido do estômago até ao esófago, queimando o tecido.

Causas do refluxo gastro-esofágico

Uma variedade de razões diferentes pode fazer com que este fluido ácido passe o esfíncter esofágico inferior (lower esophageal sphincter – LES) e queime o esófago, mas a maioria dos casos de azia são devidos a uma das seguintes duas razões:

  • Hérnia do hiato,
  • Infecção pela bactéria Helicobacter pylori (H. pylori).

Azia e Refluxo gastroesofágico melhorsaude.org

Azia e refluxo: Qual o tratamento habitual?

A azia ocasional é melhor tratada com mudanças de estilo de vida simples, como beber um pouco de vinagre de maçã na água antes ou depois das refeições. Infelizmente, quando se sente dor crónica durante muitas semanas, provavelmente o médico vai prescrever uma medicação diária. Os IBPs (Inibidores da Bomba de Protões) são uma dessas classes de medicamentos.

Inibidores da Bomba de protões

Os inibidores da bomba de protões (IBPs) reduzem a produção de ácido pela diminuição da actividade da bomba de protões no estômago. Isso acontece porque um dos componentes vitais do ácido, o hidrogénio, já não pode ser produzido.

Os IBPs proporcionam um alívio prolongado, no entanto o início de acção demora algum tempo. Algumas pessoas continuam a ter sintomas de azia e indigestão, mesmo a tomar IBPs. No entanto, os alginatos, como Gaviscon®, podem ser tomados em simultâneo com os IBPs para ajudar a aliviar os sintomas.

O IBPs mais vendidos incluem nomes como:

  • Omeprazol,
  • Lansoprazol,
  • Pantoprazol,
  • Esomeprazol,
  • Rabeprazol,
  • Nexium®,
  • Proton®,
  • Prilosec®,
  • Prevacid®.

A maioria necessita de uma prescrição médica mas já existem alguns de venda livre! No entanto, as ordens do seu médico podem fazer mais mal do que bem neste caso, pois estas drogas tendem a tornar a sua situação pior, em vez de melhor.

IBPs: Porque são suspeitos?

IBPs e azia melhorsaude.org melhor blog de saude

As nossas células usam uma bomba de protões para produzir ácido. Os medicamentos IBPs são projectados para inibir a bomba de protões e reduzir a quantidade de ácido produzido. Os IBPs não têm especificamente como alvo as células do nosso estômago. Por sua vez o ácido do estômago geralmente não é a principal causa por trás da azia crónica.

Esta classe de fármacos não é específica, e em vez disso irá inibir qualquer célula com uma bomba de protões produtora de ácido, quer essas células estejam no estômago ou não. Pesquisadores da Universidade de Stanford e Houston Methodist Hospital, no Texas acreditam que estes medicamentos são os suspeitos por trás de uma variedade de efeitos colaterais perigosos ligados aos IBPs.

A produção de ácido nas nossas células está associada a um processo específico de limpeza. As células usam ácido para limpar produtos finais e lixo do metabolismo e da função celular. Quando o ácido não está presente, há uma acumulação dessas toxinas nas células, o que pode levar ao desenvolvimento de uma variedade significativa de condições de saúde.

Pouco ácido no estômago pode provocar azia?

Excesso de ácido do estômago não é muitas vezes a causa de azia. Muito pelo contrário! Baixas quantidades de ácido no estômago e o subsequente supercrescimento de bactérias alteram a digestão dos hidratos de carbono, produzindo gás. O gás aumenta a pressão sobre o esfincter inferior do estômago, libertando ácido no esófago, criando azia.

Enquanto pode sentir um rápido alívio da azia com medicamentos como TUMS que neutralizam o ácido do estômago, as medicações de longa duração como IBPs podem aumentar o risco de azia ao longo do tempo.

Quais os problemas associados aos IBPs?

Quando os níveis de ácido se alteram o funcionamento do nosso corpo também se altera. Quando IBPs foram aprovados pela primeira vez pela Food and Drug Administration dos EUA (FDA), eles foram projectados para serem tomados não mais de seis semanas. No entanto, hoje em dia não é raro encontrar pessoas que tomam estes medicamentos há mais de 10 anos. O uso prolongado tem sido associado a diversos problemas tais como:

  • Sobre crescimento bacteriano
  • Redução da absorção de nutrientes
  • Redução da acidez no estômago
  • Diminuição da resistência à infecção
  • Aumento do risco de osteoporose e fraturas osseas

Estudo da Harvard Medical School: Do PPIs have long-term side effects?

Sobre crescimento bacteriano

IBPs azia e bacterias melhorsaude.org melhor blog de saude

O uso prolongado de IBPs estimula o crescimento excessivo de bactérias no nosso trato digestivoO super crescimento bacteriano leva à má absorção de nutrientes e tem sido associado à inflamação da parede do estômago. Algumas bactérias que podem proliferar em demasia são:

  • Lactobacillus,
  • Enterobacter,
  • Staphylococcus,
  • Probionibacterium.

Estudo: Excessive Growth of Bacteria May Also Be Major Cause of Stomach Ulcers

Redução da Absorção de Nutrientes

Uma das causas mais comuns que prejudica a digestão e a absorção de nutrientes é a redução da produção de ácido do estômago. Isso ocorre quer nos idosos quer nos indivíduos a efectuar tratamentos prolongados com antiácidos, como IBPs. O ácido quebra as proteínas, ativa hormonas e enzimas e protege o nosso intestino contra o crescimento excessivo de bactérias. A falta de ácido resulta em deficiências de ferro e minerais e digestão incompleta de proteínas. Isso também pode levar a uma deficiência de vitamina B12 . Os IBPs também estão ligados a uma absorção reduzida de magnésio. Níveis baixos de magnésio podem levar a espasmos musculares, palpitações cardíacas e convulsões.

Estudo: Omeprazole Therapy Causes Malabsorption of Cyanocobalamin (Vitamin B12)

Ácido do estômago Baixo

Os IBPs reduzem a quantidade de ácido do estômago. Os sintomas incluem azia, indigestão, inchaço, diarreia, arrotos, ardor e flatulência.

Diminuição da resistência à infecção 

A nossa boca, esófago e intestinos são o lar de um crescimento saudável de bactérias, mas o nosso estômago é relativamente estéril. O ácido estomacal mata a maioria das bactérias provenientes de alimentos ou líquidos, protegendo o nosso estômago e trato intestinal contra o crescimento bacteriano anormal. Ao mesmo tempo, o ácido impede que as bactérias que crescem nos intestinos se movam para o seu estômago ou esófago.

A redução do ácido do estômago altera o pH do estômago e permite que as bactérias externas cresçam. Os IBPs podem reduzir o ácido entre 90 e 95 por cento, aumentando o risco de infecção por bactérias e parasitas tais como:

  • Salmonella,
  • Clostridium Difficile,
  • Giardia (parasita),
  • Listeria.

Estudo: Systematic review: the use of proton pump inhibitors and increased susceptibility to enteric infection.

Bactérias e parasitas: Qual o perigo?

Os quatro grupos de bactérias acima descritas podem de facto ser muito perigosas. De seguida descrevo as principais caracter´riticas de cada uma delas.

Salmonella

Salmonella é um gênero de bactérias, vulgarmente chamadas salmonelas, pertencente à família Enterobacteriaceae, sendo conhecida há mais de um século.  As doenças causadas por Salmonela e transmitidas por alimentos são consideradas um dos problemas mais alarmantes de Saúde Pública em todo mundo.

São bactérias Gram-negativas, em forma de bacilo, na sua maioria móveis (com flagelos peritríquios), não esporuladas, não capsuladas, sendo que a maioria não fermenta a lactose. As salmonelas são um gênero extremamente heterogêneo, composto por três espécies,:

  •  Salmonella subterranea,
  • Salmonella bongori,
  • Salmonella enterica.

Esta última possuindo, atualmente, 2610 sorotipos. A classificação em serogrupos depende do antigénio O, enquanto que a classificação em serótipos depende do antigénio H. O trato intestinal do homem e dos animais é o principal reservatório natural deste patógeno, sendo os alimentos de origem aviaria importantes vias de transmissão.

Dentre as de maior importância para a saúde humana, destacam-se a Salmonella typhi (Salmonella enterica enterica sorovar Typhi), que causa infecções sistêmicas e febre tifóide – doença endêmica em muitos países em desenvolvimento – e a Salmonella Typhimurium (Salmonella enterica enterica sorovar Typhimurium), um dos agentes causadores das gastroenterites.

Clostridium Difficile

Clostridium difficile é um bacilo Gram-positivo) comensal do tracto gastrointestinal responsável por doenças gastrointestinais associadas a antibióticos, que variam desde uma diarreia até uma Colite pseudomembranosa. O uso de antibióticos permite o crescimento excessivo destes microorganismos e aumenta a susceptibilidade do paciente à aquisição exógena do C. difficile.

Esta bactéria tem como factores de virulência o factor de adesão (medeia a ligação às células humanas), a formação de esporos (permite a sobrevivência do microorganismo graças à sua resistência), a hialuronidase (actividade hidrolítica) e as toxinas A (enterotoxina) e B (citotoxina).

Os esporos formados são muito difíceis de serem eliminados, podendo permanecer em hospitais durante meses e daí resultar uma importante fonte de surtos hospitalares da doença por Clostridium difficile.

Giárdia

A giárdia (Giardia lamblia) é um protozoário microscópico que parasita o intestino dos mamíferos, inclusive de seres humanos. Nos seres humanos, costuma parasitar o intestino delgado, principalmente em segmentos de duodeno e jejuno.

A G. lamblia, G. intestinalis ou G. duodenale são os sinónimos dados à mesma espécie de parasitas protozoários flagelados. As giárdias existem em duas formas:

  • Trofozoítos tem 20 micrómetros de comprimento e 10 µm de largura, forma de pêra e são móveis, possuindo quatro pares de flagelos (anterior, posterior, ventral e caudal) e dois núcleos, dois corpos parabasais, e ainda dois axonemas cada um;
  • Cistos são arredondados, com dois ou quatro núcleos, quatro corpos parabasais, quatro axonemas e com parede celular grossa, imóveis. Estas características torna-os mais resistentes e com maior potencial patológico.

A reprodução dos trofozoítos é assexuada – por divisão binária longitudinal- e têm a capacidade de variar as suas proteínas de superfície, iludindo o sistema imunitário humano.

Este parasita flagelado pode viver no estado livre, em lagos ou ribeiras, durante bastante tempo.

Listeria

Listeria é um género de bactérias bacilares, gram positivas, anaeróbios facultativos, flagelados, ubíquas (encontradas no solo, na água e em animais) e que não produzem esporos.

Listeria monocytogenes é uma espécie patógena humana oportunista, parasita intracelular de macrófagos, que causa listeriose, um tipo de raro de infecção alimentar geralmente por consumo de carne mal cozida, laticínios não-pasteurizados, mas também pode ser transmitido por outros alimentos contaminados. Afeta geralmente imunodeficientes, recém-nascidos ou idosos. Tem mortalidade de cerca de 20%, geralmente quando causa sepsis e meningite.

Listeria ivanovii causa listeriose em ruminantes, raramente em humanos.

IBPs e Pneumonia, Tuberculose e Tifoide

Outros estudos ligaram o uso de drogas redutoras de ácido ao desenvolvimento de pneumonia, tuberculose (TB) e tifóide.

A distorção do microbioma do intestino afeta o nosso sistema imunológico e pode aumentar o risco geral de infecção. Estudos in vitro, aqueles feitos em células em tubos de ensaio, encontraram IBPs a danificar a função dos glóbulos brancos, responsáveis pela luta contra a infecção.

Aumento do risco de fracturas ósseas

Diminuir a produção de ácido do estômago também pode reduzir a quantidade absorvida de cálcio, que por sua vez pode levar à osteoporose. Os investigadores encontraram uma ligação de longo prazo, dependente da dose, entre os IBPs e o risco aumentado de fractura da anca. Quanto mais tempo se tomar a medicação e quanto maior for a dose, maior será o risco de fractura.

Antiácidos com Aspirina®, qual o perigo?

Além dos efeitos colaterais listados acima, os investigadores vão descobrindo outras condições de saúde associadas com o uso de IBPs e outros medicamentos que reduzem a produção de ácido pelas células.

Mesmo estando a tomar os IBPs os doentes podem ter azia ocasional. Os anti-ácidos de ação imediata usados para neutralizar o ácido no esófago podem oferecer alívio. No entanto deve estar ciente que esse alívio momentâneo não significa que esteja a melhorar a lesão pois uma das causas desta lesão é exactamente uma menor acidez do que seria desejável e que permite a proliferação bacteriana da Helicobacter pylori (H. pylori).

O que é pior é que alguns antiácidos também contêm aspirina, o que pode aumentar o risco de efeitos adversos. Em 2009, nos Estados Unidos da América a Food and Drug Administration (FDA) emitiu um aviso sobre sangramento grave associado com o uso de aspirina.

Desde então, a FDA registou oito casos de sangramento severo resultantes do uso de antiácidos de venda livre para neutralizar a azia. Em alguns desses casos, a pessoa necessitou de uma transfusão de sangue para estabilizar a sua condição de saúde. Portanto antes de comprar olhe para o rótulo e se o produto tem aspirina, considere escolher outra coisa para os seus sintomas de estômago, pois muitas vezes desconhecemos sequer a possibilidade de presença da aspirina num medicamento para o estômago!

Esófago de Barrett: O que é?

Esófago de Barrett (EB ou síndrome de Barrett) é uma doença na qual há uma mudança anormal (metaplasia) nas células da porção inferior do esófago.

Acredita-se que seja causada por uma exposição prolongada ao conteúdo ácido proveniente do estômago (esofagite de refluxo). O esôfago de Barrett é encontrado em cerca de 10% dos doentes que procuram tratamento médico para o refluxo gastroesofágico.

O esófago de Barrett possui relevância clínica por ser considerado uma lesão pré-maligna, que pode evoluir para displasia e cancro do esófago do tipo adenocarcinoma. Os factores de risco para o esófago de Barrett são, principalmente, os seguintes:

  • Obesidade,
  • Beber álcool,
  • Fumar,
  • Idade avançada,
  • Ser homem,
  • Ser Caucasiano ou Afro-americano.

O risco de desenvolver cancro do esófago é significativamente maior quando é diagnosticado esófago de Barrett. Nos últimos anos, a forma mais comum de cancro de pele tem sido o carcinoma de células escamosas. No entanto, os investigadores descobriram que quem tomou IBPs por um longo período de tempo e desenvolveu Esófago de Barrett, tem um risco aumentado para uma forma de cancro mais agressiva chamada adenocarcinoma.

Em 1975, 75% dos cancros do esófago diagnosticados eram carcinomas de células escamosas. Mais acessível ao tratamento e menos agressivo do que o adenocarcinoma. No entanto os números mudaram radicalmente nos últimos 30 anos. A taxa de carcinoma epidermóide diminuiu ligeiramente, mas o número de adenocarcinomas diagnosticados do esófago aumentou dramaticamente.

Em 1975, 4 pessoas por milhão foram diagnosticadas com adenocarcinoma, e em 2001 subiu para 23 pessoas por milhão, tornando-se o cancro de crescimento mais rápido nos Estados Unidos, de acordo com o National Cancer Institute (NCI).

O adenocarcinoma é agora diagnosticado em 80 por cento de todos os cancros esofágicos.  Durante muitos anos os investigadores julgavam que os IBPs protegeriam as pessoas com o esófago de Barrett contra o adenocarcinoma, mas descobriram que o inverso é que é verdadeiro! Não só os IBPs não protegem o esófago como causam um aumento dramático no risco deste cancro mortal, descoberto em dois estudos separados. 

IBPs podem aumentar o risco, doença renal demência e ataques cardíacos?

Doença renal e IBPs

Os IBPs afretam todas as células do nosso corpo, o que pode explicar a sua ligação a tais condições mortais como doença renal, ataques cardíacos e demência. No passado, os IBPs estavam ligados a nefrite intersticial aguda que é um processo inflamatório nos rins. Em um estudo recente com mais de 10.000 participantes, os investigadores encontraram outra ligação com a doença renal cronica.

A equipa de investigadores descobriu que aqueles que usam IBPs para tratar a azia tinham mais probabilidades de sofrer de doença renal crónica ou insuficiência renal num período de cinco anos do que outras pessoas que tomavam diferentes medicamentos para combater a azia.

O Dr. Ziyad Al-Aly, um dos pesquisadores e especialista em rins do Sistema de Saúde da St. Louis, afirma que as pessoas vêm estes medicamentos disponíveis na Farmácia e assumem que são seguros mas há cada vez mais evidências que tal não é verdadeiro!

Demência e IBPs

Os IBPs também têm sido associados à demência em pessoas com mais de 75 anos. Num estudo que avaliou mais de 73 mil pessoas com mais de 75 anos sem qualquer sinal de demência no início do estudo, os investigadores fizeram uma descoberta surpreendente! Dos indivíduos que desenvolveram demência nos sete anos seguintes, aqueles que usaram IBPs regularmente apresentaram um risco significativamente maior da demência.

Ataques cardíacos

Um estudo feito pela Stanford University School of Medicine ao historial clínico de cerca de 3 milhões de pessoas, concluiu que os doentes que tomavam Inibidores da Bomba de Protões (IBPs), tais como o omeprazol, tinham um risco acrescido de 20% no que concerne à possibilidade de sofrerem um ataque cardíaco. Esta percentagem foi calculada mesmo excluindo os doentes que tomavam ao mesmo tempo o anticoagulante clopidogrel (Plavix®) e não deviam por causa da interacção entre estes dois medicamentos.

Este resultado foi uma surpresa pois há já demasiados anos que a classe médica, no geral, considerava estes medicamentos como “benignos” ou seja sem efeitos secundários graves, aconselhando muitos doentes a toma-los diariamente de forma crónica.

Relembro que a alternativa aos IBPs é outra classe de antiácidos chamada Bloqueadores H2, cujo exemplo é a Ranitidina, a qual não foi associada aos efeitos secundários aqui descritos para os IBPs.

Porquê que os IBPs têm efeitos cardiacos?

Os resultados do estudo da Stanford University School of Medicine anteriormente referido, suportam uma explicação para um efeito indesejável de IBPs sobre o risco de doença cardíaca proposto por cientistas de Stanford há alguns anos. A pesquisa feita então mostrou que IBPs impedem a produção de uma substância importante, o óxido nítrico, nas células endoteliais que alinham todos os quase 160.000 km de vasos sanguíneos no corpo de um adulto médio.

Azia: Como prevenir e tratar de forma natural sem usar IBPs?

Em muitos casos, a causa principal da azia não está ligada a uma superprodução de ácido, mas sim uma subprodução. Então, antes de arriscar a sua saúde, usando medicamentos para a azia como os antiácidos e os IBPs, experimente as seguintes opções naturais desenvolvidas mais à frente neste artigo:

  • Faça uma dieta saudável;
  • Adicione alguns alimentos ácidos antes da refeição;
  • Aproveite a Lei da gravidade e utilize-a a seu favor, por exemplo, ficando de pé ou andando após a refeição;
  • Tome chá de raiz de gengibre;
  • Não use roupa apertada;
  • Mantenha um peso saudável;
  • Identifique e evite os alimentos que causam crises de azia;
  • Use óleo de coco orgânico.

Vou então de seguida elaborar um pouco sobre cada uma destas alternativas naturais.

Dieta saudável: Como fazer?

A resposta à azia e indigestão ácida é restaurar o natural e funcional equilíbrio gástrico. Para conseguir isso, devemos comer muitos vegetais e outros alimentos de alta qualidade, idealmente orgânicos, não processados e ingerindo alimentos fermentados de forma a ingerir bactérias benéficas suficientes. Isto ajudará a equilibrar sua flora intestinal (microbioma), o que pode ajudar a eliminar de forma natural a bactéria H. pylori que é uma causa muito comum de azia.

Alimentos ácidos antes das refeições: Mas quais?

Pode parecer contra-intuitivo adicionar ácido a um ambiente ácido, mas como já descobrimos, muitos casos de azia são desencadeados por baixa produção de ácido. Uma estratégia é tomar 3 colheres de chá de vinagre de cidra de maçã não filtrado em 175 a 250 ml de água antes de cada refeição.

Digestão e Lei da gravidade: Como aproveitar melhor?

A azia tende a ser pior à noite, e/ou depois de se deitar. Assim há formas simples de melhorar a digestão e evitar refluxo ácido, a saber:

  • Ao invés de deitar logo após uma refeição, devemos ficar sentados ou de pé durante pelo menos três horas, pois a pressão dos alimentos sobre o esfincter esofágico inferior (EEI) aumentará o risco de azia.
  • Elevar a cabeceira da cama usando blocos vendidos para esse fim para que a cama não escorregue e cause lesões (32).
  • Evite empilhar travesseiros para elevar a cabeça, pois isso pode aumentar a pressão sobre o esfincter esofágico inferior. Almofadas altas também causam mau alinhamento do pescoço e da coluna vertebral, aumentando o risco de dor no pescoço.

Raiz de gengibre: Como e quando tomar?

A raiz de gengibre tem sido tradicionalmente usada contra distúrbios gástricos desde tempos antigos. O seu efeito gastroprotetor provém do bloqueio do ácido e da supressão de H. pylori. Para fazer o seu próprio chá, deve ferver três fatias de raiz de gengibre em bruto em 2 chavenas de água durante cerca de 30 minutos. Beber este chá 20 minutos antes da refeição pode ajudar a prevenir a azia.

Roupa apertada: Porque piora a digestão?

A roupa apertada aumenta a pressão sobre o esfincter esofágico inferior e aumenta o risco de refluxo ácido para o esófago.

Peso saudável: Porque melhora a digestão?

Excesso de peso na zona abdominal coloca excesso de pressão no esfincter esofágico inferior. Por exemplo, perder 7 quilos pode melhorar claramente os sintomas.

Alimentos que causam azia: Como identificar?

Cada pessoa tem as suas “sensibilidades alimentares” e não devem ser colocadas todas no mesmo “saco”! Descubra os alimentos que aumentam o risco de azia. Pode levar algum tempo, mas vale bem o esforço. Para identificá-los tem de ter alguma organização “mental” e quando sentir azia registar num bloco de apontamentos quais os alimentos que comeu. Quando os comer novamente esteja com atenção para confirmar ou não se lhe provocam novamente azia. Deve naturalmente evitar os alimentos anteriormente presentes em mais que uma crise de azia.

Óleo de coco: Sendo uma gordura porque ajuda a digestão?

O óleo de coco é um antibacteriano natural, ajudando a reduzir qualquer supercrescimento de bactérias no estómago. Também ajuda a acalmar o esófago, durante ingestão, no caminho para baixo, e é uma gordura muito saudável boa para a saúde geral do nosso organismo. Comece com 1 colher de chá para ver como seu corpo responde. Efeitos secundários comuns são dor de cabeça e ligeira náusea. Gradualmente aumentar até 3 colheres de sopa por dia. Pode tentar adicionar 1 colher de sopa para uma chávena de chá ou café.

Concluindo:

Azia e refluxo gastroesofágico são condições de saúde que afectam muitos milhões de pessoas em todo o Mundo. O tratamento com antiácidos Inibidores da Bomba de Protões (IBPs) tornou-se o mais prescrito pela classe médica com a agravante de muitos doentes serem aconselhados pelos seus médicos a tomar diariamente, de forma crónica, estes medicamentos e sem pausas!

As pesquisas dos últimos anos, descritas na bibliografia deste artigo, levantam suspeitas e algumas certezas sobre a ligação da toma dos IBPs com aumento do número de infecções graves tais como pneumonias, tuberculose e febre tifoide. São ainda preocupantes as ligações com a diminuição da absorção de cálcio e risco aumentado de fraturas. São também referidas ligações a demência, doença renal e ataques cardiacos!

Proteja-se com uma alimentação saudável e se, mesmo assim, for realmente necessário tomar antiácidos fale com o seu médico e pondere escolher outra categoria de medicamentos adequados que não os IBPs.

Fique bem!

Franklim Fernandes

Bibliografia:

Por favor PARTILHE este artigo

Outros artigos de interesse:

Refluxo e azia melhorsaude.org melhor blog de saude

JEJUM INTERMITENTE MELHORSAUDE.ORG

Água alcalina 2017 melhorsaude.org melhor blog de saúde

Medicamentos, doenças, dores e alimentação saudável